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segunda-feira, 13 de maio de 2024

Um ponto



Há vida onde a gente menos espera. No claustro de uma abadia, dorme este morcego, alheio à passagem constante de turistas. Um ponto no imenso creme das paredes.
 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Confinado



Na "linha de trás", a ouvir nas notícias as dificuldades de quem não teve sorte e as queixas de quem faz prova de vida para receber os benefícios que o Destino lhe concedeu, dou graças por não estar na "linha da frente" onde estive mais de 40 anos.

Passadas as Trumpalhadas e na obrigação de ficar em casa, face ao acentuado crescimento de Covid em Portugal, viro-me para os trabalhos manuais, que a passarada também precisa de atenção.

Hoje, estes paus destinados à lareira, foram para duas residências, que o Inverno anda frio e manda que em janeiro sete casacos e um sombreiro. Amanhã virão outros, já que os comedores ainda não têm plano de confecção.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O prazer de matar

Dezasseis caçadores mataram 540 animais durante uma montaria organizada por uma empresa espanhola, numa quinta na Azambuja, no dia 17 de dezembro - quase 34 animais mortos por caçador. A carne já tinha destino – Áustria e Alemanha, onde é apreciada e bem paga. 
Na zona está prevista a construção de uma “Mega Central Fotovoltaica” com mais de 750 hectares. As empresas que ganharam o concurso já refutaram qualquer participação ou responsabilidade na gestão cinegética da reserva de caça privada abrangida pela Herdade da Torre Bela. Caçadores “internacionais”, vieram dar azo à “ânsia de matar” a um país onde o cumprimento das leis é mal vigiado e onde os crimes ambientais têm fraca penalização. 

 O caso veio a público e todos se indignaram, mas quantos acontecem todos os anos em Portugal, onde não é possível colocar um guarda atrás de cada caçador movido pela mesma “ânsia”?? . 
O Governo classificou o acto como “vil e ignóbil”. O ICNF ordenou a abertura de um inquérito. A Federação Nacional de Caçadores e a Federação Portuguesa de Caça falam em incumprimento da “ética” da caça. 

“O mundo mudou!”, disse José Sócrates, em 2010, para justificar mais um aumento de impostos. Essa é a regra, já o dizia Camões: “Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. O que se faz numa época, pode ser altamente inconveniente e até proibido noutra. A pedofilia não era crime na Grécia antiga. A desflorestação da América do Norte não foi entendida como crime ambiental, nem a limpeza étnica dos índios como um genocídio … e por aí fora. 

No século XXI, a ciência alerta para a necessidade de rever os comportamentos ambientais. Atitudes sobre a fauna e sobre a flora que afectem a biodiversidade têm de ser analisadas sob uma óptica global e não local, seja o abate de florestas tropicais, a pesca excessiva ou a poluição do ar, dos rios e do mar. 

A caça tem de ser entendida de um modo diferente daquele que era há uns anos atrás. Já lá vai o tempo do "Atirei o pau ao gato" e do “Lá vai uma, lá vão duas, três pombinhas a voar, uma é minha, outra é tua, outra é de quem a apanhar”. As pegas rabudas que viviam em Montedor, as rolas e os melros que poisavam no meu quintal, não são de quem as apanhou! Eram de todos nós! 

Aos caçadores só deve ser permitido o abate de “pragas” em terrenos agrícolas. Não é lícito a caça de um animal até à sua quase extinção e só então ser proibido o seu abate, nem o gozo de matar só por matar! Ponto final!

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Kali

- E o nome, qual vai ser?, perguntou para completar os registos.
- Sei lá!, respondi. – Eu vim ver a ninhada. Não contava levar o cão assim tão pequeno!

São assim os filhos. Põem o nosso ritmo em causa e apressam-nos. E logo a mim, que demoro meses para comprar carro e que, deixado só, faria o mesmo por um cão. Tenho necessidade de sentir o “sim” a impôr-se, como numa relação amorosa. Olhar várias vezes e em tempos diferentes, vê-los correr, responder às solicitações, sentir como se encaixam em nós quando lhes fazemos festas.
Ainda a lembrar o meu velho Troll, que nos deixou, depois de 15 anos de bom entendimento, tentar ler nos olhos de uma cachorrinha de menos de dois meses, se ela tem potencial para um futuro idêntico, é trabalho de macumbeiro. E não foi a razão, foi o “gut feeling” que definiu a decisão. Vi como se portavam a mãe e o pai, senti como me olhou e as palavras saíram-me da boca – Levo-a!

