sábado, 30 de dezembro de 2023

Soneto

 



Um amigo do Facebook (Benjamim Carvalho) escreveu este poema, na sua página.


Paixões de verão.

Todos os dias, naquela encruzilhada
Atrás do velho tronco d’um sobreiro,
Escondido, descias pela estrada ...
Passava, num momento, o dia inteiro...
O sol, no teu rosto, em labaredas mansas,
Os olhos que fechavas nos passos que descias,
Batia o meu peito, em pulos de esperanças …
E tu passavas fazendo que não vias...
Já ias longe...o sol estava posto
A noite, bem no fundo, escurecia
Esperava o momento que não vinha...
Foi tão lindo, aquele mês de agosto.
Tanto gostei de ti, eu tanto te queria...
Tanto gostei de ti, mas nunca foste minha...



E eu, que não sou poeta, por achar graça à ideia, atrevi-me a transformá-lo num soneto.

Ora cada verso de um soneto tem onze sílabas. O primeiro quarteto apresenta o assunto e o segundo amplifica o mesmo. O primeiro terceto reflete sobre a ideia central dos quartetos, e o terceto final, mais emotivo, acaba com alguma reflexão, moral ou ideia profunda. A rima é fixa nos quartetos (ABBA; ABBA) com variantes mais livres nos tercetos (CDE:CDE; CDE:DCE; CDC:DCD).

E dito isto, meti-me ao caminho


Paixões de verão

Atrás do velho tronco d’um sobreiro,
Escondido, naquela encruzilhada
T’ esperava descendo pela estrada.
Passava, num minuto, o dia inteiro.

Luzia o sol nos campos que florias
E teus olhos fugiam quais crianças
Do meu peito esmagado de esperanças
Quando passavas, fazendo que não vias.

Quando partias, o sol ficava posto
E num repente a noite escurecia
A espera do momento que não vinha.

Tão fagueiro foi aquele agosto.
Tanto gostei de ti, tanto antevia...
Que tolo até pensei que fosses minha...

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

O Pescada

 


A razão primeira porque lhe chamavam “Pescada”, nunca a soube. Talvez os seus detratores inventassem a alcunha por ser alto, branco e sempre bem arrumado. Fosse ele pequeno e gorducho e iriam apelidá-lo de “Garrafão”, mesmo que ele não consumisse bebidas alcoólicas. Mas na equipe, alguns achavam-lhe mais defeitos que virtudes e, quando a ele se referiam, era assim que o nomeavam, para que se soubesse que eram seus críticos.

Eu gostava dele. Como profissional, tudo somado, era melhor que outros cirurgiões. Sabia das suas limitações e não se metia em aventuras onde previa grandes dificuldades. Os outros diziam que era lento, por ser demasiado meticuloso a operar, e faziam chacota quando tinham que o ajudar nas grandes cirurgias, dizendo; “Vais operar com o Pescada!? O melhor é algaliares-te!”, e riam. E riam também quando ele contava as peripécias do seu hobby, a fotografia, onde dava cartas. E aí, ele não brincava. Era tudo muito “a sério”. Equipamentos dos melhores e estudo minucioso das instruções das máquinas que adquiria. Disso sou testemunha, pois vi-o várias vezes sentado à secretária, em frente à Canon topo de gama de manual aberto, a medir-se com ela, e quando lhe perguntei se já a tinha usado, respondeu-me que só a tinha comprado há uma semana e que antes, tinha de a estudar. Mas o resultado era “Muito Bom”, a ponto de pretender vender à National Geographic Magazine as fotos que fazia aos bichinhos e plantinhas do monte, que o tiravam da cama a desoras ou no meio de inclemências do tempo para apanhar a melhor luz. Vi algumas e alguns dos pequenos filmes e confirmo a qualidade e a paciência.

Mas era o seu humor o que mais me surpreendia. Aquela capacidade para ler no inesperado um ponto alto do dia e dele retirar uma história, que depois contava despretenciosamente, ridiculizando-se se necessário, para que a situação atingisse um clímax e se extinguisse nos segundos seguintes. E se lhe pedisse para repetir, ele contava-a exatamente como da primeira vez e ria comigo, não só da história, mas por nos rirmos de coisas que outros não achariam qualquer graça. Havia muitas trapalhadas em que ele se achara envolvido e, quando o encontrava, fosse num tempo morto do trabalho ou num corredor de um Supermercado, não resistia a relembrar uma, para ficarmos a rir, os dois, até ao embaraço.

Lembro aquela que mais me levou às lágrimas: Ele tinha uma casa no Porto, onde ia regularmente, principalmente quando ele e a mulher só tinham horário de manhã. Saíam do trabalho, almoçavam num restaurante em Esposende e depois seguiam viajem. Ora num desses dias, a comida não lhe caiu bem e, minutos depois, sentiu-se nauseado. Ainda pensou em parar, mas como tinha um encontro na Praça D. João I a que não queria chegar atrasado, continuou a conduzir o seu Mercedes Classe E, até mais não poder. Em frente ao Palácio de Cristal, parou no espaço então dedicado à paragem do eléctrico e, meio cambaleante e pálido como a cal, saiu do bólide e encostou-se ao tronco da primeira árvore que encontrou. E foi nesta posição que uma alma caridosa que por ali passava, lhe foi perguntar se precisava de ajuda. Agora o relato dele: “Eu estava em ponto de vómito eminente. Estás a ver! Tinha o antebraço apoiado na árvore e a cabeça apoiada nele. Quando o ouvi falar, virei-me na sua direcção e,  aquilo que estava por um fio, rebentou, e o vómito saiu-me explosivo. Havias de ver o gajo a saltar para trás com as calças a escorrer uma papa de arroz de sarrabulho misturada com tinto do Douro! Aos pulos, a sacudir os sapatos e a dizer Oh Homem! Oh homem! Então como é! E eu sem saber o que fazer. Se acabar de vomitar ou de cuidar dele! Ainda por cima o tipo estava todo apinocado, como quem vai para uma festa. Uma desgraça! A minha mulher a sair do carro com um pacote de lenços de papel, mas o vómito tinha-o atingido em cheio. Cá pra mim tinha-lhe passado já para a cueca! E o tipo a dizer C’um caraças! C’um caraças! Sem me ligar mais! E eu lá acabei de vomitar o resto para o tronco da árvore, mas o grosso já tinha ido para cima dele.“

E ria, enquanto imitava o fulano a saltar com ar enojado. E eu ria com ele e a malta que passava sorria de nos ver rir e dos gestos dele, e a certa altura caíamos na real com medo de alguém conhecido nos tomar por insanos.

Era assim o “Pescada”, há-de haver uns bons vinte anos. Depois disso, vi-o duas vezes e numa delas pedi-lhe para recontar esta história e ele contou como se o tempo não tivesse passado e rimo-nos, talvez não tanto como dantes, mas o suficiente para sairmos dali satisfeitos de tanto rir, lembrando também os alarmes que tinha em casa e que assustavam mais os convidados que o ladrões e os esquilos que mantinha numa imensa gaiola com todas as comodidades possíveis e imagináveis para um esquilo da alta sociedade.

Espero encontrá-lo ainda mais vezes nesta vida mas, caso tal não aconteça, por certo que nos iremos  encontrar no Além para nos rirmos outra vez das mesmas histórias ou doutras peripécias que lhe tenham acontecido, que ele era um bom contador de histórias. 

sábado, 16 de dezembro de 2023

As duas liberdades de Isaiah Berlin.



