quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Desafio
























O livro de Truman Capote - “A sangue frio” (1966) é a “narração verídica de um quádruplo assassínio e suas consequências”. Inicia-se com uma declaração que transcrevo:
“ O material contido neste livro não é produto da minha observação directa. Foi colhido em relatos oficiais ou é fruto de entrevistas com as pessoas envolvidas no caso, entrevistas essas na sua maioria bastante demoradas. Visto este “colaboradores” serem identificados no texto, inútil se tornaria nomeá-los; no entanto, quero exprimir-lhes a minha gratidão sincera porque, sem a sua paciente colaboração, impossível teria sido levar a cabo a tarefa. Também não vou estampar aqui a lista de todos os cidadãos de Finney County que, embora não sejam citados nestas páginas, ofereceram ao autor deste livro uma hospitalidade e uma amizade que ele só poderá retribuir mas nunca pagar. …”

O mundo é feito de grandes e de pequenas histórias, algumas com honras de “best sellers”, outras com honras de mesa de café, como são as que venho escrevendo, sempre cuidando em não identificar o personagem e o lugar, quando a situação merece este cuidado.

Ao fim destes dois anos, muitas das “histórias guardadas na memória” foram já aqui escritas e, embora outras possam ainda vir à mente, é chegada a altura de pedir aos meus leitores algumas das “suas histórias”, que possam ver “neste formato” e aqui, a luz do dia.
O mail é fasgomes2@gmail.com. O anonimato é uma garantia.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

No teu deserto
























Vieste como prenda de Natal. Li-te num dia.
Está bem. Dava-me vontade de te dizer : assim também eu! Tudo pago... , uma bela mulher ... , nada de compromissos ... , ... e uns anos depois contar, omitindo as partes quentes da história, e ainda ganhar umas massas.
A ser verdade o texto, ... foste fino!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Àgora
























Ágora
era a praça principal da polis (a cidade grega) na antiguidade clássica. Era um espaço de mercado livre e de edifícios públicos, onde o cidadão grego convivia, onde ocorriam as discussões políticas e os tribunais populares. Era o espaço da cidadania.

Agora é o nome deste filme histórico de 2009, que conta a história da filósofa Hypatia de Alexandria (~350 – 415 DC), acusada de bruxaria e assassinada pela turba cristã, por não lhes ser entendível a dissidência cultural.

Uma lufada de ar fresco na “História que se vai contando”, reescrita mil vezes pelos vencedores.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Almoço de última hora












- Os teus pais não estão cá! Devem ter ido almoçar fora! Devíamos ter telefonado antes. Vamos a Santo Tirso, que é já aqui ao lado. Mete as miúdas no carro, que elas devem estar cheias de fome.

- Aqui no centro, deve haver um restaurante que nos sirva uma refeição rápida. Olha ali aquele Snack-bar!

- Está cheio, mas aquela mesa vai vagar!

- Esperem, meninas, enquanto o senhor levanta a mesa. Tenham calma!

O empregado, com um cheiro intenso a suor, levanta a louça suja, sacode a toalha com nódoas de vinho e de gordura, põe-na de novo na mesa e afasta-se para ir buscar um papel para lhe pôr por cima. Entretanto, pego na toalha e embrulho-a em cima da mesa, expondo-lhe o tampo de fórmica parcialmente destruído.
O empregado vem com o papel e espantado, questiona:
- Não quer toalha?

- ???!!! É melhor irmos embora, que estamos em 1980 e a ASAE só vai a aparecer em 2005!

sábado, 26 de dezembro de 2009

Fúria Divina
























José Rodrigues dos Santos é o Dan Brown português.

