domingo, 28 de fevereiro de 2010

Encalhada


















Tem 43 anos, trabalha na construção civil, embora o seu ar frágil e bem vestido o não indicie. É de poucas falas e só o cabelo espetado lhe dá o ar de rapaz “às ordens”.
Conheci-o há uns dez anos, quando lhe foi feito o diagnóstico. Ainda vive com os pais e tem um jeito de quem faz as coisas “por fazer” sem o ânimo de um projecto de vida que se abraça.
Da primeira vez que lhe perguntei se tinha mulher, respondeu: “Tenho mulheres, quando preciso!”
Há dois anos iniciou tratamento com temor de ser identificado e, pela mesma altura, ficou desempregado.
- Tem namorada? perguntei.
- Tenho!
- E já lhe disse da doença?
- Tenho cuidado!
- Mas era bom que lhe dissesse! Insisto.
- Não é a sério! Por isso não tenho que lhe dizer!
- ???
...
Da vez seguinte, questiono-o de novo:
- Já lhe disse? Ela tem de fazer os testes!
- Já não ando com a mesma!
- E a esta já disse?
- Esta é a sério!
- Mas disse-lhe?
- Não! Porque vou ficar com ela!
- Como assim ???
- Ela tem mais de 40 anos e ainda está solteira. As irmãs dela já estão todas casadas. Ela já não ia casar. Como vou ficar com ela, ... não preciso de dizer!
E dito isto, olhou-me de frente e encolheu os ombros, tornando-me evidente o que me custava entender.
História de A.S.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Safados



















Então? Estás-te a safar? Porreiro!
Este dia a dia a ver safados a abafarem quem se esforça por dar um pouco de qualidade ao que se faz, com a complacência de quase todos, tolhe-nos o destino.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Uma dor


















Tem na pele as marcas do sal e do vento dos muitos anos de mar. Uma sobrancelha grossa, quase única, assoma por baixo de um boné com um “Beauty Hunter” flamejante sobre a pala, a encobrir os olhos pequenos e escuros onde o branco mal se vê. Veste calça e camisola preta sobre uma camisa vermelha coçada. Nos pés meias brancas e sapatilhas castanhas. No anular esquerdo um volumoso anel agiganta-lhe as mãos calosas.
Saúdo-o, e ofereço-lhe a cadeira em frente. Senta-se e recosta-se enquanto põe as mãos cruzadas atrás da nuca.
Pergunto: - Como tem andado! Tem tido a dor?
-Vou morrer com ela!
-Tem ido ao mar?
-Só fui 3 ou 4 vezes!
-Porquê? Pela dor?
-Tenho medo da polícia marítima. É que 300 contos de multa, é muito dinheiro! Eu estou reformado, e não posso trabalhar no mesmo. … A dor não é como a de 2000, nem coisa que se pareça. Quando me deito a pensar nas coisas da vida é que ela vem a dar uma fugidinha no peito.
História de S.O.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mandamentos para um Interno numa Unidade de Cuidados Intensivos

























Regras de Senso Comum na Medicina do Doente Crítico
(baseado em texto afixado na UCIP do HSA)

