Caro Paulo:
Esta é a terceira carta que te escrevo.
Quer-me parecer que já estás em percurso descendente. Fizeste a tua parte e agora é tempo de dares espaço a outro.
Nos últimos tempos, quando há necessidade de soluções médicas para os problemas, os teus secretários de estado mostraram-se muito abaixo das expectativas, com soluções que não lembram ao diabo. Essa coisa de passar as Urgências para os privados ia ser um forrobodó, ainda maior do que já é o da ADSE. Aí é que era fazer negócio. Haviam de aparecer todas as necessidades como urgências e em poucos dias a dívida pública batia recordes.
Esse teu secretário de estado da saúde - Leal da Costa, embora médico, trabalhou para professor e não deve ter vivido duas horas com responsabilidade numa Urgência Hospitalar. Não devia preconizar soluções para áreas que desconhece, pois os perigos da sua proposta não compensam (nem de longe) eventuais benefícios.
Até parece que está a procurar lugar numa qualquer clínica para quando daí sair.
Uma Urgência Médico-Cirúrgica é uma estrutura complexa que não se obtém de um dia para o outro. Só um louco faria uma proposta para a pagar aos privados no SNS. Aqui na terra, quando a doença é grave o caminho é o dos Hospitais públicos. Raramente ao contrário.
Já ouvi dizer que lhes puxastes as orelhas, mas tens de pensar que já são muitas as soluções desse tipo.
Ficas como um ministro que fez umas alterações que pouparam em medicamentos, que corrigiu algumas disfunções e que até meteu na choldra uns caramelos que andavam na ganhunça, com àvontade extremo e, com sorte, ninguém se vai lembrar dos privilégios que deste aos privados em detrimento do SNS, sem os teres fiscalizado devidamente, nem da contribuição para desertificação do país que a concentração da saúde ocasionou.
Sabes que eu até apostei em ti, mas agora nem Deus te parece estar a ajudar.
Não te mortifiques com cilícios e abstinências, que o pessoal acredita cada vez menos nesses desagravos.
Diz qualquer coisa, que eu mantenho-me atento às tuas serenas análises dos alarmismos que se vão acumulando.
Fernando