É um romance que ensina qualquer coisa sobre o fundamentalismo islâmico. Tem 608 páginas em letra gorda de fácil leitura.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Uma heroína
























Dou-te valor. Poucas fariam o que fizeste. Lidar com a toxicodependência e sair vitoriosa, é coisa rara. Sem baixares a guarda, opuseste-te à indignidade que as recaídas e as mentiras te traziam porta adentro, e viveste os desgostos sem mostrar fraquezas que lhe facilitassem esse mundo onde se afundava.
Foste forte na altura certa e disponível sempre que viste um caminho possível. Empenhaste-te para pagar tratamentos, e obrigaste-te a frequentar os Toxicodependentes Anónimos para perceberes os como e os porquês, e te adequares àquela realidade.

Agora tens sessenta anos, e a mesma vida com que te conheci aos vinte. Continuas alegre, bonita e cuidada, pese embora todo esse passado que te pôs no limite da resistência.
O teu primeiro casamento com um imaturo, deixou-te esse filho com um ano nos braços. Criaste-o no meio de dificuldades, e foste surpreendida quando o pensavas a divertir-se de surfista.

És uma heroína.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

No Serviço de Urgência














- Oh Luís. O homem pode queixar-se de tonturas, mas se ele não saía daqui tão depressa, quem caía para o lado era eu!, digo para o interno que está comigo neste dia.
- Mas porquê, Dr?, pergunta ele, estranhando o meu dito.
- Porque ele cheira que tolhe! Ele tem um cheiro que lembra uma estação da CP das antigas, aumentado 30 vezes. Tu perguntaste-lhe se ele caiu nalgum lado ou se andou a esfregar algum produto no corpo?
- Não! Mas vou já perguntar!
, e de imediato saiu, para voltar com ar satisfeito minutos depois.
- Bingo! O homem andou a aplicar um produto que comprou na Casa do Lavrador, para matar "os carrapatos"dos animais!
- E porquê?
- O fulano é trolha. Há um mês foi às meninas, e veio de lá com uma camada de chatos das antigas. Primeiro, foi à Farmácia, e o farmacêutico deu-lhe um líquido que não lhe resolveu o problema, e vai daí ele foi à Casa do Lavrador lá da terra, dizer que tinha "carrapatos" nos bois, e a "engenheira" deu-lhe aquele produto para deitar em 50 litros de água e pôr nos bichos!
- Que produto era?
- Ele diz que se chamava Tic Tac!
- Tic Tac? Não será Taktic (Amitraz)?! E como é que ele fez?
- Deitou 20 litros de água na banheira e metade do frasco e ontem e hoje meteu-se lá dentro 15 minutos e só se secou, daí o cheiro. Mas não contente com isso, andou a passar "Mafu líquido" pelos locais onde tinha mais comichão.
- E a mulher dele não deu por nada?,
pergunto ainda a estranhar aquele cenário.
- Ele é solteiro e vive só!
- Graças a Deus! ... Manda dar-lhe um banho de alto a baixo, muda-lhe a roupa e pede-lhe umas análises que isso, apesar do cheiro, não tem grande toxicidade. Olha! ... de caminho, abre a janela!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mudar



















Mudar foi um imperativo da 2ª metade do século XX, uma vez que a disponibilização de novas tecnologias nos objectos de uso corrente lhes deu novas funcionalidades, facto acrescido da maior facilidade na produção ter transformado bens de consumo esporádico em consumíveis.
Abandonaram-se assim algumas boas práticas de "consertar", para dar lugar a um estar de "substituir", mesmo quando o “avanço” tecnológico não só não trazia benefício, como até dificultava o uso.

Este sentimento influenciou as relações interpessoais, e facilitou o conceito de substituir pessoas sem medir as consequências dessa mudança, pois frequentemente a pessoa que resolve melhor um problema, tropeça em muitos outros que anteriormente estavam cobertos.

Resolver problemas criando outros maiores, … qualquer um faz, é como ter a faca e o queijo na mão, ... e cortar a mão!.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os nossos Cérebros

Existem diferenças entre o cérebro do homem e da mulher?
- Só nas funções cerebrais relacionadas com as emoções vinculadas ao sistema endócrino. Mas quanto às funções cognitivas, não tem qualquer diferença.
Drª Rita Levi Montalcini

sábado, 19 de dezembro de 2009

Ana Moura

Nasceu em Coruche, 1979.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Também está bem!
























