sábado, 11 de dezembro de 2021

Formalidades

Esta semana, deu-me para visitar Platão e, de link em link, cheguei a esta palestra sobre Jane Austen, no YouTube, onde a dra. Lúcia Helena Galvão aproveita dois dos seus livros: Orgulho e Preconceito e Sensibilidade e Bom Senso, para nos falar de civilização.

Não li os livros, só vi os filmes, que entendi como mais umas histórias de "amor", sem qualquer relação com o pensamento que a filósofa Lúcia lhes dá. Segundo ela, Jane Austen apresenta neles as normas civilizacionais que permitiram à Inglaterra tornar-se uma potência mundial, pois a formalidade nas relações humanas é fundamental para que as sociedades progridam.

Na tropa, os símbolos e os códigos de conduta continuaram sempre bem definidos e aceites e o seu incumprimento tem consequências, mas na vida civil, no Ocidente das últimas décadas, a informalidade tem ganho espaço. A queda dos antigos protocolos éticos não foi acompanhada pela criação de novos códigos igualmente eficazes, onde não se questione e desrespeite o que se não conhece profundamente.

A "informalidade" não é um valor civilizacional e o descuido com as “formalidades sociais” pode-nos levar à catástrofe. 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

How To Speak by Patrick Winston


Patrick Henry Winston (1943 – 2019) was an american computer scientist and professor at the Massachusetts Institute of Technology. Winston was director of the MIT Artificial Intelligence Laboratory from 1972 to 1997.

A palestra é de 2018. Tem legendas em inglês (não são boas, mas ajudam).

We are lucky that we live in an age where we can watch/listen to something like this for free

sábado, 4 de dezembro de 2021

Cabeleireiros

 

 

Arnaldo, Alcino, António, Alfredo…são os nomes dos cabeleireiros que me puseram as mãos na cabeça nos últimos anos…todos começados por A por coincidência…

O resultado é o que se sabe e não os culpo. Não se podem fazer milagres! mas o que me suscita reflexão é o padrão de comportamento.

A delicadeza de trato deixa revelar uma vontade de corte…ou não sejam eles instruídos na tesoura que seguram com mestria entre o polegar e o 2ª dedo com ajuda do 4ª dedo, trinando o seu ruído metálico afiado bem junto dos meus ouvidos.

O “como vai ser hoje?” de cortesia, é comunicado sempre através do espelho, e fica estranho falarmos de frente com alguém que está sempre nas nossas costas…

Não sou de conversas intimistas nem de falatórios sobre as vidas alheias, sejam públicas ou privadas, o que, reconheço, torna a minha visita ao cabeleireiro um enfado para os ditos.

Colocam-me uma revista nas mãos, sempre a última “acabadinha de chegar” que finjo ler pois, sem óculos, apenas vejo as figuras - como quando tinha 5 anos e lia as “Selecções do Reader´s Digest” que existiam lá em casa. Vou percebendo que os que se divorciam este mês são os mesmos que há dois meses tinham o casamento de espavento noticiado nas páginas centrais e que de namoro em namoro, as pessoas que alimentam este negócio, vão sendo fotografadas em casas de luxo que os iludem de riqueza.

E eu, de tinta na cabeça a limitar a testa de modo irregular e de plásticos pretos à volta do pescoço presos por molas de cabelo, olho o espelho e penso, invariavelmente, na eventualidade de ocorrer, naquele preciso momento, um incêndio naquele salão e de me ver a fugir para a rua naquele preparo.

“A água está boa assim? se quiser posso por mais fria…ou mais quente!” - Mas para mim está sempre bem - ou acertam sempre ou a minha sensibilidade capilar é nula; e mesmo este momento de comunicação é breve para logo se voltar ao silêncio comunicacional.

Também o “está prontinha” quer laca? é tão previsível…

O que é novo para mim é que o salão, que frequento agora, tem 3 degraus. E não é que o Sr. Alfredo se apressa a dar-me o braço para que eu não caia….!!!!!!

Só quero pagar e sair para respirar.

Sempre foi assim. Não gosto de ir ao cabeleireiro.

Lembro-me de ter uns 6 anos e de o cabeleireiro ter ido a casa fazer-me caracóis com bigoudis de ferro, pesadíssimos, aquecidos e colocados na minha pobre cabecinha que cabeceava com o peso, enquanto eu gemia com a dor e sensação de carne queimada no meu couro cabeludo. Não foi uma boa experiência e o resultado foi uma carapinha que me conferia o ar angelical necessário para a função que me estava atribuída. Eu seria o anjo, com asas e tudo, que seguraria a tolha da comunhão nas cerimónias de Comunhão Solene do meu colégio. Isto numa família de não crentes!!!