1: Nunca assumas o óbvio.
2: As doenças comuns são as mais frequentes.
3: Quando estiveres a executar uma técnica, lembra-te que se alguma coisa pode correr mal, ela um dia irá certamente correr mal. Prepara-te o melhor possível.
4: Se pensas que as coisas não podem ficar pior, acredita que podem.
5: Não desmontes um relógio se não o sabes montar. Vais arranjar lenha para te queimar.
6: Nada na Medicina permanece constante.
7: Cuidado com a Lei da Especialização: se fores um martelo, o resto do mundo é um prego.
8: Um "abdómen agudo" é quando um BOM cirurgião diz que é um abdómen agudo. Não existe nenhum teste para isso.
9: Antes de pedires um exame, decide o que farás se for positivo ou negativo. Se as respostas forem iguais, não o peças. Corolário: Se o teste não altera a tua estratégia, não o peças.
10: Não existe nenhuma manifestação que não possa ser causada por um determinado fármaco.
11: Se o fármaco não funciona, suspende-o.
12: A qualidade do cuidado prestado ao doente é inversamente proporcional ao número de especialidades (consultores) envolvidos nesse caso particular.
13: Se vai ficar ilegível, não escrevas.
14: Se as ordens forem passíveis de má interpretação, serão certamente mal interpretadas.
15: É função dos Enfermeiros informar. A tua função é decidir.
16: Nunca ignores uma chamada de atenção de um Enfermeiro. Quando em dúvida, faz o que o que eles sugerem.
17: Sê cordial com os Enfermeiros e serás retribuído da mesma maneira. As suas sugestões podem ser úteis. Reparam em coisas que te esqueceste e são uma enorme ajuda em situações críticas. Se fores desagradável, terás uma vida miserável.
18: Se não sabes o que fazer, não faças nada e pede ajuda. Fazer mal não é melhor que não fazer nada.
19: Pede e insiste na ajuda se tiveres questões ou problemas. Erros de inexperiência em doentes críticos podem ter consequências catastróficas.
20: Nenhum órgão falha de forma isolada.
21: A finalidade da entubação é a extubação.
22: Os vasos vazios fazem a maior parte do barulho (mau preenchimento).
23: Aquele que pensa que sabe tudo, não sabe nada.
24: Não te esqueças de comer, dormir e das restantes chamadas da natureza.
25: Analisa os sinais vitais, medicações, etc ..., mas não fiques obsessivo com todas as pequenas coisas, nem tentes corrigir todos os números, senão irás fazer mais mal que bem ao doente e a ti próprio. Corolário: Trata sempre o doente e não os números.
26: Não tenhas medo das máquinas. A única maneira de lhes aprender a funcionalidade, é brincar com elas com supervisão. E se não aprendes, desperdiças uma parte importante do teu estágio.
27: Tecnicamente não se pode matar ninguém nos Cuidados Intensivos. Tu deténs o controle sobre todos os parâmetros.
28: Nunca percas a CALMA. Paciência, confiança e flexibilidade são os alicerces necessários para as técnicas, para a organização do trabalho diário e para a diplomacia. Se perderes o controle, os teus amigos perderão a fé em ti e os teus inimigos saltar-te-ão em cima.
29: Não tenhas receio de falar sobre as tuas vivências, às vezes é tudo o que podes fazer.

O que eu aprendo com os jovens médicos, que se matam para adquirir competências!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

António Barreto























António Barreto (1942 - ...) - Sociólogo.
Brinda-nos com esta Pordata para pensarmos Portugal.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Vaidade























Sonho que sou a poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

“Il pleut comme vache qui pisse”













Todos os anos são notícia os desastres causados por cheias e continua-se a construir nas linhas de água, na ideia de que as novas tecnologias dominam a natureza
Não deve haver em Portugal zona urbana ribeirinha que tenha respeitado o “leito de 100 anos” do rio, isto é, o leito que ele só ocupa fora da esperança de vida de qualquer humano, e fala-se sempre de que “não há memória”.
Ontem foi na Madeira, amanhã vai ser noutro lado.
É que a natureza faz, como sempre fez! O seu ciclo não tem nada de humano!

Boa vontade não chega. É necessário saber e rigor para impedir que a “facilidade” por mau planeamento, obrigue a esta contínua actividade de bombeiro que nos caracteriza.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Triunvirato










-"Eu e tu vamos fazer um triunvirato. Depois eu mato-te, e o triunvirato fico a ser só eu!"

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Self Made Man




Agora já não é só assim.
As novas oportunidades aconselham a uma inscrição precoce num partido, e uma disponibilidade para o "vale tudo" da vida política.

Tem 36 anos.
Segundo o Diário Económico, recebeu no ano de 2009 - 1.200.000 Euros (um milhão e duzentos mil euros).
Para os antigos = 240.000 contos por ano, = 20.000 contos por mês.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Avatar















Segundo a religião hindu, Avatar é uma manifestação corporal de um ser imortal , por vezes até do Ser Supremo.
Avatar vem do sânscrito Aval, que significa "Aquele que descende de Deus", ou simplesmente "Encarnação". Qualquer espírito que ocupe um corpo de carne, representando assim uma manifestação divina na Terra é um Avatar.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Woody Allen















"Desde que funcione, qual é o mal?" é o que nos diz Woody Allen, neste seu último filme - "Whatever works" - “Tudo pode dar certo”.

Há muitos equilíbrios possíveis e, como tal, muitas soluções para o mesmo problema, mas nem todos são suficientemente estáveis para se continuar a construir sobre eles.
Claro que se pode questionar "a previsibilidade do futuro", mas a este pragmatismo "made in NY" e comercializado pelo mundo como uma nova religião, falta-lhe o filtro do tempo.