A palavra “liberdade” pode ser usada de mil maneiras. Isaiah Berlin (1909-1997) contribuiu com dois conceitos: o da Liberdade negativa e positiva.

A liberdade está estreitamente ligada à coação, isto é, àquilo que a nega ou limita. Somos mais livres na medida em que encontramos menos obstáculos para decidirmos a nossa vida como quisermos. Quanto menor for a autoridade exercida sobre a minha conduta, enquanto esta puder ser determinada de forma mais autónoma pelas minhas próprias motivações (necessidades, ambições, fantasias), sem interferência de vontades alheias, mais livre eu sou. É este o conceito “negativo” de Liberdade.

É um conceito mais individual do que social e absolutamente moderno. Nasce em sociedades que alcançaram um elevado nível de civilização e uma certa abastança. Pressupõe que a soberania do indivíduo deve ser respeitada, porque em última instância é ela a origem da criatividade humana, do desenvolvimento intelectual e artístico, do progresso científico. Se o indivíduo for sufocado, condicionado, mecanizado, a fonte de criatividade fica ceifada e o resultado é um mundo cinzento e medíocre, um povo de formigas ou robôs. Os que defendem esta noção de liberdade veem sempre o maior perigo no poder e na autoridade, e por isso propõem que, já que é inevitável eles existirem, que o seu raio de acção seja mínimo, só o indispensável para evitar o caos e a desintegração da sociedade, e que as suas funções sejam escrupulosamente reguladas e controladas.

Enquanto a liberdade “negativa” quer sobretudo limitar a autoridade, a “positiva” quer apoderar-se dela, exercê-la. Esta noção é muito mais social que individual, pois fundamenta-se na ideia de que a possibilidade que cada indivíduo tem de decidir o seu destino, está em grande medida subordinada a causas sociais, alheias à sua vontade. Como poderá um analfabeto disfrutar da liberdade de imprensa? Para que servirá a liberdade de viajar a quem vive na miséria? … Enquanto a liberdade “negativa” tem principalmente em conta o facto dos indivíduos serem diferentes, a “positiva” considera acima de tudo o que eles têm de semelhante. Ao contrário daquela, para a qual a liberdade é bem mais preservada quanto mais se respeitarem as variantes e os casos particulares, ela considera que há mais liberdade, em termos sociais,  quanto menos diferenças se manifestarem no corpo social, quanto mais homogénea for uma comunidade.

Todas as ideologias e crenças totalizadoras, finalistas, convencidas de que existe uma meta última e única para uma dada colectividade – uma nação, uma raça, uma classe ou a humanidade inteira -, partilham do conceito “positivo” da liberdade. Deste derivam inúmeros benefícios para o homem, e é graças a ele que existe a consciência social: saber que as desigualdades económicas, sociais e culturais são um mal corrigível e que podem e devem ser combatidas. As noções de solidariedade humana, de responsabilidade social e a ideia de justiça, enriqueceram-se e expandiram-se graças ao conceito “positivo” de liberdade, que também serviu para travar ou abolir iniquidades como a escravatura, o racismo, a servidão e a descriminação.

Mas este conceito de liberdade também gerou as suas iniquidades correspondentes. Todas as utopias sociais de direita e de esquerda, religiosas ou laicas, baseiam-se na noção “positiva”  de liberdade. Elas partem da convicção de que existe em cada pessoa, além do indivíduo particular e distinto, algo mais importante, um “eu” social idêntico, que aspira realizar um ideal colectivo, solidário, que será realidade num dado futuro e ao qual deve ser sacrificado tudo o que o impedir e obstruir. Por exemplo, aqueles casos particulares que são uma ameaça para a harmonia e homogeneidade social. Por isso, em nome dessa liberdade “positiva” – essa sociedade utópica futura, a da raça eleita triunfante, a da sociedade sem classes e sem Estado, ou a cidade dos bem-aventurados eternos – travaram-se guerras crudelíssimas, criaram-se campos de concentração, exterminaram-se milhões de seres humanos, impuseram-se sistemas asfixiantes e eliminou-se todo o tipo de dissidência ou crítica.

Estas duas noções de liberdade repelem-se reciprocamente, mas não faz sentido tentar demonstrar que uma é verdadeira e outra falsa, pois apesar de se servirem da mesma palavra, tratam de coisas diferentes. As liberdades “negativa” e “positiva” não são duas interpretações de um conceito, mas duas atitudes divergentes e irreconciliáveis sobre os fins da vida humana.

As sociedades que forem capazes de conseguir um compromisso entre estas duas formas de liberdade, conseguirão níveis de vida mais justos.

in "O apelo da Tribo" de Mario Vargas Llosa


domingo, 10 de dezembro de 2023

Deang


DEANG, é da Tailândia. A sua obra abrangente, explora diferentes materiais que vão da madeira, ao ferro, à pedra e à cerâmica. Por vezes figurativo, outras vezes abstracto, mas sempre com um olhar atento e determinado na sua forma de representar. 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Arte abstrata


Nunca pensei ser artista, embora mantenha veleidades de artesão. Artista, implica capacidade de inovar, de criar qualquer coisa que nunca tenha sido feita e o meu trabalho sempre foi aplicar o estado da arte às particularidades de cada indivíduo. Por isso, olho os artistas, com um misto de respeito e receio, por temer que a etiqueta de “arte” caia sobre embustes de toda a espécie.

No outro dia, dei com um pequeno texto sobre “A Desumanização da Arte e outros ensaios de estética” de Ortega e Gasset (1883-1955).  Transcrevo:

O livro abre com uma afirmação audaciosa: As massas odeiam a arte nova, porque não a entendem!. A razão é evidente: a arte romântica, que encadeou o século XIX, bem como o naturalismo, estavam ao alcance de todos, com a representação exaltada da vida sentimental e das suas efusões piegas e o tratamento clínico dos seus problemas sociais; mas as novas tendências da música, da pintura, do teatro e da literatura, que não aspiram a mostrar a vida tal como é, mas sim criar “outra” vida, exigem um esforço intelectual laborioso – uma mudança de perspectiva e da própria ideia do que é arte - , que “o grande rebanho filisteu” não está disposto a fazer. Portanto, deu-se um divórcio irremediável – um abismo – entre a arte nova, os seus cultores e defensores, e o resto da sociedade.

… O artista do nosso tempo, não quer que a sua arte apareça como uma ilustração da “vida verdadeira”; pelo contrário, aspira criar uma vida diferente da real. … Debussy desumanizou a música, Mallarmé a poesia, Pirandello o teatro, Joyce a literatura e, na pintura, “de pintar as coisas, passou-se a pintar ideias. O artista cegou para o mundo exterior e voltou a pupila para as passagens interna e subjectivas”.

 Uma das frases célebres do mesmo autor, é: “A clareza é a cortesia do filósofo!” e eu concordo com ele. 

Nestes tempos, cada vez mais, nos diferentes ramos da cultura, se impõem, sobre a linguagem comum, os jargões especializados e herméticos sob cuja sombra, muitas vezes, se esconde não a complexidade e a profundidade científica, mas sim a prestidigitação verborreica e o ardil”.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Verdades

 


“Ajude-se a si mesmo, preferindo sempre os artigos nacionais!”, “Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses!” e “A verdade é só uma, Rádio Moscovo não fala verdade!”, tenho-os como slogans recorrentes da Emissora Nacional, nos anos 60 do século passado, as verdades que o Estado Novo procurava impôr, a par do “Deus, Pátria, Autoridade!” e mais tarde com o “A Pátria não se discute. Cumpre-se!”

