Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
segunda-feira, 30 de abril de 2018
sexta-feira, 27 de abril de 2018
Leilão de velhos
O corredor de paredes azul-acinzentado (ou cinzento-azulado) tem uma iluminação alta e fria, como é usual nos hospitais. No chão, sobressai uma linha negra a todo o comprimento e a dois terços da largura, que curva à direita e indica o caminho do “raio x”.
Para que chamem sala de espera a este corredor, colocaram 2 filas de cinco cadeiras de um lado e, do outro, um ecrã de televisão sintonizado na SIC, sem som, onde de madrugada, se sucedem repetições de televendas destinadas a publico insone.
Debaixo do ecrã, outras três cadeiras não podem disfrutar da TV. Ao seu lado, duas máquinas de venda automática ronronam pela noite fora e gemem cuspindo comida e bebida sempre alguém lhes dá moedas.
De pulseira roxa no pulso, ali permanecem os acompanhantes daqueles a quem a saúde faltou, de modo suficientemente severo para serem rotulados de “laranja” … São maioritariamente mulheres! … será que lá dentro são maioritariamente homens?
Entre o olhar perdido no ecrã da televisão ou do telemóvel, fazendo escorregar o polegar em suaves carícias desperdiçadas, o tempo não passa.
De cada vez que a porta da área laranja se abre, os olhares convergem na esperança de vislumbrar o que se passa lá dentro com o seu familiar, ou com qualquer outro, que a curiosidade não se perde, mesmo em circunstâncias adversas.
Do que vislumbro, os profissionais enfrentam os computadores que dominam o centro da sala e impõem a sua luz azul. Falam, circulam, sentam-se, levantam-se de olhos sombrios, assoberbados com a intensidade e volume das tarefas – hoje foi mesmo o pior dia para vir à Urgência – desabafou comigo um médico em jeito de desculpa.
O movimento do corredor é intenso. Sendo um dos acessos ao serviço de Urgência, médicos, enfermeiros, auxiliares e administrativos, todos o percorrem garbosos nas suas fardas novas, assexuadas, de cores distintas por classe profissional, mas sem que haja uma legenda em que possa descortinar a ligação da cor à função. A atenta observação da execução das tarefas lá me deixou interiorizar o código cromático.
Parece estipulada uma cadência de movimentação e todos se deslocam à mesma velocidade – nem demasiado rápido, nem demasiado lento.
Os fragmentos de conversas atiçam a imaginação de quem fica pendurado na frase e a tenta completar…
Passam-se as horas neste limbo e é então que me apercebo que, a espaços regulares, sai da área laranja um auxiliar que empurra ora uma maca, ora uma cadeira de rodas. Invariavelmente transporta um idoso na tal cadência certa, mas gerindo com destreza o rodado que se aproxima dos pés dos que ostentam a pulseira roxa e se mantêm sentados nas incrivelmente desconfortáveis cadeiras.
E ao passar apregoam: “familiar da Sr.ª Antónia”, familiar do Sr. José”, “familiar do Sr. Manuel” … em voz alta e monocórdica, sem olhar para o lado, sem atrasar o passo…
Despojados do seu nome de família e exibidos pelo exíguo corredor em jeito de leilão, estes idosos, de olhar perdido, são transportados para as salas de exames ou para o internamento. Para muitos, não houve ninguém que se levantasse da cadeira para o acompanhar.
Eu tive a felicidade de acompanhar o meu.
Texto de M.Helena S. Gomes
segunda-feira, 23 de abril de 2018
Consulta de Oftalmologia Abril 2018
- Eu vou receitar-lhe uma gotas novas para colocar nos olhos. Não sei se lhe vão fazer mal ao coração! ... Mas veja! … Se se sentir mal, não tome!…
Terá sido assim que acabou a última consulta no Hospital que, em nome de especialista de renome, foi efectuada por jovem interna, inexperiente com as expectativas sobre a visão, terapêutica ou efeitos laterais desta, de um jovem de 97 anos.
