sexta-feira, 28 de junho de 2013

Trabalhos de um bisavô


 
- Rita! Deixa o teu bisavô em paz!
- Está quase! Ele não se importa!

terça-feira, 25 de junho de 2013

Um pouco de História


Um pouco de História ajuda-nos sempre a entender o presente, principalmente porque cem anos não é nada na evolução de uma espécie.

Uso o livro “Civilization” de Niall Ferguson, publicado em 2011 e editado em Portugal pela Editora Civilização, em Fevereiro de 2012.

Niall Fergurson é professor de História na Universidade de Harvard

A guerra que começou em 1914 não foi uma guerra entre meia dúzia de Estados europeus quezilentos. Foi uma guerra entre impérios mundiais.
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Em 1917, a França estava à beira de perder a Primeira Guerra Mundial. Onde deveria pedir ajuda? A resposta foi: África.
Apesar dos súbditos africanos da França não terem direito à plena cidadania francesa, eram considerados elegíveis para pegar em armas em defesa da pátria.  Contudo, em todas as colónias - Senegal, Congo, Sudão, Daomé, Costa do Marfim - os africanos declinaram responder ao apelo. A maioria acreditava que o recrutamento para o exército equivalia a uma sentença de "morte certa". O único homem que parecia capaz de dar a volta à situação era Blaise Diagne, o primeiro africano eleito para a Assembleia Nacional Francesa. Estaria ele disposto a regressar ao Senegal como uma espécie de sargento recrutador glorificado?
Diagne viu a possibilidade de fechar um negócio com o primeiro-ministro francês, George Clémenceau, e insistiu que todo o africano que se apresentasse para combater, recebesse a cidadania francesa e que os tirailleurs veteranos ficassem isentos de impostos e tivessem direito a uma pensão decente. 
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Em Abril de 1917, Demba Mboup e os seus camaradas do Corpo Colonial Francês, integrado no Sexto Exército do general Charles Mangin e no Décimo Exército do general Denis Duchêne, tinham pela frente as posições poderosamente fortificadas do Sétimo Exército alemão, comandado pelo general Hans von Boehn, no Caminho das Damas – assim chamado por ter sido utilizado pelas duas filhas de Luís XV, no século XVIII.
O comandante francês, o general Robert Nivelle, acreditava ser o homem que iria conseguir o tão ansiado rompimento na Frente Ocidental. Os Franceses construíram 450km de via férrea para apoiar a ofensiva com 872 comboios carregados de munições. Ao longo de uma frente de 40km, foi concentrado para o assalto mais de um milhão de homens. Dias e dias de barragens de artilharia deveriam amaciar os Alemães. No dia 16 de Abril, às 6h00, as tropas coloniais começaram a subir as colinas que a chuva e o granizo tinham transformado em lamaçais escorregadios. Mangin colocara os Senegaleses na primeira vaga, quase de certeza com o intuito de poupar vidas francesas. Segundo o tenente-coronel Bedieuvre, comandante do 58º Regimento de Infantaria Colonial, os africanos eram “inquestionavelmente e acima de tudo tropas de assalto soberbas que permitem poupar as vidas dos brancos, os quais, avançando atrás deles, exploram o seu sucesso e organizam as posições que eles conquistam”.
Nas trincheiras alemãs, o capitão Reinhold Eichacker observou horrorizado:

Os escuros pretos do Senegal, o gado para o matadouro da França. Centenas de olhos de combatentes, fixos, ameaçadores, mortíferos. Avançaram. Primeiro sozinhos, muito espaçados. Às apalpadelas, como os tentáculos de uma lula horrível. Ávidos, sôfregos, vacilando e por vezes desaparecendo na sua nuvem. Tipos fortes, selvagens, de dentes arreganhados como panteras. Os olhos, monstruosamente arregalados, acesos e injectados de sangue, eram horríveis.
Avançaram como uma parede móvel, negra e sólida, erguendo-se e caindo, oscilante e palpitante, impenetrável, infindável.
“reduzir a alça! Fogo à vontade! Apontem bem!” – as minhas ordens foram concisas e claras.
Os primeiros negros caíram a meio da corrida, em cima do nosso arame farpado, dando saltos mortais como palhaços num circo. Grupos inteiros evaporaram-se. Corpos desmembrados, terra pegajosa e pedras despedaçadas misturaram-se numa desordem selvagem. A nuvem negra parou, vacilou, cerrou fileiras e continuou a aproximar-se, irresistível, esmagadora, devastadora!
De súbito, uma parede de chumbo abateu-se sobre os atacantes e o arame farpado mesmo à frente das nossas trincheiras. Um martelar e chocalhar, um estalar e bater, um crepitar ensurdecedor atirou com tudo por terra com um clamor de furar os tímpanos e destroçar os nervos. As nossas metralhadoras estavam a apanhar os negros de flanco! Passaram como uma mão invisível sobre os homens, atirando-os por terra, estropiando-os e fazendo-os aos bocados! Os negros caíam sozinhos, em linha, em fila, ao monte. Ao lado uns dos outros, em cima uns dos outros.
Blaise Diagne protestou contra o desperdício negligente dos seus compatriotas mas regressou ao Senegal em busca de novos recrutamentos, desta vez armado com a garantia de que o combate, além da cidadania francesa, lhes valeria a Cruz de Guerra. No dia 18 de Fevereiro de 1918, Clemenceau defendeu o retomar do recrutamento militar perante um grupo de senadores, deixando perfeitamente claro o modo como os Franceses viam os Senegaleses:
“Tenho um respeito infinito por estes valentes negros, mas prefiro ver dez negros mortos a ver um francês, porque julgo que já morreram suficientes franceses e que há que sacrificá-los o menos possível”.

