domingo, 31 de janeiro de 2010

Brincar
























- João! O que é para ti ... brincar?

- É ir fazer qualquer coisa, para os meus pais descansarem de mim!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Nicola Di Bari




Erano i giorni dell'arcobaleno,
finito l'inverno tornava il sereno
E tu con negli occhi la luna e le stelle
sentivi una mano sfiorare la tua pelle
E mentre impazzivi al profumo dei fiori,
la notte si accese di mille colori
Distesa sull'erba come una che sogna,
giacesti bambina, ti alzasti già donna
Tu adesso ti vedi grande di più
Sei diventata più forte e sicura e iniziata la avventura
Ormai sono bambine le amiche di prima
Che si ritrovano in gruppo a giocare
e sognano ancora su un raggio di luna

Vivi la vita di donna importante
perché a sedici anni ai già avuto un amante
ma un giorno saprai che ogni donna è matura
all'epoca giusta e con giusta misura
E in questa tua corsa incontro all'amore
ti lasci alle spalle il tempo migliore
Erano i giorni dell'arcobaleno,
finito l'inverno tornava il sereno

Eram os dias do arco-íris, acabava o Inverno e voltava o tempo quente
E com esses teus olhos, a lua e as estrelas, sentias uma mão explorar a tua pele
E quando sentiste o perfume das flores, a noite acendeu-se de mil cores
Estendida na grama como quem sonha, deitaste-te criança, levantaste-te já mulher
Agora vês-te grande de mais, e sentes-te mais forte e segura, iniciaste aventura
E os teus amigos são crianças que brincam ainda e que sonham ainda com a lua
Vives a vida de mulher importante porque a dezasseis anos, já tiveste um amante
mas um dia saberás, que cada mulher é madura na idade e com a medida justa
e que nesta corrida de encontro ao amor, tu deixaste para trás o tempo melhor


Nicola Di Bari (1940 - …) venceu com esta canção o Festival da Eurovisão em 1972.
Então a música italiana ainda não tinha sido abafada (como todas as outras) pela “máquina” anglo-saxónica.
As letras tinham um sentido diferente, pese embora a melhor versão, que ponho Aqui, seja politicamente incorrecta (aos dezasseis anos ter um amante faz toda a diferença!).
A voz de Nicola di Bari evolui para melhor, embora as suas canções iniciais sejam as minhas preferidas.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Próscata









-Sr. Dr. que me diz? É que eu li isto num jornal, por causa de análise que fiz.
A próstaca é para o home como um utel prá mulhé! A próstaca tamém ajuda a dar filhos e está ali para o que der e vier. A próstaca tamém tem miomas que se chamam adenomas, mas enquanto nelas dá pra sangrar em nós entope o mijar. Não é?
Isto é de família. O meu pai tamém tinha uma, que era um melão, mas só a tirou quando entupiu!
O que é que o Dr. diz? Tiro a minha agora e deixo de ter filhos? Ou arremendo mais uns tempos à força de comprimidos?

- Tenha calma homem, que você ainda mija bem! Vamos avaliar isso primeiro, e depois ... talvez fazer uma biopsia!












quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Outras Elas


Já não são o que foram. Agora tudo é diferente e, embora o que foi ainda apareça, podemos considerá-las extintas, face à incapacidade de se reproduzirem.
Que é das Quitérias, das Balbinas, das Pulquérias, das Cristalinas, das Isolinas, das Bernardinas e até das Miquelinas? Uma aqui, outra ali, a maior parte já curvada e de bengala.

Vitórias ainda houve 60 na última década e 4 Deusas desde 1990. Mas Ermengardas nem uma, a última Preciosa é de 2000.
Em 1997 houve as 2 últimas Felicidades e em 2009 uma Flor despontou a medo.