O facto é que colocou uma gota nos olhos e logo o coração se contorceu em espasmos e arritmias e gritos aflitivos, mais do que esperados…
As queixas têm sido recorrentes: - Vejo cada vez pior!, O teu pai não vê nada!, O avô não percebe nada da consulta!, Não presta atenção às indicações médicas!…
Lá vou ouvindo também com a convicção de que realmente não há muito mais a fazer, e que será tempo de nos conformarmos com as maleitas que a idade nos vai oferecendo, para nos tornar gratos por cada dia que desfrutamos da vida.
Mas o bichinho fica a roer por dentro: …e se, afinal, há algo mais que se possa fazer?
Aí vou eu marcar mais uma consulta na privada (como um bom português), para tirar a limpo.
Lá vamos os três para a sala de espera, que estava a abarrotar, onde o paciente encontrou publico para tentar cantar uma cantiguinha - Os teus olhos verdes” - alto, muito alto, que a consulta de ORL, para tirar a cera, ainda tarda….
Enquanto esperamos, faço as recomendações do costume – Vê lá o que dizes!, ... Responde objectivamente às perguntas!, ... Não entres em conversas que não têm nada a ver com os olhos!…
Com algum atraso, lá somos chamados para a porta da Doutora, depois de passar pelo crivo das tensões oculares.
Continua a falar alto e a voz ecoa agora pelo corredor silencioso dos gabinetes de consulta. Embaraçoso q.b.
Quando atendidos, preocupo-me em que a doutora entenda o motivo da consulta e confesso que quase o não deixei falar, para que a conversa não se enviesasse e se perdesse o foco.
-Muito bem! Ora vamos lá ver primeiro o olho direito. Senhor Engenheiro diga lá o que vê (a 5 metros)
P N T U V X H
-E agora estas
X K L P O C R
-Muito bem e estas, atreve-se?
A D Z não sei bem talvez N …não. É H, P L S
-E a última linha? Também com uma pequena hesitação e está perfeito!
Mesma cena com o olho esquerdo.
-Em visão binocular tem 80%! Aos 97 anos! Pode ter campos restritos, mas a visão está lá. Tensão normal. Cristalino operado e transparente humor aquoso com algumas floculações próprias da idade. Uma sinéquia pós-operatória sem grande significado… Mácula sem escavação, alguma palidez provavelmente de eventos vasculares, mas globalmente muito bem.
Portanto, Sr. Engenheiro, pode continuar com a medicação de base e manter uma boa lubrificação do olho!
- Pois, Sr.ªDra.! Eu passo muito tempo ao computador.
- Claro! Não se esqueça de piscar e lubrificar os olhos.
- É a escrever o meu blog - Vivências Mineiras ponto blogspot ponto com, mas a minha filha não quer que eu fale disso! Aliás, eu vinha cá na esperança que me fizesse um transplante de células estaminais, na retina, para recuperar a visão.
- Como sabe isso?
- É da revista "Nature", conhece?
- Sim! Mas sabe, esse tratamento não é para si! Isso é para tratar a doença dos velhos, coisa que o Sr. Eng. não tem.
...
E foi preciso empurra-lo porta fora.
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Consulta de Urologia
A história ouvia-a, no refeitório, da boca de um Urologista, no meio de historietas desinteressantes e fotos do Whatsapp.
Um seu par, tentava dar resposta à consulta sobre-lotada, convocando dois doentes de cada vez - um para a consulta e outro para uma cadeira junto à porta, para entrar logo que o anterior saísse.
O primeiro de uma das séries, era um homem de meia idade, com um volumoso hidrocelo que lhe sobressaía nas calças.
Perguntou-lhe se trazia exames já efectuados.
- Deixe-os lá fora, com a minha mulher!
- Oh homem, vá lá buscá-los!
O doente saiu e entrou acompanhado.