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Isto passou-se em França, país defensor dos direitos humanos - da liberdade, da igualdade e da fraternidade.
Ao lado, na Alemanha Imperial o alemão médio via os africanos como primatas superiores - o termo predileto para eles era "babuínos" - e tratava-os como animais. Os povos de "raça mista" - os bastardos - eram considerados racialmente superiores aos negros puros, mas inferiores aos brancos puros. Admitia-lhes uma eventual utilidade como polícias coloniais ou funcionários menores. No entanto, desaconselhava qualquer mistura racial adicional.

Será que estes conceitos perderam actualidade e que já não é fácil recrutar carne para canhão.

domingo, 23 de junho de 2013

Mobilidade especial


“Estremeceu!”, diagnosticou o jardineiro. “Foi de um arejo”, disse a jornaleira. Mas, por uma razão ou outra, ou por nenhuma delas, a Camelia japonica, não tolerou os efeitos da mobilidade especial do processo de reorganização do jardim.
Depois de excluir os outros diagnósticos que grassam na linguagem dos "entendidos", do tipo “foi o caracol da noite”, foi andaço, foi moléstia..., e sem nada de científico que o apoie, desta vez dou razão ao jardineiro.

Na verdade, não se tratava de uma requalificação, pretendiam-se as mesmas funções ornamentais num outro local, depois de ter passado dois anos difíceis num terreno saibroso e ensombrado, "na extrema" do jardim.
Se fosse uma Camelia sinensis (a espécie de onde se extrai o chá por infusão das suas folhas, flores ou raízes) não me espantaria, pois nunca se adaptou bem ao nosso clima, mas esta, que no Minho tem honras de fachada em todos os solares e casas rústicas, tinha-a por mais resistente.
Falhei. Não a quis mudar em Outubro “quando pega tudo” e deslocalizei-a em início de Abril, com tempo chuvoso. Não gostou. Estremeceu!
Agora volta a cuidados de internamento, com regas diárias, de vez em quando borra de café e estrume de cavalo nas imediações e muita “conversa”, porque até as plantas gostam que se lhes fale e se lhes explique as razões e os processos de reorganização – extinção, fusão, reestruturação de órgãos e racionalização de efectivos, para que não desmoralizem e entrem em depressão.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Mito-Croc


Célula

Mitocôndria

As mitocôndrias são organelos celulares responsáveis pelo fornecimento de energia de fácil utilização às células de todos os seres vivos. Vivem no citoplasma como se fossem bactérias domesticadas, e concentram-se nas mais activas (musculares e do sistema nervoso) como se procurassem uma irrigação sanguínea vantajosa.

Como “seres vivos” estão sujeitas a mutações no seu DNA o que pode condicionar graves doenças congénitas e ou a disfunções adquiridas resultantes de efeitos adversos de medicamentos, infecções ou de outras causas ambientais.
A hiperglicemia da Diabetes ao causar glicolização das proteínas (isto é: ligando glicose às proteínas de forma irreversível) de todo o corpo, altera-as também, dificultando-lhes a actividade, o que se reflecte no funcionamento dos nossos órgãos mais nobres - o cérebro e o coração, promovendo-lhes um envelhecimento acelerado, se o controle da doença não for muito precoce.

Felizmente está em vias de ser lançado no mercado um soluto de mitocôndrias selvagens, extraídas do sistema nervoso do crocodilo do Nilo, que mantêm a capacidade de reprodução “in vitro” e que, ao invadirem as células com mitocôndrias doentes as regeneram.

O Mito-Croc, assim se chamará o produto, é uma inovação que usa a biologia das origens da vida, para o tratamento de um dos maiores flagelos do mundo ocidental – a diabetes e a aterosclerose, prevendo-se que com ela a o homem possa viver, com qualidade, para lá dos 150 anos.

Para já, o tratamento só será disponibilizado por via endovenosa para uso exclusivo de alguns hospitais, mas estamos a estudar a sua administração em cápsulas gastroresistentes, a fim de a poder administrar por via oral.

Caso a segurança se prove, irá por certo concorrer com o Q-10 da Depuralina e com as xantonas do Mangustão, e espera-se a sua venda em Parafarmácias até ao final desta década.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Ideário

A opção não é entrar pelo cano. É ir ao fundo. Para isso comprámos submarinos.
Há que desvalorizar a mão estendida e promover quem gasta o que não lhes pertence e manda as contas ao Estado, para que se alimente o imaginário e as vaidades da população.

