domingo, 26 de janeiro de 2020

São Sebastião



Este fim de semana, aqui na aldeia, foi a "Tradicional festa em Honra do Mártir São Sebastião".

Foi pelas onomatopeias de um clérigo da região do “Grande Porto” que tomei conhecimento do seu sofrimento quando, do púlpito, clamava para os fiéis:
-Atentainde na figura do martel!. Rodeado pelos seus alguoses! Que lhe lançabam as suas frestas! Zeguebum! Zeguebum! Zeguebum! Que se crababam no bandulho do santo!. … E o santo, …jorrando sangue aos gorgotões! Zum! …Zum!... Zum! 
e familiarizei-me com o seu poder mobilizador, nas festas dos pescadores de Matosinhos.

Aqui a festa é mais pequena. O sábado é recatado, mas o domingo é dia de muitos decibéis. 
Mesmo bem afastado do centro nevrálgico do evento, os meus cães não ladraram, não comeram e andaram todo o santo dia com o rabo entre as pernas, a esconder-se nos lugares mais recônditos, não com medo das setas que perpassaram o mártir, mas em sobressalto com os bombos, foguetes e o “ai ó larilolela””, que nem a voz melíflua do padre no Sermão em Honra do Mártir (também ele debitado em muitos decibéis) conseguiu serenar.

As lideranças cristãs atuais tendem agora a ver o santo como um mito. Nada contra. Mas se o julgar pelo seu poder sonoro (nas proximidades da capela deve andar pelos 110 decibéis), sou obrigado a considera-lo um sério concorrente a Thor, o deus nórdico dos trovões e das batalhas, e a atribuir-lhe, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um tempo máximo de emissão de 1 (uma) hora. E isto para humanos, pois se o PAN por aqui passar e pesar os efeitos sobre a bicharada doméstica e selvagem das redondezas, talvez lhe proíba este tipo de sonoplastia.

Mas cuidado com as penalizações, pois, como ele nos defende das malinas, da peste e da guerra, é  bom estar nas suas boas graças e eu sei de quem chamou a atenção a Santiago por ser politicamente incorrecto matar mouros, e ter saído da Catedral de Compostela com uma forte dor de cabeça que só parou à força de comprimidos.


1 comentário:

Alber(sem)tino disse...

O Mata-Mouros tomou-me por um dos mouros que ele costumava passar para o outro mundo. Valeu-me um café, ao qual, provavelmente, teriam adicionado o milagroso canábis, que uma carinhosa senhora me ofereceu, ao passar a fronteira, sabendo que o raio de acção do santo de Compostela é vastíssimo, como constatou Pedro Ribeiro. O meu sofrimento não foi inferior ao de S. Sebastião e eu não tive a sorte de me tirarem as setas, como fizeram na muralha de Coimbra, junto ao Jardim Botânico, quando lá escreveram "Basta de tanto sofrer!"