- A senhora sente-se aí nessa cadeira!, ofereceu o médico. - E o senhor, por favor, baixe as calças e deite-se ali na marquesa!
Espantado com o aspecto e dimensões do escroto, exclamou: - Ui! Como isto está! E dirigindo-se para a acompanhante: - Venha cá minha senhora!
A mulher aproximou-se, espreitou, e o médico continuou, admoestando-a, enquanto apontava para as partes vergonhosas e pudenguentas do doente: - Isto não interferia com a vossa vida conjugal? A senhora não o aconselhou a procurar o médico mais cedo!?
Aí a pobre mulher virou-se para o médico e respondeu: - Sr. Dr. ! Eu não conheço este senhor! Eu entrei quando ele saiu, como o senhor Dr. mandou, quando me indicou a cadeira ao pé da porta!
terça-feira, 17 de abril de 2018
Abate de árvores no jardim D. Fernando
Exmo Senhor Vereador do Ambiente e Biodiversidade,
Exmo Senhor Vereador do Planeamento e Gestão Urbanística
Exmo Senhor Vereador do Planeamento e Gestão Urbanística
Sou moradora na Praça General Barbosa há 9 anos. Comprámos uma casa antiga e restauramo-la porque sempre quisemos morar em frente a este jardim.
Quando soube que iam fazer uma remodelação no Jardim D. Fernando, confesso que fiquei preocupada. Achei que devia ir ver o projecto à Câmara mas o dia-a-dia meteu-se no meio, o tempo foi passando, e as obras começaram.
Sábado passado, dia 14 de Abril, quando saí de casa para o trabalho, pude assistir ao corte de um carvalho. Quando voltei, tinham sido cortadas e transformadas em toros mais quatro tílias e um carvalho. Um triste espectáculo com vários transeuntes a assistir.
Na minha opinião, uma vergonha. E uma tristeza gigante.
Eram árvores muito bonitas, saudáveis, com dezenas de anos, de espécies autóctones.
Quem já passeou pelo nosso monte de Sta Luzia consegue ver a infestação que por lá vai. Eucaliptos, mimosas e austrálias. Raramente se consegue ver mais alguma coisa. Uma bouça com alguns carvalhos é uma festa para os olhos.
E vocês abatem 4 tílias e 2 carvalhos?
No jardim do Marquês, no Porto, aquando das obras para fazer a estação de Metro, a autarquia viu-se obrigada, devido à pressão da sociedade civil, a transplantar para a praça Velasquez os plátanos que planeavam cortar. Ainda hoje lá estão.
Não teria sido possível fazer o mesmo? E alegrar um canto do monte de Santa Luzia, por exemplo?
Imagino que seja uma solução um bocado mais cara, mas acho que há acções que não têm preço. E além de salvar as árvores, este transplante teria uma vantagem ainda maior. Daria o exemplo aos nossos filhos de que as árvores são seres vivos que temos de proteger e respeitar. A consciência ambiental não se adquire apenas nas visitas escolares ao CMIA…
Numa altura em que falamos tanto da reflorestação e da importância da floresta autóctone, este abate foi um acto de uma incongruência que entristece. Porque significa que as coisas ainda estão muito no plano das ideias e das palavras. Andamos em acções de sensibilização a plantar carvalhos, mas se algum deles com 20, ou 30 ou 40 anos se mete no nosso caminho, puxamos da moto-serra e num instante temos o caminho desimpedido. Problema resolvido.
Esta carta tem como objectivo expiar um pouco a culpa que sinto por não ter ido ver o projecto a tempo. E por não ter falado na hora certa.
Espero que sirva também como alerta, para que, numa próxima ocasião, não se opte pela solução mais fácil. Para uma autarquia que se preza em ter uma postura diferente, esta foi uma oportunidade perdida.
Obrigada pelo tempo que me dispensaram.
A.G.
A.G.
sábado, 7 de abril de 2018
Maus cheiros
Em matéria de maus cheiros, sou "Pró"! Tenho currículo de invejar, pois fui introduzido cedo no “cheiro a humanidade”.
