terça-feira, 30 de setembro de 2008

Siglas


Um novo confronto de siglas caracteriza o actual ambiente global, transformado pela crise que atingiu as maiores economias do mundo.

Enquanto BRICs (tijolos, em inglês) – se refere a Brasil, Rússia, Índia e China, que continuam a ser apontados como os condutores do crescimento mundial, agora na Europa a expressão PIGS (porcos, em inglês) vem cunhar a posição menos favorável de Portugal, Itália, Grécia e Espanha (Spain).
Pigs in Muck (porcos no estrume), foi o título usado num artigo pelo Financial Times para dissertar sobre a recessão nestes países.

O peso que 10 letras têm, para me porem a pensar semanas!

domingo, 28 de setembro de 2008

Avalanche




Que sonho! Por onde andou a minha alma durante o tempo em que aqui estive a dormir! Que dificuldade sentiu, para voltar assim assustada e me acordar?!

A minha alma é assim, abandona-me à noite, para vaguear por não sei onde, e ontem, logo no início do sono, entrou-me no corpo com tal força que me fez acordar ofegante e a suar. Fugia de uma avalanche e encontrou este abrigo para lhe escapar.

É uma alma frágil que vive de dia em mim a clarear a confusão dos caminhos gritados pelos sentidos! Mas um dia mudará de abrigo e irá como um vento procurar outro mais ameno!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Alice no País das Maravilhas










Pede-se aos artistas que nos dêem uma nova faceta da realidade, facto que leva a uma tolerância tácita em relação a formas novas sem estruturação aparente.
Nas artes visuais o gesto deve obedecer ao cérebro e este não deve deslumbrar-se com o acaso daquele. A literatura exige conceitos estruturados e espoados do supérfluo.
Para se criar é necessário um dom, uma escola e uma vivência.

A insanidade mental é avessa à disciplina de uma nova congruência. Criar sob efeito de halucinogénos ou ter a infelicidade de uma doença que deforme a percepção da realidade (esquizofrenia, depressão grave ou dependente de lesão cerebral), não constitui arte e, se alguns insanes produziram obra de referência, tal deve-se ao muito trabalho anterior, que a doença não afectou e à obstinação a que o autor se obrigou.

Diz-se que Lewis Carroll sofria de enchaqueca e epilepsia temporal, situações clínicas que se associam a macropsia e a micrópsia, facto que lhe terá facilitado a imaginação para escrever “Alice no País das Maravilhas” (1864).

Pressupostos desta índole têm sido influentes na procura de experiências incomuns em drogas ou num qualquer limite, levando frequentemente à marginalidade e a um rápido ou lento suicídio.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Brasil


Partido Alto
Chico Buarque (1972)

Diz que deu, diz que dá,
Diz que Deus dará!
Não vou duvidar, ô nega!
e se Deus não dá?
Como é que vai ficar?, ô nega!
Deus dará! Deus dará!
Diz que deu, diz que dá,
Diz que Deus dará!.

Não vou duvidar, ô nega!
E se Deus negar?
Eu vou me indignar e chega!
Deus dará! Deus dará!
Diz que deu, diz que dá,
Diz que Deus dará!

Não vou duvidar, ô nega!
e se Deus negar?
Eu vou me indignar e chega !
Deus dará! Deus dará!

Deus é um cara gozador, adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado me botar cabreiro
Na barriga da miséria, eu nasci batuqueiro
Eu sou do Rio de Janeiro.

Jesus Cristo inda me paga, um dia inda me explica
Como é que pôs no mundo esta pobre coisica
Vou correr o mundo afora, dar uma canjica
Que é pra ver se alguém se embala ao ronco da cuíca
E aquele abraço pra quem fica?

Deus me deu mão de veludo pra fazer carícia
Deus me deu muitas saudades e muita preguiça
Deus me deu perna comprida e muita malícia
Pra correr atrás de bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia!

Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio
Pele e osso simplesmente, quase sem recheio
Mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio
Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio
Que eu já tô de saco cheio!