Quando, na História, a "permissividade / tolerância" aumentou, houve sempre quem aproveitasse as fragilidades daí resultantes.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Os bufos




















Estou a escrever e a pensar em vocês, que se insinuam nos espaços de quem decide, para, com conversas laterais, influenciarem as decisões.
O vosso jogo é anotar as falhas dos vossos pequenos ódios e desvalorizar-lhes as virtudes, e num “diz que diz”, misturar esse veneno com particularidades das vossas funções e aguardar pacientemente os efeitos.
Conheço esse discurso florido de preocupações institucionais, acompanhado de um histórico feito de “opiniões” nunca passadas a escrito. Mas se qualquer coisa dá certo, estais prontos para aparecer na fotografia.
Tentais vender a imagem de "virgens ofendidas, destituídas de qualquer interesse privado, a zelar pelo bem dos outros".
O mal é que a incompetência vos ouve e, num tempo de “roda livre”, sois vós que fornecem as armas ignóbeis com que se fortalecem as ditaduras.
Ide trabalhar!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Discoteca



“Estava a ver que nunca mais chegava a minha vez! Estava lá fora um bigodes a meter-se comigo, e eu tive de lhe dizer: - Olhe que eu sou casada!, e o bigodes olhou-me para a mão e perguntou: – E a aliança?, e eu respondi-lhe: Ficou em casa a dormir!”, e já sentada continua: “Sabe! Lá na minha terra há que impor o respeito. Há dois anos, eu estava sozinha e tinha medo, por isso casei para ter um marido para meter respeito! Ele engatou-me numa discoteca em Espanha. Eu estava lá com umas colegas, e ele não parava de olhar para mim!! Eu até pensava que ele era casado!
Mas não é que o desgraçado foi às meninas a Barcelona! Foi assim que ganhei a doença!
História de A.S.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Dia dos Namorados


















Eu sei que não tenho nada que me meter na tua vida, mas dou-te de comer, zelo pela tua saúde, e como tal, sinto-me obrigado a evitar que faças asneiras, para que não venhas depois, como agora, chorar ao pé de mim por te sentires doente.
Um macho que se preze põe limites ao amor e, mesmo que seja dia de namorados, deve manter o controle da situação.
Tu exorbitaste! Enrolaste-te de tal modo, que saístes dali com uma infecção na barba, fruto das muitas mordidelas intempestivas. Tu já sabias como ela era, que começava meiga mas em minutos te ferrava os dentes nas bochechas e no pescoço nessa brincadeira que te envaidece e que não controlas. Escusavas de chegar ao ponto de saíres dali a sangrar e a precisar de antibióticos.
Não fosse eu, se calhar até morrias com uma sépsis, tal a febre com que ficaste. Nem te conhecia, ali deitado com a cabeça de lado com aquele papo nos queixos a dar a dar, quando a custo ias de um lado para o outro. Obrigaste-me a afastar-vos e, até sarares, vai ficar cada um à vez no canil.
Vê se aprendes a não ser lorpa. Tens voz grossa e tamanho para impores um mínimo de respeito. Quando ela te voltar a morder desse modo, rosna-lhe forte, que ela até pode dar um ar de tristeza, mas passa-lhe, e vai voltar mais mansa e com outras maneiras.

















PS: Lembro-te que ela é castrada, e que isto de Dia dos Namorados tem muito de comercial!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Nocturnos























Cinco contos para ler ao fim do dia, onde os músicos são centrais, não pela música, mas por pequenas histórias das suas vidas.
A primeira sobre um “crooner” em fim de carreira, a segunda sobre dois “mortais” (ele/ela) que partilham a memória de uma música que os quase uniu, a terceira sobre uma história de verão de um guitarrista em início de carreira, a quarta sobre um saxofonista que a pouca beleza não facilita a promoção e a quinta sobre um violoncelista pobre que procura na qualidade o espaço que pensa merecer.
Em todas estas histórias sente-se a música ao fundo, e os seus finais de uma triste indefinição, frisam o pragmatismo dos nossos dias.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sr. Monteiro


