Da escola primária, não tenho dessas memórias. No Liceu, o “Texugo”, pouco dado a banhos e a mudanças de indumentária, tinha fama de trazer um cão morto dentro das calças. Ele e um amigo, que nunca se responsabilizou por uma pestilência, no meio de forte tempestade, em Pardilhó, na carlinga de um Vauxhall de 1939, foram os únicos a deixar marca no meu sistema límbico, por todos os outros terem dado oportunidade de fuga ou terem tido curta duração.
Aos 15 anos, tive a minha primeira prova de fogo. Levado pelo que o cio me obrigava, inalei sovaco retardado e halitose de todo o tipo, entremeado com perfume barato misturado com vinagre, do cabelo das garotas mais espigadas dos bairros sociais do Porto, quando me iniciei nos bailes de S. João.
Para efeitos oficiais, estas experiências iniciáticas, pouco mais fizeram que dar estabilidade à minha pituitária, preparando-a para o que a vida me havia reservado e evitar que o choque olfativo do meu primeiro estágio, na década de 70, nas enfermarias do Hospital de S. João, me encurtasse os dias.
Por uma questão de comodidade, entrava por uma das portas laterais do jardim e estacionava o meu R5 no lado poente do edifício. Infiltrava-me pela porta da ala vizinha, subia ao 4º piso, e atravessava as enfermarias de Neurologia, Ginecologia e de Medicina, até chegar ao cacifo onde guardava a bata.
Só a Ginecologia não tinha doentes no corredor e, às vezes, cheirava a café. Nos outros, as enfermarias (de 9 e mais camas) transbordavam.
Nos primeiros tempos, parava, trinta segundos, no primeiro patamar, fazia três inspirações fundas, e atravessava os primeiros cinquenta metros de corredor sustendo a respiração até ao átrio antes do Serviço seguinte. Entre hiperventilações e apneias chegava ao meu destino. Depois, vestia a bata, pegava nos processos e corria para a biblioteca do serviço. Aí, revia os registos e aguardava o fim das higienes nas enfermarias.
Este sol, foi de pouca dura. Ao fim das primeiras semanas a ver doentes em todos os serviços do hospital, estava apto a identificar o piso e o serviço, se lá me colocassem de olhos fechados (desde que tal acontecesse às primeiras horas do dia) e, ao fim de um ano, tinha até adquirido a capacidade de diferenciar algumas das patologias lá internadas, como abcessos pulmonares por anaeróbios ou pseudomonas, insuficientes renais crónicos, doentes em coma hepático ou com melenas ... a uma distância mínima de dez metros (curvas incluídas).
Foi o auge da minha carreira olfativa pois, de lá para cá, foi um progressivo "ó p'ra baixo", de tal modo que, em meia dúzia de anos, passei a ignorar a maioria dos maus cheiros, salvo o do sovaco requentado, em fim de dia de verão, que ainda me faz arder os olhos.
Mas eu que julgava ter já experimentado os "créme de la créme" da agressão olfativa, fui recentemente surpreendido com uma nuvem de pestilência, saída de uma sala, onde dormiram vinte doentes de ambos os sexos.
Um bafo viscoso espessava o ar e, qual onda de maré, espraiou-se ao longo de toda a minha árvore traqueo-brônquica.
Olhei as duas enfermeiras na secretária em frente. Pareciam náufragos protegendo-se atrás dos écrans dos computadores. Estavam verdes como as fardas que vestiam.
A medo exclamei: - Pelas barbas do profeta! Estais vivas?
Uma delas levantou os olhos congestinados e rouquejou com voz sumida. : - Senhor Jesus! Deus do Céu! Estamos aqui há oito longas horas, sem dar vazão aos traques, arrotos, vómitos, suores, fezes e fraldas ensopadas, sem vento que nos proteja, nem ar condicionado que nos alivie, que ele bufa para cima das macas e os que estão melhorzinho queixam-se. Que Teutatis nos ajude, já que os deuses da nossa terra tardam em ouvir as nossas preces!