Mais tarde, no cabeleireiro “Mateus” em Costa Cabral, ao ver que todas as senhoras ao saírem metiam dinheiro nos bolsos das empregadas, achei que tinha aí a minha oportunidade de brilhar. Pedi uma moeda à minha mãe que ma deu sem que eu lhe dissesse para que a queria. À saída, garbosa, e de cabeça erguida coloquei a moeda no bolso da casaca do Sr. Mateus – o dono! Senti-me adulta e se não fora o sorriso complacente e a troca de olhares entre ele e a minha mãe não me teria apercebido do caricato da situação.

Ainda hoje, 60 anos depois, me sinto corar quando recordo este episódio.

História de MHSG

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A 3ª Dose



A terceira dose de vacina não teve história. Lamento.

A fila de 200 pessoas que ordeiramente esperavam pela sua vez, era pontuada muito raramente por um comentário de desagrado, que não interferia com o colectivo e depressa se retomava o silêncio.
Num dia frio de sol, até sabia bem alternar o sol quente do meio dia com as sombras dos robustos plátanos que fazem o contorno do campo de treinos.

Para nos tornar a espera mais agradável, alguns soldados, em perfeito alinhamento, faziam marcha cadenciada de esquerdo, direito, que passava a passo de corrida e a um súbito direita volver. O suficiente para que todas as cabeças se virassem para acompanhar o espectáculo e, ao mesmo tempo, verificar com alívio o comprimento da fila que, entretanto, se formara atrás. Há quem esteja pior! 
Outros soldados faziam exercício junto a uma parede, para nosso deleite. Parecia que estavam a jogar ao "jogo da estátua" ou à “minha mãe dá licença?".
Até música houve, com um solo de corneta bem timbrado.

Pudemos assistir à chegada de uma carrinha frigorífica da "Petit Forrester", carregadinha de vacinas, que arrancou de todos um sorriso de alívio por detrás das máscaras..., que os olhos não mentem.! Tanto mais que à entrada do enorme quartel, o segurança tinha informado que a casa aberta já tinha fechado, aquela hora, por se terem acabado as vacinas.
Nada de especial.

Quando, ao fim de uma hora, foi atravessado o primeiro patamar de espera, esperava-nos uma enorme tenda, daquelas que se usam em casamentos com cadeiras coloridas que emprestavam ar de festa a esta solenidade. Aqui a aproximação física entre os candidatos à vacina foi maior, pois o sistema de encaminhar pessoas em corredor serpenteante, obriga a que nos vejamos pelas costas e pela frente. E isso não é bom! Ao ver as caras enrugadas e o ar de sofrimento tenho sempre a tentação de deixar passar à frente aqueles que parecem mais velhos do que eu... Mas são todos!.... E todos somos da mesma idade!

Não houve lugar a qualquer episódio caricato.
Mesmo a “senhora de idade” que precisou de se sentar no chão para descansar as pernas, vinha prevenida e começou a ler o Público. Ainda assim, houve quem quisesse perturbar esta paz... Quem saía da vacinação, já com esta feita, ia entre risinhos dizendo para a fila que esperara três horas e meia. Outros lançaram um "tenha paciência...." e até alguém aventou que na quarta dose ia ser pior.

Pouca coisa. Não dá história.

A proximidade física não é boa em tempo de Covid, mas a nossa população não desperdiça a oportunidade de entabular uma conversa.
Como não sou capaz de me integrar em grupos de conversação com desconhecidos (embora os meus vizinhos de fila se tivessem esforçado), vi-me entalada entre dois grupos. O grupo de homens à minha frente, falava sobre a sua experiência com vacinas prévias, do mesmo jeito que as mulheres partilham as experiências da gravidez e parto, metendo obviamente bicadas à organização e de como era bom antigamente, em que nem televisão havia, "porque a televisão em Portugal começou em 58!" Atrás de mim, em cima dos meus ouvidos, um grupo de três mulheres contava a sua vida com voz estridente, desde as meias que usam para não ter frieiras até à técnica para ludibriar a filha, para comer as sandes de leitão às escondidas. Esta última, camuflava num par de jeans muito justo a pele sobrante das gorduras de outros tempos. Ainda antes de a ouvir dizer que estava a tremer de fome e que desde que tinha sido operada ao estômago tinha que comer muitas vezes, já eu tinha feito o diagnóstico. Depois, foi só ouvir a conversa que girava a volta do que tinha comido e do que ia comer e de como dissimuladamente o fazia. Ainda ontem tinha comido leitão até lhe chegar com o dedo. Também fiquei a saber que "-Eu sou franca! Moro sozinha! Às sete horas como a sopinha e vou para a cama, ligo a televisão e tento matar os bichinhos no telemóvel. A minha médica proibiu-me de fazer renda e bordar, por causa das artroses. Eu sei que o telemóvel também não faz bem, mas tenho que apanhar estas duas aranhas..."

Pobres médicos de família!

Assim, ao fim de quatro horas, saí do centro de vacinação como de um filme de Manuel de Oliveira. Cansada, sem ter percebido nada, sem história para contar mas com dores nos braços.

Na quarta dose deve ser melhor!

História de MHSG