2011 – Aproxima-se o ano do cornudo. O 11 do século. O ano em que a luta pela sobrevivência irá mostrar o que de melhor e pior há em cada um de nós. O ano em que os que forem tocados pelo desespero, olharão em redor à procura de um possível culpado, o que envolverá muitos inocentes.
Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
O Bom Samaritano
A Lei do Bom Samaritano existe nos países anglo-saxões, e pretende proteger os actos daqueles que optam por ajudar feridos ou doentes, sem o receio de ser processado por eventuais lesões não intencionais. Na Europa tem outros nomes, mas a mesma intenção.
Essas leis não se aplicam aos profissionais de saúde no exercício das suas funções, embora haja complacência com os socorristas profissionais quando ajam a título voluntário.
Fundamenta-se na parábola contada por Jesus, (Lucas 10:25-37), onde um viajante ajuda um outro de etnia diferente, que havia sido espancado e roubado por bandidos.
A ajuda pode tomar vários aspectos, que vão do simples gesto de activar o 112 a efectuar manobras suporte básico de vida e, quem não intervier em situação de clara necessidade, pode ser responsabilizado civilmente.
Tal não impede, no entanto, que um tribunal possa decidir que esta lei não se aplique porque a vítima não estava em perigo iminente e considere como "imprudente" e desnecessária a acção de socorrer.
Quem responde a uma emergência deve obter o consentimento da vítima, salvo se esta estiver incapaz de o explicitar, não deve abandonar o local até que um salvador da capacidade igual ou superior assuma a liderança, ou que esse auxílio ponha em risco a sua própria segurança.
…
… e depois disto tudo, expliquem-me porque é que se continua a dar palmadinhas na face e copos de água a quem por hipotensão caiu no chão, e porque não pergunta se nos circunstantes há alguém com maiores capacidades?
Essas leis não se aplicam aos profissionais de saúde no exercício das suas funções, embora haja complacência com os socorristas profissionais quando ajam a título voluntário.
Fundamenta-se na parábola contada por Jesus, (Lucas 10:25-37), onde um viajante ajuda um outro de etnia diferente, que havia sido espancado e roubado por bandidos.
A ajuda pode tomar vários aspectos, que vão do simples gesto de activar o 112 a efectuar manobras suporte básico de vida e, quem não intervier em situação de clara necessidade, pode ser responsabilizado civilmente.
Tal não impede, no entanto, que um tribunal possa decidir que esta lei não se aplique porque a vítima não estava em perigo iminente e considere como "imprudente" e desnecessária a acção de socorrer.
Quem responde a uma emergência deve obter o consentimento da vítima, salvo se esta estiver incapaz de o explicitar, não deve abandonar o local até que um salvador da capacidade igual ou superior assuma a liderança, ou que esse auxílio ponha em risco a sua própria segurança.
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… e depois disto tudo, expliquem-me porque é que se continua a dar palmadinhas na face e copos de água a quem por hipotensão caiu no chão, e porque não pergunta se nos circunstantes há alguém com maiores capacidades?
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Ensaio sobre o Luxo
Expliquem-me como são possíveis tais margens de lucro, numa sociedade onde há fiscalidade progressiva.
São 29' e 09" de filme, 15 dos quais me deixaram incrédulo - para ver aqui!
Isto de viver na aldeia, tem destas coisas!
