Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Apelidos invulgares
Falamos deles, porque, em qualquer altura, hesitámos usá-los num relacionamento directo, mesmo quando vivemos no meio de Chícharos, Calazans, Gaitinhas, Caixinhas, Chibeles e Cachopos.
Lembro-me do Sr. Armário, do Sr. Engana e do Catrapona, que eu não ousava, porque, nesse tempo, um alentejano sem alcunha, era uma raridade.
Agora a Net dá-nos pistas de alguns de quem perdemos rasto. O Reinaldo Chibeles Cananão (ou o mesmo nome no filho) mantém-se em Beja, o Franganito Olho Azul chegou a Tenente-Coronel, a Maria Corália Carrajola Macara, escreveu uma monografia.
Ali andam eles a forçarem-nos um sorriso, no meio dos Arrenega, Tainha, Favinha, Pitacho, Carraça, Grilate, Caçoete, Sequinhos, Canheto, Lamoso, Casquilho, Grabulho, Fanado, Carapuchinho, Farrobo, Carrajana, …. e outras raridades.
Mas quando pai e mãe não ajudam e surgem os Coelho Canudo, Caixado Couzinho, Leite Lavado, Ribeiro Fundo, Robalo Tereso, Fadista Sêco, Protásio Poeira, Parcelas Alcobia, Rebola Santo, Pandaio Bacalhau, Ameixa Rolhas Bandeiras, ... o sorriso abre-se de orelha a orelha.
E tudo isto porque tropecei numa notícia em que a nossa cantora Adelaide Ferreira decidiu pôr na ribalta a sua filha mais nova de nome "Alexia" cujo significado é "inabilidade adquirida de compreender a linguagem escrita".
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Em Casa
Li-o numa penada. São 500 páginas que dão uma noção rápida e clara da evolução do viver em Inglaterra, e no Ocidente, de 1800 a 1950.
A História é contada de um modo divertido, apesar dos dramas, e permite-nos dar graças a Deus pela evolução tecnológica e por se ter nascido no ocidente depois de 1950.
É um livro de divulgação que estimula outras leituras e que permite entender muitas coisas da actualidade.
domingo, 27 de novembro de 2011
Luísa Gonçalves
LUÍSA GONÇALVES (Porto, 1949)
Formada em Escultura pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, foi professora na Escola Secundária Soares dos Reis Especializada de Ensino Artístico. Directora do Departamento de Cursos da Árvore, Cooperativa de Actividades Artísticas, C.R.L., Porto.
Autora e co-autora de programas a nível nacional para o Ensino Secundário Artístico. Especialista dos Cursos Tecnológicos de Ofícios Artísticos do Ensino Secundário Artístico.
Realizou trabalho como cenógrafa para o teatro e participou em vários concertos com intervenção visual em obras do compositor Cândido Lima, sendo o último na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa.
Desde 1992 tem colaborado com a Universidade Aberta como autora de videogramas e co-autora do manual da disciplina de Tecnologia dos Ofícios Artísticos, da licenciatura em Artes Plásticas.
Expõe individualmente desde 1979 tem participado em exposições de grupo desde 1971. Tem desenvolvido trabalho de cenografia e videografia e colaborado com músicos em concertos audio/visuais.
Prémios. 1970 – Prémio de Desenho “Escultor Teixeira Lopes”; 1971 – Prémio de Escultura do Ateneu Comercial do Porto; 1993 – Prémio de Aquisição na Exposição Colectiva de Sócios da Árvore.
Este trípico está baseado na rede da estrutura de uma casca de árvore.
sábado, 26 de novembro de 2011
Desportos
Hoje, quem se preza, vai ao Ginásio suar, emagrecer, ficar “in” e criar contactos.
Já assim eram os romanos e assim se manterá nas sociedades urbanas que se afastaram dos pesados trabalhos que a terra pede.
Mas perde-se o gosto de transformar o suor em coisa a que se volte e o gosto de nos medirmos com os elementos.