Depois, foi a ida ao consultório para a desparasitação, vacinação e registos.
- Que nome propões? Nós costumamos pensar em figuras mitológicas em situações semelhantes. Ela vai ser grande e preta. Conheces alguma deusa negra?
- Nix? A deusa grega que personificava a noite, filha do Caos e mãe de Moros (Destino), de Tanatos (Morte), de Hypnos (Sono) e de muitos outros nesta senda.
- Nix! Nix! Não sei! Não soa bem chamar assim por um cão. Um nome com duas sílabas de vogais abertas soava melhor. Abre aí a Net e procura noutras religiões.

Não foi preciso. A minha filha tinha ido passar umas férias à Indonésia e lembrou-se da deusa Kali, do Induísmo, e por não nos lembrarmos de mais deusas de pele escura, e por já estarmos entrados nas horas, ficou Kali, com a promessa de um texto com a história dela.
Esta Kali, nasceu a 3 de Dezembro de 2018. É filha de um acasalamento casual de um Dogue Alemão com uma Serra da Estrela. É a nova companheira do Trovão.

O texto da minha filha, veterinária, é o que se segue:

Shiva
Kali
Shiva e Kali tinham casado - um match made in heaven - e andavam, para a delícia de todos os humanos, perdidamente apaixonados e felizes. 

O Shiva é, da divina trindade hindu, o tipo mais temido. Ao contrário da divina trindade cristã, em que o Pai manda e o Filho e Espírito Santo só levam com as culpas, os hindus têm uma equipa a sério - Braham é o criador, o Vishnu é o protector e o Shiva é o destruidor. É claro que o cognome de destruidor lhe dá má fama, mas o Shiva não é um deus mau, até porque isso não existe. Na maioria dos dias, o Shiva é um deus pacato e benevolente, dedicado à yoga (que ele mesmo inventou) e à meditação, mas quando a ignorância humana lhe chega ao nariz, quando nós nos pomos com confusões e com problemas sem fim à vista, ele interfere. E quando o Shiva interfere, não é meigo - se os problemas não têm solução, é pela raiz que têm de ser arrancados et voilá - terramotos, maremotos, erupções vulcânicas e fogos servem para limpar tudo e deixar terreno fértil para a regeneração. Destruir é criar espaço para que algo novo possa nascer. Eu que me tenho por ateia, admito que tenho alguma admiração por este tipo.

Os humanos faziam templos a Shiva e davam-lhe ofertas e coroas de flores, pedindo-lhe apenas que ele se mantivesse tranquilo e não interferisse com os assuntos dos homens, por isso andava toda a gente contente com o seu casamento com a Kali.

A Kali era uma rapariga bonita, azul, sempre nua, de dentes pontiagudos, a boca manchada de sangue, rodeada de cobras e com um colar de crânios ao pescoço e com o hábito de se passear entre as cinzas dos locais de cremação. Sim, era um pouco gótica, mas era um doce de rapariga e representava a mãe Natureza. A Natureza, ao contrário da nossa ideia citadino-bucólica da luz do sol a atravessar as folhas das árvores abanando docemente à brisa e ao som dos passarinhos, é um sítio terrível, cheio de perigos, venenos, espinhos e morte em cada esquina. A Kali era a Mãe Natureza, com toda a sua beleza e com todo o seu terror - símbolo do lado subestimado da mulher e da verdadeira força feminina.

