sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O prazer de matar

Dezasseis caçadores mataram 540 animais durante uma montaria organizada por uma empresa espanhola, numa quinta na Azambuja, no dia 17 de dezembro - quase 34 animais mortos por caçador. A carne já tinha destino – Áustria e Alemanha, onde é apreciada e bem paga. 
Na zona está prevista a construção de uma “Mega Central Fotovoltaica” com mais de 750 hectares. As empresas que ganharam o concurso já refutaram qualquer participação ou responsabilidade na gestão cinegética da reserva de caça privada abrangida pela Herdade da Torre Bela. Caçadores “internacionais”, vieram dar azo à “ânsia de matar” a um país onde o cumprimento das leis é mal vigiado e onde os crimes ambientais têm fraca penalização. 

 O caso veio a público e todos se indignaram, mas quantos acontecem todos os anos em Portugal, onde não é possível colocar um guarda atrás de cada caçador movido pela mesma “ânsia”?? . 
O Governo classificou o acto como “vil e ignóbil”. O ICNF ordenou a abertura de um inquérito. A Federação Nacional de Caçadores e a Federação Portuguesa de Caça falam em incumprimento da “ética” da caça. 

“O mundo mudou!”, disse José Sócrates, em 2010, para justificar mais um aumento de impostos. Essa é a regra, já o dizia Camões: “Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. O que se faz numa época, pode ser altamente inconveniente e até proibido noutra. A pedofilia não era crime na Grécia antiga. A desflorestação da América do Norte não foi entendida como crime ambiental, nem a limpeza étnica dos índios como um genocídio … e por aí fora. 

No século XXI, a ciência alerta para a necessidade de rever os comportamentos ambientais. Atitudes sobre a fauna e sobre a flora que afectem a biodiversidade têm de ser analisadas sob uma óptica global e não local, seja o abate de florestas tropicais, a pesca excessiva ou a poluição do ar, dos rios e do mar. 

A caça tem de ser entendida de um modo diferente daquele que era há uns anos atrás. Já lá vai o tempo do "Atirei o pau ao gato" e do “Lá vai uma, lá vão duas, três pombinhas a voar, uma é minha, outra é tua, outra é de quem a apanhar”. As pegas rabudas que viviam em Montedor, as rolas e os melros que poisavam no meu quintal, não são de quem as apanhou! Eram de todos nós! 

Aos caçadores só deve ser permitido o abate de “pragas” em terrenos agrícolas. Não é lícito a caça de um animal até à sua quase extinção e só então ser proibido o seu abate, nem o gozo de matar só por matar! Ponto final!

6 comentários:

  1. ...e já agora "por aqui dentro" - "passar os Mouros a fio de espada" durante a chamada reconquista foi necessário/essencial para a formação de Portugal. E já agora o comércio de escravos para o Brasil e a colonização. Talvez não fosse má ideia olhar para dentro e menos para fora. Eram outros tempos.

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    1. Temos de olhar para dentro e para fora. Mas a História tem de ser lida à época.

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  2. Concordo, mas os seus exemplos são só de fora. Sugiro então olhe para dentro de vez em quando. Tem muito para ver.

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  3. Portugal é um mau exemplo no que respeita à autonomia de decisões, pois muitas delas (para o melhor e para o pior) vêm de fora, embora o narrador (historiador português) tenda a empolar como "nossas", as que resultaram.

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  4. Boa. Essa é nova, a culpa é dos outros. E porque não do diabo?

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