Tem 37 anos, mas mantém o estilo "teenager" como imagem de marca. Entra a balançar o corpo, com o boné preto bem enfiado na cabeça. Cumprimenta com um ar levemente desafiador, e senta-se como se estivesse numa esplanada.
Inicio a consulta, tentando quebrar aquela desmesura.
- Como tem passado?
- Bem!
- E os filhos?
- “Os filhos?”, estranha que me lembre, - “Andam por aí com as mães e os padrastos!”, e depois, mais prasenteiro, lembrando-se de uma novidade, “O mais velho, foi pai há 1 mês!”, afirma, como quem se admira.
- “Então você já é avô!", espanto-me, … "Foi pai muito cedo!”.
- “O primeiro foi aos 14 anos. … Depois, passa-se a gostar e pronto!”, explica, para completar enfastiado, “Agora já não tenho que me preocupar com isso. Já não funciona!”
Espreguiça-se, tira o boné, e passa as mãos pela cabeça como se estivesse a apanhar o cabelo atrás. Interrompe o gesto a meio, sorri e diz em jeito justificação: -“É do hábito, de quando tinha o cabelo comprido!”
Tem o cabelo rapado só do lado esquerdo e ligeiramente comprido à direita. Questiono o porquê do corte, que lhe desconhecia.
- “Sr. Monteiro, eu não tenho nada com isso, mas porque é que fez esse corte tão esquisito?”
- “Tive de o rapar por causa da Radioterapia!”
- “Mas ficava-lhe melhor se o tivesse rapado todo!”, arrisco a opinião.
- “A Gillette acabou, e eu não rapei mais!”, responde, deixando-me na dúvida da veracidade da afirmação.

- Está bem! Vamos à sua doença. Como se sente? ...
História de A.S.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Armando


















Soube hoje que morreste, e é por isso que só agora te escrevo. Nem sabia que estavas doente e, de repente, a notícia vem como um punho – O Armando morreu!.
Confesso que me deixaste a pensar. Apesar de tudo não estavas velho nem tinhas antecedentes que o fizessem prever.
Há anos que não nos falávamos mas, pese embora o teu divórcio da minha família, eu teria ido ao teu funeral dizer-te o último adeus.
Deves estar no céu (nem me passa pela cabeça que possas estar noutro lado, com tanta missa e tanto curso de cristandade a que foste), e bem perto desses anjos que defendias com unhas e dentes, nas discussões sobre Deus, que acabavam invariavelmente com cada um para seu lado, por eu não me sintonizar com esse lanço que trazias das JECs e que extremou alguns de nós.
Lembro-me do dia do teu casamento, onde te julguei senhor do mundo, tais as facilidades que aparentavas. Depois soubemos que vinhas de uma família humilde que se encostara à Igreja, e que era daí que recebias benefícios maiores que os do teu saber profissional.
Deixaste-me a dúvida dos porquês das depressões da minha prima, já que desse amor com que envolvias as palavras, podia ter sobrado algum que a confortasse, mas adiante, que isso são águas passadas e o que interessa é o presente. E o presente é que estás morto, e nesse céu de que falavas como se o desejasses.
Da última vez que te vi, foi num restaurante para os lados de Matosinhos. Estavas bem acompanhado no extremo oposto da sala, e nem te dignaste a cruzar olhares. Eu entendi! Pareceste comprometido e com medo que eu te falasse de assuntos que querias esquecer. Mas podias estar descansado, que eu não entendo um divórcio como um anátema e o mundo dá tantas voltas, que o mais sensato é a gente nunca cuspir para o ar.
Podia ter sido diferente se não racionalizássemos tanto, mas foi assim que a vida nos calhou e não temos que nos lamentar. Perdemos umas coisas, ganhamos outras.
Vou-me despedir. Fica bem por aí com os teus anjos e, se puderes, manda um qualquer indício que me ajude a entender esse espaço, para que eu me sacrifique mais nesta terra e possa ser feliz a teu lado!
Até lá!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Noticia da Radio Geice - 27 de Novembro de 2009







Hospital de Ponte de Lima já tem uma "Via Verde do AVC"


A partir de agora o Hospital de Ponte de Lima passa a dispor de um serviço de saúde único no distrito. Isto porque o Centro Hospitalar do Alto Minho acaba de inaugurar, naquela unidade de saúde, a designada “Via Verde do AVC”, e que visa a prestação de cuidados de saúde imediatos a vítimas de Acidente Vascular Cerebral. De acordo com Martins Alves, o presidente da Administração do Centro Hospitalar do Alto Minho, esta é também uma forma de discriminar positivamente o Hospital de Ponte de Lima. Refira-se que, até agora, todos os casos de AVC registados em Viana do Castelo eram encaminhados para o hospital de referência na região norte, neste caso o S. Marcos, de Braga. A partir de agora, os doentes serão então transportados para esta “Via Verde do AVC” instalada no Hospital de Ponte de Lima. Grosso modo, o Centro Hospitalar do Alto Minho estima que, em todo o distrito, se registe uma média de 500 internamentos/ano provocados por Acidentes Vasculares Cerebrais.

