A médica chama-o pelo telefone e aguarda. Segundos depois entra um jovem adulto. Veste desportivamente. Está cuidado e ao convite senta-se. Foi enviado ao Serviço de Urgência por suspeita de doença venérea.
Refere disúria e um corrimento amarelo pelo pénis de há dois dias, “um pús, que lhe deixa tudo colado!”. Nega relacionamento recente suspeito. A última relação sexual foi há uma semana, com “o namorado”. Costuma ter cuidado mas, desta vez, como ele ia de viagem e era uma despedida, “no meio daquela loucura, … não olhou a nada!”.
Confirmada a gonorreia, é-lhe prescrita medicação e dado carta para o médico de família proceder ao despiste de outras doenças sexualmente transmissíveis, enquanto o sensibiliza para elas.
Não parece preocupado. "Faz análises cada seis meses e que têm estado sempre bem". Mas desta vez pensava que fosse pior do que “só tomar remédios”. Quem o mandou, “assustou-o bem”. Disse que tinha de ir já à Urgência, “porque iam ter que lhe meter uma coisa pelo coiso acima”. E já mais sossegado confessa:
-Sra. Dra! O meu coiso é uma coisa muito importante para mim! ... Eu gosto muito do meu coiso!.
E, embora mais descansado face ao tratamento, uma nova preocupação lhe assoma ao pensamento.
-E agora? Durante quanto tempo é que eu não posso ter relações?
É-lhe explicada a necessidade de esperar o resultado das análises e da sua repetição algumas semanas mais tarde, para além do estudo ao namorado que, ao que parece, está fora.
Aí a sua fisionomia muda. Levanta-se, enquanto pega na receita e na carta, e diz:
-Mas é que ele vem hoje! E o pior é que eu faço anos no domingo. E sabe Dra! Eu não concebo fazer anos sem poder fazer amor …!
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