Assédio, assédio! Assim com letra
grande, … nunca. Nunca senti esse tipo de cobiça por detrás de um olhar de uma
mulher. Sou homem. Não é suposto ser alvo, principalmente quando se anda com
arco, flechas e um chapéu com uma pena.
Viro-me para o lado e pergunto. E tu? E
ouço-lhe a história de uma vez, em que a sorte lhe levou quem não preenchia
requisitos.
Primeiro foi uma vez, e uma vez é nunca,
como dizem os alemães e eu concordo. Depois, porque ser vítima de uma "madame"
vinte anos mais velha, pletórica, de cabelo empastado e hipertensa é filme de
terror, que não deve ser automaticamente incluído nesta categoria.
Conta ele uma novela de seis visitas, de
roupas às cores e rendas dos anos trinta, de cheiros a naftalina e adereços
rebuscados do fundo de baú. Um cio tardio de solidão. O último uivo de uma alma
reprimida, de uma vida iniciada com fogos de artifício. Casa de brasão. Nome de
seis apelidos. Sons de Marinha e de Exército. Anos a aprender as coisas de
mulher. Orações, confessos e recato. Uma prenda esquecida no canto do salão,
até o desespero lhe propor jogar o ás de copas, naquele dia tão lindo sem uma
nuvem no ar.
Era Abril. A mãe junto a Deus, o pai em
viagem, a irmã nas lides domésticas. Duas horas mortais.
A igreja a três passos. A lembrança da
homilia. Uma rosa no cabelo. -Sr. Padre!
Depois, o hall de entrada e ele ali à
mão. O rubor a subir, o corpo a tremer, as palavras mil vezes languidamente pensadas
ditas de uma vez.
De repente, uma outra porta que se abre.
A irmã!.
- Carlota! Foi o sr. Padre que me
chamou!
- Lucinda! Foste tu que me
seguiste!
O resto da vida marcada pelo ferrete daqueles instantes. Os meses a agravar
a desavença. A solidão partilhada naquele casarão a degradar-se. Os anos num triste
fio de rotinas, até medir a tensão e lhe dizerem que estava alta.
Uma consulta, duas consultas, … seis consultas. A história a repetir-se.
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