sexta-feira, 31 de março de 2023

Caos Calmo


Nasci sob a influência da cultura francesa mas cedo a cultura anglo-saxónica passou a liderar o meu pensamento. Primeiro na música e depois no modo de encarar o mundo. Nessa altura tinha pressa e os franceses demoravam a dizer o que os anglo-saxões diziam na primeira linha. Passei então a procurar o traço que definia a coisa, a palavra que definia o lugar, o tiro único que acertava no alvo, fosse ele doença, situação social ou desejo.
Puxei os técnicos para a minha área e afastei os romancistas para que eles não influenciassem o poeta russo que vivia e vive dentro de mim e, entre sucessos e insucessos, fui-me refugiando no pragmatismo.

A aposentação deu-me oportunidades e, à linha estreita do lápis, juntei a mancha da aguarela e ao caroço da coisa juntei a nuvem que lhe dá sentido e voltei aos romances e a deleitar-me com quem é capaz de escrever dez páginas para definir um momento e quatrocentas para rever dois meses de uma vida.

Sandro Veronesi nasceu em Florença em 1959. É considerado um dos mais importantes romancistas italianos dos últimos trinta anos.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Convento de Cabanas


Convento de São João de Cabanas.

Segundo a tradição, antes da fundação do mosteiro existia no local uma ermida, com algumas cabanas, covas ou grutas na serra ao redor, onde viviam os frades que S. Martinho de Dume congregou.
A sua construção remonta ao ano de 564. Em 746 foi destruído pelos árabes e logo reedificado. Durante séculos o mosteiro prosperou economicamente, conseguindo uma importante área circundante, com limites definidos por D. Sancho I.
Em 1382 o mosteiro passou para a Ordem de São Bento, tornando-se numa casa de convalescença e repouso de doentes.
No século XVII sofreu uma grande reformulação chegando à configuração atual.
Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, o conjunto - convento e propriedades, foi vendido em hasta pública pela Fazenda Nacional, sendo o General Luís Rego o primeiro proprietário, seguindo-lhe vários outros.
Já no século XX foi propriedade do poeta Pedro Homem de Mello e após a sua morte foi comprado pelo Cônsul de Espanha no Porto, que lhe fez grandes obras de conservação e restauro, impedindo que ele acabasse numa ruína, como acontece com Convento de S. Francisco do Monte no lugar da Abelheira - em Viana do Castelo.


Em Março de 2019, Nathalie D'Ornano, cantora lírica, natural da Suíça, comprou-o e iniciou obras de remodelação para o abrir ao público como “guesthouse” e espaço para festas, eventos e iniciativas artísticas e culturais, num projecto com o traço do arquitecto Fernando Cerqueira Barros.

Está classificado pelo IPPAR, em 1997, como Imóvel de Interesse Público.

O caminho de Santiago pela costa, passa-lhe à porta. No ano passado, numa construção fronteira ao seu portão, abriu o “Café de Cabanas” que, para além de revigorar os muitos caminhantes que por ali passam, permite usufruir daquele recanto numa quebrada da encosta, junto à margem direita do Rio Afife, dominado por uma velha magnólia de largas tradições. Prevê-se a abertura do convento para as suas novas funções, em Julho 2023.

terça-feira, 28 de março de 2023

Marguerite Yourcenar

 


Nunca me agarrei fixamente a uma ideia, por temer a confusão em que, sem ela, poderia vir a cair. Nunca temperei um facto verdadeiro com o molho da mentira, para me facilitar a digestão. Nunca deformei os pontos de vista do adversário para mais facilmente ter razão.

in "Obra ao Negro"

segunda-feira, 27 de março de 2023

Sketchbook



Então é assim. Dois pontos.
Era assim que começavam as intervenções do meu tio Elviro, quando era o seu tempo de falar e batia duas vezes com as duas mãos no tampo da mesa. 

Eu estou igual. Então é assim:  Vou começar o meu "Loose Urban Sketchbook". Este é só a primeira tentativa, num papel que não aceita bem a água.
Como sofro do "síndrome do papel vazio" isto é: custa-me gastar tempo e material mais caro e sair uma porcaria, utilizei um papel vulgar de desenho de 110g, em vez de um para aguarela de 300g, rico em fibras de  algodão.

O resultado não me parece longe do que queria, embora a cor não lhe tenha dado o volume pretendido. Para a próxima vou arriscar e iniciar um caderno adequado.

... a ver vamos... como diz o cego!



sexta-feira, 24 de março de 2023

Sunset em Viana do Castelo


 Esta é uma primeira tentativa, como autodidacta. Não está do meu agrado e só a ponho aqui para mais tarde recordar.

Baseado numa Fotografia da Né que foi para o monte de Santa Luzia fotografar o pôr do sol de Vila Franca a Geraz do Lima.  

segunda-feira, 20 de março de 2023

A reforma artística

Lápis de cor aguarelável. 

 

sábado, 11 de março de 2023

Padres

É recíproco. Eu não simpatizo com eles nem eles comigo. 

Tudo começou quando me levaram a confessar pecados que não tinha e que a minha mente de menino já catalogava como mortais e veniais, mas foram as reguadas nas aulas de “Religião e Moral”, de Português e de Francês, para me acertaram com os programas, que foram definitivas para o meu afastamento. Já adulto, quando me pus a analisar a sua linguagem corporal e o seu discurso, concluí que as competências na teatralização e na retórica, eram utilizadas para iludir quem os aceita assim só porque lhes disseram para assim os aceitarem.

Houve tempo em que a Igreja foi fonte de saber, mas o Vaticano há muito que abandonou a ciência e facilita a vida aos que se especializaram no comércio da “Esperança”.

Mas, como tão bem dizia Camões, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser e muda-se a confiança, neste mundo composto de mudança … e, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía”, e a Igreja Católica não esteve atenta a este último verso e perdeu o comboio da modernidade.

Hoje fala-se do abuso sexual sobre menores e desprotegidos confiados à sua guarda, que emerge de uma nuvem de oportunismos,  negociatas de sacristia e outros tipos de abuso, que o “sigilo eclesiástico” facilita aos padres “fura-vidas”, quando há décadas que o Vaticano se devia ter livrado desse cartel, obsoleto e cheio de vícios, que desmerece quem não se dispõe a beijar-lhes o anel.

Estamos num tempo em que se exigem práticas que melhorem a vida na Terra. Já poucos vão em olhares languidos para o céu ou em palavras ambíguas e são raros os que partilham a “filosofia sexual” da Igreja Católica. A Biblia não ajuda na luta contra a discriminação de género nem contra o despotismo. São histórias pouco saudáveis quando se leem com sentido crítico e, embora o bicho Homem seja o mesmo, o mundo de hoje é outro. A grandiosidade das igrejas já não nos eleva para o divino como o fez na Idade Média e o que lá se diz raramente é relevante. Muitos dos que ainda lá vão, fazem-no para que o cartel os veja e não lhe ponha barreiras no caminho.

O Ocidente "individualista" necessita de um “upgrade” de valores. Um upgrade sem lamechices, que estimule o trabalho de grupo e minimize a solidão.

A actual Igreja Católica, embora dona de uma logística invejável, tem o clero mais virado para si próprio que para o que diz ser alvo da sua acção. Necessita  de um novo tipo de “Santos inspiradores” que tirem os padres da sua comodidade de interpretes do divino e os estimule a ir para a rua tentar soluções para os problemas dos mais frágeis, sem palcos de 4 milhões, nem parangonas na comunicação social.