Uma coisa é viver entre as desigualdades e as suas patologias; outra bem diferente é regozijar-se com elas. Há em todo o lado uma propensão impressionante para admirar a grande riqueza e conceder-lhe o estatuto de fama ("Estilos de Vida dos Ricos e famosos"). Já passámos por isso. No século XVIII, Adam Smith - o pai fundador da economia clássica - observou a mesma inclinação entre os seus contemporâneos: "A grande massa da humanidade são os admiradores e adoradores da riqueza e grandeza, que, e isso pode parecer mais extraordinário, são frequentemente admiradores e adoradores desinteressados"
Para Smith, essa adulação acrítica da riqueza pela riqueza, não era pouco atractiva. Era também uma característica destrutiva de uma economia comercial moderna, que, em seu entender , o capitalismo precisava sustentar e cultivar: "a disposição para admirar, quase para adorar os ricos e os poderosos, e para desprezar, ou pelo menos negligenciar pessoas de pobre e miserável condição ... é ... a grande causa, e a mais universal, da corrupção dos nossos sentimentos morais"
in "Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos" de Tony Judt
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Um pedido
Sr. Dr.! Será que não podia adiar a ida do meu pai para a Unidade de Cuidados Continuados, para depois das festas? É que me fica mais barato visitá-lo no Hospital, para além de poupar algum dinheiro enquanto ele cá estiver!
domingo, 26 de dezembro de 2010
O Sr. João Salazarista
- Oh sr. Dr! Eu sou salazarista. Se tropeço em qualquer coisa com que não concorde, tenho que falar!
Ainda há pouco, a administrativa que me atendeu estava a mastigar uma pastilha elástica. Não me contive e disse-lhe: -“Olhe minha senhora! Isso não são modos de atender o público!” Está a ver? Vem-se ao Hospital por causa dos nervos, damos com uma coisa destas, e fica-se pior! É que nem com calmantes uma pessoa é capaz de tolerar esta falta de educação!
- Sr. João, acalme-se, e conte o resto da história, de ter sido multado por estar a pescar à noite sem licença!
Ainda há pouco, a administrativa que me atendeu estava a mastigar uma pastilha elástica. Não me contive e disse-lhe: -“Olhe minha senhora! Isso não são modos de atender o público!” Está a ver? Vem-se ao Hospital por causa dos nervos, damos com uma coisa destas, e fica-se pior! É que nem com calmantes uma pessoa é capaz de tolerar esta falta de educação!
- Sr. João, acalme-se, e conte o resto da história, de ter sido multado por estar a pescar à noite sem licença!
sábado, 25 de dezembro de 2010
Carta ao Pai Natal
Confesso que admiro a tua longevidade. Estás a 100% e, mesmo durante a crise, mostraste quem eras.
Conheço-te há muitos anos, sempre gordo, alegre e disponível, a resumir numa noite toda a actividade de um ano, em que preparas uma prenda que seja bússola para qualquer construção física ou imaginária.
Manténs o trenó, as renas e essa vestimenta de Dezembro, que te dá um ar ecológico e que até funciona nas regiões tropicais, mais essa obesidade abdominal, que transmite benevolência para com os excessos.
Porque sabes que para conservar é necessário mudar, adaptaste-te aos novos tempos e forneces o imaginário de uma confortável lareira de uma habitação moderna, numa festa que engloba a família e os amigos, e bateste aos pontos o Menino Jesus, que se mantém confinado à escassez de um curral de um caravançarai.
Depois, mandaste às malvas as ideologias e deixas que te usem como símbolo de partilha, mesmo por quem no resto do ano promove o privilégio privado e a indiferença pública.
Mas estás em sintonia com os tempos que correm: “viver o dia de hoje, que amanhã logo se vê!”, e se calhar … tu é que tens razão!
Mas estás em sintonia com os tempos que correm: “viver o dia de hoje, que amanhã logo se vê!”, e se calhar … tu é que tens razão!
Até ao ano Pai Natal!
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Manuela Ferreira Leite
A notícia de que o Governo e o PSD não se entendem na escolha das pessoas que deverão constituir o grupo de trabalho para reavaliar as parcerias público-privadas e as grandes obras públicas é desanimadora.
Na verdade, este facto, não sendo novo, revela que está instalada na sociedade portuguesa uma desconfiança entre os cidadãos de proporções preocupantes baseada, quase sempre, no conhecimento da simpatia partidária de cada um.
