Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
domingo, 31 de agosto de 2008
Manuel Antunes
Director do Centro de Responsabilidade Integrado do Centro de Cirurgia Cardio-Torácica dos HUC:
“São os Directores de Serviço e não as Administrações Hospitalares, quem tem o papel fundamental na gestão dos recursos materiais e, sobretudo, dos humanos, que condicionam a rentabilidade dos serviços”.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Grande Pescaria
Em qualquer lado falava de tudo, do futebol à política, enchendo os ouvidos dos incautos, numa crítica inconsequente e irresponsável. Aquele azedume balofo envenenava o ar, com os “assim não se vai parte nenhuma”, “só não se faz porque se não quer”, porque “assim é que devia ser”, numa total incapacidade de aceitar condicionamentos.
Esta personalidade a raiar o patológico, despertou o interesse de um jovem médico, muito dado às coisas da natureza, que num misto de bondade e desafio terapêutico, se atreveu a abordá-lo:
Oh! Pedro! Você a destilar essa bílis toda, ainda lhe dá uma coisa ruim!" Tem de ter calma!”
Mas o homem retrucava sempre qualquer argumento, pelo que o Dr. Rio concluindo que com palavras não teria sucesso, lhe propôs uma tarde de pesca à truta.
-“Você sabe pescar?”
-“Claro!", e de imediato debita peripécias de pescarias em que supostamente tinha participado.
-“ Óptimo! É que eu preciso de um parceiro para a próxima 6ªfeira. Tenho um lote alugado no rio e estava para ir sozinho. Você quer vir? É uma tarde, sem pensar nestas coisas, sem este stress! Vem?”
O Sr. Pedro ainda hesitou, mas depois daquela conversa onde se arvorara em pescador, não podendo declinar o convite, aceitou.
Nos dias seguintes não falou de outra coisa e na hora aprazada apresentou-se como se fosse para o Café, sem apetrechos de pesca, a esfarrapar-se em desculpas por não ter encontrado o material, arrumado no sótão, pela mulher.
Arranjou-se uma cana e as tão necessárias galochas foram substituídas por umas botas. Quanto ao restante material o Dr. Rio forneceu.
A pesca à truta tem uma técnica difícil, pois é necessário subir os riachos à procura dos possíveis locais onde estas aguardam os alimentos que vêm na corrente. É necessário colocar aí a amostra, com a suavidade da queda de um pequeno insecto, num espaço rodeado de árvores.
O Sr. Pedro não vinha para isso, vinha para fazer os lançamentos pelo ar como se estivesse em campo aberto e na primeira meia hora já tinha perdido quatro amostras, presas nos galhos. De cada vez que tal sucedia o Dr. Rio lá vinha por ali abaixo para o ajudar a colocar uma nova amostra na ponta da linha.
Na última, vendo que o homem era mesmo incapaz de pescar daquele jeito, substitui-lhe a linha do carreto por uma bem grossa e a amostra por uma indestrutível, e colocou-o na zona mais larga do rio, para fazer os lançamentos sem sair dali, enquanto ele iria pescar rio acima .
Nem 30 minutos passados, quando já ia uma centena de metros acima, viu em cima de uma ponte um par de jovens a rir de qualquer coisa que se passava atrás de si. Vira-se e depara com o Sr. Pedro a tentar subir os grandes calhaus rolados do rio a gritar na sua direcção: “Oh Rio! Oh Rio!”, coisa difícil de entender, que alguém no meio de um rio pudesse gritar pelo Rio.
Temendo grande mal, volta para trás.
-“Que foi desta vez, Pedro? Que foi?”
-“Apanhei um peixe!”, respondeu fora de si! “Apanhei um peixe!”
-“Onde está?”
-“Está dentro de água! É muito grande! Eu puxei, puxei, mas tenho medo de partir a linha. Amarrei-a a uma árvore e vim pedir ajuda! É um peixe grande!”, dizia o homem com o coração a sair-lhe pela boca.
-"E viste-o?"
Não o tinha visto mas sentira um estremecer forte na linha.
