É curioso como não estranhei a queda do BES e, estou em crer, como eu, muita gente!
Há 3 dias, em minha casa, estive a arranjar um empedrado construído há 8 anos que não resistiu à limpeza com meia dúzia de mangueiradas e ficou escarnado por a argamassa ter uma mistura de cimento inferior à recomendada. Nas minhas contas, foi o mestre-de-obras quem assim determinou e o trabalhador deve ter cumprido, ou porque não tinham trazido o cimento necessário ou para arrecadar mais uns míseros Euros.
Este exemplo é um reflexo do país. Meia dúzia de gananciosos a aldrabar o mais que pode e o grosso dos trabalhadores a cumprir ordens erradas, porque "fazem o que se lhes manda".
Pelo que se me aparenta, Ricardo Salgado é só mais um neste sistema que promove a capacidade de engolir sapos de bico calado.
Como, por tradição, o português típico espera benefício por se chegar a quem tem poder, confia, e só reclama quando a disfunção aparece, sem se lembrar que um caminho é feito de muitos passos e é o sucesso no pequeno crime que faz os grandes criminosos.
Depois queixa-se de não ter instituições fortes que garantam uma qualidade mínima ao que está na sua dependência.
É aqui que está o cerne da questão. Não podemos continuar a ter instituições lideradas por quem não garante isenção e qualidade.
As Ordens, as Escolas, os Tribunais, os Hospitais, as Forças de Segurança .... não existem para defender os interesses do poder e dos seus profissionais, e a qualidade dos seus serviços não depende dos discursos pomposos nas ocasiões solenes, para esconder a incompetência e os jogos onde se movimentam interesses "invisíveis", que só prestam contas a quem os nomeou por interesse particular.
E é nesse sentido que o que se passou no BES não me causou estranheza. Ontem foi este Banco, amanhã a borrada poderá sair de uma qualquer outra instituição "Acreditada" ou vigiada por "Regulador", porque o que se audita, é papelada e meia dúzia de aspectos físicos. O que tem a ver com o cumprimento dessa papelada e as boas práticas do dia-a-dia, não são passíveis de ser analisadas em Auditorias de 8 dias, onde os funcionários ou são ignorados ou temem pelas carreiras e pelo emprego.
O que se passou no BES não é obra única, nem de um só. E a solução é um cortar de pernas para manter o corpo vivo.
Este colapso irá certamente afectar toda a economia do país e “exigir” mais cortes e impostos, enquanto a "pandilha" que se movimenta entre os Bancos, as grandes empresas e os lugares do Governo, “assobia para o ar” e a população se mantém a dançar a música que lhe tocam.
Dificultam o arrendamento? Ela compra casa. Não actualizam o transporte público? Ela passa a andar de carro. Dificultam a ocupação dos centros das cidades? Ela muda-se para a periferia. Fazem auto-estradas a custo zero? A malta vai viver ou trabalhar para longe.
E quando introduzem portagens, aumentam os impostos sobre a gasolina e se acaba com o estacionamento gratuito, o Zé … paga e começa a protestar.
Mas a maior lata nisto tudo, é dizer que a culpa é de ele "viver acima das possibilidades" e pô-lo a pagar BPN, BES, PPPs e o que lhes aprouver.