O resto são Vanessas Claudias!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Marias


Marias há muitas no meu Hospital. Há Agonias e Dores até dizer chega. Angustia só vi uma que é de 1907

Liberdade vi 25, Prazeres são mais de cem e com todos os acompanhamentos. Benvindas raramente são Marias, Esperanças há-as aos montes, Salvadoras só há 3.

MARIA da CIRCUNCISÃO só há uma, e vive para as minhas bandas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Quando a cabeça não tem juízo



Para uns é o HIV, para outros é o colo do fémur!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Terramotos


















O recente terramoto no Haiti veio lembrar que fenómenos idênticos já ocorreram no nosso País. São citados, sobretudo, o terramoto de 1755 que arrasou Lisboa e o sismo que destruiu Benavente em 1909.
Ouvimos falar de tectónica de placas, de falhas verticais que originam tsunamis, de falhas horizontais (como a que agora ocorreu no Haiti), que originam grandes destruições. Sabemos da deriva dos continentes ao longo dos tempos.
Em Portugal os mais interessados falam da falha de Messejana, da falha da Vilariça, da falha do Tejo e divulgam que a recorrência de todas essas falhas é "da ordem dos mil anos" e que por isso, podemos "ficar tranquilos".
No sismo de 1969, falou-se na libertação da energia acumulada durante cerca de duzentos anos, na falha que deu origem ao terramoto de 1755.
Estarão as falhas importantes deste País a ser devidamente monitorizadas, para se falar "em tranquilidades" e em "mil anos"? Estarão as grandes obras de Engenharia, em Portugal, precedidas de um estudo geológico suficientemente pormenorizado, para evitar catástrofes como a que agora se registou no Haiti?

Todo este discurso foi-me dito, por alguém de direito, a propósito da Barragem do Carrapatelo - Marco de Canaveses (Portugal) construída de 1965 a 1972, sobre uma destas falhas, que os estudos geológicos que a precederam não identificaram, e que só foi identificada durante a construção. Foi pedido parecer ao Instituto Superior Técnico, que propôs “colmatar a falha” para se poder dar continuidade à construção naquele local, o que basicamente consiste em pôr ali um remendo, pois um pequeno movimento dessa falha, afectará toda a estrutura da barragem com a sua consequente destruição e inundação súbita das zonas ribeirinhas a jusante.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Plano Inclinado - SIC



Será que está tudo doido em Portugal? Eu penso como eles!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Frases

















"Não sei como lhe agradecer!”, disse-lhe o cliente.
“Desde que o fenícios inventaram a moeda, esse problema deixou de existir!”, respondeu.

Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça do Brasil de 2003 a 2007

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Misturas

















- Enfermeira! Não chegou nenhum familiar do doente da Cama 8?
- Esteve aqui há pouco uma senhora que diz ser vizinha, mas foi visitar um familiar. Disse que voltaria no fim da visita.
- Obrigado! Se a voltar a ver, diga-lhe que eu quero falar com ela. É que eu não tenho qualquer informação e ele está completamente incapaz de contar o que quer que seja.
- Quem o trouxe foram os Bombeiros dos Arcos, a pedido da mãe, que é uma senhora idosa.

E o Sr. João, lá estava deitado, a dar ao fole, com uma sonda no nariz a aspirar-lhe o sangue que lhe corria pelo estômago, amarelo como um canário, com uma barriga de água que lembrava um barril, sem dar por burro nem albarda.

Ao fim da tarde chega a vizinha, envolta em xailes e roupas pretas a cheirar a fumeiro, com uma saca de plástico a sobrar-lhe das mãos grossas e escuras de anos a lutar com a natureza.
- A Sra. é vizinha do Sr. João?
- Sim Sr. Dr.!
- E que me sabe dizer dele?
- Uma desgraça, Sr.! Uma desgraça! O João foi GNR em Lisboa e até ganhava bem, mas o vinho deu cabo dele e mandaram-no para casa. Ficou a viver com a mãe, que já tem idade para que tomem conta dela, e agora ainda tem que olhar por ele! ... Ainda ontem o vi no Café a beber sevanata, sumol e vinho. E eu disse-lhe: João! Tu não mistures, João! Ou bebes sevanata, sumol, ou vinho! Mas não mistures. ... O que é que eu podia fazer?

