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Permite aquisição de conhecimentos difíceis de desenvolver e aperfeiçoar de outro modo.
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Melhora a linguagem por ampliar o vocabulário, e aperfeiçoar a estrutura gramatical.
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Aumenta a memória, a atenção e a concentração, expandindo as capacidades da mente.
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Estímula o pensamento abstrato por nos mostrar a realidade através da fantasia.
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Incentiva a reflexão e formação de opinião, questionando conceitos preconcebidos – nossos e de outrem - tornando-nos mais «abertos» ao «novo e diferente».
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Amplia a capacidade crítica ao nos confrontar com outras opiniões sobre determinado assunto, cria bases de argumentação mais consistentes e desenvolve a iniciativa.
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Fortalece a criatividade e a brincadeira. Quando lemos transformamos mentalmente, factos, cenários e personagens, desenvolvendo o nosso potencial criativo. A leitura permite-nos criar um mundo onde somos livres de sonhar e nos divertir, sem nos sentirmos pressionados. Quem lê desconhece a solidão.
Há milhares de anos a humanidade teve necessidade de transformar a linguagem em códigos escritos e assim nasceram as letras, dando origem à leitura e à escrita. Esta capacidade foi adquirida porque no cérebro humano existem células que se conseguem diferenciar para exercer esta tarefa. Ao contrário da linguagem oral, não se desenvolve espontaneamente por provavelmente não se tratar de uma tarefa imprescindível para a sobrevivência da espécie ou do indivíduo. Estas funções requerem o envolvimento e o treino de muitas áreas do cérebro.
Para ler, primeiro fazemos uma análise visual dos símbolos que compõem as palavras escritas. Se for uma palavra conhecida, numa «olhadela rápida», o cérebro, acede a um arquivo de significados – a semântica - gera a imagem do objeto, da ação ou caracterização que a palavra implica e, também a um arquivo de palavras – o léxico - e dá-nos a resposta correta. Depois é só verbaliza-la. Quando a palavra é desconhecida juntamos as letras e as sílabas, e temos que fazer várias tentativas de comparação dos sons que lemos, com os de palavras que já conhecemos (às vezes em voz alta), e também com a semântica e com o léxico para darmos um sentido à nossa leitura. A maior parte de nós lembra-se ainda de o fazer, quando em criança aprendemos a ler. Mas depois de muito treinarmos, hoje lemos este texto usando a primeira forma, ou seja, usamos a leitura global que é muito mais rápida.
Ao aprender a ler, o cérebro, que tem grande capacidade plástica, modifica-se, para «acomodar as novas capacidades», e reage ativando várias áreas cerebrais, quando vê palavras escritas. A esta conclusão chegou o grupo de investigação de José Morais, professor jubilado de Psicologia da Universidade Livre de Bruxelas, num dos muitos trabalhos que realizou sobre leitura, escrita e literacia. Numa investigação recente, os mesmos autores concluíram que nunca é tarde para aprender.
Com a ajuda de exames de imagem como a Ressonância Magnética Cerebral Funcional, outros grupos de investigação, perceberam que quem já sabe ler deve ler mais e mais difícil. A leitura de prosa e poesia clássica pode melhorar as redes neuronais, pois estimulam mais o cérebro do que a leitura dos mesmos textos em linguagem comum. Sempre que surgem palavras difíceis ou raras, estruturas gramaticais complicadas ou frases inesperadas, o cérebro é estimulado a aumentar o nível de funcionamento, encorajando a atenção nas frases seguintes. Por sua vez, a poesia, também estimula uma área relacionada com a memória autobiográfica, provavelmente por desencadear resposta emocional e reflexão sobre as próprias experiências.
Portanto, voltemos a ler os clássicos:
Ditoso seja aquele que somente
Se queixa de amorosas esquivanças;
Pois por elas não perde as esperanças
De poder nalgum tempo ser contente.
Ditoso seja quem estando ausente
Não sente mais que a pena das lembranças;
Porqu'inda que se tema de mudanças,
Menos se teme a dor quando se sente.
Ditoso seja, enfim, qualquer estado,
Onde enganos, desprezos e isenção
Trazem um coração atormentado.
Mas triste quem se sente magoado
De erros em que não pode haver perdão
Sem ficar na alma a mágoa do pecado.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
Sec. XVI
Escrito por Dra. Élia Baeta, Neurologista. Publicado em "Aurora do Lima"