Nem mais. Era assim que ele entendia a coisa. O que era preciso era dar resposta, … qual?, não interessava, desde que fosse … uma resposta. Então no Serviço de Urgência, que ele, nesse dia, chefiava, a sua preocupação era mesmo ... “despachar!”.
Chegava-se aos doentes como que a cheirá-los e, num ápice, decidia o modo de os pôr de ali para fora. A maior parte para a rua, “com alta" e, de vez em quando, quando o pobre mal dava acordo de si, para o internamento, com a sua fórmula mágica para todas as doenças “Ralopar e Noostan”.
Era marginal a sua preocupação em identificar doenças e individualizar soluções, pois todos os “ais” lhe soavam ao mesmo, classificando muitos como “do 5º andar” para, depois de uma lambuzadela, os aviar sumariamente com um qualquer remédio para a Farmácia.
Se tudo estava calmo, escolhia na Triagem fichas de mulheres jovens, para “matar o ócio”. Se a afluência era grande, “despachava” com “terapêutica ao sintoma”. Se sabia da chegada de um doente grave, corria a ver-lhe o aspecto e, se esse não fosse famoso, desinteressava-se e ia, diligentemente, para a secretária passar-lhe a Certidão de Óbito, ... “para ganhar tempo”.
- “Oh, Dr. No! O homem dessa certidão está muito melhor e até fala!”, ter-lhe-ão dito um dia, numa dessas situações. - “Ah, é?”, levantou-se, e rasgou o papel, com o mesmo à vontade com que o iniciara.

Mas adiante, que os muitos anos de má prática “tinham-lhe empedernido o coração e facilitado a ousadia”, e ele só assim fazia, porque aquele limbo de impunidade sempre o permitira.
Nesse dia andara de um lado para o outro, preocupado com a falta de macas. “-Este aqui? É para o Rx?, e este?, é para OBS”, perguntava enquanto empurrava as macas de um lado para o outro. –“E essa aí, Dra.”, virado para uma colega nova que diligentemente procurava esclarecer uma violenta dor cabeça numa mulher que chorava no corredor, - “Essa, … é tudo do 5º andar! É para mandar embora!”, ordenava como um sargento numa parada.
- “Oh, Dr. No! Não é para mandar embora. É para transferir para o Hospital de S. João, para observação por Neurologia, que ela tem sinais de hipertensão intracraneana!”, respondeu-lhe a médica. E ele, sem se desmanchar, a partir para nova asneira:
-“Também está bem!”

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Rickie Lee Jones

Rickie Lee Jones nasceu em Chicago em 1954.



quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Traição























Traição é a quebra ou violação de um suposto contrato social, ou da confiança, que produz conflitos morais e psicológicos dentro de um relacionamento entre indivíduos, entre organizações ou entre indivíduos e organizações. Geralmente a traição é o acto de apoio a um grupo rival, ou uma ruptura completa com uma decisão anteriormente tomada ou uma troca das normas de um grupo pelas de um outro.
in Wikipedia


A traição é uma arma disponível apenas nas mãos de quem gostamos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Bibliotecas



Encontramos livros em bibliotecas e livrarias. Reunidos num só local, os livros assemelham-se a um exército ameaçador a perfilar-se a toda a volta a clamar por serem lidos. No seu meio, um leitor pouco regular sente-se como um bêbado no meio de uma manada de zebras em pleno galope. Tudo se lhe confunde. A quantidade dos livros intimida-o e recorda-o de tudo quanto não sabe. Estas toneladas de conhecimento são a medida da sua ignorância. Escolher um, abri-lo e começar a lê-lo parece-lhe um empreendimento ridículo. Recorda-lhe a tentativa de esvaziar um oceano com um dedal. A simples visão de uma prateleira desmoraliza-o.