- Nada, minha Sra.! Não podia fazer nada! Já entendemos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Esclarecedor



















Vila Real/1979, numa acesa discussão sobre organização dos serviços do SNS, eu criticava o laxismo de alguns médicos mais velhos.
Depois de me ouvir destilar a bílis, o Dr. Zé Zé, médico à moda antiga, tarimbeiro de muitas vidas, questiona-me, com aquela pseudobonomia de quem está mais seguro do que uma rocha num descampado:
“- Sabe qual é a diferença entre um médico novo e um médico velho?”, e depois de me ter ouvido dissertar sobre o maior envolvimento dos médicos mais novos, responde-me:
“- Não é nada disso! É que um médico novo cora quando o doente lhe paga, e o médico velho cora quando o doente não lhe paga!”
Ficámos esclarecidos!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pensamento do dia
























Não há dignidade num povo que não cuida da sua história.

A história faz-se no dia a dia, promovendo quem potencia o desenvolvimento e dignificando quem acrescenta qualidade.
Esquecer quem deu contributos relevantes é não ter visão de futuro.
Ter a miopia do presente como único alvo, é abrir espaço ao atrevimento e ao “desenrasca”.
É dar cabo de uma Nação.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Kodo



Tiro o chapéu.

Não só a este! Mas à cultura que permitiu esta técnica e este som!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Vidas


















“-Este nome será de homem ou de mulher?”, penso, enquanto chamo pelo intercomunicador, e me certifico do motivo de referenciação à consulta: “Teste de HIV positivo”.

Entra um casal. Ele com ar de rufia, ela mais velha, mais escura e mais pequena, num vestido desbotado e uma camisola de lã grossa às riscas.
“- Quem é o doente?”, pergunto para entender de quem são aqueles 45 anos que me surgem na identificação.
“- Sô eu!”, responde ela, com sotaque abrasileirado, de origem incerta.
“- E eu também sou da sua consulta!”, responde ele, com ar de familiaridade.
“- Está bem! Mas hoje a consulta é para ela!” respondo-lhe, enquanto num esforço me lembro de já o ter observado há muitos anos e o saber seguido por outro colega.
Dirijo-me a ela, já ligando a doença de um à positividade do outro.
“- A Sra. sabe porque é que vem a esta consulta!”, pergunto.
“- É purumá dô, aki à frenti ná cóstélá!”, responde, enquanto levanta a camisola e aponta para baixo da mama esquerda.
“- Mas olhe que esta consulta não é por causa disso!”, rectifico.
“- Enton, ... é puki eu tenhum bócádinho di SIDA!?”, diz depois de uma pausa, enquanto se inclina e apoia os cotovelos na borda da secretária.

Dirijo-me agora a ele, que se mantém sentado de perna cruzada, ligeiramente atrás dela, tentando assumir ar de seu protector.
“- Olhe lá, há quanto tempo é que você vive com esta Sra.?”.
“- Há para aí dois anos!”.
“- E você não lhe disse que tinha SIDA?”
“- Como tinha cuidado, achei que não valia a pena!”, responde com a naturalidade de quem fala de frivolidades.
Viro-me agora para ela que se mantém semi-deitada na secretária.
“- E a Sra. não ficou chateada quando lhe disseram o resultado das análises?”
“- Oh! Sinhóra Dótôrá! Ê andu é chátiadá com á dô ki tenhu aki. Issé keu keru sabê! É keu tenho câncer dá máma!”, afirma enquanto lentamente se endireita.
“- Mas foi operada?”, tento esclarecer a credibilidade da afirmação.
“- Não! Puki kandá minha mãi sôbi, fez prómessá à Vigé Mária, e kandeu iá pó Bloco Opératório, já nã tinhá câncer!”
“- Bem, vamos continuar! Na próxima consulta vai tentar trazer um relatório médico para confirmar isso que está a dizer!”



