Abraão, do casamento que teve com Sarah, teve 1 filho
– Isaac.
Isaac casou com Rebecca e tiveram 2 filhos Jacob e
Esaú.
Jacob casou com duas irmãs - Lia e Raquel e teve 12
filhos. 6 de Lia, 2 de Raquel, 2 de Bila e 2 de Zilpa que eram escravas das
duas irmãs e que elas entregaram a Jacob para que ele as fecundasse, uma vez
que a coisa não estava a funcionar muito bem para o lado delas – (pelo menos é
o que diz o Velho Testamento, porque, cá para mim, o Jacob, à boa maneira da
época e da região, confundia os quartos onde as mulheres o esperavam). Lia
também teve uma filha mas, por razões de género, não teve direito a história.
Raquel só teve os filhos depois de todas as outras. José
era o mais velho e Benjamin, o mais novo.
Raquel foi sempre a esposa preferida e essa “inclinação”,
apesar de ela ter engravidado tardiamente, extravasou para os seus filhos com
ela e José começou a ser fruto de inveja pelos meio-irmãos mais velhos, a ponto
de o quererem matar, mas o acaso levou-os a vendê-lo como escravo a uma
caravana que passava por perto. O rapazito foi levado para o Egipto e, como era
esperto e bonito e foi comprado por um dos ministros do Faraó, de nome
Potiphar. Não podia ter melhor sorte e, ainda por cima a esposa do dito,
engraçou com o moço e deu-lhe educação e a influência dele foi crescendo
naquela casa, ao ponto de lhe pedirem conselhos sobre coisas de governação.
José era um tipo fino e as suas soluções mostraram-se úteis, pelo que foi
subindo na hierarquia do reino a ponto de chegar a Vice-rei.
Passaram vinte anos e, à boa maneira do emigrante de
sucesso, quando os irmãos foram comprar trigo ao Egipto, ele fez-se de
“anónimo” para saber do seu irmão Benjamin, que também era preferido do pai, a
julgar pelo nome que significa “filho da mão direita”. Ao saber que ele estava
bem e que não tinha sofrido maus tratos, José denunciou-se, fez as pazes com eles e convidou toda a família para deixar as terras áridas da Palestina e ir
viver para o delta do Nilo, no Egipto, onde lhes deu muitas terras. A casa de
Jacob (Deus mudou-lhe o nome para Israel), enriqueceu imenso nos 17 anos
seguintes e tornou-se uma comunidade rica e influente por muitas gerações, mantendo
sempre as suas práticas religiosas e sociais dentro de um círculo fechado, obedecendo mais aos seus chefes que às leis
egípcias, coisa que os deve ter sinalizado como “perigosos”.
Viveram no Egipto 430 anos, mas só nos últimos 70 é se
que sentiram “escravizados”, (isto é, devem ter perdido privilégios) e
começaram a pensar em voltar para a Palestina pois, se fossem todos, não
sentiriam a falta de ninguém, uma vez que viviam arredados dos egípcios e estes
lhe estavam a infernizar a vida.
Moisés, que tinha tido educação egípcia, andava fugido
a uma pena de morte por ter morto um feitor. Como tal interessava-lhe uma fuga
colectiva para sair dali. Os judeus não eram trabalhadores indiferenciados,
muito provavelmente, ocupavam cargos relevantes não só na administração pública
como também na sociedade civil, pelo que o Faraó quando tomou conhecimento do “Êxodo”,
tentou impedi-lo, mas os seus exércitos seguiram pistas falsas, e os
“israelitas” passaram por onde agora é o canal do Suez e, à época, era um
deserto igual ao de toda a zona. Quem fugia tinha posses, pelo que não houve
especial dificuldade em comprar o “maná”. O problema maior foi capitanear
aquela turba (uns milhares ?) nas provações do deserto e Moisés retira-se para
escrever, em letras gordas, uma súmula de leis, para serem cumpridas durante o
resto da viagem e não só.
Chegados à Terra
Prometida – Canaã, encontraram-na povoada pelos cananeus e filisteus e deram início a um
conflito que ainda hoje persiste. Estávamos então no século XIII (AEC) Antes da
Era Comum.
