-É verdade! Acredita! Eu não tenho outra mulher! Só te tenho a ti!, esbracejava, tentando acalmar a mulher que, sentada ao lado, soprava inconformada com a notícia que lhe caíra em cima como um punho, a lembrar o empréstimo da casa, o desemprego e os filhos menores.
- Oh homem! Diz-me lá como é que apanhaste isso! Isso apanha-se com as mulheres da vida, ou julgas que eu não sei!, e olhava-o incrédula, enquanto se ajeitava desconfortável na cadeira.
- Acredites ou não, é a verdade! Não há mais nenhuma mulher! Juro! – retorquiu, derrotado, e deixou cair os braços de olhos postos no chão.
Era a segunda consulta. Na primeira viera sozinho, sem lhe dizer nada, mas as frequentes idas ao hospital para fazer exames, alertou-a e pôs-lhe uma pulga atrás da orelha. Que raio de doença havia de aparecer ao seu homem aos trinta e cinco anos. A ele que tinha uma saúde de ferro. Ainda por cima sem lhe terem receitado nada e marcado consulta para quinze dias depois. Havia de ser grave. Tinha que ver o que se passava.
- Sifilis! … , repetia enquanto abanava a cabeça entre as mãos, junto aos joelhos. – Era o que me faltava!
Entretanto a médica escrevia, dando tempo para que a poeira assentasse e se pudessem combinar as novas atitudes.
- Minha senhora. Tenha calma que a doença tem tratamento! - interrompeu, sem sequer se atrever a mencionar o HIV negativo, para não lembrar maleitas de que se livrara. – Ele começa já o tratamento e daqui por um mês já deve estar bem. A senhora vai também fazer análises e vem cá para a semana! Há doenças bem piores! Esta vai-se resolver!
À saída, ele dá-lhe o braço, que ela aceita a contragosto.
...
- Então Sr. Amado, como está? Melhor? – recebe-o na consulta seguinte, entre a porta e a secretária.
Vem cabisbaixo, sentido de um torção de alma. Cumprimenta, senta-se e responde delicadamente.
– Estou bem, obrigado, Sra. Dra.! Já quase não tenho manchas nem caroços. Até já voltei a trabalhar!
-E a sua mulher, continua zangada, ou já fizeram as pazes?
- Ela ainda fala em outra mulher, mas eu sempre lhe fui fiel! Aquilo aconteceu por causa de uns homens. Eu estava muito falho de dinheiro e foi uma solução para pagar umas contas. Foi só durante um tempo. Agora acabou! Eu não quero que ela saiba. Ai de mim. … Matava-me!
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