Ficam as fotos.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
O mel e as abelhas
Manda o bom senso que se não coma o mel e as abelhas, mesmo quando não se promove a temperança.
As "conquistas" e o "andar para frente" dos últimos anos, foram como a saia das mulheres que ora acima ora abaixo do joelho, se defendem hoje, amanhã não se usam e voltam pouco depois.
Há duas décadas, nos países de leste era moda "o pleno emprego" e colocavam-se dezenas a produzir o que meia dúzia podia fazer, enquanto do outro lado do mundo se contabilizava o trabalho ao segundo, para obter o máximo de "rentabilidade", sem que outra sabedoria lhes contivesse essas grandes verdades.
Noutros locais esse radicalismo não foi aplicado e criou-se um Estado Social com alguma harmonia e desenvolvimento, que a globalização veio destruir com os "novos paradigmas" que convenceram os nossos políticos de pacotilha a abandonar as pescas, a agricultura, os têxteis e todas as indústrias básicas, pondo o país a “receber para não fazer" e a comprar o "made in China".
Sem projecto de crescimento harmonioso, secundarizaram as pessoas a essa "economia", e obrigaram quem estava tradicionalmente ligado aos recursos naturais a iludir-se com "Politécnicos e Universidades" para aprender o que dá acesso ao desemprego, desertificando as aldeias e desestruturando o interior.
Não houve lucidez para entender as “âncoras” do país e defender a relação da população com a terra e com o mar, até que a "União Europeia" garantisse uma verdadeira união monetária, política e económica.
O resultado é sermos governados por fluxogramas de Bruxelas para voltarmos "ao bom caminho", enquanto ruminamos as "problemáticas", porque acreditámos que podíamos comer o mel e as abelhas.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Assédio
- Só tenho pena da doença que tenho, que me atrapalha!
O Sr. Dr. é que está bom! Dou-lhe os meus sentimentos! Trabalha bem, é lindo, bem ajeitado e muito fresco! E veio para um sítio muito bom! Quantos anos é que tem? O Sr. Dr. vem sempre sozinho? A que horas sai? Estou varada com o Sr. Dr.! É muito lindo!
Nem cinco minutos demorou a dizer-me tudo isto.
Não tivesse ela 72 anos e eu já estivesse avisado do seu discurso com parafasias, perseveração e defeitos de reconhecimento e saía dali rejuvenescido!
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
A gota
É analfabeta. A filha, professora do 2º ciclo, é que sabe de tudo!
Tem médico de família, mas nunca o consultou. Vai sempre ao cardiologista da Clínica, que o marido foi GNR.
Há três dias que não consegue andar. Eram precisas três pessoas para a levar ao quarto de banho e não podia "turrar" com os pés em nada! Não sabe se teve febre. Tem as "atenções" altas, mas não quer "andar sempre a medir", porque se enerva. Ontem foi à Clínica.
- O Sr. Dr. fez o trabalho dele. Auscultou-me, fez uma análise à urina, ... e disse que era grave! Deu-me um antibiote para matar o visgo, um comprimido pequeno para tossir e uns pós para desfazer em água que eram para escarrar!
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Cenas dos próximos capítulos
- "Porque é que ele fez?"
- “Porque pôde!”
O problema surge quando, por uma qualquer circunstância, passa a “não poder”, e não consegue convencer da necessidade de uma conjuntura de momento.
A malta da pedofilia “teve azar” porque deixou de “poder”, pois, até então, podiam “na máxima segurança”.
O BPN, fruto do Chico-espertismo mais básico, só foi possível por elegermos repetidamente "gente que se mexe bem" no submundo onde os expedientes valem mais que as competências.
Agora os países do norte, que há anos assistem a este triste espectáculo, apertados por uma conjuntura internacional, decidem pôr ordem na nossa casa.
O problema não é de hoje e tem a ver com o imaginário colectivo.
Quando, há 500 anos, Lutero se rebelou contra a Igreja Romana (onde a artimanha era o dia a dia) e "libertou" os protestantes, eles inventarem uma sociedade mais responsável, enquanto a sul se continuou a viver de expedientes, facilitando a vida a arrivistas e sucedâneos.