Frases saídas depois de um sinal horário ou do fim de uma radionovela, que cedo me levaram a lhes questionar a intenção, atitude que se expandiu aos dogmas religiosos com que simultaneamente me bafejavam.

Mais tarde, a Ciência foi-me relativizando as “verdades” sem, no entanto, ter lido os filósofos que sobre elas discorriam.

Eis-me agora chegado ao tempo de pegar em livros arrumados que, por uma razão ou outra, me vieram cair na mão.

Há dias iniciei o “Apelo da Tribo” de Mario Vargas Llosa, Nobel da Literatura (2010), onde o autor revê os pensadores que o levaram a acreditar no “Liberalismo” como melhor solução política, e onde também aborda a “Verdade”.

… “no relato histórico, as ideologias e as religiões, os interesses criados, as paixões e os sonhos humanos foram injectando, ao longo dos séculos, cada vez mais doses de fantasia, até os aproximarem dos domínios da literatura e, às vezes, confundi-los com ela. É evidente que isto não nega a existência da História, apenas sublinha que a História é uma ciência carregada de imaginação”.

Para Karl Popper, a verdade vai sendo descoberta num processo que não tem fim. Ela é sempre provisória e dura enquanto não for refutada mas, enquanto dura, reina todo-poderosa.

… para que o progresso seja possível, é importante que as verdades vigentes sejam sempre sujeitas a críticas, expostas a provas, verificações e desafios que as confirmem ou substituam por outras mais próximas dessa verdade definitiva (inalcançável e porventura inexistente), cujo chamariz dá alento à curiosidade, ao apetite de saber humano, desde que a razão substituiu a superstição como fonte de conhecimento.

Popper faz do exercício da liberdade o fundamento do progresso.  Sem crítica, sem possibilidade de questionar todas as certezas, não há avanço possível no domínio da ciência, nem aperfeiçoamento da vida social. Se tal não for permitido, em vez de verdades racionais, entronizam-se mitos, actos de fé, magia, metafísica, num processo que pode adoptar aparências religiosas, como nas sociedades fundamentalistas cristãs ou islâmicas, nas quais ninguém pode questionar as “verdades sagradas”, ou pode adoptar uma aparência laica, como nas sociedades totalitárias, nas quais a “verdade oficial” é protegida contra o exame livre em nome da “doutrina científica” do marxismo-leninismo.

Foi errando e aprendendo com os erros, que o homem evoluiu no conhecimento da natureza e de si próprio, num processo onde não estão excluídos retrocessos e ziguezagues. Foi assim na medicina, na astronomia, na física e também na organização social. É este “peacemeal approach” que Popper postula, expressão que equivale à opção gradual ou reformista, antagónica da revolucionária, que faz tabula rasa do que existe.

Estou com ele!

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Fazer o bem a quem nos faz mal!

É bom que aprendamos, na juventude, as regras da sociedade em que se vive, juntamente com a noção que algumas delas irão mudar ao longo da nossa vida. É bom também tomar conhecimento de que, em diferentes regiões deste planeta, as regras podem ser outras, para que reformulemos o pensamento quando se viaja ou se emigra.

Para além das leis, há que contar com os árbitros que decidem as questões, pois, em muitos locais, a corrupção, o compadrio e o nepotismo orientam a prática da lei.
Quando há uma revolução e o poder “cai na rua” abre-se a porta ao crime de oportunidade, pois as revoluções ditas “populares” são mais eficientes a destruir que a criar e estabilizar um novo regime, a exemplo do que aconteceu na Primavera Árabe. Depois de uns milhares de mortos e de muito ressentimento, o poder é tomado por quem for capaz de promover um bode expiatório e negociar apoios internos e externos para reestabelecer a paz, deixando muito crime por punir.

Mas, no dia a dia, é bom que mantenhamos a ideia de que o crime e o castigo são indissociáveis, com as suas variantes conforme a região.

A filosofia dos primórdios do Cristianismo de “Fazer o bem a quem mal nos faz!” que, de tempos a tempos, se tenta reanimar nas sociedades ocidentais, não é reconhecida como lei por qualquer Estado, nem por outra religião para além do Cristianismo.
As crianças e os jovens adultos podem e devem ser “vergados pelo amor”, mas quem tem mais de 30 anos, salvo motivo de doença ou de uma forte paixão, não deve ter “redenção” possível
“Fazer o bem a quem nos faz mal” é a atitude certa para um filho menor, mas é erro aplicá-lo fora do nosso espaço familiar, pelo risco de se desmoronar toda a complexa estrutura social

Fazer apelos à paz, não é o mesmo que perdoar.





 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Josué



Pego na Bíblia. No Velho Testamento, vou directo ao “Livro de Josué”

Depois de Moisés ter morrido, o SENHOR disse a Josué “Prepara-te tu e todo o povo de Israel para atravessarem o rio Jordão e entrarem na terra que eu lhes vou dar. Hei-de dar-vos todos os lugares que os vossos pés pisarem, como prometi a Moisés! O vosso território irá desde o deserto até ao Líbano e até ao grande rio Eufrates, estendendo-se através das terras dos hititas, e desde as terras do nascer-do-sol até ao mar Mediterrâneo. Ninguém te poderá resistir, enquanto viveres. Eu estarei contigo. Tem coragem e firmeza porque hás-de conduzir este povo à posse da terra que eu prometi aos seus antepassados.

… e depois Josué meteu mãos à obra e os judeus levaram pela frente amorreus, perizeus, cananeus, hititas, guirgaseus, heveus e jebuseus.

«Consagraram a cidade [de Jericó] ao Senhor, destruindo no fio da espada homens, mulheres, jovens, velhos, bois, ovelhas e jumentos; todos os seres vivos que nela havia.» - Josué, 6. 13.

«Israel terminou de matar os habitantes de Ai no campo e no deserto, onde os tinha perseguido; eles morreram no fio da espada. Depois disso, todos os israelitas voltaram à cidade de Ai e mataram os que lá haviam ficado. Doze mil homens e mulheres caíram mortos naquele dia. Era toda a população de Ai» - Josué, 8. 24-25.

«Naquele dia Josué tomou Maquedá. Atacou a cidade e matou o seu rei à espada e exterminou todos os que nela viviam, sem deixar sobreviventes. E fez com o rei de Maquedá o que tinha feito com o rei de Jericó.» - Josué, 10. 28.

«O Senhor entregou Laquis nas mãos dos israelitas, e Josué tomou-a no dia seguinte. Atacou a cidade e matou à espada todos os que nela viviam, como tinha feito com Libna» - Josué, 10.32.

«Tomaram a cidade [de Hebron] e a feriram à espada, como também o seu rei, os seus povoados e todos os que nela viviam, sem deixar sobrevivente algum. Destruíram totalmente a cidade e todos os que nela viviam, como tinham feito com Eglom» - Josué, 10.37.

«Tomaram a cidade [de Debir], seu rei e seus povoados e os mataram à espada. Exterminaram os que nela viviam, sem deixar sobrevivente algum. Fizeram com Debir e seu rei o que tinham feito com Libna e seu rei e com He­brom - Josué, 10.39.

«Os israelitas tomaram posse de todos os despojos e dos animais dessas cidades, mas mataram todo o povo à espada, até exterminá-lo completamente, sem poupar ninguém» - Josué, 11.14.