Chegado ao local o Dr. Rio sentiu a linha presa no fundo, mas farto de ser interrompido, com o vício da pesca a tomá-lo e já descrente de qualquer solução para aquele problema, decidiu:
-“Oh Pedro! Deve ser mesmo um peixe grande! Você agora só tem de o cansar! Vá puxando e largando porque tem aí para horas e, enquanto você está nesse trabalho, eu vou até ao fim do lote e venho!
E assim se fez. O Dr. Rio lá foi pescar, agora descansado, deixando-o sentado naquela função.
Já o sol ia baixo, quando o Dr. Rio regressa, e o encontra na mesma posição em que o deixara.
-“Então? O bicho não sai?”
-“É muito grande!”, disse arregalando os olhos.
-“Bem! Temos de o tirar! Daqui a pouco é noite!"
E desatam a puxar a linha que cede muito lentamente, como se transportando um saco cheio, inerte, com o Sr. Pedro a repetir: "Cuidado Doutor! Não parta a linha, puxe mais devagar", e o Dr. Rio a apressar-se, seguro de uma enorme bota na ponta da linha.
Só ao fim de uns bons 30 minutos assomou uma cabeça de peixe, um salmão de 18Kg, que para sair teve de ser enrolado num casaco providencialmente atirado para a água, e que só foi pescado, para que um louco não desse cabo de uma tarde de pesca.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Troll
Troll, Troll, vem cá! Vem cá!
Mas lá vai ele, rua abaixo, feliz a cheirar muros, depois de se ter esgueirado pelo portão da garagem.
Não era assim. O terreno da casa bastava-lhe, mas numa primeira fuga ficou-lhe o gosto pela liberdade!
É uma ausência de duas horas, a desbravar, até voltar de língua de fora com o rabo a dizer: “Foi bom!”. Mas vai de castigo para o canil que eu não o quero atropelado ou a provocar um acidente.
É um Serra da Estrela de pelo curto. Nasceu na “Casa de S. Francisco” em Tomar, em 31/12/2004 e vive connosco desde Março de 2005.
Era para ser um cão de guarda, mas é dócil como um carneiro.
Acompanha-me sem entender o meu afã de jardineiro e não sei se pela natureza se por solidariedade ajuda a reduzir o número de toupeiras.
Depois vem com o focinho tirar-me a mão do bolso a exigir um afago que eu não regateio, porque sei que aquele olhar é difícil de encontrar nos humanos, mesmo nos que nos estão próximo!
domingo, 24 de agosto de 2008
Uma maçã podre
Pensei em não escrever esta história, por vergonha de ser seu par, mas o mundo é como é, e em todas as profissões há quem esteja à espera de uma oportunidade para mostrar o pior de si.
Ter um nome de família e um Dr. atrás é uma porta aberta e uma obrigação, mas há quem os use para atormentar os aflitos nas suas aflições.
............
As inconveniências eram-lhe conhecidas e, embora os mais sensatos o evitassem, havia uns quantos que o instigavam na procura do insólito para uma gargalhada.
Mas vamos à história.
1- Dá entrada no SU um homem de ~30 anos, com um ferida de bala num pé, que viera transportado pelos Bombeiros, unicamente vestido com umas cuecas de senhora e com uma vaga informação de um envolvimento sexual.
2- O doente é colocado à porta do seu gabinete.
3- Um dos amigos patetas procura-o e apimenta-lhe a história.
4- O Dr Y, larga o que está a fazer e a 3 metros do doente, perante a estupefacção de quem estava no corredor, disparou do alto da sua autoridade:
“Oh meu c...! Tu estavas a dar ou estavas a levar?
É que se estavas a levar, eu faço-te um gesso até ao cu que te f...!”
Mais tarde soube-se que fora o irmão da senhora com quem o doente estava que o baleara e que o desventurado, na aflição da fuga, vestira a primeira coisa que encontrara para sair vivo para a rua, no mínimo de decência.
A história tem 20 anos, mas o Dr. Y manteve a prática, alimentada pelos risos alarves, até a idade lhe tirar o viço, já que ignoro ter sido algum murro certeiro a apagar-lhe as más ideias.
Ter um nome de família e um Dr. atrás é uma porta aberta e uma obrigação, mas há quem os use para atormentar os aflitos nas suas aflições.