Esta atitude deve-nos fazer refletir até que ponto se deteriorou o nosso sentido democrático.
Será que o facto de alguém ter uma opção política clara o torna suspeito para cumprir os seus deveres para com o país?
Será que está subvertida a noção de opção ideológica e ela se tornou um meio de criar agentes políticos, impeditivo de agir de forma independente, quando se trata de defender os interesses do país?
O que é feito da ética, do sentido de serviço público, do interesse nacional?
O critério da confiança pessoal e da ‘lealdade política’ que tem minado o sector público, não se pode sobrepor à seriedade intelectual.
Enquanto formos um país de fidelidades versus competências não nos mobilizaremos para ultrapassar as nossas dificuldades.
O Natal é um bom momento para começarmos a arrepiar caminho.
O Natal é um bom momento para começarmos a arrepiar caminho.
Manuela Ferreira Leite no "Expresso" de 23 de Dezembro
Os realces são meus.
Eu penso a um nível diferente do dela, mas sinto o mesmo ambiente no espaço que me rodeia!
Eu penso a um nível diferente do dela, mas sinto o mesmo ambiente no espaço que me rodeia!
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
A anestesia
- Sr. Dr.! Desde a última operação aos intestinos, esqueço-me de tudo! Mas deve ter sido da anestesia que foi à força de autocolantes. E olhe que eu já tinha feito duas anestesias. Uma à barriga por causa de um mioma. Tirei tudo, e nunca mais tive problemas. A outra foi aos pés e foi por meio de garrotes, que era para não sangrar. Mas nesta, puseram-me o nariz ocupado com tubos nas narinas. Um para o pâncreas e outro para o estômago, um saco para o chichi, mais uns autocolantes na testa. Quando eu olhei para cima e vi o vidrão, perguntei - "O que é isso Sr. Dr.!", e ele disse – "É para a Sra. ver a operação!" Disse logo que não queria aquelas coisas, mas de seguida adormeci. Não foi anestesia como as outras. Nas outras vomitei sempre, e nesta não! Agora esqueço-me muito! Ainda no outro dia tropecei, e parti um dente!
- Dona Maria, não se esqueça que tem oitenta e nove anos e uma vida de trabalho. Agora tem de cuidar de coisas mais pequenas e tentar andar mais calma.
- Sr. Dr!, eu sempre fui eléctrica, …
- Dona Maria, não se esqueça que tem oitenta e nove anos e uma vida de trabalho. Agora tem de cuidar de coisas mais pequenas e tentar andar mais calma.
- Sr. Dr!, eu sempre fui eléctrica, …
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Um amuo
Eu sei que estás sentida, mas agora não vale a pena amuares, que eu não mudo nada do que fiz.
Tens memória curta, senão lembravas-te dos acontecimentos dos últimos onze anos, e estarias tão grata, que te vergarias à minha passagem. Mas o que lá vai, lá vai, e agora sentes-te longe, mesmo sabendo que todos os dias te vejo e que rezo pela tua rápida recuperação.
Já te expliquei, que te puseram ao pé da porta contra minha vontade, pois já sabia que em meia dúzia de anos necessitarias de mais espaço, e que só à força de grandes podas é que aí podias ter ficado, mas, mesmo assim não te resignas ao novo lugar onde podes dar largas à tua vontade.
E mais! Não te esqueças que ias para lenha quando te fui buscar “in extremis”, sem saber a qualidade do teu fruto, que, hás-de convir, não é grande, nem saboroso.
Bem! Ficamos por aqui! Vê se deixas esse ar amodorrado e mandas cá para fora uns raminhos, que eu gosto de te ver luzir de sol, que adubo não te vai faltar, pelo menos enquanto eu aqui estiver.
Cresce, que até vais ver o mar aí de cima.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
Buraco Gigante na Saúde
Como me espantam estas notícias, que só o são para quem desconhece a evolução dos últimos anos do SNS, que se deslumbrou a implementar Vias Verdes, guidelines e tecnologias, sem lhes avaliar (ou condicionar) os custos.