E por aí afora…. Depois … distribuíram pelas diferentes tribos o território conquistado e até o que faltava conquistar, conforme as ordens que o SENHOR havia dado a Moisés, lembrando: “Não se misturem com esses povos que ainda continuam a viver no vosso meio!” e: “Se abandonarem o Senhor e servirem a deuses estrangeiros, ele voltar-se-á contra vós e destruir-vos-á!”

Segundo a Bíblia, Deus elegeu os Judeus, como o seu povo e prometeu-lhe terras. Segundo o Corão,  logo ali ao lado, vestiu-se de Alá e foi falar com Maomé para lhe dizer coisas diferentes.

Deus tem um fraco pelo Médio Oriente. O Filho também. No resto do Mundo tem sido a Nossa Senhora a andar de um lado para o outro, em aparições em lugares ermos, a dizer uns segredos a uma meia dúzia de crianças.


quarta-feira, 11 de outubro de 2023

"DOGVILLE" (2003, dir. Lars von Trier)


- Na nossa última conversa disseste o que te desagradava em mim e, é uma regra de boa educação, também me deixares dizer o que me desagrada em ti!

- Que coisa é essa que te desagrada?

- Usaste uma palavra que me provocou. Chamaste-me “arrogante”, quando é  exactamente, a arrogância o que mais me desagrada em ti! Na tua opinião os violadores e os assassinos podem ser vítimas. Eu chamo-lhes cães, que só com o chicote se consegue impedir que lambam o próprio vómito.

 - Os cães seguem a sua natureza e por isso os perdoamos!

- Os cães podem aprender coisas úteis, se não se perdoarem sempre que sigam a sua natureza!

- Então sou arrogante! Sou arrogante por perdoar?

- Meu Deus! Não vês quão condescendente és, ao dizer isso? Não vês que ninguém consegue chegar a esses teus padrões éticos, onde tudo se perdoa? E eu não conheço nada mais arrogante que isso! Tu, minha filha, perdoas aos outros com desculpas que nunca admitirias para ti própria!

- E porque é que não posso ser misericordiosa??

- Podes e deves ser misericordiosa, mas na altura certa! Mantendo os teus padrões! Deves-lhes isso! Os castigos que mereces para os teus erros, é o mesmo que merecem os outros!

- São só humanos!

- E todo o ser humano deve ser responsável pelos seus actos. Só que tu, não o deixas ser! E isso, é extremamente arrogante! … O poder não é assim tão mau e eu tenho a certeza que eras capaz de usar o teu à tua maneira!

- As pessoas que aqui vivem esforçam-se em circunstâncias muito duras!

- Mas será que fazem o seu melhor? Ou só o suficiente?

E, de repente, soube qual era a resposta para a sua dúvida. Se tivesse agido como eles, não encontraria uma só desculpa para os seus actos e não haveria castigo que a punisse. E foi como se uma dor se tivesse dissipado. Se alguém tinha o poder para pôr tudo como deve ser, tinha o dever de o fazer, a bem das outras aldeias e de toda a humanidade. E também, não em menor grau, a bem do ser humano que era ela, Grace.


domingo, 8 de outubro de 2023

S. Martinho

 


Onze de Novembro é dia de S. Martinho e os dias chuvosos darão espaço a três dias amenos antes do verdeiro inverno – o Verão de S. Martinho, e como Martinho rima com vinho, e as rimas ajudam a sabedoria popular para lembrar os afazeres, no S. Martinho vai-se à adega, prova-se o vinho e faz-se um magusto com castanhas, água pé ou jeropiga, mesmo que o santo tenha sido abstémio.

O soldado romano, a cavalo, de espada na mão a dividir a capa com um desgraçado é a sua imagem de marca e aquilo que “o povo” sabe do santo. Na História, observado à distância de uns séculos, Martinho de Tours, também foi um "malfeitor".

Martinho nasceu na Panónia (actual Hungria), em 316. Era filho de um tribuno da Guarda Imperial do exército romano. O seu nome tem relação com o deus da Guerra de Roma - Marte. Com 15 anos, por ser filho de oficial veterano, foi chamado ao regimento de cavalaria e em 356, quando estava estacionado perto da actual Amiens, em França, converteu-se ao cristianismo e tornou-se monge e eremita. Terá andado pela Panónia, pela Itália e pelas Balcãs, onde segundo Sulpício Severo, asceta cristão, seu biógrafo, “conhece o Diabo, faz milagres e exorcismos” e até “arranca uma confissão dos lábios de um morto”. 

Com 44 anos regressa a Poitiers, onde estabelece um ermitério que rapidamente atrai seguidores e se transforma num mosteiro onde a pobreza, a mortificação e oração eram a regra.
Em 371 Martinho é aclamado bispo de Tours e ordena entusiasticamente a destruição dos templos, dos altares e das esculturas pagãs…“Na Gália, São Martinho, bispo de Tours, marchava à frente dos seus fiéis monges, para destruir os ídolos, os templos e as árvores sagradas da sua extensa diocese e, na consumação desta árdua tarefa, o leitor avisado, julgará se Martinho foi ajudado por poderes milagrosos ou por armas terrenas”. – (Edward Gibbon)

O Convento Catharijne em Utrecht, é detentor de um martelo de bronze que a lenda diz ter sido usado por S. Martinho para agredir o Diabo e os ícones pagãos.



Esta sanha arrasadora dos monges, que se verificou por todo o Império Romano, levou ao desaparecimento total dos templos gregos e romanos - Salvou-se o Pantheon em Roma!, e à destruição ou grave danificação de estátuas e das obras de arte, em pouco mais de sessenta anos.

Morreu aos 81 anos e, graças à biografia fabulosa de Sulpicius Severus, tornou-se mais importante que em vida. O seu túmulo virou lugar de peregrinação e a Abadia de Tours, por si fundada, havia de se transformar numa das instituições mais proeminentes e influenciadoras da França medieval.

É o santo padroeiro de França e dos soldados e é invocado pelos pacifistas para justificar a sua objeção de consciência contra a guerra.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

São Jorge

Estátua em bronze de Salvador Dalí

Santiago por Castela! São Jorge por Portugal!, era assim que eu entendia o início das batalhas que, nos primórdios da nacionalidade, nos opunha às investidas dos espanhóis, sem nunca entender o porquê de o terem elegido patrono das nossas Forças Armadas.

Verdade seja dita que só há bem poucos anos me deu para ler alguma coisa sobre a hagiografia (descrição da vida e prática de virtudes heroicas) dos santos e beatos das igrejas cristãs e, como seria de esperar, deparei-me com um sem-número de confabulações que caracterizam a construção dos mitos.

Neste espaço já escrevi sobre Santa Luzia, Santo Onofre, Santo Antão, S. Roque, S. Fiacre, S. Brás e mais uns quantos que, por uma razão ou outra, se meteram no meu caminho e me despertaram a curiosidade. Desta vez foi o São Jorge, pela mão de Edward Gibbon, que é reconhecido como o pai da historiografia moderna, no seu livro de 1776, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire.

Aquilo que tradicionalmente se diz do santo está envolto numa bruma lendária, de veracidade mais que duvidosa, a ponto do Papa Paulo VI o ter retirado do calendário litúrgico. Gibbon era historiador e escreveu baseado em documentos e não na tradição, e surpreendeu-me a discrepância da vida real do "santo", face ao que depois dela contaram.

