quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Elogio de Reforma


É muito bom a gente reformar-se em idade jovem, com expectativas de um laréu de 25 anos, sem bengalas nem artroses nos artelhos que nos tolham o andar. Melhor ainda é ter poiso gratuito em Paris de França, voos “low cost” directos para casa da filhinha, a benesse de aí ouvir os noticiários sem os entender e poder confiar um pouco em quem governa.
Mas adiante.
Hoje estamos aqui para homenagear uma profissional de mão cheia. Uma secretária que se iniciou há muitos anos e que fez um pouco de tudo. Arrumou papéis de todos os tamanhos em longas prateleiras cheias de pastas bafientas, fez eletrocardiogramas e organizou-os nas suas pequenas pastas para rápidos e proventosos relatórios, e até trabalhou com "computadores", numa estonteante progressão (um verdadeiro choque tecnológico), que só entende quem esteve por dentro, e que acabou na Net a consultar este Blog.

 Saliento, no entanto, que, apesar de toda esta evolução científica, se manteve aquela menina simples que deixa no parapeito da janela uns bombons (ou rebuçados) para os passantes mais descarados, respeitando o ancestral hábito de nunca colher toda a fruta de uma árvore do caminho, para assim saciar eventual viajante esfomeado, e aquela benevolência para se sintonizar com o infortúnio, por vezes em prolongadas sessões de espontânea psicoterapia.

 Agora todo este enredo se vai.

Calha, e põem em seu lugar, uma jovenzita ainda na casa dos vinte, 90-60-90, de longas pernas e olhar luminoso, para desviar as atenções de quem para aqui vem com a mente fresca para o trabalho, com risco de rapidamente resvalar para pensamentos confusos e pecaminosos ou, … muito pelo contrário, colocam um “nerd” frustrado, a inspirar o olhar maternal do pessoal feminino, para, de igual modo, impedir o fluxo normal da ciência que corre pelas nossas enfermarias.

 Mas a vida é mesmo assim. Há que mudar para que tudo fique na mesma. Vão-se os mais velhos. Vêem os novos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

No taxi

Eu comecei a fumar para parecer um homem, e deixei de fumar para não parecer uma mulher!

domingo, 25 de novembro de 2012

Salman Rushdie

Muito do que importa na nossa vida acontece na nossa ausência.
In "Os filhos da meia-noite"

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Teolinda Gersão

Teolinda Gersão
Gente crescida dentro da literatura portuguesa. Veio ter comigo pela mão do Clube de Leitura.
Neste romance assume o papel de um inquieto artista plástico da nossa Lisboa contemporânea, a quem a "sorte' protegeu (até na adversidade), para narrar os seus amores e desamores.
Senti que por largos momentos não "entrou na cabeça" de um homem. Mas é um bom exercício para tentar perceber o amor no feminino.
Bem escrito. Prende até à última página.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A matemática





34 anos, solteiro. Desempregado. Fez a 4ª classe. Trabalhou na construção civil. Está acompanhado pela irmã. Tem uma filha de 8 anos com quem vive em casa dos pais. Entre 2004 e 2006 andou em consultas de psiquiatria. Tem diagnóstico de síndrome de dependência alcoólica. Iniciou os consumos na adolescência e agravou após a separação, há sete anos.
Vem enviado por ideação suicida e aumento dos hábitos alcoólicos e de tabaco. Segundo a irmã o quadro ter-se-á agravado desde Outubro, aquando do início do curso de formação realizado pelo fundo de desemprego. Bebe vinho verde tinto. Fuma 40 cigarros dia.

O pai tem "o sistema nervoso". A mãe toma muitos calmantes. Uma tia fez várias tentativas de suicídio.
Sente-se preso, ansioso, com agitação interna. Quer fazer uma desintoxicação "pela sua filha". Nega problemas judiciais ou com qualquer pessoa.
Personalidade pautada por grande impulsividade. Está orientado no tempo e espaço, com humor eutímico. Sem alterações da sensopercepção ou do pensamento, sem aparente ideação suicida. Alguns sinais de impregnação etílica.
Sugere-se internamento. Não aceita, porque "não é ambiente para ele".
Levanta-se. Pede medicamentos para os nervos. Ajeita o cabelo.
- "Sr. Silva! Então agora que até lhe pagam para aprender, para poder ter um emprego melhor, você mete-se a beber mais!?"
Sacode as calças, ajeita o casaco, dirige-se para a porta. Volta, indeciso. Sopra, como a descomprimir uma pressão da alma que o obriga àquele crivo para ter dinheiro ao fim do mês.
- "Sr. Dr.! ... Aquilo é muita matemática!"

