- Sr. Manuel! A doença parece estar a ser debelada. A febre alta passou e você já se sente melhor!
- Então, vou ter alta hoje?
- Talvez amanhã, que ainda faltam as análises que confirmam o diagnóstico, pois são elas que irão definir o tempo de tratamento, para que não haja recidivas! … Você agora até está de férias!
- Antes fossem férias! Eu ainda sonho em voltar à Venezuela!
- Tem saudades do Nicolás Maduro?
- Nem me fale nesse tipo! Não passa de um condutor de autocarro a mando do Diosdado Cabello. Esse é que tem os cordelinhos na mão! Vivi lá 37 anos. Decidi vir embora porque o negócio ia de mal a pior e a insegurança crescia todos os dias. No último ano, roubaram-me um camião de transporte e tive de pagar, pelo de resgate, metade do seu valor. Assaltaram-me em casa, amarraram-me, juntamente com a mulher e as minhas filhas e roubaram-me o que puderam. Só em dinheiro foram mais de 10.000 Euros. Foi então que vendi a padaria. Mas ainda lá tenho um restaurante e a casa, à espera de melhores dias.
- Vai ser difícil aguentar aquela política! O homem está cada vez mais isolado! É uma questão de tempo!
- Ouça-o Deus!
- Sr. Manuel! Você invoca o divino para as coisas da política, mas para a saúde, parece confiar mais na intervenção do Dr. José Gregorio Hernández!
- É verdade! Tenho muita fé nele e sempre que chego à Venezuela, vou a Guacara agradecer, junto a sua estátua, tudo o que ele me tem ajudado na saúde. Ele lá é conhecido como o médico dos pobres. Até lhes pagava os medicamentos do seu próprio bolso! O Dr. conhece-o!?
- Não!
- Tem uma história de vida muito parecida com a do Dr. José Gregório e também tem uma estátua em Lisboa, rodeada por ex-votos dos que lhe atribuem curas milagrosas. Só que este não pode ser santificado por se ter suicidado. O Dr. José Gregório, dentro do azar (foi atropelado pelo primeiro automóvel que apareceu em Caracas), teve mais sorte, e está a caminho da beatificação.
Concordo consigo! Homens como estes que puseram a ciência ao serviço das comunidades mais desfavorecidas, merecem veneração! Mas duvido da sua capacidade de intervenção nas doenças actuais. Até porque, no tempo deles, não se conheciam a maior parte das soluções que agora dispomos. Olhe que a Penicilina só ficou disponível, como fármaco, em 1941!
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