Caro Pinto da Costa:
Espero que te encontres bem de saúde, que eu cá, para além da próstata, vou bem.
Embora não pertença ao teu círculo, onde os favores se trocam por peças de fruta ou outros bens mais ou menos perecíveis, e pouco ou nada te possa dar, atendendo a que tu também és interessado, atrevo-me a pedir-te que, por favor, … não morras!
Sabes?! Eu assisti aos directos da morte dos Kennedy e da queda das torres gémeas com emoção mas, desde o da trasladação dos ossos da irmã Lúcia, com o repórter a seguir o carro funerário de Coimbra até Fátima, a descrever as curvas da auto-estrada como quem assiste à alunagem do primeiro homem, fiquei “excrementado”.
Ainda há pouco me assarapantei com a morte do Mandela, com todos os sacripantas políticos que o ostracizaram anos a fio a tecer-lhe os mais rasgados encómios, só por sentirem que era difícil conter a populaça sem a sua ajuda. Foi uma semana de lágrimas impensáveis, que me puseram à beira de um ataque de nervos, de gente a falar do “Madiba” como se fosse visita lá de casa.
Agora é o Eusébio “ad nauseum”. Os golos de há cinquenta anos a preto e branco, as fotografias, a toalhinha da sorte e as pivots condoídas: “-Eusébio da Silva Ferreira, faleceu esta madrugada de … paragem cárdio-respiratória”, como se não morrêssemos todos assim, mais os repórteres “no exterior” : - Este senhor aqui, se faz favor!, e o transeunte a condoer-se para o momento: “Uma grande perda para o país e para o mundo. Um futebolista com F grande!", e as bandeiras a meia haste e os 3 dias de luto e, quiçá, um lugar no Panteon.
Era mais disto que eu queria evitar. É que, se morres breve, eu não aguento outro filme de dias seguidos a ver e ouvir-te em todo o lado, mais os teus inimigos em redor do teu caixão a fungar e a dar palmadinhas nas costas de quem encontrarem por perto.
Atrevo-me a sugerir que, no testamento, orientes as tuas cerimónias fúnebres, promovendo algum decoro, já que a morte se te anuncia como uma inevitabilidade da vida.
Tu és do futebol, mas não és burro. Faz pela vida. Aguenta-te. Toma os remédios a horas. Evita esforços pesados. Tira o sal da comida e não comas carnes gordas. Deita-te cedo e não esqueças a sesta. Quanto ao vinho, um copito de maduro tinto por refeição e nada de bebidas brancas.
Dá um descanso à Fernandinha, e recebe um abraço deste teu admirador distante.
Fernando
NO TEU MELHOR!
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