segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O Feliz



Pensei em pôr-te no lixo ao lado dos candeeiros partidos, mas lembrei-me dos anos que partilhaste comigo, sempre disponível e sem um resmungo, fosse sábado ou domingo, e … hesitei.
Era só mais um furo, até abrir a roda e ver o estado lastimável do pneu, coçado e quase transparente nalguns pontos. Nem no OLX davam 1 Euro por ti.

Entrei na loja do Bricolage à procura de um sapato para te calçar.
Passei a zona da jardinagem, das lâmpadas e das canalizações e, bem ao fundo, já depois dos cimentos, lá estava a tua família meia suspensa do tecto. Uns amarelos, outros verdes, todos cintilantes, como a dizer “leva-me, leva-me!”. Um deles, mais afoito, com um papel colado "em promoção!” para me tentar! E, logo abaixo, em frente aos olhos, aquela roda completa, com um pneu anti-furo, para eu nunca mais pensar onde pus a caixa dos remendos ou a bomba do ar. Coisa de chegar a casa, desatarraxar dois parafusos e dar-te corda aos chinelos.

Levaste cimento, terra, pedras, lixo, plantas e até com o pneu furado aguentaste em cima da jante, quando eu não tinha tempo ou paciência para pôr o remendo na câmara de ar.
Por isso não olhei ao preço. Peguei, rodei e meti-a na cesta!

Por mais vinte euros, comprava um carrinho de mão novo, que destoaria a meu lado. Assim, um pouco desajeitado, fazes “pendant” comigo e lá terás de te aguentar, até Deus, Nosso Senhor, entender que chegaram ao fim os teus dias.
Já não te é exigido tanto como noutros tempos, em que qualquer um pegava em ti e te dava tratos de polé. Agora é trabalhos moderados ao fim-de-semana e o resto a descansar encostado às paredes da arrecadação, junto às enxadas, que sempre é melhor que ir para a China, ser reciclado em vergalhões, e acabar na armadura metálica de uma barragem ou de qualquer outra construção humana.

Tiveste sorte!

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