Esta é uma das minhas imagens do Brasil a quem Chico Buarque e Caetano Veloso deram vida!

domingo, 21 de setembro de 2008

Micha























-Miau! Miau! Miau! Sinto-a para lá de persiana. Apercebeu-se dos primeiros movimentos no quarto e quer dar-me os bons dias.
- Olá Micha! Cumprimento-a enquanto abro a janela e a vejo feliz seguir-me, para assistir à minha higiene. Depois impacienta-se com as voltas do vestir: - Miau! Miau! a dizer: “Tanto tempo que demoras!”, e eu a apressar-me: -Tem calma, faltam só os sapatos!, e ela insiste: - Miau! Miau!, enquanto sai e entra no quarto.

Quando por fim desço as escadas para o pequeno-almoço, corre a um passo a obrigar-me a cuidados para a não pisar.
Chega primeiro, dá meia volta e espeta-me as unhas nas pernas, enquanto se estica a pedir um pouco da manteiga com que irei barrar o pão.
- Vai já!, informo-a delicadamente, e coloco um pouquinho no seu prato.

Depois de comer, aproxima-se da porta: - Miau! Miau!, de novo para mim.
Abro-lha e vejo-a sair, sem olhar para trás, pelo meio dos cães.

É assim todos os dias. Tratamo-nos com muito respeito. Eu assumo o papel de empregador e ela, a de técnico de controle da população de ratos.
Só voltaremos a falar no dia seguinte.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A Mão que nos opera




















Devo dizer que li o livro de Atul Gawande logo que foi publicado (2002) … . Prenderam-me o estilo e a substância. O primeiro, pela simplicidade com que falava de coisas sérias; o segundo, pela coragem com que abordava aquilo que eu chamo um dos segredos mais mal escondidos da prática médica (o outro é o conflito de interesses …).
João Lobo Antunes, no Prefácio à Edição Portuguesa (Março de 2007)


domingo, 14 de setembro de 2008

Férias – Caminho de Santiago


A ideia era “medir o problema” e, se possível, fazer todo o trajecto do caminho francês na Galiza.
Saímos 4: um andarilho habituado, uma voluntariosa e dois inexperientes.

Dormida em Sarria e chegada a Cebreiro ás 09:00 horas do dia 8 de Setembro, para os 21,1Km do primeiro percurso, com uma muda de roupa, um impermeável, bolachas e água na mochila.
Há festa em honra de “Santa Maria La Real” e montam-se as tendas dos feirantes que se misturam com os inúmeros “peregrinos”, que se identificam pelo equipamento: pau de apoio, botas de caminhar, mochila, chapéu, tudo nas cores garridas do material comprado em lojas de desporto. Outros vestem-se de ciclista e trazem as mochilas sobre a roda traseira da bicicleta.
No café é difícil arranjar lugar para o pequeno-almoço. Compramos a Credencial do Peregrino e pomos o 1º carimbo.

O percurso Cebreiro – Triacastela, está estimado para uma duração de 5 horas.
Está bom tempo e anda muita gente no caminho - ultrapassamos e somos ultrapassados.
No Alto do Poio, o Café está cheio: pedestres, ciclistas e “peregrinos” a cavalo, também a rigor. Falam alemão ou uma qualquer língua nórdica, poucos falam espanhol, português nós e as quatro brasileiras que vêm lá atrás, com ar de passeio na praia. Um caldo galego e um naco de pão, irão dar a força para os 12Km que faltam. Carimbo.
Chegamos a Triacastela às 16:00h, depois de uma cerveja e novo carimbo em Viduedo.

Arranjamos facilmente onde pernoitar. Carimbamos e depois do banho, arrastamo-nos até à esplanada de um dos Café/Restaurante para avaliar os estragos! Há dores musculares e bolhas resultantes meias e calçado não adequado. Falha inaceitável. Falamos do equipamento (botas em Gore-tex, resistentes, impermeáveis, leves e que deixam respirar o pé e de meias grossas sem costuras) e da nossa condição física.
Voltamos à Estalagem para descansar. Jantamos o “menu do peregrino” e combinamos o dia seguinte: Triacastela – Sarria por Samos, embora tudo dependa da recuperação nocturna e do efeito do gel sobre as bolhas.