Nenhum utilizador de bibliotecas as sente desta forma. Apenas vê o livro que utiliza naquele momento, e talvez mais alguns da mesma família. Os outros, vê-os, tanto ou tão pouco, como o jovem que se dirige a um encontro com uma rapariga, se apercebe da quantidade de pessoas que passam ao seu lado na avenida. ….
in "Cultura" de Dietrich Schwanitz

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Cristina Branco



Cristina Branco (1972 - …) a dar uma cor de esquerda ao fado

domingo, 13 de dezembro de 2009

Indecisões



Naquele dia, saíra de casa determinado a pôr um fim naquela indecisão. Entrou-lhe pelo gabinete adentro, e questionou-o: -“Em que ficamos? Vem ou não vem?”, e mais uma vez ouviu que estava dependente do seu chefe, e que ele “umas vezes dava uma no cravo e outra na ferradura” …
Então, não se conteve, e disse-lhe:
- Se calhar, é por tu não estares quieto com o pé!”

sábado, 12 de dezembro de 2009

Fernando




Can you hear the drums Fernando?
I remember long ago another starry night like this
In the firelight Fernando
You were humming to yourself and softly strumming your guitar
I could hear the distant drums
And sounds of bugle calls were coming from afar

They were closer now Fernando
Every hour every minute seemed to last eternally
I was so afraid Fernando
We were young and full of life and none of us prepared to die
And I'm not ashamed to say
The roar of guns and cannons almost made me cry

There was something in the air that night
The stars were bright, Fernando
They were shining there for you and me
For liberty, Fernando
Though we never thought that we could lose
There's no regret
If I had to do the same again
I would, my friend, Fernando

Now we're old and grey Fernando
And since many years I haven't seen a rifle in your hand
Can you hear the drums Fernando?
Do you still recall the fateful night we crossed the Rio Grande?
I can see it in your eyes
How proud you were to fight for freedom in this land

There was something in the air that night
The stars were bright, Fernando
They were shining there for you and me
For liberty, Fernando
Though we never thought that we could lose
There's no regret
If I had to do the same again
I would, my friend, Fernando

There was something in the air that night
The stars were bright, Fernando
They were shining there for you and me
For liberty, Fernando
Though we never thought that we could lose
There's no regret
If I had to do the same again
I would, my friend, Fernando
Yes, if I had to do the same again
I would, my friend, Fernando...


Consegues ouvir os tambores, Fernando?
Lembro-me de há muito tempo numa noite estrelada como esta
Na luz do fogo, Fernando
Tu estavas cantarolando e suavemente dedilhando o teu violão
E eu ouvia os tambores distantes
E o som de chamada dos cornetins estava a vir de longe

Eles estavam mais perto agora, Fernando
Cada hora, cada minuto pareciam durar eternamente
Fernando, eu estava com tanto medo
Nós éramos jovens e cheios de vida e nenhum de nós estava preparado para morrer
E eu não tenho vergonha de dizer
Que o rugido das armas e dos canhões quase me fez chorar.

Havia algo no ar naquela noite
As estrelas estavam brilhantes, Fernando
E estavam a brilhar lá para ti e para mim
Pela liberdade, Fernando
Apesar de nunca pensarmos que poderíamos perder
Não há ressentimento
Se eu tivesse que fazer o mesmo novamente
Eu faria, meu amigo, Fernando

Fernando, Agora estamos velhos e grisalhos
E desde há muitos anos eu não te vejo um rifle na mão.
Consegues ouvir os tambores Fernando?
Ainda te lembras daquela noite fatídica, em que cruzámos o Rio Grande?
Eu posso ver isso nos teus olhos.
Como estavas orgulhoso em lutar pela liberdade nesta terra.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Os Puritanos
