O livro: “The Chosen Few: How Education Shaped
Jewish History, 70-1492.” de Maristella
Botticini and Zvi Eckstein, esclareceu-me sobre a questão: O que está por detrás das perseguições?
Resposta: É o seu notável sucesso económico a par
da sua não integração nas sociedades que os acolhem.
Embora o
livro refira que foi a partir do ano 70 que tudo se tornou evidente, eu estou
em crer que o processo se iniciou muito antes.
Se visitássemos o mundo de há 2000 anos,
analisando a vida de um judeu e a de um não judeu seria difícil distingui-las
pelo modo como trabalhavam, mas se o fizéssemos no período entre 1920 e 1930,
como o fez o economista Simon Kuznets, veríamos um padrão completamente
diferente: 91 a 99% dos judeus do mundo estavam envolvidos em ocupações urbanas
especializadas, enquanto a maior parte da população do mundo (excepção dos EUA)
ainda vivia da agricultura.
As crianças e adultos judeus aprenderam a ler para
estudar a Torah, mas esta capacidade, permitiu-lhes ler e interpretar outros
textos não religiosos o que lhes foi muito útil como artesãos e mercadores que
frequentemente necessitam de escrever cartas e contratos e manter os seus
livros de contas
Sabemos hoje que se alguém aprende a ler uma
língua, é-lhe mais fácil aprender outras, e os judeus, para além do Hebraico,
aprenderam as línguas dos diferentes locais onde se estabeleceram. A
leitura de outros textos religiosos mais complexos como a Mishna e o Talmud,
que consistem em extensos debates entre rabis e sábios, deu-lhes a capacidade para
pensar de modo analítico e argumentativo, o que lhes foi muito útil nas actividades
comerciais, empresariais e financeiras.
A literacia e
a educação aceleraram a sua mobilidade na procura de novas oportunidades de
negócio e a formação de uma rede de judeus vivendo em diferentes localizações,
conectados através de cartas e contratos pelos diferentes associados e
financiadores.
A literacia e a educação são
pré-requisitos para se terem códigos legais e tribunais que forcem os
contratos. Há séculos que os Judeus organizaram instituições que promovem actividades comerciais e de negócio para que esses contratos sejam cumpridos, onde quer
que os judeus estivessem.
As lideranças
judaicas impuseram a literacia por puros motivos religiosos, para garantir que
todo o judeu aprenderia e obedeceria à lei judaica escrita na Torah, mas o efeito
lateral dessa prática, foi equipar os judeus com ferramentas como a literacia
geral, a capacidade de compreender textos, de raciocínio analítico, mobilidade,
capacidade em estabelecer uma rede de influência e instituições que obrigassem
ao cumprimento dos contratos, capacidades que os elevaram a ocupações muito
diferenciadas como artífices, negócio, empreendimentos, finança, medicina e
lei.
O judaísmo foi
a única religião que, durante séculos, exigiu que as famílias enviassem as
crianças para a escola ou para a sinagoga para aprenderem a ler desde os seis
ou sete anos de idade.
Quando começou a expansão comercial e a urbanização em vastas áreas da Espanha à India, criou-se uma urgente necessidade de profissões onde eram fundamentais esta competências (literacia, educação, mobilidade, conexões em rede e instituições que obriguem ao cumprimento dos contratos) . Os judeus estavam acidentalmente bem equipados para essas funções e aproveitaram a oportunidade. No primeiro milénio estiveram sozinhos nessa corrida.
Aos Muçulmanos (Maomé - 571-632 EC) foi exigido ler o Corão, mas
os peritos em leitura na história das religiões, afirmam que essa leitura
visava unicamente a memorização e não necessariamente a interpretação.
Os Protestantes (início da Reforma Protestante – 1517) também exigiram aos seus membros a leitura e estudo da Bíblia e este facto foi determinante, segundo Ernest Gellner, para o seu enorme sucesso económico.
Os judeus impuseram esta norma 15
séculos antes.
Os católicos só
muito tarde entenderam a necessidade destas ferramentas. Em Portugal o analfabetismo
em 1870 era de 80% nas mulheres e de 70% nos homens. Em 1970 era de 30% nas
mulheres e 20% nos homens e em 2010 era de ~5% para os 2 grupos.