“- Por favor, tire o casaco e vá ali à balança pesar-se!”, digo, enquanto lhe aponto o local onde esta se encontra. … Levanta-se e fica parada em frente do pequeno estrado.
“- Suba, e diga-me quanto pesa!”, insisto. ... Sobe muito devagar, e fica a olhar para os pés.
“- Então? A Sra. não consegue ver?”, pergunto de novo, face á demora da resposta.
“- Nã! Nã veju nádá! Nã sê lê! Nã veju nádá!”, diz por fim, a tornar evidente todos os meus porquês.
“- Pesa 89Kg”, diz ele.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Poligamia
















Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prémio pretendia.

Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.


Luís Vaz de Camões

Segundo o Velho Testamento, Jacob foi o terceiro patriarca do povo judeu. Era filho de Isaac e Rebecca e neto de Abraão e Sarah. Teve duas mulheres Lia e Raquel (que era a irmã mais nova de Lia), e doze filhos (vários deles com servas). Essa prole viria a dar origem às doze tribos de Israel. Também teve várias filhas, mas dessas não reza a história.

A justificação que Labão deu para o ter enganado ao lhe ter trocado Raquel por Lia no dia do casamento, foi de que no seu país era inédito dar a filha mais nova antes da mais velha.

Antes do nascimento do último filho (Benjamin), Jacob é renomeado "Israel" por um anjo, nome que irá servir à nação moderna dos judeus.


O Islão questiona as razões porque o judaismo e o cristianismo proibem a poligamia, quando tal não tem fundamento nas Escrituras.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Vitória de Pirro


Vitória de Pirro é uma expressão utilizada para expressar uma vitória obtida a alto preço, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis.
Esta expressão tem origem em Pirro, general grego que, tendo vencido a Batalha de Ásculo contra os Romanos com um número considerável de baixas, ao receber os parabéns pela vitória tirada a ferros, teria dito, preocupado: "Mais uma vitória como esta, e estou perdido."
in Wikipédia
Serve este post para responder aos assanhados

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

História






















Pelos seus adversários, sabemos que os bogomilos e os paulicianos comiam crianças. Mas o mesmo se dizia dos judeus.
Todos os inimigos, de não importa quem, sempre comeram crianças.
...
Umberto Eco in "A obsessão do fogo".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os Flautistas


O Flautista de Hamelin é um conto dos Irmãos Grimm baseado numa história que ocorreu em 1284 naquela cidade, mas que pouco tem a ver com o conto, nomeadamente com a questão dos ratos.
O facto que ficou na memória foi o desaparecimento das crianças. Especula-se o modo como deixaram a cidade. Uns dizem que foram levadas por um serial killer pedófilo, outros que morreram de causas naturais e o Pide Piper não é mais que um símbolo da morte, outros ainda, que foram levadas numa “cruzada de crianças e não mais voltaram, mas a mais aceite é a de que a abandonaram voluntariamente e emigraram para Leste aliciadas por promessas.

Seja pelo que for, o conto prevalece e é um dos mitos do imaginário colectivo.
"Eu sou o Pide Piper, o Flautista de Hamelin, sigam-me que eu mostro-vos a felicidade", é uma pele que vestem muitos políticos, gestores e candidatos a ... , e que tem aceitação acrítica de grande parte da população.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Conta-me como foi!