Resumo das páginas 511, 512, 513:

“Jorge, cognominado o Capadócio (na actual Turquia), devido à origem dos pais e ao local da sua educação, era filho de um pisoeiro. Elevou-se a partir deste nascimento obscuro e servil por via dos talentos de um parasita; e os protectores, a quem lisonjeava assiduamente, arranjaram a este indigno valido uma comissão lucrativa, ou um contrato, para abastecer o exército de carne de porco salgada. Tinha um emprego mesquinho e tornou-se infame. Acumulou riqueza lançando mão dos mais baixos meios de fraude e da corrupção; mas as suas malversões eram tão notórias, que Jorge se viu forçado a fugir às buscas da justiça. Depois desta peripécia em que parece ter salvo a fortuna à custa da honra, adoptou, com sinceridade ou hipocrisia, a profissão do arianismo. Mercê do seu amor verdadeiro ou fingido às letras, reuniu uma valiosa biblioteca de História, retórica, filosofia e teologia, e a escolha da facção cristã dominante, elevou Jorge da Capadócia ao lugar de Bispo de Alexandria no Egipto.

A entrada do novo arcebispo foi a de um conquistador bárbaro, e cada momento do seu reinado ficou manchado pela crueldade e a avareza. Os católicos de Alexandria e do Egipto acharam-se abandonados a um tirano …que alardeava a pompa e a insolência da sua alta posição, continuando a mostrar os vícios da sua baixa e servil extração. Os mercadores de Alexandria viram-se empobrecidos pelo monopólio injusto e quase universal que ele conseguiu do nitro, do sal, do papel, dos funerais, etc.; … Os alexandrinos jamais puderam esquecer ou perdoar o imposto que ele sugeriu sobre todas as casas da cidade, sob o obsoleto pretexto de que o régio fundador da cidade, transmitira aos seus sucessores, os Ptolomeus e os Césares, a propriedade perpétua do solo. 

Sob o reinado do imperador Constâncio, foi expulso pela raiva, ou antes, pela justiça do povo; e só com uma violenta luta se conseguiu restaurar a autoridade dos poderes civis e militares do Estado. … Jorge e dois dos seus obsequiosos ministro, foram vergonhosamente conduzidos acorrentados para a prisão pública. Ao cabo de vinte e quatro dias, a prisão foi assaltada pela fúria da multidão supersticiosa, impaciente com a morosidade dos procedimentos judiciais. Os inimigos dos deuses e dos homens expiraram no meio de cruéis insultos; os corpos sem vida do arcebispo e dos seus companheiros foram transportados em triunfo pelas ruas, no dorso de um camelo e a passividade da facção atanasiana pareceu a toda a gente um notável exemplo de paciência evangélica. Os restos deste miseráveis criminosos acabaram por ser atirados ao mar. A morte louvável do arcebispo apagou a memória da sua vida. O rival de Atanásio era estimado e venerado pelos arianos, e a aparente conversão destes sectários introduziu o culto dele no seio da Igreja Católica. O odioso estrangeiro, depois de se adulterarem todas as circunstâncias de tempo e de lugar, assumiu a máscara de um mártir, de um santo e de um herói cristão; e o infame Jorge da Capadócia foi transformado no famoso São Jorge de Inglaterra, o patrono das armas, da cavalaria e da Jarreteira.”

Foram os cruzados, que ajudaram a conquistar Lisboa aos mouros, a razão do nome de Castelo de S. Jorge, em Lisboa. Dom Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino, considerou-o responsável pela vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota e mandou erguer a Ermida de São Jorge em Porto de Mós, a testemunhar esse facto. O Rei Dom João I de Portugal que também era devoto do Santo, substituiu Santiago Maior por São Jorge como padroeiro de Portugal e o Jorge de Capadócia, deve-se estar a rir, … no Inferno!

Jorges da Capadócia, com protagonismo religioso, a viver naquela época, pode haver muitos, mas credibilidade cega, superstição infundada e fraude deliberada são marca constante em toda a história religiosa

 


 

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Influencers



Os "influencers" são os “ponta de lança” da Sociedade do Consumo, a nova religião das sociedades “ocidentalizadas” e, como é o supérfluo que dá trabalho e felicidade à maioria da população, são as futilidades que dominam as suas curtas apresentações.

Noutro tempo, quando os bens de consumo eram escassos, esse espaço esteve dominado pelo “misticismo”, os seus “influencers” vendiam múltiplas versões do sobrenatural, ocupando as mentes e orientando as atitudes dos grupos a que tinham acesso.

O Império Romano nunca impôs os seus deuses aos povos conquistados. Os deuses dos outros eram “mais uns”. Quando muito procuravam analogia com os seus e todos conviviam, com a excepção dos Judeus, que sempre se consideraram o Povo Eleito, reivindicam a posse exclusiva do conhecimento divino e consideram ímpias e idólatras todas as outras formas de culto.

Aos deuses de Roma e dos restantes povos era pedido que olhassem pelo dia a dia e ajudassem nos negócios, na doença e na guerra, enquanto os “influencers” dos judeus já vendiam o Paraíso aos seus prosélitos.

Como a felicidade eterna é um produto “mais interessante” que a felicidade no dia de hoje, Jesus e os seus apóstolos viram um mercado imenso nos “pagãos”, garantindo-a a todos, independentemente da sua condição, desde que adoptassem a fé e observassem os preceitos do Evangelho. Esta ideia associada à profecia que o “fim do Mundo” estava próximo e com ele o dia do Juízo Final, em que “os mais soberbos monarcas iriam gemer no profundo abismo das trevas, magistrados se liquefariam em fogos ardentes e filósofos enrubesceriam nas chamas abrasadoras junto aos seus alunos iludidos”, convenceu muitos de que era melhor jogar pelo seguro e abraçar os ditamenes desses “influencers”, esforçando-se por conciliar os interesses do mundo presente com os de uma vida futura no Além.

Os “influencers” do Cristianismo tinham “o produto” (o Fim do Mundo e a Vida Eterna), a facilidade das vias de comunicação romanas para o promoverem e a intransigência judaica no seu espírito, isto é: todas as condições para minar as consciências dos temerosos gentios e, lentamente, foram conquistando o Império.

Hoje vivemos tempos de mudança. A Sociedade de Consumo é insustentável e os seus “influencers” começam a perder dominância face aos novos místicos, com histórias de Fins do Mundo. A Internet,  uma população descontente e a intransigência, são o caldo onde florescem Evangélicos cristãos e Islâmicos radicais, apregoando o velhinho: "quem está connosco, está com Deus!" e quem não estiver só pode estar possuído por demónios, que os obrigam a professar outras ideias e só há 2 modos de expulsar – pelo exorcismo ou pelo fogo.

Talvez a Inteligência Artificial consiga refrear as multidões que tendem a ouvir os “influencers da vida para além túmulo", porque o racional do colectivo humano não nos leva (como nunca nos levou) a portos seguros, e do que precisamos é de cuidar do legado dos nossos antepassados, para que os nossos filhos possam ter uma vida melhor que a nossa ... nesta Terra.
Queira Deus! … Ou melhor, … Queiram todos os Deuses!

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Septimus Severus


Severo (145 - 211 EC - Era Comum), imperador de 193 a 211, considerava o Império Romano como sua propriedade …

Na administração da Justiça, as decisões do imperador caracterizaram-se por atenção, discernimento e imparcialidade; e, sempre que se desviava da estreita linha da equidade, fazia-o geralmente a favor dos pobres e dos oprimidos; não tanto, de facto, por um qualquer sentido de humanidade, como pela propensão natural do déspota para humilhar o orgulho dos grandes e reduzir todos os súbditos ao mesmo nível comum de absoluta dependência.

