terça-feira, 4 de maio de 2021

Vacinação Covid 19


Tive 2 convocatórias para a mesma hora, em centros diferentes de vacinação. Ordeiramente, fui pela última.
A vigilância estava garantida pela idosa que, imóvel, no seu roupão branco até aos pés, espreitava pela fresta da varanda do 3º andar, com vista para o centro de vacinação do Cerco do Porto.
Já a segurança estaria a cargo do “segurança” que, de pernas abertas, limitava a entrada dos candidatos à vacina, não fora este estar só ali a substituir um colega e não ter nada a ver com aquilo, porque ... ele nem era dali…
Por isso, quando lhe perguntei como devia proceder, limitou-se a dizer que só abria às 8.30.

Mas não havia problema porque a dúzia de pessoas que já estava à porta, cofiando os seus telemóveis e escrutinando por cima dos óculos quem ia chegando, foi logo dando ordens, em tom bem alto e de modo a não deixar margem para dúvidas: - Oh menina! Tem que saber quem é o ultimo!
Ainda arrisquei dizer que todos teríamos hora marcada, mas o ambiente não era propício a ser perturbado por qualquer argumento lógico. Mesmo assim, estava lançado o mote para discursos sobre a falta de organização e os problemas a que cada um tinha assistido em anteriores idas ao centro de vacinação, suponho eu, para espiar, pois íamos todos à primeira dose. Destacava-se, pelo vozeirão, um homem de casaco acetinado preto que, prudentemente, se havia munido de um banquinho desdobrável, não fosse o tempo de espera, em pé, ultrapassar a resistência das suas robustas pernas.

Atrás de mim dois homens mediam-se mutuamente, não já pelos atributos da natureza, performances de caracter sexual ou pela extensão da calvície, como seria de esperar, mas pela comparação da idade e da hora da marcação da vacina:
- O senhor tem prá i 70 anos!? 
- Nãaaao! Tenho 67. E sem doenças! Podia ter doenças, mas não tenho!
- Eu vou fazer 71 e estou para as 8.33!
- Que raio de hora…

Após a abertura dos portões exteriores a acumulação passou para a porta do centro onde as vozes se começaram a elevar…
-Eu estou para as 9h e já aviso que ninguém passa à minha frente…
-Olhem para aquilo …que pouca vergonha…
E o tal segurança não tinha mesmo nada a ver com o que ali se passava e só queria ir para casa.

Quando me apresentei com a minha convocatória à recepcionista, ouvi um “esta não está na lista” e, quando lhe mostrei o telemóvel com a mensagem, disse bem alto que sabia ler e que eu tinha que ir embora.
Até fiquei aliviada. Fui para o outro centro de vacinação para onde tinha sido convocada antes e tudo decorreu com a normalidade que é de esperar, quando não se vai predisposto ao conflito.

Vacina tomada apanho o táxi à porta e o taxista entabula a conversa com um – “Então já tomou a vacina?”
- É verdade…tem que ser…chegou a minha vez…
É então que, despudoradamente, pergunta:
- A senhora quantos anos tem?
- Tenho 68.
- Ahh!, disse ele, num suspiro contido e quase desiludido. - Eu tenho 66! Deve estar a chegar a minha vez…

Os que desconfiam do sistema mantêm-se vigilantes! Onde é que alguma vez um taxista perguntou a idade a uma cliente!!!!

Texto de M.H.S.Gomes

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