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As inconveniências eram-lhe conhecidas e, embora os mais sensatos o evitassem, havia uns quantos que o instigavam na procura do insólito para uma gargalhada.
Mas vamos à história.
1- Dá entrada no SU um homem de ~30 anos, com um ferida de bala num pé, que viera transportado pelos Bombeiros, unicamente vestido com umas cuecas de senhora e com uma vaga informação de um envolvimento sexual.
2- O doente é colocado à porta do seu gabinete.
3- Um dos amigos patetas procura-o e apimenta-lhe a história.
4- O Dr Y, larga o que está a fazer e a 3 metros do doente, perante a estupefacção de quem estava no corredor, disparou do alto da sua autoridade:
“Oh meu c...! Tu estavas a dar ou estavas a levar?
É que se estavas a levar, eu faço-te um gesso até ao cu que te f...!”
Mais tarde soube-se que fora o irmão da senhora com quem o doente estava que o baleara e que o desventurado, na aflição da fuga, vestira a primeira coisa que encontrara para sair vivo para a rua, no mínimo de decência.
A história tem 20 anos, mas o Dr. Y manteve a prática, alimentada pelos risos alarves, até a idade lhe tirar o viço, já que ignoro ter sido algum murro certeiro a apagar-lhe as más ideias.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Chefiar
Chefiar consiste em liderar um grupo na prossecução de objectivos de um programa que se aceitou.
Eu acredito que a evolução se faz por ondas sucessivas de boas lideranças que acrescentam uma diferente sensibilidade, até se esgotarem de soluções.
Eu acredito que é possível colocar o poder em quem tem a humildade da prestação de um serviço.
Eu acredito que o exercício do poder leva à solidão e que não é "um concurso de popularidade", nem um posto de distribuição de benesses a quem lhe está próximo.
É por isso que me considero "UM CRENTE"
terça-feira, 19 de agosto de 2008
O meu avô Gomes (1889-1979).
É esta a imagem que tenho dele: sentado a ler à janela, envolto no fumo dos muitos cigarros que se fumavam sozinhos, um copo de vinho a aguentar-lhe as longas horas, a argúcia das suas críticas, a amizade dos comentários e o pombal ao fundo a dar borrachos para o almoço.
Nasceu em Constância, em 29/12/1889, filho do 2º casamento do Sr. Florêncio, comerciante da região, que defendia que “até com cascas de alho se pode negociar”.
Com a 4ªclasse, sem jeito para o negócio e detentor de uma caligrafia invejável, cedo o encaminharam para os papéis e, num passo, era amanuense da Câmara Municipal.
Em 1915 casou. Georgina irá dar-lhe 6 filhos.
Na procura de maiores proventos aceita o lugar de Tesoureiro da Fazenda Pública em S. Vicente na Ilha da Madeira, mas aquele desterro longe da família sufoca-o e volta à terra poucos meses depois para espanto de todos. O facto pendeu para a tolerância, mas pouco depois (1924) é colocado em Macedo de Cavaleiros. Desta vez leva a família.
A esposa morre em 1927, na 7ª gravidez, o que o leva a procurar "conforto económico" na filha “encalhada” de uma das famílias ricas da terra, que lhe dará outro filho. Em 1935 ruma a Vila Verde. Mais tarde irá para Ponte de Lima e por fim para Vila do Conde onde se reforma e virá a falecer.
Coloca os filhos num colégio do Porto (1929-1940). Cinco irão tirar curso superior e dois seguir-lhe as pisadas.
A Tesouraria era a violência a que se obrigava e, assim que pôde, reformou-se. Ao médico que lhe perguntou do que se queixava, respondeu: “- da canga, Sr. Doutor!” e virou leitor a tempo inteiro.
Lia como quem procura pérolas, com preferência pelo Aquilino.
Creio que em jovem simpatizou com o Anarquismo (ficou-lhe a boina basca), mas eu conheci-o Salazarista. Os filhos dizem-no “pedagogo e humanista”.
Foi colaborador da Gazeta do Sul e tem textos publicados no livro: “Ímpetos Naturais” (1972) onde descreve a fome e as cheias de Constância nas primeiras décadas do século XX.
