Há uns meses, um amigo aconselhou-me o livro “Skin in the Game”. O segundo capítulo – O mais intolerante vence: A dominância da minoria dos teimosos”, deu-me luz sobre como se propagaram (e propagam) muitas das teorias que regem o Mundo.
A principal ideia por detrás de um sistema complexo é que o conjunto se comporta de modo não previsível pelos seus componentes e que as interacções são mais importantes que a natureza das suas unidades.
Estudar individualmente o comportamento de uma formiga, nunca nos irá dar uma clara indicação do como o formigueiro funciona. É necessário olhar para uma colónia de formigas como uma colónia de formigas e não como um conjunto delas. A isto chama-se uma propriedade “emergente” do todo, na qual as partes e o todo diferem, porque o que interessa são as interacções entre as partes.
Uma das suas regras é a "Regra da Minoria": Se um certo tipo de minoria intransigente – com significativo “skin in the game” (ou, melhor, “soul in the game”) - atingir um pequena percentagem da população - 3 a 4%, pode fazer com que toda a restante se submeta às suas preferências.
Um exemplo desta complexidade atingiu o autor, quando ajudava um barbecue em Nova York.
Estavam os anfitriões a desempacotar as bebidas, quando um amigo que só consome alimentos “kosher”, se aproximou para o cumprimentar. O autor ofereceu-lhe uma limonada, na certeza de que ele a iria rejeitar. Mas, para seu espanto, ele bebeu o líquido, enquanto outra pessoa comentou: “Aqui, todas as bebidas são kosher!”. Olhou para o rótulo da garrafa e, no fundo, tinha um pequeno símbolo – um U envolto num círculo, indicando que era kosher. O símbolo só é detectado por aqueles que necessitam de o saber, e fê-lo ganhar consciência de que bebia regularmente líquidos kosher sem o saber.
A população kosher representa menos de 0.3% dos residentes nos Estados Unidos (cerca de 9% dos noviorquinos são judeus) e estava-lhe a parecer que todas as bebidas eram kosher. Porquê? Simplesmente porque se forem kosher, os produtores, os revendedores e os restaurantes, não têm de fazer distinções entre kosher e não kosher para os líquidos, com marcações especiais, áreas e inventários separados.
A regra simples que altera o total é a seguinte: Um kosher (ou halal) nunca irá comer alimentos não kosher (ou não halal), mas um não kosher não está proibido de comer alimentos kosher.
Alguém com alergia ao amendoim, não irá comer produtos que o possam conter, mas uma pessoa sem alergia poderá comê-los. O que explica o porquê de ser tão difícil de encontrar amendoins nos aviões dos Estados Unidos e porque as escolas são “peanuts-free”.
Chamemos a estas minorias um grupo intransigente e à vasta maioria um grupo flexível.
Dois pormenores. Primeiro, o modo como estão implantados no terreno, é importante. Se a minoria dos intransigentes vive em guetos, com uma economia pequena e separada, então esta regra não se aplica. Mas quando a população tem uma distribuição espacial uniforme, isto é, quando a percentagem da minoria na vizinhança é a mesma que na cidade inteira, que a da cidade a do país, então a maioria flexível ir-se-á submeter à regra da minoria. Segundo, o custo também interessa. No exemplo da nossa limonada kosher o aumento de preço não é significativo.
Os muçulmanos também têm leis do tipo “kosher”, que se aplicam à carne, regras de abate herdadas de práticas sacrificiais antigas dos cultos Grego Oriental e do Levante. Tudo o que é kosher é “halal”, para a maior parte dos Sunitas (ou era assim nos séculos passados), mas o reverso não é verdade.
No Reino Unido, onde a população muçulmana praticante é de 3 a 4%, uma grande proporção de carne que se encontra nos talhos é halal. Cerca de 70% do anho importado da Nova Zelândia é halal. Perto de 10% da restauração do metropolitano vende “Halal-only meat”.
Mas nos países de matriz cristã, halal não é suficientemente neutro. Há ainda muitos cristãos que entendem os valores sagrados dos outros como uma violação dos seus. Lembremos que, no século VII e anteriores, muitos mártires cristãos foram torturados por se recusarem a comer carne sacrificial e assumiram a postura heroica de morrer à fome por considerarem um sacrilégio aquela comida impura.