Original aqui!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Cliff Richard



Cliff Richard (1940 - …) e The Shadows, dominaram os meus "teens". Esta ainda a trauteio com agrado!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carta Aberta























Meu caro Sócrates:
Espero que estejas bem de saúde, que eu por cá vou-me aguentando.
Eu sei que andas numa fona, para que "o poder não caia na rua", mas tenho que te dizer que és responsável por muito do que agora corre mal.
Devias-te ter defendido de quem só tem em vista o benefício próprio, sem respeito pela qualidade do que fornece, e também te devias ter preocupado para que as Instituições Públicas incluíssem quem discorda, e não teres yes-men em todos lugares decisórios, pois o “carreirismo político” faz tudo para garantir uma boa reforma. Como dizia um dirigente aqui do bairro: “Isto é para andar agachado! Pois andar de pé faz sempre sombra a alguém!”
Meu caro, acreditei que fosses capaz de responsabilizar as chefias e as Instituições do Estado, e por isso defendi-te, mas sinto agora que perdeste a mão, e que já não tens apoio para defender os ideais que propalaste, em nome de um progresso que não se sente.
Há meses/anos que valem mais as intenções do que os resultados, e que há mais preocupação no “cozinhar das contas”, do que em garantir qualidade no que se faz e, como todo o "sistema" vive do mesmo, “uma mão lava a outra, e as duas lavam a cara”!
É um viver de fogachos, a dizer hoje o que amanhã se desdiz, na tentativa de emendar os problemas que surgem quando as “soluções de futuro” desagregam o funcionamento básico.
Foi isso que ouviram, que é possível tomar decisões que só terão plenos efeitos quando já estão longe, numa outra qualquer empresa do Estado, ou numa reforma assegurada e, se nessa altura “o pau cair”, já não os afectará.
Custa-me a crer que o tivesses premeditado. Creio que foste vítima de um excesso de juventude e de ignorância histórica, quando não valorizaste o enriquecimento dos políticos que te enxameavam. Por isso não te crucifixo. Fizeste o que sabias!
Até um dia!
Fernando

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Quem entra a seguir?












- “Quem vem a seguir, Sofia?”, pergunto à interna que me acompanha na Consulta.
- “É aquela que era casada com o coveiro, que quase a matou à facada!”.
- “Má sorte a dela!”, comento, enquanto lhe rebobino o passado, que a atirou semanas para uma Unidade de Cuidados Intensivos, com uma grave laceração da traqueia e várias perfurações pulmonares, a culminar uma relação de anos de conflitualidade e de alcoolismo.
- “Mas ela, nessa altura, bebia assim tanto?”, pergunta-me, surpresa, por não lhe conhecer doença hepática significativa.
- “Pelo que disse, começou a beber depois dos partos, porque a sogra dizia que o vinho dava muito leite, e depois ficou com uma depressão nervosa dos nervos, porque queria ir trabalhar e o marido não deixava, com medo que ela lhe pusesse os cornos. Aquilo evoluiu de tal modo, que a Segurança Social acabou por lhe tirar o cuidado dos filhos e os pôs com os avós paternos, depois de a terem encontrado no meio do rio, numa tentativa de suicídio. Agora arranjou este, há para aí dois anos, que lhe pegou a doença!”

- “Dona Bernardete, faz favor de entrar!”

Vem luxuriante, neste dia escuro de Inverno. Calções de ganga curtos, por cima de umas leggings pretas, camisola amarela com um largo decote a deixar ver o soutien creme riscado de vermelho e, como cereja no topo do bolo, umas botas brancas até ao joelho de tacão alto. Só o cabelo, curto, ondulado e penteado para trás era o de sempre.
Tem um ar feliz e despachado, pese embora uma franca assimetria da face e um extenso herpes labial.
-“O que se passa, Dona Bernardete! Como é que arranjou isso?”, questiono-a, enquanto ela se ajeita na cadeira e responde com o mesmo ar:
-“Se calhar foi de uma bica que uma vizinha me deu!”
-“De uma bica?”, pergunto, estranhando aquela relação. A Sofia informa-me que na terra dela chamam assim a uma papa de farinha de milho para cobrir o peixe que vai ao forno, e ela continua:
- "Ou então, foi uma vizinha que se enganou e me deu remédio dos ratos! Se calhar até podia ter sido de umas azeitonas que eu comi, ou sei lá … do AVH que eu tenho!"