No fim, já debilitado mas lúcido, disse-me calmo, a pedir os cigarros e o vinho que lhe racionava – “que morria bem, e que tinha feito tudo o que tinha para fazer!”
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Biografia 1
Não vejo porque não falar dele, embora fosse igual a tantos outros.
Era baixo, de pescoço curto e entroncado, de poucas falas, atento ás pequenas oportunidades, camuflado no meio da cidade.
No trabalho entrava e saía a horas e só se sabia que era ele o Director, porque, de vez em quando, dava seguimento a uma qualquer ordem que lhe transmitiam.
Trabalhou até ao dia da reforma aos 70 anos, sem se furtar ao Serviço de Urgência. Manteve o Consultório e uma consulta no Centro de Saúde até adoecer com a doença que o havia de matar.
Ia sempre que o chamavam fosse noite, domingo ou dia Santo e até quando a família estava com os dois pés para o passeio.
“ Fazia o que tinha que fazer!” e, não sendo particularmente arguto, sabia refugiar-se na ambiguidade.
Formara-se no Porto em 1948 e, de imediato, voltara à cidade natal, onde fez de tudo um pouco, desde ajudante de cirurgia a perito médico-legal. Ancorou-se ao Hospital da Misericórdia e mais tarde, ao Hospital Distrital, como Especialista, após um esquisso curricular lhe ter dado o título “por consenso”.
Era filho de um Sargento do Exército e neto de um Juiz da Comarca e, talvez por isso, o arrevesado do seu nome, para nunca sofrer, por erro de identificação, as consequências de actos não praticados.
Tomou-se de amores por uma operária fabril, com uns olhos verdes quinze anos mais novos. Casou nove anos depois, a contragosto da família. Teve 4 filhos e formou-os.
Era poupado, coleccionava selos, tinha horta em casa e chegou a vender do que produziu.
Diziam que, de binóculos, espiava os namorados nas praias da região. Isso eram as más línguas.
Nasceu em 8/4/1924, morreu em 25/4/2001
Paz à sua alma!
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Sôtôriiiii!!!!
“-Ai Sôtôriiiii! O mê pai nã era assim ii! Sôtôriiiiiii! O mê paiii, era um homem munto fortiiii! Era assim um homem para pegar no Sôtôriiii, e …” - rodou um pouco e fixou uma coluna a uns bons 5 metros de distância – “atirá-lo, pelo ar, até àquela coluna ali iiii!!!” e, ao ver o meu espanto, endireitou-se, levantou as mãos à altura dos ombros com as palmas viradas para mim, arregalou os olhos e com a cabeça meio inclinada, emendou: - “Na bincadêra!!!! Sôtôriiiii!”
Aquele corpo de meia-idade, escuro, forte e alto, representava as três dezenas de familiares de todas as idades, que há longas horas se acumulavam no átrio do Hospital a aguardar notícias do patriarca, que entrara aflito de madrugada, no Serviço de Urgência.
“- Sôtôriiiiiii! O mêê paiiii, nãã era assim iiiii! Sôtôriiiiiii!, insistia, enquanto eu lhe tentava explicar que a idade e a doença já eram muita, que ele não tomava os medicamentos e que no dia seguinte, se tudo corresse bem, talvez pudesse ter alta. E, aproveitando o facto de ele estar ali, pedia-lhe para dispersar os familiares, pois o Hospital não permitia mais que 3 visitas por pessoa e que aquele não era o melhor espaço para reter crianças pequenas durante tanto tempo.
“- Sôtôriiiiiii! A gente quer levar o mêê pai iiiiii! Mas quer que ele vá bom! Sôtôriiiiiii! É que a genti iiii, gosta munto do mê pai iii! - Sabe Sôtôriiiiiii! É quê vim agora de Espanha, Sôtôriiiiiii! Ainda há pôco estive lá preso, Sôtôriiiiiii! E queria ver o mêê pai, beim! Sôtôriiiiiii! - O Sôtôriiiiiii tem paizinho, nãã teim! Sôtôriiiiiii!”, e chegava-se tateando a minha sensibilidade para as suas preocupações.