In "História do Declínio e queda do Império Romano" de Edward Gibbon (Volume I)

 

domingo, 23 de julho de 2023

Valor


Este desenho era para ser um estudo do “valor” para uma eventual aguarela, mas o que me fica, depois de o ter terminado, é que tenho de me meter ao caminho para conseguir fotografias onde a luz seja o elemento principal, onde existam zonas de plena luz contrastando com zonas onde a luz quase não existe.

Tal facto, faz-me lembrar um cirurgião com quem partilhei histórias, muito dado à fotografia, que se levantava a desoras para que os primeiros raios solares atingissem uma poça de água estrategicamente colocada e a fotografia resultasse. Então, ri-me “condescendente”! Quase vinte anos depois, lamento não ter aprendido um pouco do muito que ele sabia.

É a vida! 

 

terça-feira, 18 de julho de 2023

O significado da vida num mundo sem trabalho

Por: Yuval Noah Harari

A maioria dos empregos que existem hoje pode desaparecer dentro de décadas. À medida que a inteligência artificial supera os seres humanos em tarefas cada vez mais complexas, ela irá substituir os humanos em cada vez mais trabalhos. Muitas novas profissões irão provavelmente aparecer: designers do mundo virtual, por exemplo. Mas essas profissões irão exigir mais criatividade e flexibilidade, e não é provável que os motoristas de táxi ou os agentes de seguros desempregados, com 40 anos, se reinventem como designers do mundo virtual (tente imaginar um mundo virtual criado por um agente de seguros!?). E mesmo que o ex-agente de seguros de alguma forma faça a transição para designer de mundo virtual, o ritmo do progresso é tal que, dentro de mais uma década, ele pode ter que se reinventar de novo.

O problema crucial não é criar novos empregos. O problema crucial é a criação de novos empregos onde os humanos apresentem melhor desempenho que os algoritmos. Consequentemente, até 2050, uma nova classe de pessoas poderá surgir – a classe desocupada. Pessoas que não estão apenas desempregadas, mas que são inempregáveis. A mesma tecnologia que torna os seres humanos inúteis, também pode tornar viável alimentar e apoiar as massas desempregadas através de algum esquema de renda básica universal. O problema real será, então, manter as massas ocupadas. As pessoas devem-se envolver em atividades propositadas, ou ficam loucas. Então, o que a classe desocupada irá fazer o dia todo?

Durante milhares de anos, biliões de pessoas encontraram significado em jogar jogos de realidade virtual. Chamamos  “religiões” a esses jogos de realidade virtual.

O que é uma religião, senão um grande jogo de realidade virtual desempenhado por milhões de pessoas juntas? Religiões como o Islão e o Cristianismo inventaram leis imaginárias, como “não comer carne de porco”, “repita as mesmas preces um número determinado de vezes por dia”, “não faça sexo com alguém do seu próprio gênero” e assim por diante. Essas leis existem apenas na imaginação humana. Nenhuma lei natural exige a repetição de fórmulas mágicas, e nenhuma lei natural proíbe a homossexualidade ou a ingestão de porco. Muçulmanos e cristãos atravessam a vida tentando ganhar pontos no seu jogo de realidade virtual favorito. Se você reza todos os dias, você obtém pontos. Se vvocêse esqueceu de orar, você perde pontos. Se, no final da sua vida, você ganhar pontos suficientes, depois de morrer, você vai ao próximo nível do jogo (também conhecido como o Paraíso).

Como as religiões nos mostram, a realidade virtual não precisa ser encerrada dentro de uma caixa isolada. Em vez disso, ele pode-se sobrepor à realidade física. No passado, isso foi feito com a imaginação humana e com livros sagrados. No século 21 pode ser feito com smartphones.

Algum tempo atrás, fui com o meu sobrinho de seis anos, Matan, caçar Pokémon. Enquanto caminhávamos pela rua, Matan continuava a olhar para o seu telefone inteligente, o que lhe permitia detectar Pokémon à nossa volta. Eu não vi nenhum Pokémon, porque não levava nenhum smartphone. Então vimos outras duas crianças na rua que estavam caçando o mesmo Pokémon, e quase começamos a lutar com eles. Parecia-me uma situação  semelhante ao conflito entre judeus e muçulmanos sobre a cidade sagrada de Jerusalém. Quando você olha a realidade objetiva de Jerusalém, tudo o que vê são pedras e edifícios. Não há santidade em qualquer lugar. Mas quando você olha através de smartbooks (como a Bíblia e o Alcorão), você vê lugares sagrados e anjos em todos os lugares.

A ideia de encontrar um significado na vida ao jogar jogos de realidade virtual é, evidentemente, comum não apenas às religiões, mas também às ideologias seculares e estilos de vida. O consumo também é um jogo de realidade virtual. Você ganha pontos adquirindo carros novos, comprando marcas caras e gozando férias no estrangeiro, e se você tiver mais pontos do que todos os outros, diz a si próprio que ganhou o jogo.

Você pode contrariar dizendo que as pessoas realmente gostam de seus carros e férias. Isso certamente é verdade. Mas os religiosos realmente gostam de orar e realizar cerimónias, e o meu sobrinho realmente gosta de caçar Pokémon. No final, a ação real sempre ocorre dentro do cérebro humano. Não importa se os neurônios são estimulados observando pixels numa tela de computador, olhando para fora das janelas de um resort do Caribe ou vendo o céu com os olhos da mente. Em todos os casos, o significado que atribuímos ao que vemos é gerado pelas nossas próprias mentes. Não é realmente “lá fora”. Para o melhor de nosso conhecimento científico, a vida humana não tem significado. O significado da vida é sempre uma história de ficção criada por nós humanos.

No seu ensaio inovador, Deep Play: Notas sobre a Luta de Galos em Bali (1973), o antropólogo Clifford Geertz descreve como na ilha de Bali, as pessoas passaram muito tempo e dinheiro apostando em lutas de galos. As apostas e as lutas envolveram rituais elaborados, e os resultados tiveram um impacto substancial na posição social, econômica e política de jogadores e espectadores.

As brigas de galos eram tão importantes para os balineses que, quando o governo indonésio declarou a prática ilegal, as pessoas ignoraram a lei e se arriscavam a prisão e multas pesadas. Para os balineses, as brigas eram “jogo profundo” – um jogo criado que é investido com tanto significado que se torna realidade. Um antropólogo balines poderia, sem dúvida, ter escrito ensaios semelhantes sobre futebol na Argentina, Brasil ou no judaísmo em Israel.

De facto, uma secção particularmente interessante da sociedade israelense fornece um laboratório exclusivo de como viver uma vida satisfeita num mundo pós-trabalho. Em Israel, uma percentagem significativa de homens judeus ultra-ortodoxos nunca trabalhou. Passam toda a vida estudando escrituras sagradas e a realizar rituais de religião. Eles e suas famílias não morrem de fome, em parte porque as esposas muitas vezes trabalham, em parte porque o governo lhes fornece generosos subsídios. Embora geralmente vivam na pobreza, o apoio do governo significa que nunca lhes falta a satisfação das necessidades básicas da vida.

Isso é uma renda básica universal em ação. Embora sejam pobres e nunca trabalhem, em pesquisa após pesquisa, esses homens judeus ultra-ortodoxos relatam níveis mais elevados de satisfação com a vida do que qualquer outra parte da sociedade israelense. Nos levantamentos globais sobre a satisfação da vida, Israel está quase sempre no topo, graças em parte ao contributo destes pensadores profundos e desempregados.