O primeiro episódio, que está longe de terminar, tem por título – Reajustamento. O próximo, mais curto, - Enriquecimento ilícito. O terceiro, é o mais longo, tem o guião ainda em esboço e chama-se: -A fuga aos impostos.
Como sempre, quem estiver no poder não aparecerá (durante algum tempo) na fotografia. A plebe irá “safar-se”, e a classe média irá suportar "presunções" a que não conseguirá escapar.
- “Porque pôde!”
O problema surge quando, por uma qualquer circunstância, passa a “não poder”, e não consegue convencer da necessidade de uma conjuntura de momento.
A malta da pedofilia “teve azar” porque deixou de “poder”, pois, até então, podiam “na máxima segurança”.
O BPN, fruto do Chico-espertismo mais básico, só foi possível por elegermos repetidamente "gente que se mexe bem" no submundo onde os expedientes valem mais que as competências.
Agora os países do norte, que há anos assistem a este triste espectáculo, apertados por uma conjuntura internacional, decidem pôr ordem na nossa casa.
O problema não é de hoje e tem a ver com o imaginário colectivo.
Quando, há 500 anos, Lutero se rebelou contra a Igreja Romana (onde a artimanha era o dia a dia) e "libertou" os protestantes, eles inventarem uma sociedade mais responsável, enquanto a sul se continuou a viver de expedientes, facilitando a vida a arrivistas e sucedâneos.
O primeiro episódio, que está longe de terminar, tem por título – Reajustamento. O próximo, mais curto, - Enriquecimento ilícito. O terceiro, é o mais longo, tem o guião ainda em esboço e chama-se: -A fuga aos impostos.
Como sempre, quem estiver no poder não aparecerá (durante algum tempo) na fotografia. A plebe irá “safar-se”, e a classe média irá suportar "presunções" a que não conseguirá escapar.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Estacionamento
Não tarda que no parque, um lugar seja uma felicidade.
Encosto-me ao da direita, calculando o espaço de uma porta, enquanto a "semi-jovem" que me segue no Mercedes, o coloca a dois metros do meu lado esquerdo, e sai desempoeirada atirando os cabelos e as malas para trás. Os afazeres devem ser muitos e há que dar corda às longas pernas que a curta saia avantaja.
Será médica, enfermeira, administrativa, auxiliar bem casada? ...
Usa o que tem à mão, sem se perder com minudências. Só não o pôs em segunda fila porque não foi necessário.
P'rá frente que se faz tarde, que a Mercedes não vende só a quem é capaz de se exprimir em duas línguas.
sábado, 12 de novembro de 2011
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Conversas marginais
Se antes de casar era o que era, agora, que a mulher meteu baixa e “tem dias que nem sai da cama”, está pior.
Diz que ela anda no estomatologista por causa das mandíbulas, vai ao neurocirurgião por causa da coluna, ao ortopedista pelas dores nos ombros e joelhos e ao ginecologista porque queria ficar grávida e pelas dores de barriga. A ADSE facilita-lhe as andanças.
Entra e senta-se. Sempre distante, de poucas falas, com ar de quem não faz mal a uma mosca. Não falha às consultas e faz as análises pedidas mas, desde que chegou a hora do tratamento, nunca o cumpriu com regularidade.
O casamento, de há dois anos, ainda deu uma esperança, com as promessas do amor dela na doença e na morte, quando o acompanhava dengosa.
É a terceira vez que vem só, sempre desfocado, com o pensar perdido sabe-se lá em quê. A roupa, mais arrumada, é o único sinal da vida a dois.
-Sr. Domingos! As análises estão cada vez pior. Afinal como é que a sua mulher trata de si? Ela tem-lhe dado os medicamentos?
-Ela tem estado doente! Cozinha e passa-me as camisas! Eu, as mais das vezes, lavo-lhe a louça!
-E você não é capaz de tomar os remédios sozinho?