O Papa Leão X precisava de dinheiro para a Basílica de S. Pedro e, por isso, mandou os seus vendedores de indulgências calcorrear os quatro cantos do mundo. Eram monges mendicantes que vendiam certificados papais atestando o perdão de todos os pecados, a quem tivesse dinheiro para lhes dar. Os príncipes não gostaram de ver tanto dinheiro a deixar os bolsos dos seus súbditos e a desaparecer nos cofres do Santo Padre. Leão X só conseguiu convencê-los a licenciarem-lhe o negócio das indulgências, prometendo-lhes uma participação nos lucros. Ao fazê-lo, esqueceu-se de Frederico de Sabóia, que sabiamente proibiu esse negócio na sua terra. Mas, um monge dominicano chamado Tetzel, plantou-se na fronteira de Sabóia, onde acorreram as pessoas da cidade próxima de Wittenberg, que compraram ao ouvir o seu slogan publicitário: “Mal o dinheiro na caixa ressoe, a alma para o céu saltou!”. Mas, como tinham dúvidas quanto à validade teológica dos ditos certificados, acorreram à Universidade de Wittenberg a fim de pedir ao professor de serviço que lhes confirmasse a respectiva legitimidade. O professor recusou prestar-se a tanto. O seu nome era Martinho Lutero.
No dia seguinte afixou na porta da igreja um cartaz em que justificava a sua recusa e, a fim de chegar a um público mais alargado, deu-se logo ao trabalho de as traduzir do latim para o alemão. Tudo isso aconteceu no dia 31 de Outubro de 1517. Ainda hoje os protestantes celebram esse dia como o dia da Reforma.

A reacção do establishment não se fez esperar (Lutero era um vigário geral, ou seja, era um chefe da administração episcopal) e foi chamado a retratar-se, só que teve o apoio dos seus colegas da Universidade e da população, e desencadeou um movimento que iria definir a diferença entre o norte (protestante) e o sul (católico) da Europa. É que as propostas de Lutero não se referiam apenas a questões religiosas mas também a uma reforma geral na moralidade pública.
Fez do sermão o centro do serviço religioso, retirou aos padres o privilégio de se apresentarem como mediadores entre Deus e os homens, responsabilizando assim cada um perante Deus.

O movimento social despertado por algumas das suas facções, iria ser determinante da evolução política do mundo ocidental. “Sem o puritanismo, a Inglaterra não se teria convertido na vanguarda da modernização” e "sem o seu espírito, os USA não se teriam transformado numa potência mundial".
in "Cultura" de Dietrich Schwanitz
O sul da Europa e as zonas sob sua influência que se mantiveram fiéis ao Papa e à “má moral”, estagnaram num mínimo de rigor, o que ainda é patente na facilidade com que se aceita o oportunismo e o desenrasca.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Novos projectos
























Os programas são listas de boas intenções.
Não é possível reformar, sem reformar a informação de modo a que ela revele a eficiência dos serviços, a qualidade dos cuidados prestados, o acesso.
Uma informação transparente, conhecida não só dos gestores, mas também do cidadão.
Uma reforma «não se pode confinar à mera consagração de novas siglas”…
Constatino Sakellarides
......
- “Vais para Viana do Castelo? Cuida-te. É que lá transforma-se o Idiopático em Iatrogénico!”

Era e é como em todo o lado. Não se mede.
Este é um dos pontos onde tem de haver mudança, disponibilizando informação para os profissionais e para o público, mesmo que se tenha de aprender a viver com ela.
Medir o tamanho das listas de espera pode ter a sua importância, mas há muita outra informação que é tão ou mais importante e que fica por dar, como a título de exemplo: Mortalidade perioperatória e até aos 30 dias das grandes cirurgias electivas (programadas) efectuadas. Erros de diagnóstico que motivaram grandes gestos terapêuticos. Complicações evitáveis nos procedimentos de diagnóstico e tratamento. Admissões e dias de internamento injustificados.

