Antes de mais nada, quero dizer que te escrevo, porque, de algum modo, mo pediste.
Depois, quero que saibas que fico feliz quando já lá estás quando eu chego, e que, embora finjas que não dás por mim, estás atenta aos meus pequenos gestos. E porque isso me dá a importância de que preciso para me sentir confiante, respondo-te de igual modo, simulando desatenção até um acaso me justificar um sorriso para os teus olhos.
Trabalhar contigo é dançar com quem não tropeça nem pisa e dá ritmo ao voltear, recebendo uma disponibilidade que acrescenta e nos corrige, sem a petulância de quem espera um erro para mostrar o pior de si.
Gosto da calma que me dás quando ela foge e quando me apressas se o tempo se esvai, sem mais que um meio-tom na tua voz, um leve aceno no teu gesto, ou uma suave diferença nesse teu olhar esmerado de mulher, capaz de ver o que aos meus olhos se lhes se nega.
Alegra-me a doçura que derramas sobre a dor de quem padece, que não duvides da boa fé que ponho no que faço quando as coisas correm menos bem, e do direito que me dás aos maus humores quando me desacerto com o imprevisto.
És enfermeira, mas podias ser professora, bailarina, agricultora, engenheira ou uma simples dona de casa, que sei que as tuas mãos poriam o mesmo carinho nas palavras, nos ritmos, nos papéis para que os seres cresçam melhor do teu lado do mundo.
É assim que te vejo, atenta ao que te envolve, dentro e fora destas portas, para que o equilíbrio não falte a quem de ti depende, sabendo que o fazes mais pelo gosto de assim ser, que pela parca paga que te dão no fim do mês.
Bem hajas, aqui, ali ou acolá, na primeira e única vez ou na rotina do trabalho de todos os dias, onde o teu sorriso transparente limpa o ar e torna o sol ameno e que, se o acaso nos trouxer chuva fria, tu saberás limpar o rosto de quem sofre e dar sentido à tempestade.
Fernando
P.S:
os senhores enfermeiros, pelas suas próprias condições, não devem ser considerados nestas considerações.