-Às vezes tomo, outras … não tomo!, diz, sem entender que joga com a vida, nem o esforço que a comunidade faz para o manter (o seu tratamento custa ~700€ /mês).
-Sr. Domingos! Não vale a pena este faz de conta. Não lhe vou passar mais medicamentos hospitalares! Está a entender?
Aumenta-lhe o pasmo, e diz:
-Também não precisa, porque eu ainda tenho alguns!
-Ainda tem alguns? Deve ter é muitos! Você não os toma!, exclamo incrédula com aquela resposta, mas ele não entende o meu desconforto e insiste, dando ênfase ao cabelo espetado e seco.
-Mas então? Levanto a receita que tenho lá em casa?!
-Mas levanta para quê, se não vai tomar?, contraponho, sem ajuizar que não vale a pena continuar a conversa.
- É que já tenho poucos comprimidos e ainda tenho uma receita por levantar!
- Se não os toma, deve lá ter a receita e os medicamentos!
- É que eu não os tomo, mas deito-os ao lixo. Não fico lá com eles!
…
Olho-o, como a medi-lo. Está mais gordo, mais bem vestido naquele pullover de lã castanha, por cima da camisa bem passada. Relembro os exames anteriores que excluem qualquer processo neurológico em evolução a justificar aquele estar, e digo-lhe, definitiva:
- Sr. Domingos! Vamos ficar assim! Eu não lhe passo mais medicação até que decida o que quer fazer da sua vida. Venha daqui a um mês e traga alguém consigo! E à saída, bata à porta em frente e fale com a assistente social. Está bem?
Pensares do Minho
-Então sr. Valentim como está?
-Pior não estou! Sr dr.!
São assim metade das respostas nas consultas, neste Minho muito dado às seriedades da vida.
"Graças a Deus muitas, graças com Deus poucas!" e outros repetidos ditos, são a água corrente destes pensares, onde o humor é oásis, e os sofrimentos o pão nosso de cada dia, de uma ruralidade que persiste entranhada nos que já vivem nas cidades.
Só o vinho os consegue libertar.
-Pior não estou! Sr dr.!
São assim metade das respostas nas consultas, neste Minho muito dado às seriedades da vida.
"Graças a Deus muitas, graças com Deus poucas!" e outros repetidos ditos, são a água corrente destes pensares, onde o humor é oásis, e os sofrimentos o pão nosso de cada dia, de uma ruralidade que persiste entranhada nos que já vivem nas cidades.
Só o vinho os consegue libertar.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Intrusos
Assaltaram-no em casa, às 21:30h do passado dia 3. A mulher estava a trabalhar. Foi ao quarto da garota, fechar a persiana antes de a deitar. Espreitou para fora e viu o labrador a abanar a cauda virado para o muro, e um vulto agachado, como a controlar a entrada da cozinha onde a luz se mantinha acesa.
Deitou a mão ao puxador da porta, simulando que a ia abrir, e no segundo seguinte viu surgir do outro lado do vidro, um outro encapuçado, a pontapear a porta, para a escancarar.
Saltou a cama e gritou ao filho mais velho para ligar o 112. Lembrou-se do arpão de pesca submarina no armário do corredor e armou-o. Pegou no telefone e gritou: “Estou a ser assaltado! E estou com duas crianças!”, e assumiu posição, de arpão em punho.
“Um momento!”
Aguarda a transferência da chamada de secção em secção, até à Polícia da zona. Perguntam a morada e aconselham calma: “Terá que aguardar 1 hora, pois a única brigada disponível, foi acorrer a dois assaltos do outro lado do rio!”
Respondeu que arpoava o primeiro que lhe entrasse em casa. Ouviu conselho para não o fazer porque “isso tem um grave enquadramento legal e penal”. Pedem-lhe para não desligar e se acalmar!
Desligou. Esperou uns minutos. Rondou as janelas a certificar-se do desaparecimento dos intrusos.
A brigada GNR, de uma vila próxima, surge meia hora depois, para tomar conta da ocorrência.