O casamento, como é óbvio, corria bem - cozinhavam juntos, ouviam música, dançavam pela sala, faziam yoga ao pôr do sol e viam em conjunto os filmes de Bollywood nos serões. No entanto, Kali estranhava a tranquilidade de Shiva e temia que aquela vida pacata fosse demais para ele. Antes de se casarem, Shiva era um bon vivant e passava meses em tainadas com o Braham e com o Vishnu, bebendo até cair, filosofando o mundo e meditando durante anos a fio. Desde que se tinham casado, era um rapaz caseirinho. Preocupada com ele ou talvez porque também ela queria ir beber um copo com os seus amigos e deixar a vida modesta de mulher casada por uns tempos, Kali disse a Shiva - Homem, vai sair com os teus amigos! E Shiva foi.

Sucede que Shiva, quando se põe na treta com o Braham e com o Vishnu, e mandam vir mais um copo, e agora é mais um brinde à terra, e outro aos céus, e um puxa o outro e por lá nem fazia frio - dormia-se ao relento nas calmas -, perde-se. E acabou por passar anos entre festas e meditações até que se lembrou que era casado e que adorava a sua Kali e foi a correr para casa.

Entretanto Kali, que era uma mulher independente, foi vivendo a sua vida sem se chatear muito. Naquele dia, como em todos os outros, antes de entrar para o chuveiro, disse ao seu filho sentado no chão do quarto de banho - rapaz, a mãe vai tomar banho. não deixes ninguém entrar, sim? E deu-lhe um beijo na testa e foi-se.

Quis o destino que o Shiva chegasse nesse momento a casa, sedento de amor e morto de saudades. Correu a casa toda cantando para Kali e da Kali nada. Quando a foi procurar no quarto de banho encontrou a criança que prontamente lhe disse que não podia entrar. A criança não sabia quem era o Shiva e o Shiva não conhecia a criança de lado nenhum. O Shiva, já sabemos, é um tipo bom até que lhe cheguem a mostarda ao nariz e o miúdo, filho de quem era também não era pêra doce, e ficaram ali os dois em tensão - o pequeno dizia 'não interessa quem és, não podes passar' e o outro 'ai que não passo' e com os nervos em franja, saca da espada samurai Hattori Hanzo e corta a cabeça ao garoto. A Kali, quando sai do chuveiro, toalha na cabeça, as serpentes ainda a sacudirem-se ao seu lado, como seria de esperar, passou-se. 'Ai o meu menino, que foste tu fazer meu anormal, mataste-me o filho, mataste o teu filho, põe-te já daqui para fora!' e o Shiva 'ai meu amor, que eu não sabia quem ele era, e a frente que ele me fez, oh amor, o Kali, pombinha do meu coração, ai desculpa-me' e ela 'desaparece-me da frente demónio de homem, antes que eu use a minha espada no teu pescoço'. Kali, não se disse ainda, mas também tinha uma Hattori Hanzo e era a mais conhecida assassina de demónios do seu tempo.

Shiva ajoelhou-se e jurou voltar com a cabeça do primeiro bebé que encontrasse a dormir, para colar no corpo decepado do seu filho e com esta saiu de casa. Com a cabeça em água, correu o mundo à procura e quando avistou um elefante bebé a dormir, não hesitou - zás -, e correu para casa e com jeitinho e auxílio de super-cola 3 lá colou a cabeça orelhuda no corpo do pequeno, dando-lhe de novo vida. 



O Braham e o Vishnu, vendo o ar sanguinário da Kali perante o bebé-cabeça-de-elefante e temendo o pior, ofereceram à pobre criança, de nome Ganesh, o dom do intelecto, da sabedoria, do sucesso e da fortuna (basicamente, tudo o que se pode desejar na vida) transformando-o num dos mais adorados deuses do hinduísmo.

Reza a história que o Shiva e a Kali conseguiram resolver os seus problemas - a ilha indonésia de java sofreu bastante com esta situação (terramotos inundações dilúvios e vulcões em contínua erupção) e o povo dessa ilha também se fartou de adorar um deus tão intempestivo e converteu-se ao Islão. No entanto, eles continuaram felizes e destruidores e assassinos de demónios e criadores de terrenos férteis para que das cinzas se ergam novas histórias, até aos finais do tempo.