Dia 9 de Setembro. Às 08:30h tomamos o pequeno-almoço no meio de peregrinos dos 18 aos 60 anos e combinamos que fazer caso as bolhas ou as dores se tornem impeditivas de prosseguir (temos o nº de telefone de um Táxi de Sarria).
Damos os primeiros passos a pesar as maleitas e vamos até Samos onde chegamos ao meio-dia, bem a tempo de uma “cidra pression” e da visita ao mosteiro.
Almoçamos bocadillos numa esplanada. Dois hesitam em ficar e aguardar que os venham buscar no carro que ficou em Sarria, mas continuam, sem que por isso Santiago lhes facilite a vida, pois alonga-lhes o percurso em 4Km, ao fazer-nos meter por um caminho que une os dois trajectos possíveis Triacastela – Sarria.

Em Laguada bebemos 2 cidras, carimbamos e chegamos a Sarria às 17:00h, ruminando projectos para o dia seguinte, decididos a que desporto de competição é só para os eleitos.

sábado, 13 de setembro de 2008

Frontal e esclarecedor!


- “Então, Sr. Cardoso! Hoje vem sozinho?!”, pergunto, estranhando a ausência da mulher.
- “Ela não quis vir!”, diz com os olhos baixos e ar comprometido.

Há anos que o sigo na consulta, por doença hepática. Tem 50 anos, ainda trabalha e recuperou muito depois de ter abandonado os hábitos alcoólicos.

- “Está com ar triste! Chateou-se com a sua mulher?”, insisto, pois sei que se ela não o apoiar, depressa volta “à vida antiga”.
- “Foi!”, responde em surdina, enquanto remexe nos bolsos à procura dos rótulos dos medicamentos.

Como o diagnóstico de disfunção social me é fundamental, arrisco nova pergunta.
- “Mas que ideia foi essa! Vocês estavam a dar-se bem! O que é que aconteceu?"
- “É por causa dos “beiles!”, responde em surdina.
- “Por causa dos “Baileys !?!?", repito, recriminando-o. - “Você voltou a beber !?!?"
- “Não é nada disso!”, retruca o homem a endireitar-se na cadeira para corrigir.
- “Bai-les! Foi por causa dos bai-les! Sra. Doutora!”, soletra para eu entender bem.
- “Ah! Bailes! E que tem! Só lhe faz bem dançar, você não tem doença nas pernas e a sua mulher de certeza que gosta!”, respondo cheia de ânimo a estimular aquela actividade física!
- “Oh! Doutora! O problema é que eu não levo a minha mulher!”, responde agora disposto a expor todo o cenário.
- “Não leva a sua mulher???”, pergunto inocentemente.

- “Oh! Doutora! Eu quando bebia, também tinha vinho em casa e não lhe tocava!”

História de H.G.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Maldita Cocaína


Obriguei-me a trabalhar com o incómodo desta conjuntivite, para que o serviço não tenha rupturas.
São 22:00 horas. A Urgência corre sem percalços e vou passar pela Enfermaria.
- “Então Enfermeira! Há novidade?”, pergunto à entrada da Sala de Trabalho.
- “Tudo bem! Só há problema com a família do Sandro! Há 3 dias que, à noite, ficam sempre duas pessoas com ele! A mãe e outra, que se esconde quando passamos por perto! Já lhe dissemos que só pode estar um familiar, mas sabe como eles são!”
- “Eu vou lá!”, respondo-lhe, convicta na minha autoridade de médica e de mais velha.

A criança esteve mal e as enfermeiras fizeram vista grossa com as visitas, mas agora que já está melhor, é tempo de repor a normalidade.
Vou ao quarto e dirijo-me delicadamente às duas mulheres, vestidas de preto da cabeça aos pés, que estão junto da cama.
- “São 22h! Só pode ficar a mãe com o Sandro durante a noite! A outra senhora vai ter de sair!”
- “Ela sai jáááá! Ê chegê só há bocadinhuuu!”, diz a mulher mais velha, num misto de justificação e pedido.
- “Então combinem depressa o que têm a combinar, que quando eu voltar a passar por aqui, não quero ver cá as duas!”, digo, enquanto saio em direcção à porta do Serviço.