Solução de um vizinho:
- Logo que dissessem aquele tempo de demora, desligavas o telefone e passados minutos voltavas a ligar 112 e informavas:
-"Eu sou o de há bocado! E era só para dizer, que escusam de ter pressa. Mas quando vierem, tragam também o INEM, porque um dos assaltantes já se encontra estendido na parte de trás do quintal, e é capaz de precisar de alguns cuidados!"
Em minutos tens a GNR e o INEM à porta!
Agora uma anedota:
Um grupo de psicólogos em viagem, encontra, na berma da estrada, um carro baleado com vários corpos ensanguentados no seu interior.
Diz um para o outro: “Temos de encontrar quem fez isto! Por certo precisa de ajuda!”
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Emergências
As equipas em funcionamento nas Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) compostas por um médico e um enfermeiro e as ambulâncias de Suporte Imediato de Vida (SIV) constituídas por um enfermeiro e um Técnico de Ambulância de Emergência (TAE) irão ser integradas nas equipas dos serviços de urgência das unidades de saúde em que estão instaladas.
O objectivo é a rentabilização dos recursos e a redução dos custos.
Esta é a Notícia. Depois, vêm as comadres e as verdades.
Um questiona se alguém integrado numa equipa de urgência, estará em condições para uma emergência no exterior às 4 horas da manhã e logo outro comenta equipes que pavoneiam “remansosamente” os uniformes, por esplanadas e cafés, enquanto se aborrecem entre gasosas e francesinhas. Ali disponibiliza-se o lugar e mais à frente fala-se do “pouco” custo do serviço, naqueles 3 minutos que se perdem e augura-se o fim da emergência médica pré-hospitalar em Portugal.
Outros só pensam ... e não dizem nada.!
domingo, 6 de novembro de 2011
Gostar
Tocaram à campaínha. Eram um casal num pequeno jeep. Ele a dizer que gosta de cães e que também tem um serra da estrela. Vieram a segui-lo e tocaram porque viram o portão escancarado. Iam na estrada e ladrou-lhes. Estranharam!
Eu, muito sério, ao vê-lo aproximar-se da porta: Já lá para dentro!
Ela sorria, justificando-o: São como crianças! Na estrada, o mais certo era ser atropelado!
Eram 23:00h.
Eu, muito sério, ao vê-lo aproximar-se da porta: Já lá para dentro!
Ela sorria, justificando-o: São como crianças! Na estrada, o mais certo era ser atropelado!
Eram 23:00h.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Clube de Leitura
Um encontro ocasional. O aceitar de um convite vago, e a surpresa de uma tertúlia com gente interessante.
O tema era Mário Cláudio e o seu último livro “Tiago Veiga”.
Na impossibilidade de ler aquelas 700 páginas, inicio-me no autor com o seu “Amadeo” Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 1984.
Uma hora bem passada. Um alertar para os ventos literários da actualidade, e não só.
No fim, “trabalho para casa” e a promessa de novos encontros.
Obrigado Isabel
O que eu penso sobre a escrita:
É bem mais fácil, com toda a dificuldade inerente, fazer com Garcia Marques “viver para contá-la”, ou ouvi-la de quem a viveu.
A escrita é um relato de experiências e a "invenção" de factos que sustenham o embate da dúvida inteligente, é uma quase impossibilidade.
São os cimentos (a trama) e a escolha da face e da sequência dos factos, que definem o autor. É nesta plasticidade que ele se move. Para quê inventar, se a realidade é uma cornocópia. Mas é necessário ter sensores.
Nem Cervantes inventou o D. Quixote!
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
A pior crise não é financeira
Carlos Costa Almeida, presidente da Associação Portuguesa dos Médicos de Carreira Hospitalar considera que “o SNS, as Carreiras Médicas e os Internatos constituem a maior e melhor realização dos governos pós-25 de Abril, e a mais duradoura, iniciada por um Governo e compreendida, mantida e desenvolvida pelos seguintes”.