Esta história contaram-me, assim mesmo sem tirar nem pôr, duas javanesas, uma muçulmana e uma cristã, que defenderam o Shiva e a Kali com unhas e dentes, em Prambanam, no templo a Shiva, continuamente em reconstrução dado os acessos de fúria do mesmo.

domingo, 5 de março de 2017

Animais do meu jardim



Nem só de flores se faz um jardim!

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Bicho pau



Pois é, meu caro! Estás habituado a comer coisas tenras, à socapa, mas ao apareceres sem aviso, devias contar com as “contingências” do momento.

Como sabes, todos temos problemas e só somos felizes quando os vamos resolvendo. E o tempo é importante pois, mesmo que as dificuldades sejam pequenas, se elas se arrastam, desgastam-nos. Ainda por cima, o dinheiro não resolve todas, que o diga a filha do Onassis que se suicidou aos 37 anos.

Mas adiante, que ontem era dia de dar conta da lagarta mineira. Coisa sem importância, que estava a aguardar disponibilidade para ir à Casa do Lavrador, com o Diploma de “Aplicador de Produtos Fitofarmacêuticos” e comprar uma carteira de Actara 25 WG,  para pulverizar as laranjeiras.

Como é que ia saber que tu lá estavas. Só pensei nas abelhas e, como os citrinos não estão com flor, fui por ali adiante, à confiança.
Assim, considero-te um “dano colateral”. Uma "vítima de fogo amigo"!
“É a vida!”, como diria o Guterres. E de nada te vale essa cara de pau. Agora, é andar para frente e ver se a dose que te calhou não chega a mortal.

Pensando bem, até hoje, tiveste uma boa vida, sempre de costas ao alto, a fingir-te ocupado em pensamentos profundos, sem nada decidir, safando-te dos lagartos e dos pássaros que, se te vissem, chamavam-te um figo pois, para bicho pau, estás bem nutrido.
Ainda por cima, tiveste sorte em ter dado comigo. Levei-te para longe do laranjal, para um recobro bem disfarçado no meio de uns gravetos, e nem um obrigado disseste. Mantiveste a cara de pau como se fosse eu o culpado. 

És um safado! Sei bem que quem bate não lembra e quem apanha não esquece, mas se vieres a recuperar, volta em paz e no tempo das abelhas, que eu finjo que não entendo o teu ressentimento e ficamos à conversa até ver nesses teus olhos o esboço de um sorriso.
Põe-te fino, mas não demais, senão desapareces! Tem cuidado com os químicos das hortas e com o fogo nas florestas, que tu para fugir nem asas de jeito tens!

Pensando bem, o melhor é emigrares. Arranjas um “casaco” quente, agarras-te a um licenciado recém-formado e vais ver que em menos de meio ano até alemão falas.

Até à próxima!

P.S.: Não te esqueças de respirar!!!

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Caracóis

Pouco passava das duas da tarde. Na aridez amarela da parede do viaduto, uma pequena mancha castanha sobressaía imitando o mapa do Brasil. Mais à frente, outras mais estreitas e menores pontuavam-na, quais caravanas de dromedários dirigindo-se para o céu que a linha do comboio limitava. Intrigado, ... parei!
Naquele deserto vertical, um grupo de jovens caracóis, concentrava-se sob o mando de um outro, mais avantajado. Seriam bebés num infantário? Adolescentes a preparem-se para uma qualquer tropelia numa horta? Um reunião de caracóis anões a planear uma saída para o Estado Islâmico?
Apurei o ouvido. ... Silêncio. ... Podia ser uma creche com boas educadoras, a respeitarem as normas da sesta, o que é fundamental para que os pais confiem, na esperança do desenvolvimento cognitivo da  prole, mesmo sabendo que nos primeiros tempos de vida não há socialização com os pares e que só querem carinho, aconchego, colo e mimo. Mas esta parede, tão à mercê de quem passa, não me parece o melhor local para uma creche que dê garantias de que, mais tarde, os jovens não venham a sofrer de doenças psicossomáticas autopunitivas. Fico uns minutos à espera de um pequeno ruído, mas o sossego é tanto, que desisto e continuo pelo passeio que me leva a casa.
Na parede, outros ajuntamentos vão aparecendo. Agacho-me para que o próximo não se aperceba da minha presença, confiante na sua surdez e fraca visão. Faço passo de caracol para me disfarçar e poder visualizar a sua linguagem gestual. 
São hermafroditas insuficientes e podem-se julgar mais por isso. Ser umas vezes feminino e outras vezes masculino, não é para todos. São experiências que só acontecem aos deuses e é provável que se tenham deixado levar pela vaidade. Páro a menos de dez centímetros e apercebo-me de uma cavaqueira animada. Falam das lesmas. Dizem que são vaidosas e não fiáveis. Que se esticam demais para o que valem, que são umas descaradas que andam nuas e que só saem à noite. Devem ser adolescentes a autopromoverem-se.
Aqui não aprendo nada. O grupo lá atrás deixou-me intrigado. Era maior e mais heterogéneo. Havia uns grandes e outros pequenos. Vou para casa e volto lá ao fim do dia.

