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No início da década de 40 do passado século, havia um professor de avançada idade que, tendo sido nomeado Director da Faculdade de Engenharia, não se dispensara de reger a cadeira de Teoria Geral e Descrição de Máquinas, que era comum a todos os ramos da Engenharia.
Antes do início das aulas teóricas, enchia o quadro preto com os tópicos da matéria que iria debitar, e como não eram marcadas faltas e havia “sebentas” de anos anteriores com reprodução fiel do que constava dessas aulas, a assistência era muito reduzida.
Depois de se terem observado os seus exames finais, chegou-se à conclusão de que o seu leque de perguntas era muito reduzido, pelo que se generalizou a ideia de que para ser aprovado, bastaria estudar o que constasse de um “disco” que era passado entre os alunos. Quem não soubesse responder às perguntas desse “disco”, estava irremediavelmente reprovado. Uma pergunta do “disco” era a descrição da “caldeira de retorno de chama”, que, já nessa data, só alguns barcos usavam. E reprovou um desgraçado, que não acertou com a localização da porta da referida caldeira, depois de ter desenhado todos os seus componentes e de ter dado todas as explicações, só porque: “Quem não sabe isto, não passa!”.
Outra das perguntas era: “Quais as tendências modernas na construção das caldeiras?” … e isto numa época em que o uso de caldeiras para produção de energia estava em acentuado declínio, dando lugar aos motores Diesel e de explosão. Todavia, ele parecia ignorar o facto, pois sobre eles nem uma palavra dizia.
Os alunos que tinham conhecimento do “disco”, sabiam o modo como ele gostava das respostas, mas os que só tinham estudado pelas “sebentas”, reproduziam o que delas constava, e começavam dizendo:
"As tendências modernas na construção das caldeiras são 14!"
Aí, ele irritava-se e reagia:
"Não sei se são 14, se são mais ou se são menos! Diga lá quais são!"
E o inferiorizado examinando, num esforço de memória, desatava a mencioná-las uma a uma, de acordo com a “sebenta”. Quando chegava a vez de dizer: “O uso de carvão pulverizado!”, o Patrão corrigia: “Ou não!”, como se uma tendência pudesse coexistir com a sua contrária! e, ... se a memória traísse o infeliz, na descrição total das “tendências”, o velho professor, desencostava-se e de dedo em riste lembrava-lhe:
"Falta uma!"
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