segunda-feira, 28 de junho de 2021

Pinheiros secos

 


- Rrrrrrrzzzzzzz!, ZUUUUUM, ZZZZZZUUUUUUUMMMMMMM! RRrrrrrr..rrr…. !, pára a motosserra.
- Boa tarde!
- Boa tarde!, responde, enquanto afasta os ramos do pinheiro, deixando a nu um grosso tronco meio apodrecido.
- Então, hoje acabam o serviço aqui?
- Sim! Falta levar estes últimos troncos. Amanhã vem o tractor para moer os galhos que aí ficaram!
O companheiro, aproveita a conversa para um descanso. Desliga também a motosserra, vira-a para baixo e apoia nela o cotovelo como numa bengala. Estão há horas, debaixo de um sol abrasador, a ultimar a limpeza destes terrenos. O ICNF contratou um outro madeireiro para o abate destas árvores que se queimaram no incêndio de Maio de 2019 e que os proprietários ignoraram. Agora é outro que as está a remover. Trabalho árduo que só peca por tardio, nesta altura de calor.
- E aqueles três pinheiros que ali ficaram? Embora não estejam mortos, não me parece ser muito seguro deixá-los ali. Desprotegidos pelo abate dos outros, quando chegar o Inverno, o mais certo é caírem. Queira Deus que não seja para cima do meu quintal nem para cima das azinheiras que estão por cima da Fonte Nova. Já chega o estrago nos carvalhos que aí havia quando abateram os pinheiros.
Dizem que aqueles três pinheiros, estão numa bouça de proprietário desconhecido e que não os podem deitar abaixo sem ordem dos Serviços Florestais. Os proprietários perderam direito às árvores abatidas. O seu desinteresse deve ter relação com as dificuldades de acesso, já que foi por um caminho que se abriu, na bouça vizinha, que foi possível retirar aqueles pinheiros com a ajuda de um guincho.
- Mas olhe que isto aqui está muito bem! Há umas semanas fui dar uma volta pelas Beiras e nem queira saber como aquilo está. Se houver incêndio vai ser como em 2017.
- Não me diga que isto aqui está “muito bem!”, que me faz lembrar aquela história do miúdo apanhado a mentir e que quando lhe disseram que ele era um mentiroso de primeira linha, respondeu: “Eu, mentiroso? Havia de conhecer o meu primo!”.
Este hábito de nos compararmos com o pior, é uma pecha. Todos temos conhecimento de uma coisa pior que aquela que estamos a viver. “Partiste as duas pernas? Tiveste sorte! Já vi gente que num acidente igual ao teu, também partiu um braço e a coluna!”, “Fulano morreu? Foi uma sorte! Do jeito que ele ia ficar, até foi melhor assim!” Nós temos que nos comparar com quem está melhor e com o que a lei determina.
- Mas olhe que a lei não é para todos! Há para aí gente que se faz de morto e ninguém o chateia!
- É! Mas pelo jeito que isto leva, não creio que a União Europeia esteja disposta a mandar dinheiro para a nossa floresta e para os incêndios, sem que o governo altere este estado a que chegámos, onde nem se sabe quem são os proprietários. Mas adiante, que vos estou a atrasar! Bom resto de dia!
- Boa tarde!, e vá de puxar o “starter” da motosserra. - Rrrrrrrzzzzzzz!, ZUUUUUM, ZZZZZZUUUUUUUMMMMMMM! RRrrrrrr..rrr, logo seguido da outra- Rrrrrrrzzzzzzz!, ZUUUUUM, ZZZZZZUUUUUUUMMMMMMM! RRrrrrrr..rrr!, ZUUUUUM, ZZZZZZUUUUUUUMMMMMMM!
Foge Fernando!!!!

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