- Isso foi há mais de 10 anos, mas ainda agora, me dá o nervoso miudinho, quando passo por ele.
- Mas conta lá, que eu componho a coisa, e “tiro-te os suspiros”!
- A frente da minha casa dá para a estrada e, para que a roupa seque melhor, a minha mãe pôs lá um arame. Um dia, por volta do meio-dia, a vizinha viu um sujeito a tirar roupa de lá, mas pensou que era um colega do João. O certo é que o equipamento novo que o meu irmão tinha recebido semanas antes (uns calções, uma camisola, um blusão de estrada e umas luvas) tudo com as cores da equipe e com o nome gravado, “voou”. Até fomos à Polícia, dar conta do roubo.
Passados dias, estava eu ao pé de casa com o meu namorado, quando vejo passar um ciclista que eu não conhecia, com aquele equipamento e com uma bicicleta que não era de corrida. Por sorte o meu irmão estava perto, e foi o tempo de o chamar, metermo-nos no carro e apanhá-lo ao chegar à ponte de Portuzelo.
Ele tentou fugir, mas pusemos-lhe o carro na frente e ele teve que parar. Saí do carro e disse-lhe: “Vais ter de dar essa roupa que não é tua!”. Ele ainda tentou argumentar, mas o meu irmão virou-lhe a camisola e mostrou-lhe o nome marcado “João Pedro”. Quando se viu apanhado, começou a dizer que se estava a sentir muito mal, e atirou-se para o chão “a espumar”, fingindo um “ataque”. Eu vi logo que aquilo era fita, e disse-lhe: “Pára com essas fantochadas!”, mas a namorada do meu irmão, ficou com pena dele e foi ao Café, buscar-lhe um copo de água.
Como a coisa não desatava, liguei para a Polícia. Quando ele topou o que eu estava a fazer, veio ter comigo à pressa, a implorar para eu não dizer nada à Polícia, que me dava a roupa, que a mãe dele morria se soubesse, e coisas assim.
Então, fomos de carro atrás dele até um loteamento que havia ali para os lados do campo de futebol, onde parou e nos disse para esperarmos enquanto ia tirar a roupa a casa e trazer a restante. Nós dissemos “está bem, mas a bicicleta fica aqui!”. Passada meia hora, veio com um saco onde tinha o equipamento todo, tão sujo que metia dó.
O meu irmão então começou a falar com ele, a dizer-lhe que não devia ter feito aquilo, que podia ter-lhe causado problemas, que era ciclista profissional e que aquele equipamento era específico da equipe. Ele respondeu que ao passar tinha-o achado tão bonito, que não tinha resistido. E o meu irmão, cheio de pena dele, porque o pensava um coitado, ainda lhe disse: “Sabes, nós temos equipamentos dos anos anteriores, e se tu tens vindo ao pé de nós, até te dávamos um!”, mal nós sabíamos quem ele era.
Só para aí um ano depois, quando um da equipe teve uma queda para os lados da Areosa e foi parar ao Hospital é que o reconheceu e nos disse.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Memorizar
























Alexandre Magno está prestes a tomar mais uma vez uma decisão de consequências incalculáveis. Contaram-lhe que existe uma mulher que consegue prever o futuro com rigor. Manda chamá-la para lhe ensinar a sua arte. Ela diz-lhe que é necessário acender uma grande fogueira e ler o futuro no fumo que dela se desprende, como num livro. Contudo, ela alerta o conquistador. Enquanto escrutar o fumo, não deverá em caso algum pensar no olho esquerdo de um crocodilo. Quando muito no olho direito, mas nunca no esquerdo. Então, Alexandre renuncia a conhecer o futuro. Porquê? Porque quando nos dizem para evitar pensar numa coisa, não conseguimos pensar senão nessa coisa. A interdição gera obrigação. É mesmo impossível não pensar nisso, nesse olho esquerdo do crocodilo. O olho da fera apossou-se da nossa memória, do nosso espírito.

A mnemotécnica é a arte de associar representações espaciais a objectos ou conceitos de modo a torná-los solidários. Foi por ter associado o olho esquerdo do crocodilo ao fumo que tinha que escrutar, que Alexandre Magno deixou de agir livremente.
in "A Obsessão do Fogo" de Umberto Eco e Jean-Claude Carrière

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Flash Fiction















Compor um texto com 200 a 300 palavras é um desafio.
Nos USA a prosa com menos de mil palavras é denominada Falsh Fiction.

