sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A matemática





34 anos, solteiro. Desempregado. Fez a 4ª classe. Trabalhou na construção civil. Está acompanhado pela irmã. Tem uma filha de 8 anos com quem vive em casa dos pais. Entre 2004 e 2006 andou em consultas de psiquiatria. Tem diagnóstico de síndrome de dependência alcoólica. Iniciou os consumos na adolescência e agravou após a separação, há sete anos.
Vem enviado por ideação suicida e aumento dos hábitos alcoólicos e de tabaco. Segundo a irmã o quadro ter-se-á agravado desde Outubro, aquando do início do curso de formação realizado pelo fundo de desemprego. Bebe vinho verde tinto. Fuma 40 cigarros dia.

O pai tem "o sistema nervoso". A mãe toma muitos calmantes. Uma tia fez várias tentativas de suicídio.
Sente-se preso, ansioso, com agitação interna. Quer fazer uma desintoxicação "pela sua filha". Nega problemas judiciais ou com qualquer pessoa.
Personalidade pautada por grande impulsividade. Está orientado no tempo e espaço, com humor eutímico. Sem alterações da sensopercepção ou do pensamento, sem aparente ideação suicida. Alguns sinais de impregnação etílica.
Sugere-se internamento. Não aceita, porque "não é ambiente para ele".
Levanta-se. Pede medicamentos para os nervos. Ajeita o cabelo.
- "Sr. Silva! Então agora que até lhe pagam para aprender, para poder ter um emprego melhor, você mete-se a beber mais!?"
Sacode as calças, ajeita o casaco, dirige-se para a porta. Volta, indeciso. Sopra, como a descomprimir uma pressão da alma que o obriga àquele crivo para ter dinheiro ao fim do mês.
- "Sr. Dr.! ... Aquilo é muita matemática!"

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