domingo, 11 de dezembro de 2022

Mercenários

 

Agora que acabou o Mundial, a preocupação volta-se inteiramente para a guerra na Ucrânia e o como ela nos vai continuar a afectar. Ouço as notícias e os comentadores na TV e nas Redes Sociais e fico com a impressão de estarem a “fazer a cabeça” da população para que ela aceite as repercussões no seu dia a dia, sem questionar muito os porquês, porque a guerra custa muito dinheiro e há que o ir buscar onde quer que ele esteja. É o armamento e a “logística” que são caros e é a malta que lá anda a guerrear que também fica cara.

Ora foi para tirar algumas dúvidas que comprei o livro deste senhor que é professor de Estratégia na Universidade de Defesa Nacional de Georgetown, a principal escola de guerra do Departamento de Defesa dos USA, entre outras coisas.

O livro fala de guerras passadas e conjectura como serão os novos conflitos, com base no que já hoje se está a passar no mundo. 

Chamou-me particular atenção a sua “lógica” em relação aos mercenários que, segundo ele, são a segunda profissão mais antiga do mundo, pois foram largamente usados pelos grandes “conquistadores” celebrados pela humanidade, de Roma, da Grécia, pelos Otomanos e por aí fora até à Asia. ... Até o Vaticano tem a sua Guarda Suíça.

Segundo o autor é mais barato contratar mercenários, quando se precisa de combater, do que ter um exército em permanência. 

Os mercenários começaram a perder importância há cerca de quatrocentos anos, quando os estados e os seus exércitos nacionais foram gradualmente monopolizando o mercado da força de combate, remetendo os soldados de aluguer para uma situação de ilegalidade por volta de 1850. Mas a realidade do século XXI trouxe-os de volta e em força. As guerras da Chechénia, do Iraque e do Afeganistão ressuscitou-os das cinzas, já que mais de metade do pessoal militar a lutar pelos russos e pelos EUA era composto por contratados. Na sua esteira surgiram as Empresas Militares Privadas que se transformaram em multinacionais cotadas em Bolsa, com operações que se estendem por todo o globo.

Estamos habituados a falar do poder que reside nos diferentes Estados-nação, mas esquecemo-nos de que a globalização trouxe outros poderes que lhes são mais o menos independentes como os Fundos Financeiros, as Multinacionais, os super ricos, os cartéis da droga ... entre outros.

Estas Empresas Militares Privadas, como a russa Wagner ou a americana Blackwater, para falar das mais conhecidas, podem ser contratadas por esses poderes “fácticos” para garantirem a proteção dos seus interesses em qualquer zona do globo com instabilidade política. É o que fazem as multinacionais de Seguros no transporte marítimo para atravessarem o Golfo da Guiné ou no Golfo de Áden, as petrolíferas nas explorações da Libéria e países como a Arábia Saudita, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos, que não possuem forças militares agressivas, vêm nos mercenários uma solução muito económica, principalmente quando constituídas por veteranos das guerras da droga, oriundos da América Latina. 

Essas Empresas Militares Privadas contratam em todo o mundo e prestam serviços não só na frente de batalha, mas também na sombra, “organizando” movimentos “populares”, insurreições armadas, golpes de Estado, ou fornecendo informação. 

Desde que o contratador pague, o serviço poderá ser prestado, embora muitos mercenários recusem serviços que ponham em risco as suas “fidelidades” políticas e sociais.

O autor do livro prevê que no futuro as megaempresas e o número de países que contratarão mercenários irá aumentar e, até a ONU poderá vir a utilizar a força privada para aumentar as suas anémicas missões de paz. Em breve, toda a gente alugará exércitos privados, transformando os conflitos numa mercadoria.

Os criminosos organizados também se poderão tornar superpotências. Os oligarcas e os cartéis da droga já dependem de milícias e de bandos para a força musculada, mas poderão vir a alugar um poder de fogo com força industrial, incluindo helicópteros de ataque e regimentos militares privados, para conquistar Estados e transformá-los em fantoches.

E não se pense que o Direito Internacional, a ONU ou qualquer Estado poderoso terá vontade ou recursos para acabar com eles. O que vai mudar são as actuais práticas de guerra, tal como as conhecemos, enquadradas numa "insurreição global contra o Ocidente". 

NOTA: Há uma diferença legal entre Mercenários e Contratados. Contratados são cidadãos do país ou estrangeiros com residência no país. Mercenários são soldados sem qualquer relação com os conflitos para além do seu interesse monetário. 

1 comentário:

capitão disse...

Blackwater charges the government $1,222 per day per guard, "equivalent to $445,000 per year, or six times more than the cost of an equivalent U.S. soldier,"