Na Revista da Ordem dos Médicos, ano 27, nº122 Setembro /2011, escreve, num artigo de “Opinião” com o título: “A pior crise não é financeira”:
Incomoda-me ver como se pretende agora estender os erros cometidos por quem governa, aqui e por essa Europa comunitária fora, aos respectivos povos, incluindo o nosso, quando estes se limitaram a viver conforme as condições que lhes eram proporcionadas. Procura-se criar uma espécie de remorso colectivo, um sentimento de culpa, perfeitamente despropositado e sem razão de ser, que pretende apenas desviar as atenções de quem tem realmente toda a culpa.
É lamentável tentar demonstrar que a crise financeira que se estabeleceu no nosso país deriva de os portugueses terem vivido razoavelmente bem durante umas duas dezenas de anos, em casas bem cuidadas e com bom aspecto, boas estradas, uma educação aceitável e uma Saúde das melhores da Europa e do Mundo. Falar sequer nisso é uma falácia completa, e que, não inocente, pretende apenas louvar e perpetuar a situação agora criada, cá e internacionalmente que corre manifestamente a favor de alguns poucos e, portanto, em desfavor da maioria, e classificar Portugal como um país que só pode existir no terceiro mundo. E não o é seguramente.
A verdade indesmentível é que o SNS, como serviço do Estado aos seus cidadãos, foi criado e funcionou bem com um gasto mínimo durante três dezenas de anos. E digo mínimo porque, embora consumisse cerca de 10% do PIB (dentro da média dos países da Europa da CEE), era o que em valor absoluto gastava menos, muito abaixo dos outros. E com uma qualidade muito próxima da dos melhores. Mas há uma meia dúzia de anos, um ministro resolveu que havia de modificar tudo isso, e modificou. A desculpa apresentada foi a sustentabilidade económica – segundo ele, em perigo. Acontece que, contrariamente às intenções anunciadas, passado este tempo, a despesa com a Saúde é cada vez maior. E a qualidade deteriorou-se, e agrava-se a cada momento que passa, desorganizou-se a estrutura hospitalar, com uma desierarquização que limita o desempenho das equipas, lhe baixa o nível e o torna por isso mais caro, para além de emperrar inevitavelmente a formação, actual e, sobretudo, futura. Isto paralelamente a ser tornado crescentemente mais difícil o acesso dos doentes aos cuidados de saúde. Mas detenhamo-nos por um momento nas condições hospitalares que ajudam a explicar todos estes factos.
A empresarialização dos hospitais, inventada e posta em execução pelo ministro Correia de Campos, levou de imediato à desvalorização das carreiras médicas, na prática à sua destruição, pese embora os concursos que vai havendo para os resistentes. Concursos sem qualquer repercussão prática, uma vez que os lugares de chefia – que devem forçosamente ser também de orientação técnica e direcção científica – têm sido entregues a quem calha, por razões não ligadas aos conhecimentos médicos, provas dadas, capacidade profissional, e só por acaso estão atribuídos a quem deveriam estar.
Este desprezo administrativo pela competência profissional dos médicos vai ao ponto de se contratarem recém-especialistas pelo dobro ou triplo do ordenado dos que estão no topo da carreira, mesmo que alguns destes estejam encarregados dos respectivos Serviços. Quer dizer, os responsáveis ganham metade ou um terço do que os mais jovens, que eles próprios ajudaram a formar, ganham. Para além disso, a dita empresarialização permitiu que alguns médicos, por razões obscuras (para dizer o menos), saíssem das carreiras e fizessem um contrato individual de trabalho, no mesmo hospital e para as mesmas funções, por valores milionários, quando outros permaneciam nas condições monetárias anteriores.
A desestruturação dos hospitais, entregues aos serviços administrativos, permitiu a destruição de Serviços e a contratação e subcontratação “ah hoc” de profissionais, à tarefa ou à peça, com “objectivos de produção”, sem qualquer interesse ou proveito na formação e na actividade científica, estas fundamentais nos hospitais enquanto escolas médicas profissionais e manutenção de bons profissionais.