Não é necessário ir a Israel para ver o mundo do pós-trabalho. Se tem em casa um filho adolescente que gosta de jogos de computador, pode ter a sua própria experiência. Forneça-lhe um subsídio mínimo de Coca-cola e pizza e, em seguida, remova todas as demandas de trabalho e toda a supervisão. O resultado provável é que ele irá permanecer no seu quarto por dias, colado ao ecrã. Não vai fazer qualquer trabalho de casa ou tarefas domésticas, vai ignorar a escola, ignorar as refeições e até mesmo ignorar os chuveiros e dormir. No entanto, é improvável que ele sofra de tédio ou de uma sensação de sem propósito. Pelo menos no curto prazo.

Portanto, as realidades virtuais provavelmente serão fundamentais para fornecer significado à classe desocupada do mundo pós-trabalho. Talvez essas realidades virtuais sejam geradas dentro dos computadores. Talvez sejam gerados fora dos computadores, sob a forma de novas religiões e ideologias. Talvez seja uma combinação das duas. As possibilidades são infinitas, e ninguém sabe com certeza que tipos de peças profundas nos envolverão em 2050.

Em qualquer caso, o fim do trabalho não significará necessariamente o fim do significado, porque o significado é gerado pela imaginação em vez de pelo trabalho. O trabalho é essencial apenas para o significado de acordo com algumas ideologias e estilos de vida. Os escravos ingleses do século XVIII, os judeus ultra-ortodoxos atuais e as crianças de todas as culturas e eras, encontraram muito interesse e significado na vida, mesmo sem trabalhar. As pessoas em 2050 provavelmente poderão jogar jogos mais profundos e construir mundos virtuais mais complexos do que em qualquer momento anterior da história.

E quanto à verdade? E a realidade? Realmente queremos viver num mundo no qual biliões de pessoas estão imersas em fantasias, buscando objetivos criativos e obedecendo leis imaginárias? Bem, goste ou não, esse é o mundo em que vivemos há milhares de anos.

Texto publicado em The Guardian, 2019, por Yuval Noah Harari

quarta-feira, 5 de julho de 2023

A Faixa de Gestão de Combustível em redor dos aglomerados populacionais.


Eu já estive nas imediações de um incêndio florestal, envolvendo eucaliptos e pinheiros, e tenho a certeza que, aquela temperatura de combustão, não se compadece com pequenas barreiras à sua progressão. Dito isto, saúdo quem faz a limpeza regular na Faixa de Gestão de Combustível (FGC), junto aos aglomerados populacionais - é uma faixa de 100 metros, onde os eucaliptos e pinheiros devem ter as copas a 10 metros e as outras árvores, para além de terem de estar desramadas até 4 metros, têm de ter as copas afastadas 4 metros.

E isto significa que os terrenos que ficam na Faixa não têm rentabilidade para madeira, salvo se lá puserem árvores de crescimento lento e que só terão valor passados mais de 100 anos. Há pois que achar soluções para os milhares de proprietários que se veem despojados desta fonte de rendimento, agravado pela necessidade de, todos os anos, terem de os manter limpos de acordo com a lei.

Os urbanistas têm aqui um papel primordial, já que o tipo de construção ao longo das estradas proporciona uma área de FGC muito maior que a de uma aldeia compacta, pelo que continuar a licenciar nova construção nos moldes anteriores irá agravar o problema.

O “mundo mudou”, como disse José Sócrates, em finais de 2010, quando foi “aconselhado” a reduzir o consumo e a suspender os grandes investimentos. Ora, para quem tem terrenos nas Faixas, há muito que ele mudou, uma vez que a lei é de 2006 e tem sido implementada gradual e progressivamente, pese embora ainda não terem caído em força as coimas sobre os incumpridores, talvez porque o trabalho dos urbanistas, silvicultores e políticos demore a propor solução para estes terrenos, que deixam de ser produtivos como floresta.

O aquecimento global é uma realidade que já ninguém contesta. O risco de incêndio cresce todos os anos e eu, que confino com floresta, vou aguardando … e, às vezes, … desesperando!


domingo, 2 de julho de 2023

Eventos

 

Nos tempos que correm, o que está a dar são os “eventos”, que se apresentam como solução para o isolamento crescente a que todos nos vamos votando. E há-os de reduzida, de média e de grande dimensão, a ponto de até parecer mal não ter participado em qualquer um deles.

A primeira vez que ouvi falar de “eventos” foi num noticiário a propósito do genro de Cavaco Silva, Luís Montez, ter sido investigado por causa da venda do Pavilhão Atlântico. Soube então que ele estava ligado à música e aos Festivais de Verão. Isto em 2010. Como o homem, ao que parece, terá enriquecido, a moda dos “eventos” espalhou-se por outros domínios e apareceram “eventos” para todos os gostos e feitios. Os Festivais da Sardinha, da Cereja, do Bacalhau, do Marisco, da Cerveja, da Sopa, do Carapau, do Vinho Verde, do Chouriço … e do mais que um tipo se pode lembrar, multiplicaram-se pelas cidades e aldeias do país para estimular as gentes a sair de casa e a gastar o pouco que lhe sobra num turismo que pouco difere do que lhe entra casa adentro pela televisão.

Noutros tempos era o Futebol e as festas religiosas que geravam os “eventos”: a Páscoa, o Natal, os Santos Populares e os Santos padroeiros das 3091 freguesias de Portugal (já foram 4 259, pelo que é provável que haja dois ou mais nas que se juntaram na reforma administrativa de 2013), mas a concorrência cresceu. O Futebol manteve a onda, enquanto que a religião tende a perder cota, pese embora o turismo religioso de Fátima, as Jornadas das Juventude que o Papa traz a Lisboa ou os esforços de alguns, como o padre Fontes, que inventou a sexta-feira 13, em Montalegre.

Acabados os eventos, partilham-se as fotos nas redes sociais e mantêm-se as pulseirinhas nos pulsos, longas semanas, a atestar o “eu estive lá!”. Depois, cada um volta ao seu recanto para jogar jogos, trabalhar “on line” ou num posto cada vez mais isolado.

Quem organizou o “evento” é suposto ganhar uns milhares, bem como a hotelaria e a restauração do lugar, mas há aqueles a quem o “evento” não beneficia e só veja o seu trabalho agravado. Neles incluo o pessoal de Saúde (mas não só), que tem de lidar com os excessos, as disfunções e as doenças desse acréscimo de população, que têm de adiar férias ou de fazer horas extra ao preço habitual, enquanto os hotéis multiplicam várias vezes os seus preços.

Por isso, não é de espantar que, quem não vê na mira a correspondente fatia do bolo, fale em distúrbios e em greves para os dias do evento.

É a vida, como diria Guterrez!

terça-feira, 20 de junho de 2023

Raquel


A vida é feita dos encontros a que nos expomos (voluntariamente ou trazidos pelo Acaso). Umas vezes nem um vento forte nos move, outras, uma palavra ou um olhar chega para nos mudar o rumo, se nele vislumbramos Esperança que nos inspire e nos dê ânimo. Ser sensível é a chave e essa é a principal memória que guardo da dra. Raquel Afonso.

Hoje celebramos uma sua vitória, que também é de todos os que de algum modo contribuíram para a sua formação e é com um misto de alegria e tristeza que a vemos voar para outras paragens, após cinco anos de partilhas. No meu caso, poucos meses, mas os suficientes para poder lembrar a menina atenta, tímida e muito feminina. Outros, mais envolvidos na ciência, irão defini-la com outros atributos. Eu fico-me por estes, na certeza de que a médica que lhe está dentro é tão grande quanto a sua alma, que tentei transcrever neste retrato.

