sexta-feira, 25 de junho de 2021

Caminhos do monte

 



Todas as semanas dou um passeio a pé pelo monte. O mais comum e curto, é subir ao estradão que une Carreço a Afife, descer até ao Casino, comprar o jornal, tomar um abatanado, e voltar pela recente estrada paralela à linha do comboio.
Uma vez por outra cruzo-me com madeireiros, raramente com pedestres, ciclistas ou motociclistas em recreio, nesta pequena floresta onde imperam eucaliptos e pinheiros.
Quando me meto a explorar uma lateral, passados umas dezenas de metros, esbarro em muros, árvores ou num troço do caminho atulhado por ramos secos e pedras derreadas dos muros, a obrigar-me a voltar para trás.
Sou um “urbanita” que não entende uma floresta sem caminhos identificados, sejam eles de servidão, pertença de dois ou três, ou rurais e florestais, que os há concerteza, que os madeireiros contornam, porque há muito estão entregues ao abandono.
Um amigo meu, do Porto, vendeu recentemente uma moradia onde viveu até há uns 20 anos. Tinha cave, rés-do-chão e primeiro andar, garagem para dois carros na traseira e um pequeno jardim em frente. Dois meses depois o comprador interpelou-o por não conseguir meter os carros na garagem e quando se foi analisar o corredor de acesso, chegaram à conclusão que os automóveis actuais têm uma distância entre rodas significativamente superior aos daquela data.
Com os caminhos rurais e florestais deve ter acontecido a mesma coisa. Estão desadaptados às novas exigências, mas eles são fundamentais por fazerem parte dos perímetros florestais e proporcionarem a circulação de animais, máquinas e viaturas florestais, para além da importância acrescida para a proteção civil e de facultarem as ligações a áreas com considerável valor ecológico, paisagístico e ambiental.
Daí a necessidade de as manter limpas e em bom estado de conservação, regularizando o piso, desmatando a vegetação no caminho e nas bermas de modo a evitar ignições e a propagação do fogo.
Junto a minha casa havia dois destes caminhos, que ao longo destes anos em que aqui vivo, tentei manter livre de árvores. Há uns anos, ainda eram percursos de motards e ciclistas de BTT. Num deles alguém colocou no seu início um volumoso bloco de pedra para, anos depois, construir uma moradia, agora embargada. O outro, depois do incêndio de maio de 2019, foi parcialmente tomado por acácias e fetos e, embora ainda se passe, é aconselhável levar uma catana.
Estou em crer que a floresta de Carreço já teve melhores vias, pese embora a actual maquinaria permita, em meia dúzia de horas, abrir e regularizar estes caminhos para os benefícios referidos.
Hoje, um madeireiro abriu um novo caminho no monte, em terreno particular, para conseguir retirar a madeira abatida.
Não foram necessárias muitas horas, nem planos de engenharia. Imperou a necessidade.
Daniel Fontainhas, Francisco Cruz e outras 17 pessoas

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