Não há, ou se há, são raríssimas, as soluções que agradam a todos. Por isso, existirá sempre uma minoria descontente.
É a vida, como diria o engenheiro Guterres.
Quando os Hipermercados tomaram conta do comércio a retalho, a maioria ficou satisfeita ao ver a “feira todos os dias, com horário alargado”. Quem se amolou foram os merceeiros e muito do comércio de bairro. Quando as Clínicas tomaram conta dos “Consultórios Particulares”, poucos se preocuparam com o facto dos médicos melhorarem ou piorarem o seu vencimento. Quando o dinheiro aplicado em “ações” se perde, ninguém lamenta, mesmo que seja o aforro de anos de trabalho.
É a vida. As coisas vão mudando e temos de nos adaptar às novas regras do jogo.
Vem isto a propósito da floresta portuguesa, que no Norte está imensamente fragmentada. 75% pertence a cerca 500 000 proprietários florestais privados, a grande maioria com mais de 60 anos e com pouca instrução. Mais de metade são reformados- E isto referente aos identificados, pois muitos dos não identificados já estão mortos, sem herdeiros conhecidos ou andam por outras paragens e abandonaram as bouças.
Neste cenário e com o aumento da longevidade da população, o mais certo é os seus descendentes irem herdar quando já tiverem mais de 60 anos e a vida mais ou menos arrumada, e sem vontade de modificar o “stato quo”.
A floresta é como tudo o resto. Se o expectável é que dê uma colheita de eucaliptos de 15 em 15 anos (se não houver fogos) e que os encargos com a sua manutenção sejam diminutos, tal deixou de ser “garantido”. A tendência é para os encargos com a manutenção aumentarem, quer através da imposição limpezas regulares (o que para muitos exige recurso à contratação externa), quer com regras que obriguem a um maior espaçamento entre árvores, o que pode fazer com que o lucro se perca.
Hoje o problema coloca-se sobre os proprietários de bouças que estão dentro dos 100 metros dos aglomerados populacionais ou nos 50 metros em redor de habitações isoladas, amanhã, muito provavelmente, outras normas se imporão e aquilo que era um bem “seguro”, irá deixar de o ser.
A exploração florestal, exige “dimensão”. Ou caminhamos na direcção do associativismo florestal ou os decisores políticos irão optar pela via penalizadora e coerciva, já que uma floresta demasiado vulnerável responsabiliza o Estado em situação de catástrofe, como recentemente aconteceu em Pedrógão.
Nessa altura, muitos dirão que “o Estado falhou” para se candidatarem a indemnizações, quando, na altura certa, recusaram as alterações que lhes dariam maior segurança contra o fogo e a eventuais perdas de rendimento.
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