Dr! Venha à Sala de Agudos. Chegou uma intoxicação medicamentosa!
Veio numa ambulância, com dois socorristas a contê-lo. Dizem que tomou uma embalagem de antidepressivos há cerca de hora e meia.
Está agitado e não permite contacto verbal. Há muitas mãos a evitar que se atire da maca abaixo. Surgem amarras para os braços e para as pernas. Uma outra para o tronco. Debate-se e grita, mostrando as múltiplas cáries, aqui e além já só raízes negras. A toxicodependência tornou-o quase imune aos sedativos.
A jovem namorada contrariou-o, e despertou um diabo nele. Quer tirá-lo da droga “pelo amor”. A mãe, ao lado, reforça o que, alguém mais avisado, lhe explica. Que a recuperação de uma toxicodependência exige tempo, saber e recursos, e que o amor é pouco útil quando todo o resto falta. Caem lágrimas. Dizem que se agride quando a vida não lhe corre ao jeito, e que há anos que a família, com grande dificuldade, lhe disponibiliza recursos para que acabe o 12º ano, no ensino recorrente.
Ficará internado compulsivamente, mais para minorar um insucesso educativo, que para lhe tratar uma doença.
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