Nem dez passos adiante, surge um cigano nos seus 30 anos.
-“Onde é que o senhor vai? Estas não são horas de visita!”, pergunto automaticamente, surpresa com aquela entrada inesperada.
- “Ê sô o pai do Sandro!”, responde do alto do seu metro e oitenta.
- “Como lhe disse, não são horas de visita. Só pode ficar o pai ou a mãe com o Sandro. Já lá está uma senhora que não devia estar. Dois vão ter de sair!”, digo delicadamente enquanto ele se esgueira, com uma pequena mesura, lendo no meu tom de voz uma curta permissão.
Dou mais uns passos e surge outro homem, escuro como anterior, mas mais velho, mais pequeno e mais gordo, com uma barba de uma semana.
- O senhor onde vai?”, pergunto, cada vez mais incrédula com a situação.
-“ Ê sô o pai do Sandro!”, responde sem tirar os olhos de mim.
- “Mau!... Então o Sandro tem dois pais?”, questiono, arregalando os olhos. E, para não alimentar o diálogo, decido acabar por ali ordenando:
-” Vocês entendam-se e decidam quem fica, porque que eu não vou permitir que permaneça na Enfermaria mais que uma pessoa durante a noite.”

Mas, quando dava o primeiro passo em direcção à Sala de Trabalho para falar com a enfermeira de serviço, verifico que a conversa atrai não só os três que já lá estavam como mais duas mulheres com dois jovens, que surgem, nem sei de onde.
De imediato sou envolvida pelo grupo, que persiste:
- “Olhe lá! Você nã manda aquiiiii! a gente tem dirêtuuuu dir ver o meninuuuu!”, diz uma, logo seguida por outra:
- “Olha p’rós olhos déláaa!... Vê-se logo candôôô na brancaaaa...!”, enquanto um miúdo, de cerca de 10 anos, me ameaça esvoaçando murros no ar!

Meço o limite das minhas soluções e digo decidida a pôr cobro àquela intrusão:
- “Fazem favor de sair! Se não o fizerem, vou ter que chamar a segurança! Não volto a avisar!”

Talvez o meu tom de voz se tenha modificado, porque se calaram, e permitiram que o segundo pai do Sandro desse a ordem que os levou dali para fora, carrancudos a olhar para trás ruminando insultos.


A conjuntivite ainda durou mais dois dias! Os nervos as duas horas seguintes!
História de H.G.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Missa de 7º dia












Morreu aos 90 anos, poucos meses depois da festa onde a família a homenageara e onde, fresca, irradiara bondade.
Mal a conheci. Soaram-me ao longo dos anos histórias do seu cuidado com quem lhe estava próximo, do carinho, da delicadeza, do conforto e sintonia nas suas alegrias e aflições.
Agora está morta, uma morte inevitável depois da doença que lhe levou o espírito num sopro.

É Missa do 7º dia.
Sigo a voz sibilada do padre nas palavras rituais. Depois a homilia: “que era pior se fosse nova e a morte, inesperada”, e que são insondáveis os desígnios do Senhor, sem uma frase a transformá-la no ser único e maravilhoso que parece ter sido.
No fim uma carta juvenil lida com a emoção da primeira grande perda a dar sentido à homenagem.
Ela que era uma guardiã dos valores da humanidade!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Perfumes





















O nariz tem múltiplas funções: aquecimento, humidificação, filtragem das partículas do ar, caixa de ressonância na linguagem, e identificação das propriedades do ambiente que nos rodeia.

O nosso epitélio olfativo ocupa 10 cm² no cimo da cavidade nasal (no cão 170 cm2) e as células olfativas são as únicas do sistema nervoso que se replicam até à morte. Há cientistas portugueses a estudar esta característica na cicatrização de secções medulares.

Identificamos os maus cheiros, resultantes da decomposição da matéria orgânica, o cheiro a mofo (micotoxinas voláteis) e múltiplos outros que associamos a ambientes a evitar (na idade média entendia-se que eram os maus odores que veiculavam a doença) e identificamos os cheiros agradáveis (perfumes), que associamos a higiene e aos alimentos.

Os perfumes são usados pelo homem desde o início dos tempos em fumigações e unguentos na religião, na saúde e na sedução e foram e são fonte de riqueza de muitos povos.