O que aconteceu a quem quis pôr um mínimo de contenção?
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Prenda de Natal
Pois é! Encontrei o Pai Natal, numa sessão de treinos com as suas renas. Chamei-o e perguntei-lhe o que me tinha reservado, por eu me ter portado tão bem neste ano. Ele deu-me esta prenda.
Depois foi para a Turquia, continuar a compor o armazém.
Obrigado Pai Natal!
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
A instalação eléctrica
- "Oh Sr. Construtor! Se ligo o forno e mais alguma coisa, vai tudo abaixo! Tem de me ver a instalação eléctrica!"
- "A instalação está bem! Tem de se pedir à EDP um aumento de potência para 6,9 kva, mas eles vão querer o projecto de instalação eléctrica (que não há) e um termo de responsabilidade do electricista, e nem daqui a três meses e trezentos euros vai ter isso!", e virando-se para o empregado que está ao lado: - “Oh Antunes! Você não conhece ninguém que venha cá mudar isto, e alterar a coisa nos papéis?"
- "Conheço! Mas fica por cem euros!"
- "Ande lá com isso, que eu pago!"
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Midnight Cowboy
Midnight Cowboy (O cowboy da meia-noite) 1969. Marcou-me pela história, pela música e principalmente pela interpretação de Dustin Hoffman na figura de Ratso, um pequeno malandro a viver de expedientes.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Carta aberta aos fumadores
Caros Fumadores:
Quero aqui deixar o meu obrigado por esta vossa actividade. Fumar é um acto de altruísmo, muito mais que um vício. Um altruísmo que não se esgota nos impostos que pagais do vosso próprio bolso, pois muitos de vós o fazem bem antes de auferir qualquer provento, forçando os vossos familiares a dar o seu contributo. De igual modo, agradeço aos “sem-abrigo” que fumando, canalizam parte das esmolas para impostos.
Mas o vosso maior acto de solidariedade com todos nós, vem da antecipação da hora da vossa morte, em oito a dez anos, reduzindo assim os encargos com as reformas, pois, se não houvesse aquela caterva de doenças provocadas pelo tabaco, vós iríeis engrossar a pool de idosos que vive à custa da Segurança Social, e, por certo, teríamos mais uns anos de trabalho.
Estou certo de que entendeis as acções da GNR, para que não falte o leite nas escolas nem os subsídios aos Lares de Terceira Idade.
Bem hajam!
Fernando
Bem hajam!
Fernando
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Sim, Patrão!
Hoje são poucos na consulta. Poucos, mas "bons". São cinco, mas pelo menos dois vão-me dar água pela barba.
Vou começar pelo Serafim, que já vi lá fora. Fui eu que o chamei, depois do Laboratório me ter avisado das graves alterações nas suas análises. Sempre foi uma consulta difícil a deste homem, de pouco mais de 35 anos. Está sempre agitado e tem uma péssima relação com a mãe que lhe dá guarida e o atura. Quando esteve preso, cumpriu os tratamentos, mas agora, anda agitado e não toma a medicação. Para o trazerem hoje, deve ter sido um inferno naquela casa.
Chamo-o à porta. Vem com a mãe, que deve rondar os setenta anos. Veste bem, e quem o vê ao longe, não lhe imagina a vida.
- Então como está? Tem ido ao Porto, ao IPO ?, pergunto, para saber se, recentemente, houve alguma participação daquele Hospital, depois de, no ano passado, ali ter sido operado.
Levanta a cabeça, e responde de modo abrupto: - Como é que eu posso ir às consultas, sem dinheiro? Mandaram-me uma carta para eu ir, mas eu não vou assim! Perder lá toda a manhã. Não tenho paciência!