São seis da tarde. Caminho devagarinho até chegar a dois metros deles. Depois, progrido deitado sobre o estômago, a imitá-los, e imobilizo-me disfarçado na paisagem. É o que eu esperava. Estão lá todos. Fosse um caracolário e os pais já os teriam vindo buscar. Estão mais activos. Falam de búzios e de caramujos. Dizem cobras e lagartos deles. Que passam metade do tempo a tomar banho e que não precisam de se deslocar para comer, que o mar lhes leva tudo. Riem-se dos burriés por o seu nome ser também usado para nomear os “macacos do nariz”, enquanto o deles se usa para o cabelo enrolado. Deve ser uma “concentração tipo motard”, daquelas em que só há actividades nocturnas e de dia se dorme, uns por cima dos outros, meios bêbados. Aqui também não se aprende nada.


Estes caracóis para além de indolentes, são uns invertebrados convencidos. Bem merecem levar com o bacon, o alho, o azeite, a cebola, o louro e os orégãos em cima, sem esquecer o picante e o sal q.b..

Bem fiz eu em dar cabo deles, na minha horta.



terça-feira, 23 de setembro de 2014

sábado, 2 de agosto de 2014

Cão

o pai
a mãe
o dito
a despedida

Quero-te com nome sonante, já que sinto sangue azul nas tuas veias de rafeiro alentejano, a lembrar os gloriosos tempos em que a honra se defendia com os recursos com que a natureza nos dotou. 

Nasceste a 7/Maio, na Quinta de Santa Maria, em Benavente, filho do Infante de Paio Pires e da Açorda de Alpedriche, no mesmo dia de Brahms (1897) e de Tchaikovsky (1840).

Não te falta ascendência e o futuro sorri-te. Podes vir a ser Brahms, Tchaik, Tejo, Trovão, Xangó, que é o orixá do fogo e da justiça, mas tenhas o nome que tiveres, espero que sejas leal, calmo, seguro, nobre, digno e paciente com as crianças.
Da minha parte conta com cama, comida, pelo escovado e um amigo para as boas e más ocasiões.

Ámen!

terça-feira, 22 de julho de 2014

Hérnias


Hérnia: é a saída de uma víscera, parte de víscera ou estrutura ligamentosa, através de um orifício natural, recoberta por todos os planos que a esse nível constituem a parede. 
Fala-se de  Eventração se ocorre por uma cicatriz cirúrgica ou traumática ou por uma região com a musculatura relaxada ou paralisada e a em Evisceração se não está recoberta de parede.

No cão, a hérnia perineal é mais frequente nos machos de meia-idade e idosos (entre os sete e nove anos), sexualmente intactos. Em geral, ocorre entre os músculos esfíncter externo do ânus e o elevador do ânus e, ocasionalmente, entre os músculos elevador do ânus e coccígeo.
Os sinais clínicos mais frequentes são o tenesmo, a obstipação e o aumento de volume perineal. O diagnóstico é apoiado na clínica e no toque rectal, podendo ser necessária a realização de ecografia.
Entre as técnicas cirúrgicas de reconstrução do diafragma pélvico, as mais efectivas são as que utilizam transposições musculares únicas ou combinadas, tais como as do músculo obturador interno ou músculo glúteo superficial. A orquiectomia é recomendada em associação, pelos seus efeitos benéficos nas doenças prostáticas, testiculares ou neoplasias da glândula perineal e pela menor recorrência da hérnia, apesar de não prevenir o enfraquecimento da musculatura do diafragma pélvico.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Corvos e burros

