Há uma boa década ouvi, num programa da TV, uma actriz indiana “glorificar” Calcutá por ser uma cidade onde era possível encontrar pessoas a viver em vários séculos - do século XII ao XXI. Tal deu-me para pensar que em Portugal também há gente a viver sem se adaptar às grandes mudanças que a nossa sociedade sofreu nos últimos 50 anos e teima em “dançar com fantasmas” agarrada a ideias e situações que já não existem e só como história têm utilidade.
O mundo tem mudado a um ritmo difícil de acompanhar. A Inteligência Artificial e a Robótica vieram para ficar e vão obrigar-nos a rever comportamentos para que possamos viver em paz uns com os outros e com a natureza.
O que há bem poucas décadas se podia fazer sem constrangimento, pode hoje ser inadequado e até severamente punido. Em 1950 poucos falavam em pedofilia, violência doméstica, racismo, igualdade de género, bulling, impacto ambiental, e por aí fora. A população mundial era então de cerca de 2,5 biliões e a mobilidade reduzida. Em 2020 era o triplo - 7,8 biliões “globalizados”, a viver mais e melhor. Tal só é possível graças à enorme evolução tecnológica em todas as áreas, pese embora os inúmeros problemas que ela própria levanta, nomeadamente em relação à poluição.
O “comboio dos combustíveis fósseis” que foi posto em velocidade de cruzeiro neste período, é difícil de abrandar sem graves consequências para a economia. O Mundo acordou para o problema e iniciou alternativas à medida que as soluções se foram tornando mais seguras e economicamente rentáveis, atento aos acidentes de percurso para não desanimar com as vozes de quem fala saudoso do “antigamente”, esquecidos da sardinha para três, do trabalho de sol a sol, da falta de um SNS e de uma Segurança Social, que em fim de vida levava o pouco que se tinha poupado na vida activa.
Em Portugal há quem ainda viva no início do século XX, “pessoas boas” com fortes valores de solidariedade e que necessitam de ajuda para viver neste mundo digital, mas também cá estão uma meia dúzia de “velhos do Restelo” de mentalidade pequenina e olhar enviesado, a tentar “desacreditar” qualquer alteração ao que pensam ser uma ameaça aos seus interesses imediatos.
A população portuguesa (e a mundial) tem hoje grande mobilidade. Nasce-se num lugar, vive-se e trabalha-se onde há emprego e, com alguma sorte, vai-se morrer à terra de origem. É possível ir para Leiria vender seguros para toda a Europa, ir para um Call Center na Irlanda resolver problemas em Portugal, ou contratar italianos para trabalhar na WestSea em Viana do Castelo.
Linguagem discriminatória não é bem-vinda nos tempos que correm e é bom que os “bairrismos” se moderem para não serem considerados agressivos em relação a quem é excluído.
Se o Homem é hoje o ser mais importante na Terra, foi por ser capaz de colaborar com quem não conhece, debaixo de uma mesma bandeira, seja ela um país ou uma empresa. O “chico-esperto” armado de “razões” não ajuda nada, porque “Razões para explicar qualquer coisa nunca faltaram, mesmo não sendo as certas!”. Lembra-me o que li n"O Filomeno” de Gonzalo Torrente Ballester - -“Você tem razão, mas não a tem toda, e a pouca que tem, não lhe serve para nada!”