É evidente que todas estas aberrações, em muitos casos exemplo de má gestão e prepotência, senão nepotismo e favorecimento pessoal (termos caros para “amiguismo”), não poderiam dar bom, resultado. E não deram, e a situação de catástrofe que se vive actualmente na Saúde, a ser afastada dos doentes, com um défice financeiro monumental e rapidamente crescente, e uma qualidade cada vez mais periclitante, a elas se deve em grande medida. Para além do despesismo administrativo, com a miríade de administradores que invadiram os hospitais e com os gastos sumptuários correspondentes em invenções informático-administrativo-electrónicas, muito interessantes e modernas com certeza, mas que sobejam a quem, com pouco dinheiro disponível, só queria tratar doentes.
Não sei se a reforma implementada na Saúde visava estes maus resultados, mas revê-os. Não há como negá-lo, temos sim que corrigir, na medida do possível.
Já vem do governo anterior uma tímida intenção de modificar o que está mal na organização dos hospitais, mas condenada por certo ao fracasso quando se encarregam da reconstrução os responsáveis pela destruição. E eles aceitam. Mais uma vez deixam-se os críticos, que ainda por cima mostraram terem razão, completamente fora do processo.
Como se vê a crise na Saúde não deriva da crise financeira, é-lhe anterior em meia dúzia de anos e é muito pior, mais profunda e delicada. Há que procurar resolvê-la, e creio que é possível fazê-lo, mesmo com as dificuldades económicas agora acrescidas, sem tratar mal os doentes ou exclui-los do tratamento, e respeitando os profissionais, o que implica remunerá-los adequadamente e dar-lhes as condições de trabalho e de formação contínua necessárias. Não é uma questão de mais ou menos dinheiro, será uma questão de sistema, de organização, privilegiando e responsabilizando, nas instituições que tratam doentes, precisamente quem trata os doentes.
Na Revista da Ordem dos Médicos, ano 27, nº122 Setembro /2011, escreve, num artigo de “Opinião” com o título: “A pior crise não é financeira”:
Incomoda-me ver como se pretende agora estender os erros cometidos por quem governa, aqui e por essa Europa comunitária fora, aos respectivos povos, incluindo o nosso, quando estes se limitaram a viver conforme as condições que lhes eram proporcionadas. Procura-se criar uma espécie de remorso colectivo, um sentimento de culpa, perfeitamente despropositado e sem razão de ser, que pretende apenas desviar as atenções de quem tem realmente toda a culpa.
É lamentável tentar demonstrar que a crise financeira que se estabeleceu no nosso país deriva de os portugueses terem vivido razoavelmente bem durante umas duas dezenas de anos, em casas bem cuidadas e com bom aspecto, boas estradas, uma educação aceitável e uma Saúde das melhores da Europa e do Mundo. Falar sequer nisso é uma falácia completa, e que, não inocente, pretende apenas louvar e perpetuar a situação agora criada, cá e internacionalmente que corre manifestamente a favor de alguns poucos e, portanto, em desfavor da maioria, e classificar Portugal como um país que só pode existir no terceiro mundo. E não o é seguramente.
A verdade indesmentível é que o SNS, como serviço do Estado aos seus cidadãos, foi criado e funcionou bem com um gasto mínimo durante três dezenas de anos. E digo mínimo porque, embora consumisse cerca de 10% do PIB (dentro da média dos países da Europa da CEE), era o que em valor absoluto gastava menos, muito abaixo dos outros. E com uma qualidade muito próxima da dos melhores. Mas há uma meia dúzia de anos, um ministro resolveu que havia de modificar tudo isso, e modificou. A desculpa apresentada foi a sustentabilidade económica – segundo ele, em perigo. Acontece que, contrariamente às intenções anunciadas, passado este tempo, a despesa com a Saúde é cada vez maior. E a qualidade deteriorou-se, e agrava-se a cada momento que passa, desorganizou-se a estrutura hospitalar, com uma desierarquização que limita o desempenho das equipas, lhe baixa o nível e o torna por isso mais caro, para além de emperrar inevitavelmente a formação, actual e, sobretudo, futura. Isto paralelamente a ser tornado crescentemente mais difícil o acesso dos doentes aos cuidados de saúde. Mas detenhamo-nos por um momento nas condições hospitalares que ajudam a explicar todos estes factos.