Desde a infância que elegi como meus animais “mágicos” o burro e o corvo.
Um burro puxava a carroça que levava o pão lá a casa. Parava obrigatoriamente em todos os clientes, numa rotina que só o dono sabia alterar. Nem com festas, nem agarrando-lhe o arreio me obedecia, e assim que sentia um cliente aviado, iniciava a marcha, sério e honesto, em direcção ao próximo, com uma rectidão de procedimentos difícil de superar.
O corvo habitava o jardim público. Tinha nome de Vicente e fama de ladrão de tudo o que brilhasse, verdadeiro ou pechisbeque. Ninguém se atrevia a deitar-lhe a mão, e todos o respeitavam por saberem que ele valorizava aquele espaço. Associei-o à astúcia e à sabedoria. Só mais tarde é que soube haver quem o considerava símbolo de morte, solidão, mau presságio, do profano e da bruxaria.

A vida tornou-me citadino e atirou-os para os espaços desabitados onde agora raramente vou.
Dos burros vou sabendo notícias de quem lhes tenta dar utilidade. Dos corvos estranho a ausência do seu voo na paisagem portuguesa, principalmente quando facilmente os encontro depois de atravessar a fronteira.

Os burros ainda têm a sorte de um Centro para Acolhimento, subsidiado por uma organização britânica e dos raros programas de "Ecoevasão", em Trás-os-Montes, que os fazem companheiros de viagem. Dos corvos ninguém fala.  Só sei deles quando alguém me diz que tem "lá um em casa, numa gaiola" promovido a papagaio de "low cost", emitindo sons e soletrando palavras num espaço de metro cúbico.

Mas enquanto os burros são animais domésticos, criados para o ambiente humano, que as novas tecnologias tiraram utilidade, os corvídeos, são arrancados à natureza.
A sua capacidade em interagir com os humanos, torna-os rapidamente incapazes de sobreviver no seu habitat, quando libertados.

Embora protegidos pelo Dec-Lei n.º 140/99 de 24 de Abril, modificado pelo Dec-Lei n.º 49/2005 de 24 de Fevereiro, que obriga a uma autorização da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, válida por cinco anos, para a sua detenção e a faz depender de condições de espaço que implicam enormes custos, o facto é que tal não desincentiva a população de os meter em gaiolas, pela quase certeza de não ser "apanhado" ou denunciado, como o provam os comentários à notícia de uma multa a um casal que deteve um milhafre real ferido, em vez de o ter transportado, em tempo certo, ao SEPNA (Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente) para lhe proporcionar tratamento adequado.

Portugal custa a integrar os valores que a Europa civilizada há muito assumiu, e onde estes problemas deixaram de ser polémicos. Enquanto tal, ficaremos privados de ver a graça do seu voo circular e de lhes ouvir o seu áspero crocitar. Mais fácil será ouvi-los a papaguear o nome de um qualquer paisano e a esvoaçar de poleiro em poleiro feitos garnizés em luto rigoroso. 

sábado, 5 de abril de 2014

Alerta - PARDAIS


Nesta Primavera ainda não vi pardais.
Não sei de nenhuma notícia que já tenha alertado, mas o facto é que por aqui, não os vejo nem os ouço!

Alguém sabe mais que eu????


domingo, 28 de julho de 2013

Nicolau Tolentino (1740- 1811)

Poeta, boémio, professor e oficial na Secretaria de Estado dos Negócios do Reino (depois de muitas cunhas), fazia parte da minha “Selecta Literária” do 2º ciclo do Liceu. Chamávamos-lhes o Nicolino Tilintau
Deixou-me neste soneto um gosto por epitáfios, semelhante ao de Machado de Assis, que escreveu:  "Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou."

Vai, mísero cavalo lazarento,
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.