Agrada-me este formato. Demasiadas palavras para explicitar um conceito, é um desrespeito pelo leitor com o tempo contado.
Até aos meus 20 anos, usavam-se “floreados” à volta das afirmações, de acordo com uma “cultura francesa” que na época influenciava Portugal. Nessa altura sobrepôs-se-lhe a cultura anglo-saxónica e os textos adquiriram clareza, identificando logo no início o seu objectivo sob a forma de – Assunto: …
Preocuparmo-nos em ser sintéticos quando escrevemos textos técnicos, é uma obrigação. Quando descrevemos situações é um exercício.

Técnica: Dar à primeira frase intensidade que prenda de imediato o eventual leitor. Escrever o primeiro rascunho sem prestar atenção ao número de palavras utilizadas, e depois revê-lo repetidamente, sem lhe alterar o conteúdo, até conter 300 palavras no máximo, tentando distribuir o texto por três parágrafos de aproximadamente 100 palavras cada.

domingo, 10 de janeiro de 2010

No Comments
























Pela hora do lanche passava na sala dos médicos a atulhar os bolsos das sobras das merendas - uns pacotes de bolachas, umas peças de fruta, o que houvesse…
Depois, descontraidamente, subia ao Bloco Operatório onde aguardavam em macas os doentes que iriam ser operados nesse dia. Consultava as papeletas e verificava a especialidade cirúrgica. Depois, metia conversa com os traumatizados à espera da intervenção ortopédica:
- “Então amigo, partiu a perna?”
- “Sim Sr. Doutor! Vai ser preciso operar, que os ossos não estão alinhados.”
- “E já está aqui há muito tempo?"
- “Desde manhã. Estou sem comer para a operação.”
- “Oh homem que estupidez! Deve estar cheio de fome, não?”
- “Custa a aguentar, mas tenho de estar 6 horas em jejum…”
- “Valha-me Deus! Quem lhe disso isso?”
- “Foi um enfermeiro, parece-me…”
- “Esses gajos são desumanos! Você, para esse tipo de cirurgia não precisa de jejum!” E magnânimo rematava: - “Pegue lá esta maçã que me sobrou do lanche e coma. Senão ainda me fica na operação …”
- “Tem a certeza que posso?”
- “Absoluta! Sou eu que o vou operar!” E o doente agradecido lá saciava a fome.
E um a um "batia" todos os doentes de Ortopedia em espera cirúrgica, distribuindo caritativamente o seu espólio.
Ao fim da tarde, quando a equipa de Ortopedia contactava o Bloco para iniciar as intervenções, era sempre surpreendida pelo chumbo do Anestesista – todos os doentes tinham quebrado o jejum exigido.
E … como o adiamento para o dia seguinte agradava a todos os presentes, só ao fim de muitos meses se veio a perceber porque é que aquele interno, de barba e olho matreiro, desaparecia da Urgência na hora do lanche.

História de XXX.

Nota para os mais assanhados: - Os factos têm mais de 20 anos e não se passaram no Alto Minho, embora o alegado personagem seja por cá conhecido
.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Domingo de Urgência
























- “A situação não aparenta perigo, mas vai ter de ser observado pelo neurologista antes da alta”.
Tinha sofrido um traumatismo craniano no dia anterior e fora-me passado com essa indicação, embora o doente estivesse bem. Por norma, Neurologia passava pelo serviço ao fim da manhã.

À hora do almoço, Neurologia não tinha aparecido. Enviei um BIP (era assim que se fazia nessa época) a solicitar a sua presença e, passado pouco tempo, recebo um telefonema dele a desculpar-se e a informar-me que “iria demorar, pois estava a sair de Coimbra”.
Embora estranhando que alguém “à chamada” se tivesse deslocado para tão longe, fui junto do doente justificar a demora por um imprevisto, pelo que teria de esperar ainda mais duas horas, do que pedia desde já desculpas.
Perto da hora do lanche, como a situação continuava por resolver, enviei novo Bip que resultou em nova chamada telefónica, com a reconfortante informação de que “estava quase a chegar…”.
Aí exigi maior precisão e perguntei-lhe: - "Mas já chegaste? Aconteceu-te alguma coisa?"
- "Estou quase, já vou em S. João da Madeira!" respondeu.
- "Mas tu já saíste há horas de Coimbra, o que é se passa?"