A mãe, ao lado, move-se na cadeira, e tenta acalmá-lo: - Serafim! Eu falo com as assistentes sociais, e isso arranja-se. O Dr. passa-te um papel para o transporte, e tu só tens de ir! Que te custa!?
- Não quero! As assistentes sociais não querem saber. Nem o Rendimento Mínimo me dão!, continua ríspido, respondendo para o intervalo entre nós a duas.
- Mas, se tu não tens direito a esse dinheiro por nos teres a nós, tens de te conformar!, repete-lhe tentando dar sentido às horas em que já se discutiu já esse assunto. Ele levanta o olhar, e diz-lhe com despeito:
- Cala-te, que tu não sabes nada!, e vira-se para o lado a ruminar impropérios, enquanto eu me levanto para pôr cobro aquela desavença. -Calma! O assunto agora é outro!, exclamo. - Há umas análises que estão muito mal e que temos de confirmar, porque, a ser verdade, a situação é muito grave! Já falei com o Laboratório para que vá lá agora repeti-las. Está bem?, e vou à porta chamar a irmã, que ficou fora, para o conter em caso de necessidade.
- É sempre assim! Dr.! Ele põe-na louca! Ele vai dar cabo da minha mãe!, diz enquanto entra e se senta.
Entretanto o telemóvel dele toca, e, de imediato, atende. -Sim!, Sim! Diga patrão!, responde durante os segundos em que se mantém sentado, - Sim! Sim! Diga que eu vou! Sim! Eu vou!, continua, levanta-se, e sai pela porta a baixar repetidamente a cabeça no meio dos muitos Sim.
Olho para as duas à minha frente, e com alguma perplexidade pergunto: -Afinal, ele … trabalha!. A irmã encolhe os ombros, esboça um meio sorriso, e responde: - Oh Sr. Dr.! O trabalho dele, ... é a droga!
Volta a entrar. Não sei se entregue tudo ao destino, ou se respeite o esforço daquelas duas mulheres. É mais fácil a segunda opção, e para acabar, sugiro-lhe:
- Sr. Serafim! Antes de ir embora, passe pelo Laboratório e faça as análises que eu depois combino o resto com a sua irmã, está bem?
- Agora não posso!, responde. – Já marquei coisas! Tenho que sair já! Não posso!, e sai com a mãe atrás, enquanto eu digo à irmã: - Ficamos assim. Quando ele achar que deve vir, que venha, mas é quase certo que lhe vai surgir uma complicação grave e provavelmente letal, que agora se poderia evitar. Mas a vida é dele! ... Boa Tarde!
Vou começar pelo Serafim, que já vi lá fora. Fui eu que o chamei, depois do Laboratório me ter avisado das graves alterações nas suas análises. Sempre foi uma consulta difícil a deste homem, de pouco mais de 35 anos. Está sempre agitado e tem uma péssima relação com a mãe que lhe dá guarida e o atura. Quando esteve preso, cumpriu os tratamentos, mas agora, anda agitado e não toma a medicação. Para o trazerem hoje, deve ter sido um inferno naquela casa.
Chamo-o à porta. Vem com a mãe, que deve rondar os setenta anos. Veste bem, e quem o vê ao longe, não lhe imagina a vida.
- Então como está? Tem ido ao Porto, ao IPO ?, pergunto, para saber se, recentemente, houve alguma participação daquele Hospital, depois de, no ano passado, ali ter sido operado.
Levanta a cabeça, e responde de modo abrupto: - Como é que eu posso ir às consultas, sem dinheiro? Mandaram-me uma carta para eu ir, mas eu não vou assim! Perder lá toda a manhã. Não tenho paciência!
A mãe, ao lado, move-se na cadeira, e tenta acalmá-lo: - Serafim! Eu falo com as assistentes sociais, e isso arranja-se. O Dr. passa-te um papel para o transporte, e tu só tens de ir! Que te custa!?
