quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Mártires


Viana do Castelo, tem os seus mártires na fachada da Igreja dos Santos Mártires, popularmente chamada “Igreja das Ursulinas”. 
Tem S. Bartolomeu dos Mártires, por ter vindo aqui morrer na paz do Senhor, e que tinha Mártires no nome por ter nascido nessa antiga freguesia de Lisboa.
Não tem Rua dos Mártires da Pátria, nem dos Mártires da Liberdade, nem tão pouco dos Mártires da Arménia.

Os "seus" mártires - Teófilo, Saturnino e Revocata, não andam pelas suas freguesias. Aí pontuam mártires estrangeiros. Santa Luzia de Siracusa na Sicília, Santa Leocádia de Toledo, Santa Eulália de Mérida, São Lourenço de Valência e São Paio de Córdova, Santa Quitéria da Aquitânia e São Sebastião de Narbone em França, Santa Cristina da Toscana e São Martinho de Todi na Itália, São Pedro, São Bartolomeu e São Tiago da Palestina, São Romão de Antioquia e São Mamede da Cesareia na Turquia.

Alguns morreram muito jovens – Santa Quitéria aos 15 anos, Santa Cristina aos 12, Santa Eulália aos 14, Santa Luzia aos 21, Santa Leocádia (bela e muito jovem), São Mamede aos 15 anos e São Paio aos 13, todos eles nos primeiros 4 séculos da nossa Era. 

Os seus ícones lembram os que deram a vida para defender a “verdade”, uma verdade questionável à luz de outras fés, bem como o modo de a fazer valer. 

Com a tónica actual posta na "Inteligência emocional”, isto é, na capacidade de reconhecer a par dos próprios sentimentos, os sentimentos dos outros, e ter a capacidade de lidar com eles, orientamos a disponibilidade para o martírio para as consultas de Psiquiatria.
Recusamos entender os mártires no Islão, principalmente quando tomamos conhecimento de crianças atiradas para a morte a gritar Allahu Akbar (Deus é Grande) e vemos os mártires dos nossos dias, como vítimas das circunstâncias - os judeus no Holocausto, os Arménios de há 100 anos, os tutsis no Ruanda de 1994, os soldados no desembarque nas praias da Normandia ou os civis apanhados na guerra da Síria.

Quem radicaliza o gesto e se dispõe a morrer para não "apostasiar a sua fé", fica sem espaço.
Hoje, a um santo exige-se um currículo e o exemplo de compromissos com as outras Fés, para que, mantendo a sua, possa contribuir para a paz neste mundo globalizado.

Faltam ícones desses para o lembrar.


Nota:
A igreja dos Santos Mártires, popularmente chamada “Igreja das Ursulinas” é um pequeno templo do século XVIII, apenso a um grande edifício que serviu como convento sob a denominação de “Colégio do Senhor das Chagas”, regido por freiras devotas a Santa Úrsula.

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