Só minutos depois, no decorrer da conversa, é que me apercebi que o clínico … vinha de bicicleta…
... Chegou ao fim da tarde!

História de XXX

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Laurindinha


- Então a senhora não é da família da doente?
- Não Sr. Dr.! Ela era amiga da minha mãe e vivia ali ao lado, com o marido. Quando ele morreu, ficou sozinha, apesar de ter 14 filhos. Ainda se aguentou assim um mês e meio, mas no primeiro achaque bateu-me à porta e eu deixei-a ficar lá em casa, e nunca mais saiu. Minto Sr. Dr.!. Depois ainda foi viver um mês com a filha para Vila Fria. Mas ela não cuidava bem da mãe. Tem 72 anos e também é doente. Nem um banho lhe deu. Quando voltou, estava tão descuidada, que só visto. Agora vem visitá-la de quatro em quatro meses.
- E os outros filhos?
- Estão todos em França, e desde que está comigo, só cá vieram duas vezes. Mas ela não quer sair da minha casa. Diz que está bem aqui. O que é que eu hei-de fazer!?
- Mas eles dão qualquer coisa para o sustento da mãe?!
- Não, Sr. Dr.! O que ainda ajuda é a reforma dela, que mal paga os medicamentos! Mas que hei-de eu fazer? Não é, Laurindinha? Está-me a ouvir! LAURINDINHA! Ela é um pouco surda!

Mas a D. Laurinda não a ouvia, debaixo daquele febrão que a tolhia.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Cagâncias



Ela "cultivava a figura".
À entrada e saída do emprego ostentava a juventude com roupas vistosas e, mesmo nas horas de trabalho, mantinha a sua imagem de marca: uns sapatos altos garridos (desemparelhados com a farda de riscado) que lhe projectavam o peito para a frente e as roliças nádegas para trás, um jeito de atirar os joelhos para fora e a excessiva expontaneiadade do discurso que lhe denunciava a origem.
Nesse dia, exibia-se no bar, falando alto da recente aquisição do marido:
- “Oh mulhere...! O meu home cumprou um “Buolbo! Carago!”
A amiga, num espanto respeitoso, enquanto olha para o lado, a ver o efeito nos circunstantes, pergunta:
-“Mas … é turbo?”
Ao que ela, esclarecedora, responde:
-“Não mulhere! É beije”

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Tigre Branco




É uma história irónica e divertida que dá uma visão do empreendedorismo nos países “emergentes” como a Índia, mas que explica bem, muito do que se passa na nossa sociedade.

O Man Booker Prize é um dos maiores prémios mundiais do meio editorial.

É OBRIGATÓRIO lê-lo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Elvis



Are you lonesome tonight, Do you miss me tonight?
Are you sorry we drifted apart?
Does your memory stray to a brighter sunny day
When I kissed you and called you sweetheart?
Do the chairs in your parlor seem empty and bare?
Do you gaze at your doorstep and picture me there?
Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?

I wonder if you're lonesome tonight
You know someone said that the worlds a stage
And each must play a part.
Fate had me playing in love you as my sweet heart.
Act one was when we met, I loved you at first glance
You read your line so cleverly and never missed a cue
Then came act two, you seemed to change and you acted strange
And why I'll never know.
Honey, you lied when you said you loved me
And I had no cause to doubt you.
But I'd rather go on hearing your lies
Than go on living without you.
Now the stage is bare and I'm standing there
With emptiness all around
And if you wont come back to me
Then make them bring the curtain down.

Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?