- Não quero! As assistentes sociais não querem saber. Nem o Rendimento Mínimo me dão!, continua ríspido, respondendo para o intervalo entre nós a duas.
- Mas, se tu não tens direito a esse dinheiro por nos teres a nós, tens de te conformar!, repete-lhe tentando dar sentido às horas em que já se discutiu já esse assunto. Ele levanta o olhar, e diz-lhe com despeito:
- Cala-te, que tu não sabes nada!, e vira-se para o lado a ruminar impropérios, enquanto eu me levanto para pôr cobro aquela desavença. -Calma! O assunto agora é outro!, exclamo. - Há umas análises que estão muito mal e que temos de confirmar, porque, a ser verdade, a situação é muito grave! Já falei com o Laboratório para que vá lá agora repeti-las. Está bem?, e vou à porta chamar a irmã, que ficou fora, para o conter em caso de necessidade.
- É sempre assim! Dr.! Ele põe-na louca! Ele vai dar cabo da minha mãe!, diz enquanto entra e se senta.
Entretanto o telemóvel dele toca, e, de imediato, atende. -Sim!, Sim! Diga patrão!, responde durante os segundos em que se mantém sentado, - Sim! Sim! Diga que eu vou! Sim! Eu vou!, continua, levanta-se, e sai pela porta a baixar repetidamente a cabeça no meio dos muitos Sim.
Olho para as duas à minha frente, e com alguma perplexidade pergunto: -Afinal, ele … trabalha!. A irmã encolhe os ombros, esboça um meio sorriso, e responde: - Oh Sr. Dr.! O trabalho dele, ... é a droga!
Volta a entrar. Não sei se entregue tudo ao destino, ou se respeite o esforço daquelas duas mulheres. É mais fácil a segunda opção, e para acabar, sugiro-lhe:
- Sr. Serafim! Antes de ir embora, passe pelo Laboratório e faça as análises que eu depois combino o resto com a sua irmã, está bem?
- Agora não posso!, responde. – Já marquei coisas! Tenho que sair já! Não posso!, e sai com a mãe atrás, enquanto eu digo à irmã: - Ficamos assim. Quando ele achar que deve vir, que venha, mas é quase certo que lhe vai surgir uma complicação grave e provavelmente letal, que agora se poderia evitar. Mas a vida é dele! ... Boa Tarde!
domingo, 12 de dezembro de 2010
Presságio de Nostradamus
Presságio 40
O chefe do Oriente porá em fuga todos os ocidentais,
e subjugará os seus antigos conquistadores.
sábado, 11 de dezembro de 2010
Frutos secos
O pistáchio é do Irão, as nozes e as passas são do Chile, a fava seca e os figos de Espanha, as avelãs e as ameixas da Turquia e o amendoim da China.
São as amêndoas e os pinhões que dão o toque de nacionalidade a este Natal.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Fuga aos Impostos
"Nada é certo neste mundo, excepto a morte e os impostos". Benjamin Franklin (1706-1790)
Pagar impostos é um destino, já que sem eles não existiria civilização. Desde os primórdios que os governos arrecadam tributos aos cidadãos que, por sua vez, sempre reclamaram da sua cobrança.
Nas sociedades democráticas, pagar impostos é um dever fundamental de qualquer cidadão, que, no entanto, deverá vigiar a justeza das taxas e da sua aplicação.
Se um Estado é altamente eficiente, e aplica esse dinheiro naquilo que a sociedade entende como “bem comum”, essa tributação não só é aceite, como também é vigiada pela sua população. Mas, se não há rigor, abrem-se as portas à legitimização da fuga aos impostos.
Em 2009 os portugueses trabalharam em média 133 dias para cumprir com as obrigações fiscais, o que não seria muito, se todos eles cumprissem as regras, e não houvesse 25% que, fugindo ao fisco, obriga a taxar os outros a um nível superior.