Sem medo, porque a Sra de Fátima ainda é nossa e o Cristiano Ronaldo não se naturalizou noutro país.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Conversas

-Achas que o mundo vai acabar, Isaltino? Que o governo vai cair? Que vem aí um terramoto?
 -Mais fácil o mundo acabar que o governo cair, chefe. Quem ia cobrar-nos os impostos?
 -Alguém se iria arranjar. Havia de aparecer alguém.
 -Era o que eu dizia.

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 In `O colecionador de erva` de Francisco José Viegas

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Aviso

Segundo a Linguagem CIPE/SAPE, o dístico está ERRADO.

PROIBIDO poder-se-ia classificar em:

1- Proibido em Grau Ligeiro
2- Proibido em Grau Moderado
3- Proibido em Grau Elevado

Como neste caso existem excepções, deverá ser classificado como Proibido em Grau Ligeiro e não em Grau Elevado como o "Expressamente" sugere.


Aproveita-se a ocasião para classificar, de igual modo, o adjectivo “IMPOSSÍVEL” em três graus:
1 - Impossível em grau Ligeiro
2 - Impossível em grau Moderado
3- Impossível em grau Elevado ou Muito Impossível.

terça-feira, 4 de junho de 2013

A Julinha e o Cansado


A Julinha, chefe da Secretaria no Hospital Velho, era uma "disciplinadora". Tinha um gosto particular em alimentar com papéis os inúmeros dossiers por que era responsável, como se cada um fosse um ser vivo a necessitar de novas folhas para crescer. Criara uma teia burocrática tão eficiente que, até os mais avisados, contribuíam para elevar as suas endorfinas. Estava ali para aplicar as soluções já definidas e sentia que tinha por missão educar os funcionários.

Na altura, a Secretaria era uma sala rectangular, dividida por um balcão em L, com dois guichets contíguos no canto, para o Atendimento. Em cima deles dois letreiros de grandes letras informavam, num “Tesouraria” e no outro “Secretaria”. O horário era ESCRUPOLOSAMENTE cumprido. -"Sr. Dr.! Abrimos às onze e fechamos ao meio-dia!", e, quem chegasse fora desta hora, ou se entretinha a observar o ponteiro dos segundos a sobrepor-se ao dos minutos até às onze ou teria de vir no dia seguinte, se não fosse sexta-feira.

Um dia, o Dr. Coelho Cansado, foi à Secretaria para regularizar um esquecimento de assinar o Livro de Ponto. Não havia ninguém a aguardar. A Julinha debruçava-se sobre uma resma de papéis no guichet "Tesouraria". Cumprimentou-a:  
- "Dona Júlia, eu vinha aqui porque não assinei o Ponto!", disse então, na esperança de uma fácil solução, por ignorar a importância que pode ser atribuída a um sarrabisco colocado a tempo e horas numa folha de papel, e aguardou o seu olhar por cima dos óculos.
- "Sr. Dr.! Trata-se então de um problema de presença!”, confirmou com ar de poucos amigos, decidida a não deixar qualquer i sem o respectivo ponto.
De seguida levantou-se, disse “Um momento!”, contornou a esquina que a separava do outro guichet, onde estava escrito “Secretaria”, abriu o vidro, voltou a sentar-se e continuou:
"-Sr. Dr.! ... Agora ... Faz favor de dizer!"


O Dr. Cansado, que já era torcido, aprendeu o que lhe faltava. Desde então, não se envolve em nada. Anda pelos mínimos e cumpre religiosamente o registo da assiduidade. Se sai às cinco, às cinco menos vinte, começa os preparativos. Se está com um doente, informa-o: - "A sua consulta acabou, porque eu tenho de ir despir a bata e demoro cinco minutos a descer as escadas até ao lugar onde tenho de pôr o dedo!"

sábado, 1 de junho de 2013

Rita


- Avó!
- Diz, Rita!
- Os católicos são bons?
- Ser bom ou mau não tem nada a ver com ser católico. Ser católico é acreditar em Deus e ir à missa. Os não católicos não vão.
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...
- Eu não sou católica!. … … ... … … Não gosto de missas! … … ... ... Nunca mais acabam, ... ... falam uma língua que eu não percebo nada do que dizem!
- Mas, Rita! Tu alguma vez foste a uma missa?
...
- Fui!
- Foste com a avó Guida?
...
- Sim! … … … … A missa faz-me vómitos!
- Rita! Como é isso? A missa não pode fazer vómitos.
- Faz, avó! Vomitei em dois papéis que a avó Guida me deu. Uma espuma branca! ... ... ... Depois a avó Guida saiu de ao pé de mim e foi lá fora procurar um caixote do lixo para pôr os papéis, e quando veio, a missa estava a acabar! ... ... ... Foi esperta! ... Saiu da missa e eu tive de ficar até ao fim com o avô João!