Tu podias até ter sido um inconstante, mas foste capaz de perceber a essência da coisa.


Vais fazer 75 anos no próximo dia 8. Aqui vão os meus parabéns!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Têm pernas!
























- "O quê? Ele roubou o bolo que trouxeram as alunas para uma festa de despedida? "Pergunto, incrédulo ao tomar conhecimento do sucedido semanas antes. - "E vocês não me disseram nada! ... Se calhar não foi ele! Alguém viu? "..., Insisto, também surpreso com a bonomia com que a cena me era descrita.
- "Só pode ter sido ele! Isto é tão comum, que é quase uma certeza! No outro dia, entrou pela Copa adentro, eu e, como já o conheço, pus-me a bater com os pés do lado de fora da porta para ele ouvir que eu ia entrar. Então ele saiu à pressa e nem disse bom dia, enquanto metia qualquer coisa ao bolso. Deve ter sido um iogurte ou coisa assim. O que é que eu podia fazer? Ele é o Dr.! ".
- "Pois é! Ele tem aquela mania! ... Olhe! Um dia, estava eu de Urgência, e ele entrou na sala dos médicos com uma saca de garrafas, não sei se alguém lhas tinha dado ou se tinha encontrado". Pousou-as na entrada e foi ver um ou dois doentes que tinha ali. Vai daí, eu disse para comigo: "esconde-lhe as garrafas, e fica a ver como ele reage". Peguei na saca e pu-la atrás de um sofá, bem escondida, e continuei a fazer o que estava a fazer. Passados minutos, ele entrou e deu logo pela falta da saca. ... Deu uma volta a procurá-las, e como não as viu saiu, mas em vez de se ir logo embora , como é seu costume, deixou-se por ali a entrar e a sair, e por fim agachou-se e espreitou por debaixo dos móveis, e deu com elas.
Arrastou o sofá e, meio a rir, disse: "Têm pernas" ... e foi-se! "

domingo, 3 de janeiro de 2010

Notícias de Hoje



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É triste, é trágico, escrevê-lo, mas o nível de discricionalidade- a nível central, a nível regional e a nível local -, associado à correspondente subserviência (e também à corrupção) não tem paralelo na história recente de Portugal, pois antes do 25 de Abril havia mais respeito por certas regras. Quanto mais não seja porque havia mais pudor - agora qualquer vestígio de pudor é rapidamente sacudido em nome da "legitimidade democrática".
Podemos ter mil conversas tecnocráticas sobre o "programa" para tirar Portugal da crise e nos aproximarmos da Europa, que serão inúteis. O nosso problema, como tantas vezes no passado, é de liberdade e de responsabilidade.
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É tempo de dizer "basta".
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José Manuel Fernades in Público de 3 de Janeiro de 2010


O responsável pelas comemorações do Centenário da República defende que hoje se acredita que o sistema judicial é "pior do que era no Estado Novo" e que esta é a área que o país mais precisa de melhorar.
Em entrevista à agência Lusa, o responsável da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (CNCCR), Artur Santos Silva, fez um balanço do estado actual dos valores da democracia conquistados com a implantação da República. Se a saúde e a educação tiveram grandes desenvolvimentos no último século, há ainda muito por fazer para atenuar as desigualdades sociais e para afirmar a justiça, considerou.
"A lei é a expressão da vontade da maioria. Se as leis não são cumpridas e quem não cumpre as leis não é penalizado a tempo, isso faz com que um quadro democrático e a vontade da maioria reflectida em leis não é cumprida e nada acontece", defendeu o responsável.
Artur Santos Silva à LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

... e eu a pensar no "meu Hospital".

sábado, 2 de janeiro de 2010

Irão



Custa-me ver um país onde a dissidência é assim tratada, usando a velha retórica populista, de que se actua em nome do “Povo” (construído formalmente de pessoas subalternas), ignorando e reprimindo quem transcendendo a sua identidade e interesses imediatos lhe defende a dignidade.