Nesta circunstância, os que estão a suportar esse excesso, vão fazer impossíveis para lhe escapar, e, de acordo com o que já foi teorizado por Arthur Laffer, mais impostos levarão a menores colectas.
Como nação, temos a convicção de um querer colectivo, que se não coaduna com salários ou outros benefícios pagos pelo Estado (quer directamente, quer através das EPEs), que choquem com o salário mínimo que ele próprio propõe, nem com obra pública de utilidade ou execução duvidosas.
Pensa-se que, para que Portugal ganhe os níveis de consciência colectiva dos países nórdicos, são precisas não menos de 3 gerações.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Eu no Facebook
Isto de ter filhos é um desafio!
- Oh pai, não faças assim, que já ninguém anda por esses lados.
- Oh pai, tu devias era …
- Olha se queres que …, então …
… e aqui estou eu no Facebook, sem saber bem onde isto leva. Mas se o Cavaco está, … eu também quero ser moderno!
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Eu, Crente
Creio em Deus Pai, todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo,
seu único Filho
nosso Senhor.
Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu aos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos Céus
está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
donde há de vir julgar os vivos e mortos.
Creio no Espírito Santo,
na Santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne,
na vida eterna.
Àmen
Era assim o Credo que eu papagueei, sem entender, dos seis aos doze anos, e foi aí que me iniciei como crente.
Depois, quando me deram um caderno de significados, começou-me a custar dizer algumas frases. Primeiro foi o "gemendo e chorando neste vale de lágrimas" da Salvé Rainha que me pareceu excessivo, depois foi a "ressurreição da carne" e aquela coisa de "julgar os vivos e mortos", pois entendia melhor um mundo de almas, que um mundo de carnes a flutuar no céu, e custava-me que se julgassem os vivos antes de tudo ter terminado, cerceando-lhes um arrependimento final num lampejo de clarividência.
Na adolescência ganhei outras crenças. Acreditei que era possível definir um bem comum à humanidade, que poria um ponto final a todos os conflitos, e até idealizei que, num milionésimo de segundo, o universo vibrava em consonância num Nirvana resplandecente, mas desisti, ao assumir que esses ambientes estariam fora do meu espectro de existência.
Racionalizei então, que o que não era possível nessa escala, seria possível numa comunidade restrita e, durante um bom par de anos, acreditei que a bondade num pequeno grupo seria o caminho para a “santidade”.
Depois assisti à razão do dinheiro, e por curtos períodos até cheguei a acreditar que “os mercados” iriam devolver à comunidade, através dos investimentos, um bem-estar que se repercutisse naqueles que contribuíram para o seu enriquecimento e que, por uma razão ou outra, não os acompanharam na fortuna (aquela coisa do “give back” do Bill Gates).
Mas ao fim destes anos concluo, que o que move o mundo é o Medo e a Ganância, e que as crenças, são ilusões que se esfumam à segunda arremetida do pragmatismo.
domingo, 5 de dezembro de 2010
sábado, 4 de dezembro de 2010
As Finanças e o SNS
São títulos do Público de hoje – "Finanças não cede e hospitais EPE vão ter de reduzir custos".
"O SNS para tudo e para todos acabou".
"O SNS para tudo e para todos acabou".
A meio dos textos lêem-se frases de Manuel Antunes “Os médicos sempre foram educados para dar o melhor ao doente, pressupondo-se que o que é mais caro, é melhor. (…) mas não se pode comer sempre lagosta ao jantar”, e de Augusto Mateus “Não se pode pensar que prolongar a vida por um minuto vale qualquer preço” e “não é possível ter qualidade em todo o lado”.
Estas notícias são avisos/justificações, para o que está para chegar.
Depois, quando se passar aos actos, veremos se o que se faz é o que menos interfere com os amigos, e se se continua a solucionar com o dinheiro dos contribuintes aquilo que a ignorância não resolve.
Basta ver o historial dos contratos individuais de trabalho nas EPE.