domingo, 11 de novembro de 2012

Angela e os Anjos


Há qualquer coisa de místico no pensamento do português comum, que o põe à espera de que, no último minuto, a sorte mude e passe da derrota à vitória. Talvez aquela frase repetidamente ouvida nas igrejas, lhes tenha ficado na cabeça como um eco que nunca se extingue: “Senhor, eu não sou digno que entreis em minha alma tão pecadora, mas dizei uma só palavra … e serei salvo!”.

Primeiro faz as falcatruas ou “deixa andar” e depois, se a coisa dá para o torto, fica à espera da tal  palavra milagrosa que lhe muda o destino, como o “bom ladrão”, no minuto final.
Quando é chamado à política mantém o registo. Não entende que "os países não têm amigos, têm interesses", que para se imporem têm de ser “temidos” e que a sua força transparece das capacidades do seu povo e das suas lideranças.

Temos de ser capazes de eleger quem não esteja comprometido com o pior que temos e esforçarmo-nos em promover uma mentalidade de função pública que não se reja pelos "valores do mercado”. Ora, a nossa história recente não é essa. Muitos dos nossos dirigentes utilizaram o Estado para enriquecer ou como trampolim para o “mercado” e muita da sua "política" transformou organismos do Estado em empresas onde a “produção” de bens e serviços é medida pelo número e não pela necessidade e qualidade, num “sistema” que lembra quem valoriza o vinho pela graduação alcoólica ou o automóvel pela “cavalagem” do motor.

Não temos qualidade para valorizar a qualidade. A nossa massa crítica ainda pensa o muito como o bom, o que facilita o populismo que enxameia os órgãos do Estado.

Há que atender “às árvores e à floresta” e deixar a conversa da preocupação com a “grande política”, que encobre a incapacidade de resolver os problemas ao nível do cidadão onde o compadrio corroe os valores por que nos devíamos reger, para nos deixar à espera que, no último minuto, uma qualquer Senhora de Fátima nos venha salvar.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Contactos

Palavras para quê? É uma foto do écran de um computador. Um registo da identificação, no meio do  nome, da morada, da data e local de nascimento, de todos os números com que nos mimoseiam do BI ao da Identificação Fiscal e que fazem de nós um cidadão de bolso inteiro.
Bem ali no meio surge este "contaqueto" para nos lembrar o pouco que investimos na língua portuguesa!

domingo, 4 de novembro de 2012

Emigração



Quando um jovem licenciado emigra, o país fica mais pobre. São anos de investimento em educação, saúde e integração social, que se perdem num abrir e fechar de olhos. É como se estivéssemos a construir Mercedes-Benz e os déssemos de mão beijada, por não termos estradas para eles andarem. Só um país muito rico é que se pode dar a estes luxos.
Vamos ficar com os velhos, os analfabetos, os incompetentes, os "mongas", os "sostras" e com os "cagões" que ninguém quer e meia dúzia que crê que Portugal é Europa. Amanhã iremos importar magrebinos e outras gentes que ainda vivem no século XIX para aqui fazerem as primeiras gerações, antes de poderem ser exportáveis com as vacinações, os hábitos ocidentais e algum saber em dia. Sempre foi assim. Assim continuará a ser.
Vivemos governados por quem legitima um poder que ninguém sabe quem é, numa União Europeia comprometida com o regabofe que os nossos políticos promoveram.
Sugam-nos o dinheiro em impostos, depois retiram-nos a propriedade e por fim os nossos jovens, deixando-nos cada vez mais incapazes.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Arte Africana

Gravar em Madeira é uma arte, mas também um passatempo, um modo de deixar uma marca que lembre um facto, uma ideia, um valor. Em criança guardei, durante anos, uma fiada de pequenas cestas feitas de caroços de cerejas, registo da paciência do canivete de um pastor.
Agora, poucos fazem arte com madeira, mas nas casas e conventos, por esse Portugal afora, dormem peças de Shonas e Macondes, da África sub saahariana, trazidas por “retornados” e frades das Missões, sem identificação dos seus artistas e da importância da sua arte.