Que a Sorte a proteja!

Nota: Ela é muito mais bonita que o desenho sugere.


A última ceia

quarta-feira, 14 de junho de 2023

De uma vez por todas



Hoje ouvi, mais uma vez, na Comunicação Social, a frase “de uma vez por todas”, como se fosse possível, com a resolução de um problema, ficarem todos os do género resolvidos e lembrei-me destas citações de Heráclito de Éfeso, que viveu 500 anos AEC (Antes da Era Comum): "Tudo está em mudança, nada permanece imóvel", "nenhum homem mergulhará duas vezes no mesmo rio". 

A política é a arte do possível e tem de levar em consideração as limitações e as oportunidades do momento, pelo que julgar com base numa visão retrospectiva pode ser injusto e inadequado se não se levar em conta a constante mudança dos eventos.
Mas quem pouco sabe e pouco faz, não se coíbe de usar generalizações simplistas e diagnose póstuma, desconsiderando a complexidade das situações e os desafios enfrentados pelos tomadores de decisão.

Quem usa a frase “de uma vez por todas”, parece ignorar que nada está definitivamente resolvido e que é necessário estar continuamente atento aos acontecimentos para evitar o rápido resvalar para situações de difícil ou impossível controle.

terça-feira, 13 de junho de 2023

Janela



Baseado em foto do Dr. Carlos Ribeiro. 

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Manuel Tavares - aguarelista

Manuel Tavares nasceu em 1911, no Couto de Cucujães (Oliveira de Azeméis) e faleceu em 1974. Era um autodidata.

Aveiro foi uma das terras onde viveu e onde se distinguiu como paisagista, tema em que se destacam as marinhas e a ria.

Manuel Tavares está representado em diversos museus: Museu Soares dos Reis (Porto), de Aveiro, Beja, Faro e Matosinhos, bem como em coleções privadas, portuguesas e estrangeiras.

domingo, 28 de maio de 2023

Outeiro

 

Outeiro 41,789, -7,946


quarta-feira, 24 de maio de 2023

A eira



 Esta é uma segunda tentativa. Na primeira estava tudo bem até não saber parar a tempo e na aguarela, não é possível voltar atrás. No próximo sábado ou levá-lo à professora Paula para ela dizer o que tem a dizer. O autodidatismo, não é para todos.  

domingo, 14 de maio de 2023

Urban sketch



 O tema previsto para hoje era a Fé. Não só a fé religiosa, porque não são só as religiões que têm fiéis. Há fiéis com igual fervor no Partido Comunista, no Benfica, no Liberalismo, na Ciência que, à sua maneira, fazem iguais peregrinações e se dispõem às mais diversas provações e martírios.
Fé, nem todos temos, mas todos temos um quê de superstição. Quem não evitou pisar os riscos do passeio para ultrapassar uma prova, vestir as cuecas da sorte para ter boa nota num exame ou qualquer outra coisa semelhante. Quem "não" que atire a tal pedra que todos trazemos no bolso para quem não é da nossa tribo.
Mas quando a Fé e a Superstição se unem à moda dos Eventos e a actividade económica que gera beneficia o país, a comunicação social entra no jogo e não há emplastro que não seja chamado a dar o seu contributo.  


Nada contra. É melhor assim que deixar gente ao abandono sem uma esperança (mesmo que ela seja vã), quando não se quer ou não se pode dar coisa mais palpável.

O desenho é do Largo de S. Domingos, onde existe uma estátua a Frei Bartolomeu dos Mártires, que é "dos Mártires" por ter nascido na extinta freguesia dos Mártires, em Lisboa. 

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Largo Vasco da Gama



Saí para fazer o desenho e acabei a tirar uma fotografia ao Largo Vasco da Gama. A abertura do Hotel, encerrado há 16 anos, obrigou a um arejamento da zona que tem a cara lavada desde Março.

A Ryan Air despeja, diariamente, centenas de turistas no aeroporto Sá Carneiro e muitos deles vêm por aí acima, a pé, seguindo as setas amarelas, fazendo o “Caminho de Santiago pela Costa”. São pouco mais de 230km e, para aqueles que não dispensam as comodidades, há os hotéis e quem lhes leve as malas entre as “estações” do percurso.

São poucos os que seguem as setas azuis, em sentido contrário, em direcção a Fátima, mas lá iremos, que o turismo veio para ficar e o turismo religioso, com fé ou sem ela, dá dinheiro a muita gente. E Viana do Castelo equipa-se.


segunda-feira, 8 de maio de 2023

Conversa de Café

 

Desenho aguarelado sobre papel Inart 110g/m2

O homem comum é exigente com os outros! O homem superior é exigente consigo próprio!

Marco Aurélio (121 - 180 E.C.) Nunca desejou ser imperador. Aceitou esse fardo por acreditar que poderia promover o bem. 

quarta-feira, 3 de maio de 2023

terça-feira, 2 de maio de 2023

Nova Contratação

Este é o novo contratado. Veio de fatinho novo e cheio de vontade de trabalhar para substituir o Sr. Feliz que se reformou, ao fim de 20 anos, depois de um acidente de trabalho. No primeiro dia já levou uns arranhões, mas não se queixou. 

Parece bom tipo. 



 

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Casa do Cabo

Aguarela sobre papel Inart 110g

 

terça-feira, 25 de abril de 2023

Política

 

25 de Abril sempre. Fascismo nunca mais! O povo Unido jamais será vencido! Gritam-se os slogans de Abril e depois vai-se discutir política e futebol na mesma onda. É assim o Portugal dos populistas.

Em casa, mal ou bem, fazem a verdadeira política. Fazem contas, estabelecem prioridades e, se errarem nos planos, procuram compensar com o orçamento disponível. Mas, no Café, a discutir política, a música é outra. Os "valentes" disparam a torto e a direito, por tudo e por nada, sobre o governo, os políticos dos partidos tradicionais, os juízes, as leis e Instituições sejam elas dependentes do Estado ou não, atirando soluções para os problemas com um estalar de dedos.

O 25 de Abril, no meio das coisas boas, também deu voz activa a quem nem a passiva merece, e estes “iluminados” saíram dos cafés e meteram-se na vida pública. Trump e Bolsonaro são os exemplos recentes de que qualquer um pode chegar ao topo de um país democrático, para depois o tentar virar num estado despótico.

Soluções simples para problemas complexos, exigem muito esforço e capacidades e não é com “palpites” de quem não estudou os problemas que elas aparecem, e são poucos os portugueses que leem um livro e a maioria nem um texto como este são capazes de terminar, mas tal não os impede de usar as redes sociais para replicar os “memes” da moda ou de dar os “améns” aos que os seus amigos replicam.

O óptimo é inimigo do bom, porque o bom pode ser possível. Mas quando nem o bom é possível, que a solução a aplicar seja a menos má. Foi assim que sempre exerci a minha profissão, tentando identificar as condicionantes e adequar-me a elas. É assim que entendo a vida dos políticos e a de toda a gente que tem a cabeça em cima dos ombros.

Mas no populismo não há condicionantes. Não se faz porque se não quer. Ponto final. Para essa gente que nas redes sociais persiste em falar de política, seria bom um pouco de leitura.


Frases de Abril - roubado a Parlamento,pt