segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Fora da caixa



- Ele veio de França, há-de haver um ano, sem qualquer informação sobre a doença, que estava diagnosticada desde 1984. É um compêndio de patologias com as respectivas complicações e, para piorar o cenário, ... vive só!  Logo que melhorou da anemia que o trouxe ao hospital, começou a falar na alta. Nem sei como o aguentámos dez dias internado!
- E porque é que não o deixaram ir?
- Ele tinha sangrado pelo tubo digestivo e não sabíamos exactamente onde. Ainda por cima estava hipocoagulado e tinha necessidade absoluta de continuar a estar!

Conversa de quem tem de lidar com quem vive "fora da norma" e obriga a atenções redobradas para que um "azar" o não atire para a primeira página de um jornal necessitado de empolar um facto para aumentar as vendas.

- Ontem, às dez e meia da noite, arrumou os poucos pertences e só não foi embora porque vim cá acima e me impus! Ele mora a mais de 100Km daqui, junto à fronteira! Mas foi difícil! Ele sabe os horários das camionetas e dos comboios e tinha um em vista. Ia como estava: pijama, roupão, chinelos e gorro na cabeça!
- E foi assim que, hoje, o encontraram no Shopping!?
- Foi! A empregada da "Seaside", depois de lhe ter vendido os sapatos, telefonou para o hospital! Os seguranças encontraram-no à entrada da "Mike Davis"!
- E ninguém o viu sair?
- Não! Quando lhe perguntei por onde tinha saído, disse que não dizia e eu fiquei com a ideia de ele ter utilizado uma das portas de serviço, aproveitando um tempo em que ninguém por lá andava.
- E hoje deste-lhe alta!?
- Escrevi a Nota de Alta a correr, porque ele estava a contar o tempo para a camioneta.
- E foi de roupão e gorro?
- E de sapatos novos! Talvez a pressa fosse para acabar as compras no Shopping, que dinheiro e despacho não lhe faltam!
- ... Pelo menos para a asneira!
-Sei lá! O certo é que se tem aguentado!

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