Ando há meses para te escrever, mas, umas vezes por isto, outras por aquilo, acabo sempre por te deixar para as calendas.
Tu sabes que eu até acho graça a esse teu ar de esfinge assimétrica que só fala depois de todos se calarem, por saber a vantagem que é gerir uma pipa de massa onde muitos vão comer, mas não acredito que te apercebas do que move alguns dos pareceres que te chegam à secretária, principalmente agora, quando se fala em cortar quatro mil milhões de euros na despesa do Estado que inclui alterações no regime da ADSE.
Já deves saber que nas Clínicas e Hospitais Particulares se empolam os de meios auxiliares de diagnóstico, quando o pagante é o Estado, seja ele ADSE, ADMG, ADME, Serviços Sociais do Ministério da Justiça ou da CGD, porque ele não fiscaliza, mas não te vejo capaz de actuar sobre essa malta, porque quem te aconselha come ou espera comer à mesa com eles. O mais certo, é ainda vires a sacrificar quem nada tem a ver com essa corrupção e manteres essas águas turvas no "Sistema Nacional de Saúde”, que queres "sustentável".
Ontem contaram-me que, num Hospital Particular, depois de quatro consultas, um Electrocardiograma, um Ecocardiograma, uma TAC às Coronárias e até um Cateterismo, disseram a quem se queixava de “cansaço” que não tinha doença cardíaca! A ADSE vai pagar sem questionar e a parte da doente fica difícil de engolir. É que em muitos Hospitais Privados e Clínicas, quando topam “subsistemas” atiram-lhes em cima com o maior número possível de exames auxiliares de diagnóstico para se rentabilizarem. Ora, se não se fazem auditorias clínicas responsáveis (e não daquelas em que se preenchem muitos papéis e não se conclui nada) a saúde ainda fica mais cara, e mais ainda na mão de quem já andou a saquear o Estado anos a fio. Não esqueças que o português típico gosta de fazer muitos exames e ignora o que é eficiência em medicina
Bem. A carta já vai longa. Tu és fino e não queres morrer novo. Vê o que decides, mas não te esqueças que eu descontei para a ADSE e que sempre paguei os meus impostos. É que qualquer dia adoeço e não vai ser agora que vou fazer um seguro de saúde. Fico à espera!
Manda sempre.
Sim, é verdade, mas é tão culpado o Hospital como o Estado, pois este é o primeiro a incentivar à corrupção, pagando actos clínicos a preços rídiculos...sim eu sei, só faz contratos quem quer, mas não havendo outra forma muitos aceitam o que há, já a pensar, como bom português, como há-de dar a volta à coisa...Tambem nunca percebi, porque essas entidades apenas fazem contratos ou convenções com Hospitais e grandes grupos, e não fazem com pequenas clínicas, onde até seria mais fácil fiscalizar.....
ResponderEliminarÉ uma pescada com o rabo na boca, onde o que está mal convém a quem está na mó de cima do "negócio".
ResponderEliminarEu não entendo porque é que uma técnica custa mais que uma consulta. De qualidade.
Nota:. Não chamo consultas a vigilâncias ou prescrições em rotinas de acompanhamento.
Este é um problema muito mais complexo que uma tetralogia (de Fallot poe ex,) é que quem paga os exames (estado) não os escolhe nem os usa, quem os escolhe não os paga nem os usa (o clínico), quem os usa (doente)não os paga nem os escolhe. Esse é o problema que ainda por cima dá dinheiro como as horas extras da urgência de sábado á noite para os velhos clínicos, pois as da semana... essas ficam prós novos.
ResponderEliminarCaro Agouvim:
ResponderEliminarO problema não me parece assim tão complicado, embora nos tempos que correm em que se desconfia de tudo e de todos, seja difícil implementar o que quer que seja.
Eu acredito que há gente que dá o seu melhor e que o faz sem estar “esganado pelo dinheiro”, como o exemplo que dá com o “melhor preço das horas extra”.
Acredito que há gente que não pensa só no carro de marca ou no vestidinho para parecer bem, e que, por eles, atropela tudo e todos.
É essa gente que deve dar as margens para o que esses outros andam a fazer.
Mas concordo que nos faltam homens e mulheres “de honra”, nesta sociedade em que vale tudo, se tiver bons advogados.