Nada é impossível para o homem que não tem de executar a tarefa!
Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
Antes de mais, quero deixar claro que pouco ou nada percebo
de Geopolítica, o que não me impede de teorizar sobre o que se passa na Ucrânia,
já que diariamente sou bombardeado com notícias sobre o que lá se passa, mesmo sabendo que elas são uma parte da verdade.
Quando iniciei algum entendimento político do Mundo em que
vivia, havia duas Superpotências: os EUA e a URSS. Falava-se da China aquando dos
milhares de vítimas das cheias do rio Amarelo e do Mao Tsé Tung, da India
vinham histórias de conflitos religiosos e de uma ou outra catástrofe e não se
falava da Europa, mas sim dos países que a formam. Os russos eram os
“papões” e os “amaricanos” os salvadores do mundo.
Os tempos foram mudando e a China começou a aparecer, primeiro como
grande fábrica do mundo e posteriormente como potência económica e militar e os
países da Europa que durante séculos se digladiaram, começaram a perceber que
só unidos podiam ter voz no panorama mundial e esboçaram esse entendimento no
Euro e na União Europeia.
Ora o fortalecimento dessa União Europeia, não agradou militarmente à Rússia nem à bolsa dos conservadores americanos temerosos que uma
nova força económica viesse pôr em causa negócios onde, desde a II Guerra
Mundial, são hegemónicos, pelo que, por motivos diferentes, a Rússia de Putin e os EUA de Trump, se conjugaram para
que o Brexit se efectivasse.
Recentemente, quer a China quer a Rússia, começaram a falar numa “Nova
Ordem Internacional” que basicamente visa a influência militar dos EUA que está por
detrás da sua preponderância económica em vastas áreas do globo.
Ora os países da ex-URSS são território importante para que a União Europeia tenha “dimensão de potência” e possa concorrer nas várias frentes da tal “Nova Ordem”, em "igualdade" com os EUA, China, Rússia e Índia, e a Rússia, para se afirmar como potência global, necessita dos portos de águas quentes que estão no Mar Negro, já que é a via marítima a mais barata para o transporte de bens entre continentes.
Os EUA apoiam a UE para que a Rússia não volte a ter a força que já teve e tornar improvável que um eventual bloco China / Rússia possa englobar uma UE demasiado fraca.
O resto é conversa.
Nem =hora e meia demorou todo o processo. Estava sol e vento muito frio, de modo que apanhei uma "ponta de ar"...
Ia preparada para tomar apontamentos das conversas dos meus companheiros, mas... nada. Todos tranquilos e em silêncio. Na fila um ou outro curioso esticava o pescoço e, semicerrando os olhos, percorria a fila em todas as direcções..., mas não comentava. Havia gente bem vestida e gente com a roupinha coçada, mas não dava para saber se eram ricos ou pobres só pelas etiquetas do vestuário.
Alguns mais incapacitados e tímidos, pediam desculpa para sair da fila e iam-se sentar mais à frente nas cadeiras laterais, vigiando o vácuo que deixavam, para não perderem a vez. Os cabelos eram brancos, cinzentos e acaju e uma mosca pousava no eczema da cabeça do velho que me precedia e vinha lamber a minha mão.
Que dia chato...
Isto não estava certo...
Olhei melhor e compreendi que aquele silêncio doentio não se devia à introspecção própria do acto vacinal, nem ao recolhimento de um templo, pois um quartel da tropa por mais imponente que seja, não inspira qualquer meditação!.
Todos os presentes exibiam na sua mão esquerda, dedos em garra para segurar o telemóvel, fazendo avançar as páginas com o indicador direito. E foi essa mão assim torcida que me fez vir à memória os seguintes factos:
Nas décadas de 70-80 do século passado, a epidemia da toxicodependência e as infecções associadas, quando o regresso da guerra e a descolonização foram acompanhados pela introdução da heroína no nosso meio, pôs-me perante uma nova realidade.
A adição era garantida e os jovens cumpriam o ritual de aquecer a droga numa colher com sumo de limão, aspirar para uma seringa que depois seguravam entre os dentes, enquanto garrotavam o braço. Antes de se injectarem, lambiam a agulha como se de um beijo se tratasse. Procuravam reavivar a sensação da primeira dose que os levara a patamares nunca antes sentidos, mas essa sensação não mais se repetia, acabavam a injectar-se apenas para se conseguirem sentir "normais", passando todo o tempo entre o torpor da droga e as tentativas de arranjar dinheiro para encher os bolsos do fornecedor.
O que viam ao espelho em nada correspondia à realidade. O envelhecimento, os dentes podres, as olheiras a pele escura e sem brilho...
Ao fim de algum tempo a injectar, tornavam-se mestres na descoberta do mais pequeno vaso para se picarem: pescoço, cabeça, pénis, virilhas, dedos..., e se o próprio não lhe chegava, valia-lhes a solidariedade do companheiro.
Uma das complicações que víamos, entre tantas outras, era a garra cubital em que o 4 e 5 dedos se apresentavam em flexão e os metacarpos em extensão, por lesão do nervo cubital ao nível do cotovelo. Sendo um aleijão, alguns faziam da sua exposição um modo de inspirar piedade...
Estes tempos foram substituídos por outras adições, igualmente nefastas, mas com outros contornos...
Ao ver toda aquela gente, no Centro de Vacinação, com a mão em forma de garra cubital, totalmente absortos e alheados da vida à sua volta, ainda me interroguei sobre o que aconteceria se o governo sugerisse que tinham que andar com telemóvel e instalar uma aplicação tipo Stayaway Covid....
Conclusão: Cheguei a casa com 39.7° C de temperatura.
História de H. G.
Um discípulo do rei filósofo Chanakya perguntou-lhe o que é
que ele queria dizer ao afirmar que “uma pessoa pode viver no mundo, sem nele
viver”, e o filósofo mandou-o transportar um cântaro cheio de água até ao
bordo, pelo meio de uma multidão em festa, sem entornar uma única gota, sob
pena de morte, pelo que ao regressar o discípulo foi incapaz de descrever as
festividades do dia, tendo passado por elas como um cego e com olhos apenas
para a bilha que levava à cabeça.
In Versículos Satânicos de Salman Rushdie