- “Oh Dona Bernardete! Isso é tudo da doença! A Sra. tem de tomar os remédios, que as suas análises já estão muito alteradas. Já na última consulta, recusou o tratamento, mas agora tem de ser!”, insisto.
- “Sra. Dra! Eu não o recusei! A Sra é que arrebenta comigo do estômago! Eu não consigo tomar aquilo!”, diz, enquanto se recosta e acena que não com a cabeça, para depois voltar a colocar os cotovelos sobre a mesa, para me dizer como quem confidencia: - “E olhe que com o meu marido vai ser pior. Ele é só Crofts de manhã à noite!", diz, enquanto faz repetidas vezes o gesto no ar com o polegar em direcção à boca. -" Não vai aguentar!... Eu é pela doença, que já em pequena estive paralítica das anginas. Até o médico disse que eu tive sorte, porque o pus das anginas até mata o coração!"

-“Dona Bernardete! Vai começar por só tomar UM comprimido por dia, e se não acontecer nada depois aumenta-se. Está bem?”



Dois dias depois, no Serviço: - “Dra.! Arrebentou-me com o estômago!”

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Diálogo Médico-Família de doente terminal















Estes textos foram-me enviados por Dr. R.A. que os traduziu. São exemplares.


Um Pai Doente, uma Decisão de Vida ou Morte
Por ALICIA von STAMWITZ (editora e escritora em St. Louis), Publicado em 25 de Janeiro de 2010, no The New York Times
Estou absolutamente esgotada desde que o meu pai foi levado ao Serviço de Urgência, pouco depois da 1 hora naquela noite fria de Janeiro. Vivemos esta cena tantas vezes que, quando me telefonaram do lar a dizer que a ambulância o tinha levado, nem me preocupei em ligar aos meus irmãos que vivem noutros Estados. Deixei um recado no balcão da cozinha para os meus filhos adolescentes, apanhei a maleta que já está pronta para estas ocasiões e voei para o hospital atravessando a calma das ruas.
No SU saúdo o meu pai com um beijo. Está sentado numa maca, batalhando para respirar. Os seus olhos estão fechados e não reage à minha voz nem à minha presença, mas agarra a minha mão na sua quando me coloco do outro lado da equipa médica. Respondo ao que me perguntam no estilo telegráfico de que tanto gosto, evitando os pronomes e adjectivos.
“Sessenta e nove anos de idade.”
“Alcoólico bipolar.”
“Sim, duas operações de coração aberto.”
“Não, não consegue falar desde a última trombose, mas está mentalmente bem.”
O médico não me interrompeu, por isso acrescento: “O seu fígado também está afectado, mas não é só por causa da bebida. É porque ele realmente tentou vencer a sua doença bipolar e tomou lítio (*) convictamente. O médico disse o que eu já sabia: o coração do meu pai está fraco, os seus rins estão a falhar e os seus pulmões estão encharcados. Pela segunda vez em seis meses, precisa de meter um tubo na traqueia.
Concordo com um aceno, esperando que continue a lista de procedimentos e exames. Em vez disso, afasta-se um pouco da maca e pergunta: “O seu pai fez alguma declaração antecipada de vontades?”
Fico parada. Nunca um médico da Urgência me perguntou isto antes. Respondo, sem hesitar, sim. “Tem uma procuração válida?” Sim.
Visivelmente aliviado, olha-me nos olhos e, delicada mas explicitamente, pergunta: “O seu pai quer que usemos medidas extremas” — faz uma pequena pausa para acentuar o que está a dizer — “sabendo que provavelmente não vai melhorar?”
As duas enfermeiras a seu lado olham para mim amigavelmente. Disfarço o pânico que sinto a crescer. Procuro estar calma. Preciso de pensar. O médico deu-nos uma saída, uma oportunidade para pensar nas nossas opções.
Sei o que quero: quero acabar com este ciclo louco de hospitalizações e tratamentos heróicos para evitar a morte. Isto não está a ajudar o meu pai. Cada vez está mais doente. Está a morrer. E eu estou mais cansada do que se pode imaginar. Não tenho forças para a família e amigos e o meu emprego ressente-se. Preciso de voltar à minha vida.
Estou tentada a responder: “Claro que não – o meu pai não quereria medidas heróicas.” Mas hesito porque sei que posso não estar certa. Esta noite é diferente, mas não sei se a sua resposta seria diferente.
Olho para ele. É difícil saber se está consciente. Ninguém olha para o meu pai. Todos me fitam com atenção. Finalmente, digo em voz alta a única coisa que sei ser verdadeira. “No passado, o meu pai pediu que fizéssemos tudo o que fosse possível.”
Então, inclino-me sobre ele e pergunto-lhe com voz forte e clara: “Papá, quer ser entubado outra vez? Aperte a minha mão se quer ser entubado.” Espero mas ele não aperta. Em vez disso, surpreende-nos a todos com um mexer da cabeça afirmativo. Está fraco mas o movimento é inquestionável.
Uma enfermeira resmunga e revira os olhos dramaticamente. A outra murmura: “Oh, pá! Lá vamos nós outra vez” e traz um tabuleiro de instrumentos metálicos para mais perto da maca. O médico, mais profissional, mantém-se impávido enquanto sugere que eu saia da sala. “É uma manobra difícil de ver. Muitos doentes lutam e debatem-se, podemos precisar de o amarrar.”
Sim, eu sei. Beijo o meu pai na cara, digo-lhe que volto já e vou para a sala de espera.
O que o médico e as enfermeiras não sabem, e eu própria hesito em admitir, é que eu quase dei a resposta que eles queriam: a única razoável. Mas seria terrivelmente errada.
O meu pai nunca mais recuperou. Nunca mais respirou sem ajuda do ventilador mecânico, não saiu mais do hospital, foi colocado em diálise e com alimentação por sonda. Seis meses mais tarde morreu de insuficiência cardíaca.
Creio que a sua decisão foi um erro. Mas foi um erro dele, não meu. O meu papel era apoiá-lo, não interessa em quê, e falar verdade por mais difícil que fosse.