O ar que entrara na sala comigo, acordou o doente mais próximo. Da sua boca saiu um bocejo de múmia e uma longa farpa quente de febre, troou como a derrocada de um talude.
Estanquei. O instinto de sobrevivência exigia uma fuga e o de solidariedade, que mais não fosse, umas palavras de conforto àquelas duas vítimas. Mas impunha-se uma continuidade ao serviço e, cobardemente, virei costas, deixando as pobres ao seu destino.
…
No dia seguinte perguntei por elas. Estavam vivas. Haviam regressado a casa pelo próprio pé e recuperado a cor.
- Graças a Deus!, respondi, aliviado. - Felizmente que o teor de ácido sulfídrico não estava em níveis letais e que a tolerância tem Dia Internacional a 16 de Novembro.
domingo, 1 de abril de 2018
Domingo de Páscoa
Filme baseado na Ópera rock de Andrew Lloyd Webber, com libreto de Tim Rice. Apresentado em 1970.
Uma versão baseada no provável pensamento de Judas (apresentado como o braço direito de Jesus), que sente que o projecto a que aderiu se desvirtuou e pôs em risco todo o grupo, quando Jesus aceitou que lhe chamem "rei dos judeus" e ter uma relação preferencial com Deus.
História (possível) com algum rigor histórico:
Jesus nasceu aproximadamente no ano 4 a.e.c. (antes da era comum), por volta da morte de Herodes Magno.
Passou a infância e os primeiros anos de adulto, em Nazaré, uma aldeia da Galileia.
Foi um judeu praticante, que leu as Escrituras.
Aos 30 anos foi baptizado por João Baptista, o que lhe mudou a vida. (João Baptita foi mandado executar por ter criticado o casamento de Antipas com a mulher do seu irmão, o que fez que se tornasse referência com muitos seguidores, que poderiam dar início a uma revolta).
Reuniu discípulos à sua volta. Ensinou em pequenas povoações e na região rural da Galileia (nunca nas grandes cidades) e anunciou a eminente vinda do “Reino de Deus” à Terra.
Por volta do ano 30, foi a Jerusalém, para a festa da Pessach. Entrou de burro na cidade, como a cumprir a previsão do profeta Zacarias: “Estai atentos! O vosso rei virá até vós, triunfante, montado num burro!”
Quando foi ao Templo agrediu os cambistas e os vendedores de pombas e insultou-os de ladrões, interferindo nos negócios de compra e venda que eram necessários para a manutenção do serviço do Templo, o que deve ter causado escândalo.
Depois, deve-se ter considerado um “homem marcado”. Foi para o Monte das Oliveiras, tomou uma última refeição com os discípulos e aguardou a intervenção de Deus.
Um dos seus discípulos denunciou-o. Foi preso e, num processo adequado a um caso sem grande importância, o sumo sacerdote Caifás, ouvidos os conselheiros, fez uma recomendação de execução ao prefeito romano (Pôncio Pilatos), que agiu em conformidade.
Os seus discípulos fugiram e criaram uma comunidade para aguardar o seu regresso, juntamente com o "Reino de Deus", e procuraram persuadir outros a acreditar nele como Messias enviado por Deus. Este movimentou difundiu-se muito mais rapidamente entre os gentios que entre os judeus.
Geopolítica da época:
Quando Herodes Magno morreu, o Imperador romano Augusto, analisou os seus testamentos (eram dois) e decidiu dividir o reino entre os três filhos. Arquelau foi nomeado governador da Judeia, Samaria e Idumeia, Antipas herdou a Galileia e a Pereia e Filipe recebeu as regiões mais remotas do reino de Herodes.