Se o objectivo é vencer e não vencer um argumento, pôr o foco unicamente nas palavras coloca-nos num declive perigoso. É necessário fazer preceder as palavras de actos significativos. Só a realidade consegue convencer alguém de que está errado.
Uma das suas regras é a "Regra da Minoria": Se um certo tipo de minoria intransigente – com significativo “skin in the game” (ou, melhor, “soul in the game”) - atingir um pequena percentagem da população - 3 a 4%, pode fazer com que toda a restante se submeta às suas preferências.
Um exemplo desta complexidade atingiu o autor, quando ajudava um barbecue em Nova York.
Estavam os anfitriões a desempacotar as bebidas, quando um amigo que só consome alimentos “kosher”, se aproximou para o cumprimentar. O autor ofereceu-lhe uma limonada, na certeza de que ele a iria rejeitar. Mas, para seu espanto, ele bebeu o líquido, enquanto outra pessoa comentou: “Aqui, todas as bebidas são kosher!”. Olhou para o rótulo da garrafa e, no fundo, tinha um pequeno símbolo – um U envolto num círculo, indicando que era kosher. O símbolo só é detectado por aqueles que necessitam de o saber, e fê-lo ganhar consciência de que bebia regularmente líquidos kosher sem o saber.
A população kosher representa menos de 0.3% dos residentes nos Estados Unidos (cerca de 9% dos noviorquinos são judeus) e estava-lhe a parecer que todas as bebidas eram kosher. Porquê? Simplesmente porque se forem kosher, os produtores, os revendedores e os restaurantes, não têm de fazer distinções entre kosher e não kosher para os líquidos, com marcações especiais, áreas e inventários separados.
A regra simples que altera o total é a seguinte: Um kosher (ou halal) nunca irá comer alimentos não kosher (ou não halal), mas um não kosher não está proibido de comer alimentos kosher.
Alguém com alergia ao amendoim, não irá comer produtos que o possam conter, mas uma pessoa sem alergia poderá comê-los. O que explica o porquê de ser tão difícil de encontrar amendoins nos aviões dos Estados Unidos e porque as escolas são “peanuts-free”.
Chamemos a estas minorias um grupo intransigente e à vasta maioria um grupo flexível.
Dois pormenores. Primeiro, o modo como estão implantados no terreno, é importante. Se a minoria dos intransigentes vive em guetos, com uma economia pequena e separada, então esta regra não se aplica. Mas quando a população tem uma distribuição espacial uniforme, isto é, quando a percentagem da minoria na vizinhança é a mesma que na cidade inteira, que a da cidade a do país, então a maioria flexível ir-se-á submeter à regra da minoria. Segundo, o custo também interessa. No exemplo da nossa limonada kosher o aumento de preço não é significativo.
Os muçulmanos também têm leis do tipo “kosher”, que se aplicam à carne, regras de abate herdadas de práticas sacrificiais antigas dos cultos Grego Oriental e do Levante. Tudo o que é kosher é “halal”, para a maior parte dos Sunitas (ou era assim nos séculos passados), mas o reverso não é verdade.
No Reino Unido, onde a população muçulmana praticante é de 3 a 4%, uma grande proporção de carne que se encontra nos talhos é halal. Cerca de 70% do anho importado da Nova Zelândia é halal. Perto de 10% da restauração do metropolitano vende “Halal-only meat”.
Mas nos países de matriz cristã, halal não é suficientemente neutro. Há ainda muitos cristãos que entendem os valores sagrados dos outros como uma violação dos seus. Lembremos que, no século VII e anteriores, muitos mártires cristãos foram torturados por se recusarem a comer carne sacrificial e assumiram a postura heroica de morrer à fome por considerarem um sacrilégio aquela comida impura.
Se o objectivo é vencer e não vencer um argumento, pôr o foco unicamente nas palavras coloca-nos num declive perigoso. É necessário fazer preceder as palavras de actos significativos. Só a realidade consegue convencer alguém de que está errado.
Sem comentários:
Enviar um comentário