sábado, 13 de setembro de 2008

Frontal e esclarecedor!


- “Então, Sr. Cardoso! Hoje vem sozinho?!”, pergunto, estranhando a ausência da mulher.
- “Ela não quis vir!”, diz com os olhos baixos e ar comprometido.

Há anos que o sigo na consulta, por doença hepática. Tem 50 anos, ainda trabalha e recuperou muito depois de ter abandonado os hábitos alcoólicos.

- “Está com ar triste! Chateou-se com a sua mulher?”, insisto, pois sei que se ela não o apoiar, depressa volta “à vida antiga”.
- “Foi!”, responde em surdina, enquanto remexe nos bolsos à procura dos rótulos dos medicamentos.

Como o diagnóstico de disfunção social me é fundamental, arrisco nova pergunta.
- “Mas que ideia foi essa! Vocês estavam a dar-se bem! O que é que aconteceu?"
- “É por causa dos “beiles!”, responde em surdina.
- “Por causa dos “Baileys !?!?", repito, recriminando-o. - “Você voltou a beber !?!?"
- “Não é nada disso!”, retruca o homem a endireitar-se na cadeira para corrigir.
- “Bai-les! Foi por causa dos bai-les! Sra. Doutora!”, soletra para eu entender bem.
- “Ah! Bailes! E que tem! Só lhe faz bem dançar, você não tem doença nas pernas e a sua mulher de certeza que gosta!”, respondo cheia de ânimo a estimular aquela actividade física!
- “Oh! Doutora! O problema é que eu não levo a minha mulher!”, responde agora disposto a expor todo o cenário.
- “Não leva a sua mulher???”, pergunto inocentemente.

- “Oh! Doutora! Eu quando bebia, também tinha vinho em casa e não lhe tocava!”

História de H.G.

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