Antipas revelou-se um vassalo fiel e governou a Galileia durante 43 anos. Arquelau teve menos sorte. Os seus súbditos protestaram contra algumas das suas medidas e Roma deu-lhes razão. Destitui-o, exilou-o, e nomeou um funcionário romano para o substituir.
Os judeus reagiam com muita sensibilidade ao que acontecia em Jerusalém. Além disso, as grandes concentrações que ali ocorriam, por ocasião das festas religiosas, criavam condições favoráveis à eclusão de distúrbios.
O prefeito, no tempo de Jesus, vivia em Cesareia, na costa do Mediterrâneo, num dos luxuosos palácios de Herodes Magno. Dispunha de tropas de 3.000 homens, o que não era suficiente para resolver problemas graves. Havia uma pequena guarnição na fortaleza Antónia em Jerusalém, bem como outros fortes na Judeia, mas Roma não governava a Judeia no dia-a-dia. As cidades e as aldeias eram governadas, como sempre o tinham sido, por um pequeno grupo de anciãos, entre os quais, um ou vários, serviam de magistrados. Quando havia dificuldades que pudessem levar ao derramamento de sangue, os cidadãos mais importantes mandavam uma mensagem ao prefeito. Os distúrbios mais significativos exigiam a intervenção do legado da Síria, que era superior ao prefeito da Judeia e dispunha de grandes contingentes militares (quatro legiões, no total de aproximadamente 20.000 homens de infantaria e de uma cavalaria de 5.000 homens).
Durante as festas mais importantes, o prefeito romano vinha para Jerusalém e o contingente de tropas era reforçado, para garantir que as multidões não se descontrolassem.
Só o prefeito tinha o direito de condenar à morte, com uma excepção: Roma permitia aos sacerdotes afixar avisos em grego e latim, no Templo, proibindo os prosélitos a entrada num determinado sector do Templo. Quem infringisse essa proibição, mesmo que fosse cidadão romano, era executado imediatamente, sem que fosse enviado ao prefeito. Exceptuando este caso, o direito a condenar à morte não só era exclusivo, como absoluto – ele podia mandar executar até um cidadão romano, sem precisar de formular uma acusação que fosse apresentada perante um tribunal romano.
Jerusalém fica na Judeia que, ao contrário da Galileia, era uma província romana.
Jerusalém, era governada pelo sumo sacerdote dos judeus (José Caifás), que estava subordinado ao prefeito romano (Pôncio Pilatos).
A Galileia era governada por Herodes Antipas, filho de Herodes Magno.
Os Judeus acreditavam que Deus controlava a História e decidia o resultado de todos os acontecimentos importantes. Alguns acreditavam que Deus estabeleceria o Seu Reino na terra num futuro próximo. Muitos Judeus desejavam a libertação do domínio romano e pensavam que isso só podia ser alcançado com a ajuda de Deus.
Também acreditavam (e acreditam) que Deus fez uma aliança com o seu povo, que os obriga a obedecer-Lhe, assim como obriga Deus a guiá-los e protegê-los. Também acreditam que Deus lhe deu a terra da Palestina e que lhes falou através dos profetas.
Páscoa Judaica:
É uma das três festas de peregrinação ao Templo, do ano litúrgico judaico. Começa a 15 do mês de Nissan e dura sete dias em Israel e oito dias na Diáspora. Celebra a libertação de Israel da servidão no Egipto em 14 de Nissan do ano de 1446 a.e.c.
Deus enviou as Dez pragas sobre o povo egípcio. Antes da décima, o profeta Moisés foi instruído a pedir a cada família hebreia que sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogénitos.
Chegada a noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhada de pão ázimo e ervas amargas. À meia-noite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogénitos egípcios, desde os primogénitos dos animais até mesmo os primogénitos da casa do Faraó. Então o Faraó, temendo a ira divina, aceitou liberar o povo de Israel, o que levou ao Êxodo.
Como recordação dessa libertação e do castigo de Deus sobre o Faraó, foi instituído para todas as gerações o sacrifício da Páscoa (Pessach).