(*) Correcção: afirma-se um efeito secundário do lítio, um medicamento usado na doença bipolar, que é errado.

Um Homem a Morrer e as Escolhas de Sofia
John Carney, 2 de Fevereiro de 2010, na revista Practical Bioethics
Quero expressar os meus sentimentos a Alicia pela morte do seu pai. Gostaria também de lhe apresentar desculpas a ela e, postumamente, a ele – por terem sido responsabilizados por decisões que nunca lhes deviam ter sido assacadas.
Morrer é já duro que chegue para os doentes e suas famílias, não havendo razões que justifiquem que o façamos mais difícil, colocando obstáculos mecânicos ao seu caminho. Essa não é a arte da medicina, é o desertar tecnológico. Ele morreu ligado a máquinas por que assim escolheu, pensa ela.
É isto realmente verdade? Nós, nos cuidados de saúde, contribuímos para que a sua morte fosse algo de inimaginável há algumas décadas. Não se trata de um “erro” apenas, como ela sugere, mas de um erro evitável pois um homem que está a morrer não tem de fazer as “escolhas de Sofia”.
Não podemos deixar que torturem uma pessoa vulnerável com base numa falsa noção de autodeterminação. Quando uma intervenção médica não pode servir o objectivo para que foi pensada, não pode aproximar-se de um padrão aceitável ou atingir uma certa meta assistencial, não deveríamos forçar a sua aplicação.
Não temos qualquer obrigação de oferecer, recomendar ou mesmo sugerir uma intervenção de que os doentes não possam beneficiar e deveríamos evitar pôr os doentes na “via mecânica para a morte”.
De certo modo, apoiar esta filha e o seu pai exige que confrontemos a inevitabilidade da sua morte com eles, de modo piedoso, honesto e ético. Sim, teria sido errado ela dizer-nos que o pai não queria ser entubado se ele o queria, mas aquela decisão não deveria condicionar todas as outras.
Cabia-lhe dizer a verdade quando perguntada acerca dos tratamentos preferidos por seu pai – especialmente atendendo aos êxitos das intervenções prévias. A nós cabe-nos assegurar que respeitamos as preferências de modo pensado e razoável.
Estamos obrigados a oferecer "cuidados centrados nos doentes" e não "cuidados dirigidos pelo doente". A quem serviu prolongar estes seis meses de agonia? Autonomia sem tino é tão desrespeitosa do doente como o paternalismo.
Sim, Alicia, o seu papel era apoiar o seu pai e o nosso era apoiá-la a si. Você pode ter desempenhado a sua parte, mas infelizmente nós abandonámos ambos, permitindo que o nosso “apoio” produzisse incómodos impensáveis ao mesmo tempo que usávamos erradamente recursos valiosos como se tal fosse aceitável.