Esta sela, teu único ornamento,

Para sinal da minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.

Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,
Hei-de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra pedra este letreiro:

«Aqui piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno, a não morrer de fome».

Neste soneto, Nicolau não eutanasia o seu fiel cavalo. Manda-o para o campo, na certeza de que ele, doente, acabará comido por cães vadios. Era assim nesse tempo, em Portugal, como atestaram vários estrangeiros que por aqui passaram, reportando matilhas deambulando pelas cidades, que não só comiam o lixo das populações, como se encarregavam de dar destino ao que morria e não era aproveitado para consumo humano.

Agora, são raros os elogios fúnebres e os epitáfios sobre as campas. Morremos e o que fica é um nome e duas datas por baixo dele. 
Há bichos com mais sorte!


terça-feira, 12 de março de 2013

Cães



“Se non è vero, è ben trovato".  Foi até aqui que a pesquisa e a especulação me levaram.

Desde tempos imemoriais que os cães se associaram ao homem, ajudando-o na caça e na protecção contra inimigos comuns. Esta simbiose, permitiu ao homem seleccioná-los de acordo com as melhores aptidões do seu património genético, promovendo características que actualmente são apanágio das suas diferentes raças. Na Europa, este processo foi francamente desenvolvido no reinado da Rainha Vitória (1819-1901) de Inglaterra. Até então repoduziam-se quase livremente.  

Quando surgiam as grandes fomes, eram frequentemente abandonados  (talvez alguns fossem parar à panela de alguém mais aflito), e Lisboa chegou a ser referenciada, por estrangeiros, pelas suas matilhas de cães vadios devorando os detritos que a população lançava fora.
O cão vadio é uma particularidade dos povos do sul, um “bombo” para os frustrados, que só recentemente mereceu a preocupação geral da população, enquanto o gato vadio manteve o seu estatuto.
Mas adiante. Hoje o assunto é cães e, mais especificamente, na Idade Média, e é bom lembrar que, nesta altura, não havia esgotos, aterros sanitários ou estações de tratamento de resíduos sólidos e que as pessoas “iam a campo” e os cães … também.
Também ao analisar alguns dos quadros onde os pintores da época representaram refeições, não se estranha a presença de cães, nem a ausência de talheres sobre as mesas. De facto o garfo em Portugal foi introduzido no século XVI, na corte de D. Manuel I, e só se vulgarizou em meados do século XIX, no reinado de D. Maria II. Até lá comia-se com as mãos, com eventual apoio de um punhal e de uma colher.

Ora é neste contexto que vemos os cães a rondar a mesa,  à espera de qualquer sobra. Mas não lhes descuremos outra utilidade. Na ausência da indústria do papel e com os dedos completamente engordurados, por um qualquer assado, três soluções se aprontavam como fáceis ao paisano em questão. 1: Limpá-los ao pão e comer o pão, 2: Limpá-los à toalha ou à roupa, 3: Dá-los a lamber ao cão e atacar de novo o prato, depois de os passar já limpos pelas calças. Das três, e atendendo aos conceitos higiénicos da época, estou em crer que a terceira prevalecia.

sábado, 13 de outubro de 2012

Publicidade


Este blog não é um espaço de publicidade, mas este anúncio não é para humanos. É para a bicharada que partilha o ar e muitos dos genes connosco. Para aqueles que nos animam, socializando-se com amizade e respeito e nos dão uma nova dimensão.


É para vós que há veterinários que, quando têm competência, honestidade e envolvimento, disponibilizam ciência que promove saúde e permite decidir acertadamente na doença, .

O Centro Hospitalar Veterinário já abriu. É lá que está o Dr. André Pereira. Procurem-no!

sábado, 29 de setembro de 2012

O Sapo

-Oh meu amigo! Ao tempo que não te via. Então mudaste sem dizer nada? Olha, que até pensei que tinhas emigrado ou ido desta para melhor, com as rãs, depois da Junta de Freguesia andar a pôr herbicida nos caminhos e inquinar a água que corre para o meu tanque. Desde a primavera que não as ouço coaxar. E sempre eram uma companhia. Tu não falas. Bufas. És bicho da noite e eu já não estou para noitadas. Por isso andamos cada um para seu lado. Não fosse hoje ter de resolver esse buraco no caminho, não te encontrava. Da última vez que nos vimos, moravas mais para cima. Nessa altura até estive para te pôr um nº na porta, para não me tentar a lá meter uma racha e algum cimento.