“- Tenho pai e tenho mãe e estou a fazer pelo seu o que faria pelo meu e, quando ele estiver em condições para continuar o tratamento em casa, vai ter alta, e vai precisar da vossa ajuda, para não voltar a entrar pelo mesmo motivo!" , respondi a tentar subir três degraus na sua confiança.
“- Obrigado Sôtôriiiiiii! ! É que a gente gosta munto do mê paiíííí! ! Sôtôriiiiiii! Lá em casa é só bêjinhos, Sôtôriiiiiii!” e…, com os olhos fechados, punha as pontas dos 10 dedos na boca e abria-os repetidamente enquanto dava beijos para o ar!
“- Está bem! Já percebi! Ele vai melhorar! Até amanhã!”
Aquele corpo de meia-idade, escuro, forte e alto, representava as três dezenas de familiares de todas as idades, que há longas horas se acumulavam no átrio do Hospital a aguardar notícias do patriarca, que entrara aflito de madrugada, no Serviço de Urgência.
“- Sôtôriiiiiii! O mêê paiiii, nãã era assim iiiii! Sôtôriiiiiii!, insistia, enquanto eu lhe tentava explicar que a idade e a doença já eram muita, que ele não tomava os medicamentos e que no dia seguinte, se tudo corresse bem, talvez pudesse ter alta. E, aproveitando o facto de ele estar ali, pedia-lhe para dispersar os familiares, pois o Hospital não permitia mais que 3 visitas por pessoa e que aquele não era o melhor espaço para reter crianças pequenas durante tanto tempo.
“- Sôtôriiiiiii! A gente quer levar o mêê pai iiiiii! Mas quer que ele vá bom! Sôtôriiiiiii! É que a genti iiii, gosta munto do mê pai iii! - Sabe Sôtôriiiiiii! É quê vim agora de Espanha, Sôtôriiiiiii! Ainda há pôco estive lá preso, Sôtôriiiiiii! E queria ver o mêê pai, beim! Sôtôriiiiiii! - O Sôtôriiiiiii tem paizinho, nãã teim! Sôtôriiiiiii!”, e chegava-se tateando a minha sensibilidade para as suas preocupações.
“- Tenho pai e tenho mãe e estou a fazer pelo seu o que faria pelo meu e, quando ele estiver em condições para continuar o tratamento em casa, vai ter alta, e vai precisar da vossa ajuda, para não voltar a entrar pelo mesmo motivo!" , respondi a tentar subir três degraus na sua confiança.
“- Obrigado Sôtôriiiiiii! ! É que a gente gosta munto do mê paiíííí! ! Sôtôriiiiiii! Lá em casa é só bêjinhos, Sôtôriiiiiii!” e…, com os olhos fechados, punha as pontas dos 10 dedos na boca e abria-os repetidamente enquanto dava beijos para o ar!
“- Está bem! Já percebi! Ele vai melhorar! Até amanhã!”
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Cedro do Líbano
Temos o hábito de chamar "cedro" às coníferas que não identificamos como pinheiros.
Deste modo ignoramos os Abetos, as Tuias, os Chamaecyparis, os Cupressus, as Criptomérias, os Juniperos, os Calocedrus, … e os próprios cedros quando adultos são chamados de ... “pinheiros”.
Tenho uma preferência pelo Cedro do Líbano, por ser uma árvore imponente quando adulta e pela sua história.
Originário da Ásia Menor (Síria, Líbano, Turquia) a sua madeira foi intensamente utilizada na construção civil e naval por egípcios, fenícios e romanos que devastaram florestas com árvores milenares.
Dizem que foi com a sua madeira que se fez a arca de Noé, o templo de Salomão e a cruz onde Cristo foi crucificado. Os egípcios usavam o seu óleo para mumificar os corpos.
Deste modo ignoramos os Abetos, as Tuias, os Chamaecyparis, os Cupressus, as Criptomérias, os Juniperos, os Calocedrus, … e os próprios cedros quando adultos são chamados de ... “pinheiros”.
Tenho uma preferência pelo Cedro do Líbano, por ser uma árvore imponente quando adulta e pela sua história.
