sexta-feira, 24 de junho de 2016

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Nunca falta um chinelo velho a um pé manco.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Há sempre um testo para uma panela


Era feia como uma noite de trovoada. Tinha pelos nas pernas grossos como um capacho do Cairo e dentes podres a assustar os meus tímidos onze anos.
Chamávamos-lhe "O Cancelão" e mudávamos de passeio se a víamos caminhar na nossa direcção.
Ajudava na frutaria que nascera onde o Sr. Alberto, sapateiro, colocava meias solas e protectores nas minhas botas vitimadas pelo futebol, e que desapareceu deste mundo, cansado de uma vida sentado à frente da sovela.
Um dia, o Cancelão, apareceu no braço de um companheiro. Era pequeno, coxo e vesgo e a minha tia Aurora, que era sabida em coisas do Além, sentenciou, do alto da sua cátedra, que há sempre um testo para uma panela.
...
Há duas semanas houve rito de "homenagem" a quem nada fez para o merecer, nem como profissional, nem como pessoa, pois sempre desprezou os aflitos que o acaso (e não só) pôs sob sua alçada.
Também aqui houve quem cobrisse. Uns, só pela festa, "smilling and waving", feitos pinguins de Madagáscar,  e, um ou dois cúmplices no estimular da asneira, que foi a grande parte da sua vida.

Razão tinha a tia Aurora: Não há panela sem testo, nem penico sem tampa!

domingo, 19 de junho de 2016

De Chesnokov a Janis Joplin




Pavel Grigorievich Chesnokov (Moscovo - Russia -1877-1944)
Janis Joplin (Texas - USA, 1943-1970)

segunda-feira, 13 de junho de 2016

terça-feira, 7 de junho de 2016

Diário Clínico


Quando passo por alguns “Diários Clínicos”, em formato digital, e encontro o “copy-paste” associado a um emaranhado de irrelevâncias, lembro-me da expressão “encher chouriços” que, embora mais usada em contexto de oralidade, tem paralelo na escrita.

Passou o tempo do “Mesmo estado!” de alto a baixo da folha. Agora, o que a informática permite, demora mais a ler e pouco ou nada lhe acrescenta, já que os registos, em papel, são mais fáceis de aceder. 
Neste particular a "Informática" só atrapalha. 

Pontualmente, um Diário, poderá incluir, num internamento mais prolongado, um resumido "Ponto da Situação" e os pareceres de outras Especialidades, mas não a História Clínica, que tem espaço próprio no "Sclinico", facilmente actualizável.

Basicamente, não evoluímos!

domingo, 5 de junho de 2016

Nota de Alta


A escrita foi inventada para comunicar, pelo que, quando escrevemos, devemos ter sempre presente o provável leitor, preocupando-nos para que ele chegue ao fim do nosso texto.

Uma Nota de Alta, após um internamento em Medicina Interna, deve ser um marco na vida de um doente.
Ela deve conter os dados relevantes, devidamente organizados, de modo a que se possam planear as atitudes futuras sobre as doenças identificadas.
Para que ela seja eficaz é necessário que a escrita seja clara e interessante, reunindo as informações essenciais com um sentido. Para isso é fundamental rejeitar o irrelevante, com coragem e mais trabalho.
Oferecer uma massa de factos não digeridos é preguiça.

Pascal terminou uma carta de quatro páginas, a um amigo, dizendo: ‘Desculpe tê-lo cansado com uma carta tão longa, mas não tive tempo para a escrever mais curta!“

Só se aprende a escrever, escrevendo.
As frases curtas são preferíveis às longas e quanto às palavras, quanto menos sílabas, melhor!

O melhor é escolher as partes da verdade que melhor produzem o efeito do todo. A selecção pode ser difícil porque há sempre mais material do que aquele que se pode usar. O trabalho consiste em encontrar uma linha narrativa, sem se afastar dos factos essenciais e sem deixar de fora factos relevantes, não esquecendo que "muita informação é mais chatice do que precisão!”.

O produto final é resultado daquilo que se escolheu e daquilo que se preferiu deixar de lado.

Colocar tudo, simplesmente, é fácil e seguro, mas resulta num texto onde o autor deixa ao leitor todo o trabalho.

quarta-feira, 1 de junho de 2016