(**) A escolha de Sofia (Sophie's Choice) é um romance de William Styron publicado em 1979. Trata do dilema de "Sofia", uma mãe polaca, filha de pai anti-semita, presa num campo de concentração durante a Segunda Guerra e que é forçada por um soldado nazi a escolher um de seus filhos para ser morto. Se ela se recusasse a escolher um, todos os filhos seriam mortos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Homossexualidade
























Parece que Manuel Luís Goucha, vai processar uma graça sobre a sua homossexualidade assumida.
Lembra-me António Calvário, de quem muito se falou nos idos anos 60, e que teve honras a verso, onde já se aconselhava moderação nas críticas.

Quando passares pelo Calvário,
Não te rias com desdém!

Porque se ele tivesse um ovário,
Podia ser tua mãe!



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Exorcismos



















Em 7 de Setembro de 1968, em Atlantic City, no Atlantic City Convention Hall, logo após a Convenção Nacional dos Democratas 400 activistas do WLM (Women’s Liberation Movement) num protesto contra a realização do concurso de Miss America, onde viam “uma visão arbitrária da beleza, e opressiva para as mulheres, por causa de sua exploração comercial” colocaram no chão soutiens, sapatos de salto alto, pestanas postiças, sprays de laca, maquilhagens, revistas, espartilhos, cintas e outros “instrumentos de tortura” com intenção de lhes pegar o fogo. Embora nada tenha ardido, o episódio ficou conhecido na história como Bra-Burning ou A Queima dos Soutiens e mereceu ampla divulgação pelos meios de comunicação social. Depois, aconteceram queimas de soutiens em vários cantos do mundo.

……….
Pouco tempo depois do 25 de Abril de 1974, desapareceram as fardas dos carteiros, dos guarda-freios e dos revisores dos eléctricos do Porto, e de muita outra gente que passou a trajar “à civil” na sua profissão, e até a soldadesca degradou o seu aspecto. “Abaixo as fardas” era o mote, como se nelas estivesse o mal que nos afligia, e até os aventais tenderam a desaparecer das cozinheiras.
A minha ignorância de então achava normal toda essa revolta, sem cuidar que nela também estava incluído um “Não” a muita coisa que era fruto da evolução cultural de uma Nação que se dizia das mais antigas da Europa. Felizmente que houve quem as mantivesse sem verem nisso servilismo ou submissão.
Nos Hospitais, os médicos “mais práfrentex” despiram as batas e, durante uns tempos, trabalharam “libertos” nas Urgências e nos Consultórios com a roupa da rua, mas o maior exorcismo centrou-se no “quépe” das enfermeiras, que passou a “indigno” e a “sinal de submissão”. O “Cap Burning”, assumiu foros libertadores e houve que acertar conceitos com os mais aguerridos, sob o risco de conotações ideológicas perigosas.
















Com o andar dos anos, enquanto o “Cap” se afundava e as fardas nos Hospitais Públicos se degradavam, elas ressurgiam noutras profissões.
É que uma farda usada com aprumo, facilita a identificação e dá dignidade ao profissional, e é a sua adulteração que estimula o desrespeito por quem já tem esse preconceito. Os ténis, os crocks de todas as cores com bonecos apensos e outros adereços de gosto duvidoso, são realidades que vamos tolerando para não afrontar essa “pseudo-liberdade” que nos ofende quando estamos “do outro lado”, e que associamos a falta de qualidade e de discrição.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Piada Médica








Esta coisa de ler um Electrocardiograma, tem que se lhe diga, principalmente quando se está numa emergência e a ignorância aperta:

Os espanhóis têm a solução:

“Si algo te acojona, ... dale Amiodarona!”
“Si no sabes lo que es, ... dale Trangorex!”

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A vida em surdina
























Bem escrito e bem traduzido!
Uma história provavelmente autobiográfica, que levanta o problema da reforma, no caso, agravada pela surdez.
Essa reforma que todos parecem querer e que frequentemente nos atira para uma inactividade indesejável, e uma surdez que lentamente nos diminui.
Lê-se de um fôlego. Divertido!
David Lodge, nasceu em Londres em 1935, foi professor de Literatura Inglesa na Universidade de Birmingham, onde ensinou de 1960 a 1987.
Este é o seu último livro.