Hoje vais ter de mudar de residência. Não podes continuar aí. Não é propriamente um despejo, já que a dois passos não te faltam óptimas residências. O aluguer fica por minha conta, desde que me comas as lesmas e os caracóis.
Não te aproximes das laranjeiras por causa da calda bordalesa e um ou outro insecticida que eu lhes ponho, que tu, apesar de teres pele de sapo, és muito sensível e fraco dos pulmões.

Mas agora reparo. Estás mais gordo e austero. Até fazes lembrar o Mário Lino. Por acaso, não serás esse príncipe da política?
Desculpa a pergunta: Conheces a Ministra Paula Teixeira da Cruz? Aquela que disse que "acabou o tempo" em que havia  "impunidade", comentando as buscas feitas pela PJ às residências dos ex-ministros do PS? 
Se calhar estás com um feitiço! Olha aí! Se disseres "jámé", eu dou-te o beijo. Mas ficas aqui a trabalhar no jardim. Não te deixo voltar à CGD. OK?
 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Kami























Participação:
Cumpro dever de participar a todas as pessoas de suas relações e amizade, presentes e ausentes, o falecimento da Kami da Casa do Cabo.
Epitáfio:
Se no Céu há cães, tu por certo já lá andas, de bola na boca, à espera de quem ta atire, que até ao Inferno a vais buscar.


Carta Fúnebre:

Deixaste-nos mais pobres, com o vazio dos três anos em que foste parte da família.
Chegaste de laço cor de rosa. Uma prenda inesperada. Um sinal de amizade, num tempo de oportunismos.
Cresceste, a exigir cuidados de pai, com as dietas e no medo dos engasganços. Fizeste as tropelias de quem transpira vida por todos os poros, e lhe responde com a agilidade de um corpo são, e, nessas maluqueiras, arrombaste o que vias pela frente e roeste o que desse alívio aos dentes que te cresciam.
Depois, mais estável, foste o cão dócil, sempre atento e preocupado em agradar em todas as circunstâncias. Um amigo que nos recebe à porta de nossa casa, dez minutos depois de termos saído, como se não nos visse há mais de um ano. Impossível esquecer.!

Quis o destino que partisses do modo que já previra.
Consegui lembrar-me sempre de te proteger do veneno dos ratos, dos pesticidas e dos herbicidas, mas não pensei que fosses capaz de lamber da relva o repelente das toupeiras que pus nas laranjeiras.
Tiveste 36 horas de sofrimento. Creio que foram as únicas, na tua breve vida.

Entretém-te aí no Céu, que eu, quando aí chegar, atiro-te a bola bem para o meio de uma escura nuvem, que vais ter de dar voltas e voltas até poderes vir de rabo a abanar, mostrares-me o feito.
Até lá! Fica bem!

NOTA:










Ricinus communis (Castor Bean) é um arbusto de rápido crescimento anual. As sementes e, em menor grau, as folhas, contêm ricina, uma proteína, altamente tóxica em pequenas quantidades. O homem, bem como o gado, cães, cabras, cavalos, aves, coelhos, ovinos e suínos correm risco de envenenamento após ingerir as sementes. O revestimento das sementes deve ser danificado para permitir que a água penetre no seu interior, e liberte a ricina solúvel. A ricina é uma toxina que actua pela inibição da síntese proteíca.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A veiga




Se me conseguisse aproximar de livro em punho, se calhar, tinha certezas.
Havia uma garça boieira (Bubulcus ibis), mas o grosso do bando pareceram-me guinchos (Larus ridibundus).

Quanto à veiga, só um país muito rico se pode dar ao luxo de sub-aproveitar este espaço agrícola que vai de Afife a Viana.
Talvez a crise lhe dê a vida que lhe falta.