domingo, 7 de abril de 2013

Carta a Jomba




Caro Jomba:

Antes de mais, queria pedir-te desculpa por me ter rido, quando há anos ouvi esta tua entrevista.
Um pouco pelo assunto (a escatologia sempre me fez rir) mas também com aquele sentimento de superioridade de quem só olha para o superficial da coisa, o certo é que durante uns tempos ficaste no meu rol de anedotas verídicas. Só depois é que me deu para analisar o teu empenho em defender a saúde pública sem um mínimo de recursos. Passaram-te a mão pelas costas, nomearam-te “chefe de secção” e mandaram-te para o terreno impedir a dispersão das doenças pelos rios, lagos e nascentes, com as palavras de que fosses capaz e, mesmo assim, justificaste tudo com falta de dinheiro.
Mas quantos de nós, que rimos, aceitámos já tarefas, fiados no apoio de quem nos está acima e caímos numa realidade pouco diferente?
Por isso te olho agora de outra perspectiva, a de quem é chamado a dar a cara e fica à mercê da ignorância, do desleixo e de um jornalismo que não contextualiza.
No teu caso numa zona remota de um dos países mais pobres do mundo, a falar uma segunda língua, aprendida sabe-se lá como.
Devia-te esta carta.

Um abraço, de cá de longe.

Fernando

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