Originário da Ásia Menor (Síria, Líbano, Turquia) a sua madeira foi intensamente utilizada na construção civil e naval por egípcios, fenícios e romanos que devastaram florestas com árvores milenares.
Dizem que foi com a sua madeira que se fez a arca de Noé, o templo de Salomão e a cruz onde Cristo foi crucificado. Os egípcios usavam o seu óleo para mumificar os corpos.
É o símbolo nacional do Líbano, e é ostentado na sua bandeira nacional.
domingo, 10 de agosto de 2008
É sempre a abrir
Vejo a promoção do “sem limites” como um acto do inconsciente colectivo para eliminar os pouco sensatos do ciclo reprodutivo.
Deslumbrar a juventude com situações reais ou de ficção extraordinárias (minimizando as consequências dos falhanços), induz os insensatos e os desadaptados a medir-se com elas, pois são estes que assumem com maior facilidade comportamentos auto-destrutivos indirectos com efeito suicidário: desportos radicais de elevado risco, comportamento sexual desprotegido, condução sob efeito de drogas ou de álcool, jogo patológico, auto mutilação ou a roleta russa.
Quando ouço um grupo de jovens a contar as suas aventuras do “sempre a abrir”, rezo para que à boa maneira portuguesa “os factos importem pouco e que o importante seja o que se diz!”
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Emoções Fortes
Levantei-me tarde, tomei o café sentado, coisa que não fazia há meses e, como vou entrar no Serviço de Urgência só ás 13:00h, decido aproveitar a manhã para fazer os 3 domicílios em falta, enquanto me arejo no carro novo.
Está uma manhã de primavera, amena e luminosa. Dou uma volta curta pela cidade a ouvir a música do rádio que sintoniza o meu estado de espírito.
Paro no Largo de Mualde de Baixo em S. Mamede Infesta junto ao portão de uma das quintas que sobrevive. Deito a mão às fichas que estão no lugar do morto. Calculo os trajectos e revejo os registos para me inteirar das maleitas dos doentes, quando, de repente …, uma pancada violenta abana o carro vinda do meu lado direito, seguida do focinho enorme de um boi, a raspar o pára-brisas, largando uma baba imensa, e de umas patas cheias de bosta a escoicear por cima do capôt do meu Fiat 127 azul metalizado.
Finco-me nos pés e subo pelo encosto do assento. No instante seguintes os meus 75Kg estão espapaçados no banco de trás, coração a saltar e os olhos mais arregalados que os do animal, que depois de escorregar repetidamente sobre a pintura numa interminável meia dúzia de segundos, desliza e desata a correr pela rua abaixo, desvairado.
Levanto-me a medo a tentar decifrar o que se passara e a medir os estragos visíveis daquela posição. Através da baba e da bosta, vejo a parte da frente do carro toda amassada.
Saio pela porta de trás, quando chega a correr um camponês esbaforido, dos seus 60 anos vindo do portão de onde presumivelmente saíra o boi. Ao ver o carro naquele estado, deita as mãos à cabeça, desolado:
- “Oh! Meu Deus! O bicho assustou-se com um cão que lhe ladrou e veio pela caminho abaixo desembestado! É o Doutor dos domicílios, não é?! "
-“Sou!" Respondo, ainda atordoado, sem saber a quem acudir primeiro.
-“Oh doutor! E logo no carro novo!”...e o homem afundava-se desgostoso, enquanto dava a volta a avaliar os estragos. E de olhos baixos, sussurrou:
-“Ainda se fosse o cavalo!”
- “O que é que você disse?”, pergunto, como se uma luz surgisse naquele buraco. –“Se fosse o cavalo????”
-“Sim, doutor! Se fosse o cavalo … tinha Seguro! Assim o boi …!”
-“Oh homem! Não seja por isso! .... Foi o cavalo! e ... não se pensa mais nisso!”
E foi o tempo de ele ir buscar o bicho e de eu confirmar que o pneu sobresselente protegera o motor, para entrarmos no carro e irmos directos inculpar um inocente incapaz de qualquer defesa.
Está uma manhã de primavera, amena e luminosa. Dou uma volta curta pela cidade a ouvir a música do rádio que sintoniza o meu estado de espírito.