E porque é que são importantes estes dados?
Para que a Gestão possa ser responsabilizada por não implementar medidas que proporcionem condições seguras para os doentes e para os profissionais que aí desenvolvem suas actividades de trabalho.
Para os Leigos:
Iatrogénico - Diz-se de uma perturbação ou de uma doença que é provocada pelo médico ou no decurso de intervenções diagnósticas ou terapêuticas.
Idiopático é um adjectivo usado em medicina com osignificado de "causa obscura ou desconhecida".

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cidadania
























A História, com a participação ou omissão de todos, vai-se escrevendo para registo das nossas capacidades e vergonhas.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Malambo



No Malambo o dançarino faz uma série de movimentos com os pés, chamadas mudanças, que dão individualidade e valor ao executante.
Dançavam-na os gaúchos das pampas argentinas, numa exibição das suas capacidades físicas, numa espécie de torneio dançante que, por vezes, se prolongava por mais de 6 horas.

É um bom modo de dar azo à masculinidade e de gastar testosterona.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Currupção na Administração Pública


















Em Portugal a corrupção está intimamente ligada a factores culturais, que acentuam a grave crise de moralidade política.

A cultura de corromper e ser corrompido atinge níveis alarmantes e é uma das maiores causas da pobreza. A opinião pública é, nessa matéria, uma fonte de constatação extremamente válida.
Há registos de práticas de corrupção em toda a História, mas numa sociedade marcada pela "competição", ela causa uma tão grande distorção que a torna ingovernável.

Existe Corrupção na Administração Pública quando há desvio por parte de um funcionário dos deveres formais do cargo, na busca de recompensa para si ou para outros, violando o bem comum.
O funcionário não é corrupto a todo o tempo, mas quando a oportunidade lhe proporciona mais benefício que custo.

Há várias formas de corrupção:
a) "a excepcionalidade da aplicabilidade", como forma de adoptar como regra as excepções à regra legal, visando beneficiar alguém ou algum grupo dominante;
b) a "ficção da isonomia", adoptando pesos e medidas diferentes na apliação da lei, para beneficiar pessoas ou grupos dominantes;
c) "tráfico de influência", que consiste na troca de favores com ou entre os burocratas, à custa do erário público;
d) "o poder militar politizado", ou seja, a subversão do poder militar que, ao invés de servir de garantia da segurança contra ameaças externas, trabalha contra as "ameaças" internas, mediante um acerto entre as elites militares e civis;
e) "o jeito" (ou jeitinho) onde quem o concede não é incentivado por nenhum ganho monetário ou pecuniário, sendo levado a fazê-lo por razões de ordem cultural e psicológica, historicamente enraizadas;
f) "a corrupção" em sentido estrito, que é definida na legislação penal, englobando também a figura da concussão;
g) o "clientelismo", que é uma forma de favorecer elites na distribuição de recursos públicos;
h) as formas de procrastinação do feito, que são táticas de protelar a decisão;
i) a própria ineficácia da lei (as pessoas tendem a afirmar que "umas pegam, outras não");
j) a ficção da hierarquia no sistema oficial, muito comumente invocada para o pisoteio de direitos adquiridos.

No Moderno Estado Democrático de Direito, o Ministério Público passou a ser concebido como instituição de defesa da Sociedade, devendo actuar inclusive – e especialmente - contra o Estado, considerando-se que hoje este, com frequência, violenta direitos fundamentais em nome da política económica neoliberal.

A sua acção deve ter um carácter ético-pedagócico, induzindo na sociedade um maior envolvimento com a coisa pública.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Segurança em ambiente hospitalar


Os avanços tecnológicos nos cuidados dispensados aos doentes têm-se vindo a aperfeiçoar, mas o amplo uso desses recursos fez também com que fosse introduzido nos hospitais uma complexidade geradora de riscos, pelo aumento da possibilidade de erros.
Acidente no ambiente hospitalar é um facto que envolve os profissionais, os doentes, os visitantes, as instalações e os equipamentos. Muitos deles acarretam prejuízos que dão origem a acções legais.

