domingo, 16 de dezembro de 2012

Natal


O presépio. O pai, a mãe e um menino. Três paredes ao alto e um telhado de colmo. Uma família  minimizada. Agora, mais ainda, sem o calor dos animais. Não há avós, tios, irmãos, amigos ou vizinhos. Uma família estranha numa cidade hostil, sem qualquer comodidade. O pai, um velho. A mãe, uma adolescente.
De acordo com a história, o pai não o é de sangue e aceita aquela jovem, para a proteger de uma sociedade onde a sexualidade é vigiada e o adultério punido com lapidação. A viagem de burro de Nazaré a Belém - 50Km de ida e volta, com uma grávida de termo, aparenta mais intenção de levar para longe aquela maternidade sem relacionamento conhecido, que cumprimento de obrigação com censo romano.

No mundo de hoje, centrado no sucesso e na satisfação dos instintos mais básicos, o Presépio, cada vez mais nuclear, adapta-se à nova função e junta-se à festa com o Pai Natal, o Pinheirinho, as Iluminações e as Prendinhas, mais a Lareira, o Bacalhau, as Rabanadas, o Bolo-Rei, os Cuscureis e os Bolinhos de jerimu.
E é melhor assim, porque nesse dia a família fica maior e sorri. Depois cada macaco volta de novo para o seu galho, as crianças para os Infantários e os velhos para os Lares.
O menino irá crescer e fazer-se à vida, esquecerá o pai, precocemente ultrapassado, e manterá a lembrança da mãe nas aflições, já que agora não se usa  o "Aqui d'el Rei!" de outros tempos.

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