Paro no Largo de Mualde de Baixo em S. Mamede Infesta junto ao portão de uma das quintas que sobrevive. Deito a mão às fichas que estão no lugar do morto. Calculo os trajectos e revejo os registos para me inteirar das maleitas dos doentes, quando, de repente …, uma pancada violenta abana o carro vinda do meu lado direito, seguida do focinho enorme de um boi, a raspar o pára-brisas, largando uma baba imensa, e de umas patas cheias de bosta a escoicear por cima do capôt do meu Fiat 127 azul metalizado.
Finco-me nos pés e subo pelo encosto do assento. No instante seguintes os meus 75Kg estão espapaçados no banco de trás, coração a saltar e os olhos mais arregalados que os do animal, que depois de escorregar repetidamente sobre a pintura numa interminável meia dúzia de segundos, desliza e desata a correr pela rua abaixo, desvairado.
Levanto-me a medo a tentar decifrar o que se passara e a medir os estragos visíveis daquela posição. Através da baba e da bosta, vejo a parte da frente do carro toda amassada.
Saio pela porta de trás, quando chega a correr um camponês esbaforido, dos seus 60 anos vindo do portão de onde presumivelmente saíra o boi. Ao ver o carro naquele estado, deita as mãos à cabeça, desolado:
- “Oh! Meu Deus! O bicho assustou-se com um cão que lhe ladrou e veio pela caminho abaixo desembestado! É o Doutor dos domicílios, não é?! "
-“Sou!" Respondo, ainda atordoado, sem saber a quem acudir primeiro.
-“Oh doutor! E logo no carro novo!”...e o homem afundava-se desgostoso, enquanto dava a volta a avaliar os estragos. E de olhos baixos, sussurrou:
-“Ainda se fosse o cavalo!”
- “O que é que você disse?”, pergunto, como se uma luz surgisse naquele buraco. –“Se fosse o cavalo????”
-“Sim, doutor! Se fosse o cavalo … tinha Seguro! Assim o boi …!”
-“Oh homem! Não seja por isso! .... Foi o cavalo! e ... não se pensa mais nisso!”
E foi o tempo de ele ir buscar o bicho e de eu confirmar que o pneu sobresselente protegera o motor, para entrarmos no carro e irmos directos inculpar um inocente incapaz de qualquer defesa.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Afeganistão
Quando lemos um livro que nos toca, obrigamo-nos a rever o passado e a reconstruir a história.
Acabei de ler os 2 livros do afegão Khaled Hosseini: "Mil Sóis Resplandecentes", e “O Menino de Cabul” que dão uma ideia dos últimos trinta anos no Afeganistão.
Relembro o 25 de Abril de 1974 e a frase de Marcelo Caetano: “Rendo-me para que o poder não caia na rua!”, que me soou como uma frase de circunstância.
Agora penso na sorte que foi aquela aventura e comparo-a com a desventura de outras nações que levadas por utopias de igualitarismos fundamentados na inveja e no facilitismo se afundaram em intermináveis conflitos.
domingo, 3 de agosto de 2008
Volte sábado! Hoje não é dia de Esmolas!
A amizade tem fundamento na confiança.
O poder tem outras regras e o favorecimento pela amizade (nepotismo e favoritismo) é reprovável.
Embora os vencedores licitem “as mais infames atitudes” pelos “ideais mais dignos”, fora das crises é-lhes exigido que promovam a “honra” e respeitem os códigos sociais.
…
Utilizar a vantagem de uma suposta amizade para diminuir o outro é canalhice e é erro grave permitir situações dúbias, pois raramente se tem condição para tolerar uma afronta!
O poder tem outras regras e o favorecimento pela amizade (nepotismo e favoritismo) é reprovável.
Embora os vencedores licitem “as mais infames atitudes” pelos “ideais mais dignos”, fora das crises é-lhes exigido que promovam a “honra” e respeitem os códigos sociais.
…
Utilizar a vantagem de uma suposta amizade para diminuir o outro é canalhice e é erro grave permitir situações dúbias, pois raramente se tem condição para tolerar uma afronta!