Abriu a porta, levantou a cabeça e mediu o palco. Hoje, qual Glenn Close, encarnava Cruela DeVil.
- Dr.! Não pode ser! A sua decisão fez adiar uma reunião im-por-tan-tí-ssi-ma! Veio gente de fora, que teve de ir embora! Não pode ser!
O visado, sentiu o gelo daquela voz de aranha arrepiar-lhe a pele e, qual dálmata encurralado numa viscosa teia, titubeou, a medo, uma desculpa, que rápido despertou um sorriso nos grossos lábios da malévola.
Era uma artista que se perdera naquela profissão. Tinha a “dramatização” nas veias e, se identificava ineficiências, não desperdiçava a oportunidade para se agigantar, na procura da importância que não tinha. O seu papel preferido era o de Iago, por salas e corredores, chilreando historietas confabuladas, na ilusão de, um dia, o mundo girar em seu redor.
Roger Dearly repetiu desculpas e o escasso público suspendeu a respiração ao sentir que a catarse daquela "Cruela de mão na anca", salpicava de fel as paredes da pequena sala.
Temeu-se que o drama terminasse em tragédia. Mas seguiu-se um silêncio e, do nada, cresceu uma música, e a maior vilã do mundo animado, não encontrando nem Jasper nem Horácio disponíveis, levantou o mento, meteu na boca a cigarrilha, virou costas e desapareceu no corredor, numa nuvem dardejante de coriscos!.
Uffff!!!!!!
Uffff!!!!!!
Cruella Devil, Cruella Devil,
A coisa mais rara é vê-la gentil,
Ao vê-la sinto logo um arrepio
Cruella, Cruella Devil
Ao vê-la você pensa que é o diabo
O diabo disfarçado de mulher
Você vai confirmar, pois ela vai mostrar
Que ataca como um animal qualquer
É uma vampira querendo sugar
Deviam prendê-la e nunca soltar
O mundo era bonito até que viu
Cruella... Cruella Devil
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