O principal objectivo de um hospital é a prestação de serviços na área da saúde, com qualidade e eficiência.
Isto não pode ser alcançado sem a administração efectiva de um programa de prevenção de acidentes, que proporcione condições seguras para os doentes e para os profissionais que aí desenvolvem suas actividades de trabalho.

O Hospital deve desenvolver continuamente essa política, assegurando que os gestores e os funcionários estejam cientes de suas responsabilidades na redução de riscos e acidentes.
Devem se promovidas e reforçadas práticas seguras de trabalho e proporcionados ambientes livres de riscos, de acordo com as obrigatoriedades da legislação.
A complexidade da segurança hospitalar, exige um tratamento multiprofissional, tanto na tomada de decisões técnicas, como nas administrativas, económicas e operacionais.

Os diversos profissionais, em especial os gestores e directores, devem analisar os seguintes aspectos:
a.
Se as obrigações legais referentes a segurança do trabalho estão a ser cumpridas e se resultam em níveis de segurança aceitáveis.
b. Se os profissionais da área clínica estão a utilizar os equipamentos tecnologicamente compatíveis com a solicitação e se sabem lidar com eles adequadamente.
c. Se existem no hospital, programas de treino e reciclagem adequados para uso da tecnologia médica.
d. Se o hospital possui equipe de manutenção e se essa equipe possui os recursos necessários para a manutenção de equipamentos médicos e de infra-estrutura. Se é realizada a manutenção preventiva dos equipamentos vitais.
e. Se possui Brigada Contra Incêndio, se possui sistemas automáticos para extinção de incêndio e se são eficientes e suficientes.
f. Se possui gerador de energia eléctrica de emergência.
g. Se os custos gerados com acidentes envolvendo funcionários e doentes no ambiente hospitalar estão compatíveis com os investimentos feitos nas áreas de aquisição, treino e uso de tecnologias.
h. Se os funcionários usam os equipamentos de segurança, se são suficientes e se os riscos ambientais estão identificados e corrigidos.
i. Se os funcionários utilizam adequadamente as suas ferramentas de trabalho e se são suficientes para garantir o funcionamento seguro dos equipamentos e sistemas.
j. Se os doentes e visitantes recebem algum tipo de orientação sobre como agir em caso de incêndio.
k. Se existem no hospital, profissionais com dedicação exclusiva na área de segurança.
l. Se existem no hospital todos os projectos de arquitectura e engenharia actualizados que possibilitem a tomada de decisões com maior precisão e segurança.
m. Se o hospital possui planos de emergência para enfrentar situações críticas como falta de energia eléctrica, água, incêndio e inundações.
n. Se existe no hospital uma lista de empresas prestadoras de serviços, que estejam aptas a prestar serviços aos equipamentos e instalações de acordo com as normas de segurança aplicáveis
o. Se existe no hospital a ficha cadastral dos equipamentos existentes que indique a periodicidade dos testes de segurança e de desempenho dos mesmos.
p. Se são feitas, frequentemente, pelo menos mensalmente, reuniões com a comunidade de saúde, para discutir problemas de segurança existentes na sua unidade de saúde?

Todos os níveis de gestão devem, constantemente, reforçar as regras e regulamentos de segurança, estar alerta e identificar as práticas e condições inseguras, tomando, imediatamente, atitudes apropriadas para corrigir irregularidades.
Os gestores e os directores têm a responsabilidade de zelar para que ambos, ambiente e funcionário, se apresentem em condições adequadas de segurança e devem considerar a prevenção de acidentes como uma parte normal das suas actividades rotineiras.