A empresarialização dos hospitais, inventada e posta em execução pelo ministro Correia de Campos, levou de imediato à desvalorização das carreiras médicas, na prática à sua destruição, pese embora os concursos que vai havendo para os resistentes. Concursos sem qualquer repercussão prática, uma vez que os lugares de chefia – que devem forçosamente ser também de orientação técnica e direcção científica – têm sido entregues a quem calha, por razões não ligadas aos conhecimentos médicos, provas dadas, capacidade profissional, e só por acaso estão atribuídos a quem deveriam estar.
Este desprezo administrativo pela competência profissional dos médicos vai ao ponto de se contratarem recém-especialistas pelo dobro ou triplo do ordenado dos que estão no topo da carreira, mesmo que alguns destes estejam encarregados dos respectivos Serviços. Quer dizer, os responsáveis ganham metade ou um terço do que os mais jovens, que eles próprios ajudaram a formar, ganham. Para além disso, a dita empresarialização permitiu que alguns médicos, por razões obscuras (para dizer o menos), saíssem das carreiras e fizessem um contrato individual de trabalho, no mesmo hospital e para as mesmas funções, por valores milionários, quando outros permaneciam nas condições monetárias anteriores.
A desestruturação dos hospitais, entregues aos serviços administrativos, permitiu a destruição de Serviços e a contratação e subcontratação “ah hoc” de profissionais, à tarefa ou à peça, com “objectivos de produção”, sem qualquer interesse ou proveito na formação e na actividade científica, estas fundamentais nos hospitais enquanto escolas médicas profissionais e manutenção de bons profissionais.
É evidente que todas estas aberrações, em muitos casos exemplo de má gestão e prepotência, senão nepotismo e favorecimento pessoal (termos caros para “amiguismo”), não poderiam dar bom, resultado. E não deram, e a situação de catástrofe que se vive actualmente na Saúde, a ser afastada dos doentes, com um défice financeiro monumental e rapidamente crescente, e uma qualidade cada vez mais periclitante, a elas se deve em grande medida. Para além do despesismo administrativo, com a miríade de administradores que invadiram os hospitais e com os gastos sumptuários correspondentes em invenções informático-administrativo-electrónicas, muito interessantes e modernas com certeza, mas que sobejam a quem, com pouco dinheiro disponível, só queria tratar doentes.
Não sei se a reforma implementada na Saúde visava estes maus resultados, mas revê-os. Não há como negá-lo, temos sim que corrigir, na medida do possível.
Já vem do governo anterior uma tímida intenção de modificar o que está mal na organização dos hospitais, mas condenada por certo ao fracasso quando se encarregam da reconstrução os responsáveis pela destruição. E eles aceitam. Mais uma vez deixam-se os críticos, que ainda por cima mostraram terem razão, completamente fora do processo.
Como se vê a crise na Saúde não deriva da crise financeira, é-lhe anterior em meia dúzia de anos e é muito pior, mais profunda e delicada. Há que procurar resolvê-la, e creio que é possível fazê-lo, mesmo com as dificuldades económicas agora acrescidas, sem tratar mal os doentes ou exclui-los do tratamento, e respeitando os profissionais, o que implica remunerá-los adequadamente e dar-lhes as condições de trabalho e de formação contínua necessárias. Não é uma questão de mais ou menos dinheiro, será uma questão de sistema, de organização, privilegiando e responsabilizando, nas instituições que tratam doentes, precisamente quem trata os doentes.
... e eu só acrescento ao terceiro parágrafo, "aqueles que se afastaram, por não se quererem ver embrulhados em indignidades"