O alambique (“al ambic”), foi desenvolvido no ano de 800 D.C. pelo alquimista árabe Jabir ibn Hayyan (721–815), e pouco tempo depois, al-Razi (864–930) descreve a destilação do álcool (“al cóhol”) e o seu uso na medicina.

O álcool é o solvente indispensável que vai permitir a Veneza criar no século XVI a perfumaria moderna, associando-lhe frascos coloridos em vidro de Murano.

A indústria da perfumaria nasceu depois da 1ª guerra mundial. É actualmente a 2ª indústria exportadora de França, à frente da indústria automóvel.

As despesas de fabrico repartem-se da seguinte forma: 35% para mão-de-obra e custos industriais, 20% ou mais para o frasco, 15% para o actuador e sistema de vaporização, 10% para a tampa, 8% para a cartonagem e 10% para a fragrância.
O frasco é um elemento fundamental para o sucesso de um perfume.
É boa regra que o custo de fabrico não ultrapasse os 30% do preço do custo do produto final. Os restantes 70% são consagrados ao marketing.
Em França são comercializados todos os anos mais de uma centena de perfumes. Em cada três um dá lucro, um não é rentável e o 3º é deficitário.

A pele de cada ser humano produz um cheiro natural único, que um cão polícia poderá reconhecer entre milhares. A pele reagirá de forma diferente aos componentes de um perfume, pelo que é bom testar na própria pele vários perfumes, antes de optar por um.

O perfume degrada-se com o envelhecimento, principalmente se exposto à luz, ao calor e à humidade. Se o quer proteger, deixe-o na caixa com o cimo para baixo de preferência na gaveta dos legumes do frigorífico. Mas é preferível comprar frascos pequenos e substitui-los.

É aconselhável que pense nas pessoas com quem convive, mantendo descrição e sobriedade no seu uso.

Mas não há nada como o cheiro a lavado. É que há cheiro a suor de fazer arder os olhos!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Eu e o Serviço Nacional de Saúde


Não tenho mais qualidade que aquela que o meu limitado raio de acção me permite: dez anos de formação num Hospital Central, 24 num Hospital Distrital e 30 de prática de clínica privada.

Assisti à democratização dos cuidados de saúde (universais e gratuitos), ao apetrechamento quantitativo e qualitativo dos Hospitais periféricos, ao crescimento exponencial dos gastos em saúde e à adaptação de toda esta estrutura às novas exigências de gestão.

Vivi por dentro os dramas de não haver soluções para casos onde elas deviam estar presentes e assisti à disponibilização de cuidados dispendiosos a quem, pela minha lógica, os não devia ter recebido.
Testemunhei erros, desleixo, injustiças e oportunismos, mas vi muito mais evolução, vitórias, dedicação e desprendimento em todos os grupos profissionais.

Custa-me agora ouvir críticas que visam o desmantelamento SNS em favor de privados que se posicionam para esta grande área de negócio. Nos USA é já a 1ª.

É que eu também assisti às práticas dos privados. Aos seus erros e à necessidade que os obriga a um mínimo de ganho para sobreviver. A diagnosticar doença onde ela nunca esteve ou a empolar o mal, para justificar gestos rentáveis. E assisti à fraude, por se saber que a fiscalização era fraca ou ineficaz e testemunhei incompetência superior à do SNS.

Por isso, quando me dizem que os Privados vêm fazer melhor, inquieto-me, porque não é obrigatório que os Bancos forneçam melhor gestão e, se o Estado é mau Gestor, ele é ainda pior Fiscal.

Como me disse um cirurgião amigo, já falecido:
-“Sabes como se classificam as apendicites crónicas? “
-“Em remuneradas e não remuneradas.
-“As remuneradas, são para operar. As outras, tratam-se com gelo e anti-inflamatórios.”

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Os Tirulisso












É uma tentação interferir quando se identifica um mal,
sobretudo quando somos detentores de uma possível solução.

Manda a Prudência que a parte seja analisada no todo a que pertence e que o mal de intervir não seja maior que aquele já instalado.

Sir William Osler, (1849-1919): “às vezes mais vale saber que doente tem a doença, que a doença que o doente tem!”

Um Tirulisso é um cirurgião interventivo e apressado.

Aceitam-se propostas para a designação de um médico com as mesmas características.