quarta-feira, 27 de março de 2013

Madalena

Carta aberta:
Foi há três meses que nos vimos pela última vez. Estavas como sempre. Um pouco depressiva, mas crítica em relação ao evoluir do que te andava em redor. Mantinhas o ar cuidado e os tiques de rapariga, apesar dos teus 72 anos.
Eras um caso. Um exemplo do que a vontade pode fazer quando se tem “fibra”. Foste professora, casaste, tiveste filhos, divorciaste-te, viveste só, voltaste ao marido com medo da solidão e resististe o mais que pudeste a muita incompreensão. Tentaste encher a vida mas tiveste demasiados azares.
Vais hoje a enterrar vítima de doença remediável, depois de uma semana em que vários médicos não deram conta do recado, por não lhes teres dado as dicas certas a par de algum desacerto do sistema que não te permitiu o acesso a gente mais avisada. Andaste sempre pelos amarelos, quando o teu mal era vermelho. E logo tu, que cumprias as regras de saúde. Lamento! Mas hás-de convir que neste jogo que é a vida, a sorte é fator a ter em conta, e tu não a tinhas do teu lado. Confiaste e evitaste “chatear” quando até tinhas essa permissão. Preferiste o sacrifício, crente em falsas permissas.
Agora só há que lembrar o teu espírito de pássaro que cantou, voou e deixou marca no vento.
Repousa em paz!

1 comentário:

  1. Para mim a Madalena foi e será sempre uma segunda mãe. Com ele muito de mim cresceu. Com ela, com a sua coragem moral e altruísmo, aprendi a olhar para mundo de uma outra forma. Aprendi que não há impossíveis. Aprendi que a felicidade não é um acaso.
    Um dia, num além que quero acreditar, voltar-nos-emos a encontrar. Até lá, os seus netos conservarão a sua identidade e valor, pois, na verdade, são feitos da mesma fibra e vontade de vencer. Quanto a mim, procurarei caminhar seguro e ser fiel a tudo aquilo que com dedicação e ternura a Madalena me foi ensinando. Obrigado por tudo.
    Já mais te esquecerei.
    Até já.
    Mário

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