A pressão evolutiva habituou os humanos a ver o mundo como
uma empada estática. Se alguém retira uma fatia maior, alguém inevitavelmente ficará
com uma menor. Nessa perspectiva, as religiões tradicionais como o Cristianismo
e o Islamismo procuraram modo de resolver os problemas da humanidade quer com a
ajuda dos recursos existentes, ou prometendo um pedaço de empada no céu.
Nos tempos modernos, em contraste, há uma firme crença que o
crescimento económico não só é possível, como absolutamente essencial. As orações, as boas vontades e a meditação podem ser reconfortantes e inspiradoras, mas problemas como a fome, as doenças e a guerra só poderão ser resolvidas através do crescimento económico. Este dogma fundamental pode ser sumariado numa ideia simples "Se tens um problema, vais provavelmente precisar de mais dinheiro e para teres mais dinheiro, tens de produzir mais!".
Os políticos e os economistas modernos insistem em que o
crescimento é vital por três ordens de razão. Primeiro porque quando se produz
mais, se consome mais e se melhora o estilo de vida e alegadamente se vive uma
vida mais feliz. Segundo porque à medida que a humanidade aumenta é necessário
crescimento económico só para se ficar onde se está. E terceiro se a economia
não cresce e a empada permanece do mesmo tamanho só é possível dar mais aos
pobres retirando aos ricos, o que obriga a opções difíceis, que muito
provavelmente irão causar ressentimentos e até violência.
Se pretendemos evitar soluções duras, ressentimentos e
violência, há que aumentar ao tamanho da empada.
in Homo Deus - A brief history of tomorrow, de Yuval Noah Harari
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