Responsabilidades legais: Quando se trata de segurança e saúde a negligência pode ser a principal causadora de acidentes, provocando grandes danos e até a morte. É necessário estar atento para que o descuido. Negligência é a falta de precaução, de diligência, de cuidados no prevenir dos danos.
Para que ocorra resultado penal, é necessário que haja uma relação de causalidade. Assim o resultado, que depende da existência de crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a acção ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
A negligência manifesta-se, via de regra, através da omissão e torna-se penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. Os crimes omissos são aqueles em que o agente deixa de fazer algo produzindo dessa forma, incidentes não esperados.

Tudo isto é tirado daqui, mas tem plena aplicação em Portugal.
É um risco aceitar responsabilidades num sistema em que se não garantam um mínimo destes pressupostos.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Sentimento de perda ?
























O modelo de Kübler-Ross descreve os cinco estádios que se percorrem num processo de perda.
1: Negação: “Isto não me pode estar a acontecer!”
2: Revolta: “Porquê eu? Não é justo!”
3: Lamentação: “Podiam, ao menos, deixar …”
4: Depressão: “Estou triste, porquê preocupar-me com o que quer que seja?”
5: Aceitação: “O mundo há-de continuar a girar!”

Eu percorro diariamente a escala do 1 ao 5.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Exame de Pediatria













A prova, até ali, não tinha corrido mal, e mesmo às perguntas mais difíceis tinha dado uma resposta satisfatória. Sentia que já tinha a cadeira feita e toda aquela tensão muscular começava a dissipar-se, ajustando-me aos poucos o corpo à cadeira.
Era à assistente a quem competia fazer a última pergunta. Olhou primeiro para o professor como que a perguntar “- Posso?”, e depois com ar de quem quer uma resposta breve e concisa, pergunta-me:
- "Oh. Dr. Eduardo, diga-me qual é a carência vitamínica que, na fibrose cística da criança, se pode manifestar por arreflexia e anemia hemolítica".
Aquilo pareceu-me uma pergunta para o “vinte”. Pensei, e sem solução arrisquei:
- “Vitamina A!”
- “Não!”, exclamou, enquanto baixava os olhos e abanava a cabeça.
- “Então é uma do complexo B!”, afirmo confiante, pois só aí eram doze de uma vez.
- “Não, Não é!", responde-me, enquanto olha para o professor, como a perguntar “acabamos aqui?”. E, naquele espaço, decido, num pim-pam-pum, tentar acertar entre a C, a D, a E, e a K que faltavam.
- “Só se for D?” digo num repente. E, de súbito, o professor levanta-se e vai para janela, e ela diz-me com ar ríspido.
- “Vá-se lá embora, o seu exame acabou!”
E só então percebi o que tinha dito.
História de E.D.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Afirma Pereira"




O Livro, foi escrito em 1993 e mereceu dois prémios literários italianos.






















O Filme, realizado em Lisboa por Roberto Faenza em 1996, tem como actor principal Marcello Mastroianni, numa das suas últimas aparições cinematográficas. Conta com os actores portugueses Joaquim de Almeida, Mário Viegas e Nicolau Breyner e tem banda sonora de Ennio Morricone, que escreveu para Dulce Pontes A Brisa do Coração.
Antonio Tabucchi nasceu em 1943, em Pisa, Itália. Traduziu e dirigiu a edição italiana da obra de Fernando Pessoa.

"Afirma Pereira" é uma história que pergunta qual é o nosso limite para o medo e para a tolerância.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Vida dos Outros























Filme alemão vencedor do Oscar 2007 para melhor filme estrangeiro.
A história acontece em 1984 (como alusão ao livro de George Orwell ?) numa Alemanha ainda dividida pelo Muro de Berlim. O governo oriental usa a Stasi - a polícia política da República Democrática Alemã - e também informantes civis, que correspondiam a mais de 2% da população da cidade, para impor o controle político, mas também para benefício próprio.
A Vida dos Outros trata da progressiva desilusão de dois homens, Dreyman e Wiesler, com aquilo em que mais acreditavam.

A desilusão é um dos modos para as pessoas mudarem.
E logo havia de me aparecer este filme, hoje, no DVD.