-“Eu não pago multas!”
-“Como é isso??”, pergunto incrédulo, àquele meu amigo que só vejo de onde em onde.
-“Não pago porque eles andam numa caça à multa desenfreada!”, conclui energicamente, ciente das suas razões.
Ainda descrente de que ele esteja a falar a sério, arrisco nova pergunta. –“E que multas é que te passaram?”
-“Uma foi por ter deixado passar a data da inspeção do automóvel e a outra foi por ter um à venda com um letreiro na estrada.! Estás a ver, eu não tinha onde o pôr! Como não soube que tinha terminado a prorrogação por causa do Covid, escrevi para lá duas cartas. Agora eles vão andar às voltas com aquilo uma série de tempo e, ao fim de um ano a passear pelas gavetas, vai prescrever!”
Conheço-o há muitos anos e não o tenho por “louco” a armar-se em herói. Se o faz é porque tem uma boa dica de quem sabe como as coisas por lá funcionam.
Jair Bolsonaro, o presidente do Brazil, ameaçou o Supremo Tribunal Federal, em maio de 2020, dizendo que “ordens absurdas não se cumprem!”, autorgando-se a autoridade para definir o que é absurdo. Por aqui, o chico-esperto joga no entupimento do sistema, pois não seria a primeira vez que a Assembleia da República retira uma lei, num esquema muito terceiro-mundista de esperar para ver se “a lei pega!”. Entretanto o cidadão cumpridor, quando falha, é punido.