Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Ryszard Kapuscinski
... Convencidos de que uma pessoa comunica connosco só através da palavra, falada ou escrita, nem reflectimos que esses são só um dos possíveis meios de transmissão de muitos que, na realidade, existem. De facto, dizem-nos muito a expressão facial, o olhar, os gestos das mãos, os movimentos do corpo, as ondas que ele emite, a roupa que se usa e a maneira como se está vestido e, ainda dezenas de outros emissores, transmissores, reforços e filtros que constituem o ser humano e a sua "química", como dizem os ingleses.
A tecnologia, limitando o contacto interpessoal a um sinal electrónico, empobrece e apaga aquela panóplia extraverbal que utilizamos no contacto directo, na proximidade, muitas vezes sem nos darmos conta. Ainda para mais, a comunicação não verbal da expressão facial e dos gestos mais subtis, é muito mais sincera e verídica que a língua oral ou escrita, e torna mais difícil mentir ou esconder a falsidade ou o embuste. Por isso mesmo, a cultura chinesa, pretendendo salvaguardar o pensamento do indivíduo, elaborou a arte da cara imóvel, uma máscara impenetrável e de olhar vazio, porque só assim, só atrás desse biombo, alguém podia, realmente, esconder-se.
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Ryszard Kapuscinski in "Andanças com Heródoto"
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